terça-feira, 2 de junho de 2020

Lição 10 - Estratégia de Paulo - At 16,1-10

Lição 10 - Estratégia de Paulo

Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego;
dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio.
Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o por causa dos judeus daqueles lugares; pois todos sabiam que seu pai era grego.
Ao passar pelas cidades, entregavam aos irmãos, para que as observassem, as decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém.
Assim, as igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número.
E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia,
defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.
E, tendo contornado Mísia, desceram a Trôade.
À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos.
Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho.

Atos 16:1-10

Introdução 
      A estratégia de Paulo: a igreja precisa de uma estratégia ou estratégias inteligentes. A autenticidade de sua mensagem, bem como o específico dessa mensagem não podem ser confundidos com outras vozes e outras prioridades, sob pena de dissolver sua identidade e, como dizia Jesus, tornar-se sal insípido, At16,9.
      O chamado de Paulo: a vocação específica para o ministério requer (1) autenticidade por confirmação do Espírito e (2) reconhecimento, autoridade e envio pela igreja. Falsos ou equivocadamente vocacionados têm promovido e espalhado grade prejuízo, enfraquecendo e envergonhando o ministério da igreja. At 13,1-3.

1. Estações na vida de Paulo 
1.1. Compreensível que, logo após sua conversão, como indica Lucas que, literalmente, caíssem todas as escamas que cegavam o jovem, Paulo iniciasse pregando e, destemidamente, testemunhasse o poder de Deus em sua vida, At 9,20-25. A descrição que os judeus de Damasco tinham dele era de que "exterminava em Jerusalém os que invocavam o nome de Jesus" e viera àquela capital para levar "amarrados" os novos crentes da Síria aos principais sacerdotes em Jerusalém.
1.2. Mas, diz o texto, santa confusão, quando percebiam "atônitos" a mudança que Deus havia realizado na vida dele: "logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o filho de Deus". Mas muitos dias depois, era provocação demais, o homem que fora um bem sucedido perseguidor dos cristãos, agora pregava como qualquer deles. Providenciada foi, pelos discípulos, sua fuga, à noite, descido por um cesto, junto à muralha da cidade, em direção a Jerusalém. 
1a estratégia: Paulo sempre, em suas viagens, irá procurar a sinagoga dos judeus, posto avançado e estratégico, centro de culto, com preservação da Torah, Antigo Testamento, e também preservação da cultura judaica em suas colônias, pelo mundo grego.
1.3. At 9,26-30, em Jerusalém também não lhe deram sossego e a gana por matá-lo o alcançou ali. Foi importante, na vida de Paulo, Barnabé associar-se a ele. Levou-o aos apóstolos, discorreu sobre seu testemunho de conversão, mas logo verificaram a necessidade de tirar Paulo do cenário a ele desfavorável: definitivamente, a conversão do líder máximo da perseguição à igreja era demais para os judeus. Encaminharam-no a sua terra natal, onde deveria ficar por um tempo.
2a estratégia: Paulo vai construir uma rede de auxiliares próximos, o que será poderoso instrumento de comunicação e transmissão de ensino, orientações e instruções. Para ele, para a igreja, de um modo geral, e para cada auxiliar, será decisivo fator de fortalecimento, assistência e expansão do ministério da igreja. 
1.4. Nessa fase de sua vida, Paulo esclarece na carta aos Gálatas 1,18-24, que havia partido em viagem para as "regiões da Arábia" e, 3 anos depois, retornou a Jerusalém. Por 15 dias, encontrou Pedro e Tiago, este O "irmão do Senhor", quer dizer, Irmão de Jesus por parte de mãe, e relata que essa estada foi para assuntos genéricos, ainda era um desconhecido para as igrejas, somente correndo boca a boca o espanto do contraste, típico do milagre da conversão.
3a estratégia: Paulo preparou-se para exercer o seu ministério. Além de leitor assíduo, como mostram os textos 2 Tm 4,13, quando pede "livros e pergaminhos", At 17,28, citação do discurso em Atenas, em At 19,9-10, quando escolheu a escola de Tirano, em Éfeso onde, durante 2 anos, "discorria diariamente", Tt 1,12, quando menciona um dos profetas de Creta que ele conhecia, em 1 Ts 5,21, quando sugere um filtro constante para o que é bom, em 1 Tm 4,13, quando recomenda ao jovem pastor "aplicar-se à leitura, à exortação e ao ensino", tudo e sempre relacionado ao preparo acadêmico.
1.5. Há um intervalo, em Atos, da descrição da viagem de Paulo para Tarso, sua terra de origem, até a descrição de sua vocação, em At 13,1-3. Após o avivamento em Samaria, no qual os apóstolos deram cobertura à atividade de Felipe, este sobe em direção a Cesareia, At 8,40, enquanto os apóstolos percorrem Samaria, At 8,25. Pedro chegará a Cesareia também, para pregar na casa de Cornélio, quem sabe alguma influência do mistério de Felipe o havia alcançado. Esse trecho também narra o triste martírio de Tiago, irmão de João, estes os dois filhos de Zebedeu, e o livramento milagroso que Deus proporcionou a Pedro, mantido preso por Herodes Agripa I, que também o queria matar, At 12,6-11.

