terça-feira, 16 de junho de 2020

Viagens missionárias de Paulo

      Paulo mesmo disse, na 2 Co 1,17-19, que não há "sim/não" nas decisões missionárias, porque o próprio Jesus não é "sim/não". Missões, o papel primordial da igreja, requer critérios de (1) identidade original dessa tarefa, (2) utilização de recursos, a partir de amplo aprendizado e (3) efetivo esforço, como resultado de um respaldo bem planejado. At 16,6-9.

1a viagem missionária

      Conhecemos do tour missionário do apóstolo Paulo devido ao registro minucioso de Lucas. O próprio Paulo estabelece que suas decisões por viagens são estritamente definidas em oração.
     Daí termos certeza de que, em todo o tempo, seu esforço missionário não foi aleatório e representou, com exatidão, o mandado de Jesus.
     A  igreja é missionária todo o tempo. Há variadas modalidades desse desafio. Paulo, que liderava a oposição ao mandado de "Ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda a criatura", tornou-se o líder de primeiro esforço missionário em larga escala.
     Paulo realizou diversas viagens. As cartas que escreveu indicam outros turnos. O próprio livro de Atos também, sem pormenorizar as atividades do apóstolo. Sua provável viagem à Espanha, também, seria uma jornada não detalhada de sua atividade.
     Vamos abordar aqui as denominadas três viagens, selecionando tópicos que as representam. Assim, conheceremos, em linhas gerais, a prática missionária de Paulo e aprenderemos com a ação e estratégia do apóstolo.
     Já abordamos seu primeiro sermão na sinagoga em Antioquia da Pisídia. Vinha de atravessar a ilha de Chipre, onde aportou em Salamina, pregado nas sinagigas judaicas e atravessado a ilha até Pafos, At 13,5-6, onde ocorreu um fato inusitado, v. 5-12.
    Parecido com o caso de Simão, em Samaria, At 8,9-13 e 18-25, que vendo os sinais que Deus concedeu a Felipe operar, quis usurpar o que, para ele, era mágica.
    Barjesus ou Elimas, já apontado por Lucas como "falso profeta", At 13,6, atrapalhava ao procônsul romano Sérgio Paulo ouvir o evangelho. Paulo repreendeu-o e, em função disso, ficou cego, andando à volta procurando ajuda.
    Destaque para a variedade de sinagogas que havia na ilha, assim pela conversão de uma autoridade romana, certamente de livre curso entre os judeus. Lembrar que estamos fora de território judaico.
     E que posteriormente, em sua carta a Tito, Paulo vai mencionar que esse foi o lugar onde deixou esse seu companheiro, Tt 1,5, para que "pusesse em ordem as coisas restantes" e "em casa cidade constituísse presbíteros".
    Essa recomendação indica o modo como, nessa ilha, o evangelho se consolidou