2. Chamado missionário de Paulo
    Aqui em At 13,1-3 aprendemos algumas lições relevantes com relação à vocação de Deus:
2.1. A igreja é o celeiro permanente de onde Deus sanciona a vocação. A menção de uma relação de nomes indica a variedade entre a qual Deus escolhe, segundo dons, talentos e aptidão, aqueles a quem vai enviar: "Havia na igreja em Antioquia profetas e mestres".
2.2. A igreja, os crentes, antecipadamente, desde sempre, devem estar preparados e se preparar para essa disponibilidade. A relação de nomes indicava aqueles(as) prontos(as), que não se descuidavam, nem eles e nem a igreja, em seu preparo. 
2.3. "Servindo e jejuando", não que isso fosse novidade ou extraordinário, vinham naturalmente praticando e reconheceram o chamado do Espírito Santo. Na conversão, na escolha, preparo e chamado para o ministério, o Espírito Santo é agente, aliás, com as duas outras Pessoas da trindade. 
2.4 . "Separai-me, agora, Barnabé e Saulo". Não existe chamada isolada, vocação ou ministério individual. O Espírito sabe que caminham juntos. Que precisam uns dos outros. A tendência pastoral atual de autossuficiência, seja de pastores, "ministérios" ou igrejas, não é autorizada, abençoada ou motivada por ação do Espírito Santo. Barnabé, em vários aspectos, nessa fase da vida de Paulo, era fundamental para solidificar a experiência do apóstolo, dar-lhe suporte e servir como mediador nesse início de ministério dele. Aliás, Barnabé é também apóstolo, At 14,14.
2.5. A igreja dá suporte, em toda a formação inicial, contexto de comunhão, ensino e prática ministerial. Aqui vale lembrar o perfil da igreja definida em Atos dos Apóstolos. O Espírito Santo autentica. Nessa fase, Paulo já havia cursado o seu "seminário". Muito provavelmente não havia, na época de Paulo, as escolas de teologia como temos hoje. Mas Paulo se preparou, discípulo que foi de um dos mais sábios mestres do judaísmo, Gamaliel, At 22,3 e At 5,34, ver também Fp 3,4-6, trechos estes que confirmam o seu preparo acadêmico prévio. Porém, após a sua conversão, o tempo de exílio voluntário em sua terra natal, assegurou-lhe todo o preparo, revisão e releitura necessários.
4a estratégia: Paulo ampliava o seu preparo acadêmico, 1 Co 2,6. Há uma lista imensa de absurdos que, constantemente, são divulgados e criam escola, principalmente entre quem é preguiçoso e desleixado com relação ao preparo para o ministério. Algumas orientações:
4.1. Um é o preparo no contexto da igreja, como vimos acima no chamado de Paulo, outro será o preparo no seminário. Quem adquiriu maturidade em sua vida como igreja, certamente será um autêntico vocacionado, quando confirmado pelo Espírito Santo.
4.2. Não existe a dicotomia entre ação do Espírito, poder de Deus, carisma, oração, dons, "sobrenatural", de um lado, e livros, pesquisa, teologia, disciplinas de currículo, escola de teologia de outro. As pessoas ficam selecionando trechos das Escrituras que, lidos e repetidos, querem provar com eles que Deus "usa" mais quem não é inteligente e que estudos e inteligência acadêmica trabalham contra a fé. 
4.3. Os próprios perfis de ministros e vocacionados da Bíblia indicam o que evita o mal entendido acima mencionado. Deve-se compreender a extensão do dom que receberam. Exemplo: Pedro e João, amigos íntimos no início de ministério, como Barnabé e Paulo, tiveram ênfase e ministérios distintos, dali para o final de suas vidas. Pedro pregava, João não era pregador; Pedro lia, esforçava-se para entender e recomendava leitura, 2 Pe 3,14-18, sendo a menção de At 14,13 uma expressão do preconceito contra ele e não um dado de sua biografia. João foi teólogo e escritor de Evangelho, Epístolas e do Apocalipse. Mas Pedro também foi pastor e escritor de Epístolas e, certamente, depoente por detrás do Evangelho de Marcos. Portanto, dizer como Paulo diz, em 1 Co 1,26-29, não significa livre curso a gente relaxada para se autorizar vocacionada, mas que a primazia do poder pertence a Deus, que usa poderosamente a quem escolhe. Os verdadeiros vocacionados sempre buscam perfeição.

3. Primeira viagem missionária de Paulo, Atos 13,4-14,27, assim chamada, define seu primeiro percurso descrito no livro de Atos. Embora o apóstolo, certamente, tenha percorrido outros lugares apenas nominal ou genericamente indicados, e outros circuitos, mencionados ou não, Lucas descreve esta e mais duas, além da viagem a Roma, em Atos 27.
3.1. "Enviados, pois, pelo Espírito Santo", essa era a convicção da igreja e o comando do Espírito Santo, havendo perfeita sincronia. Descem ao porto em Selêucia, navegam até a ilha de Chipre e chegam a Salamina. Dali atravessam até a outra ponta, em Pafos. navegando então, de novo, até o continente, na Ásia Menor, atual Turquia, alcançado Perge, na província romana da Panfília. Dali, chegam à chamada Antioquia da Pisídia, para diferenciar daquela da Síria, próxima à região de origem de Paulo, onde situava-se a igreja que o enviou. Prega na sinagoga dessa cidade o seu primeiro sermão. 
5a estratégia: Paulo usou planejar e realizar viagens missionários, num tempo em que estradas romanas por terra e rotas marítimas comerciais garantiram a ele cobrir todo o entorno do Mediterrâneo, sempre retornando à igreja-base, em Antioquia da Síria, e passando pela igreja-mãe, em Jerusalém. Ao decidir, como menciona em 2 Co 1,15-22, não deliberava por palpite, mas buscava a orientação do Senhor, o respaldo da igreja e a companhia de outros servos do Senhor.

Conclusão

    Para encerrar, desejo lembrar minha experiência com viagens missionárias, respaldo da igreja e companhia de servos do Senhor. 
    Em 1986, indo de ônibus para uma reunião da União Feminina, de Cascadura a Anchieta, bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, Gercino da Silva, pernambucano meu irmão em Crsiro e companheiro, mostrou-me uma revista de escola dominical que trazia um mapa do Brasil estampado e, como em relevo, estados onde não havia igrejas congregacionais implantadas.
    Ponteou Mato Grosso do Sul e afirmou conhecer, porque já fora caminhoneiro. E, para minha surpresa, disse que ele e sua esposa estavam dispostos a ir para aquela cidade iniciar um trabalho missionário. Destaque-se que, na época, o casal residia em Madureira, bairro ao lado daquele de nossa igreja, sendo ambos já de terceira idade. Imediatamente lembrei do texto em que Jesus exorta orar por obreiros e deduzi: se temos obreiros, temos tudo o mais.
      Gercino passou a insistir, sem esmorecer, que fôssemos a Campo Grande, a capital do estado, a 1500 km de distância, 22h de ônibus da Rodoviária Novo Rio até àquela da cidade, na época pela empresa Andorinhas, com baldeação e troca de motoristas em São Paulo e Presidente Prudente. Fizemos a primeira viagem em meados de 1987.     
      Amanhecendo, visto termos saído do Rio no ônibus das 16h30min, Gercino havia se deslocado à frente, para conversar com o motorista. Sua estrutura biológica, acostumada a plantões ao volante, permitia. Descemos, procuramos um hotel encostando à antiga rodoviária daquela capital, indicação do Presb. Arlindo, que guiava excursões a Corumbá, por aquele circuito. 
     No hotel indicado, o moço me recebeu indiferente, sem nem me encarar, dizendo não haver nenhuma vaga. Agradeci, estávamos cansados da noite mal dormida, e cruzei com Gercino, eu me dirigindo à saída, ele indo argumentar com o atendente. Chamei-o da porta, ironizando: "O moço está muito ocupado, Gercino, vamos procrurar outro rumo".
     E meu essencial companheiro de viagem mencionou o nome "Arlindo, foi ele que me mandou aqui". Eu repliquei que o moço não vai saber quem é, Gercino. Mas o amigo e irmão mencionou, para o atendente do hotel colado na rodoviária, a palavra mágica: "aquele que faz excursão". Não precisou outra palavra.
    E para este último parágrafo, essa foi a primeira de uma série de viagens a Campo Grande, MS. Envolveram-se 4 igrejas. Nessa primeira viagem, compramos o imóvel onde hoje a igreja se reúne: aquela conversa matinal, ainda no ônibus, definiu a ida a esse bairro. Três pastores por lá já passaram. Um deles adquiriu a casa pastoral, bem defronte à igreja, do outro lado da dupla avenida. Com essa viagem, fomos despertados para abrir em Porto Velho. Visitamos o Acre, 4 pastores, em agosto de 1993. Para cá eu vim em janeiro de 1995. Minha chegada aqui definiu a ida do missionário Nelson Rosa e sua esposa para abrir Porto Velho. Cumpria-se a profecia. E aqui estou no Acre há 25 anos . 
     Que venham mais viagens missionárias. Que nem falei daquelas de Antonio Limeira Neto que, na década de 80, viajou e implantou no Acre, onde estou, no Amazonas e em Roraima. Orientação do Senhor, respaldo da igreja e companhia de irmãos em Cristo.

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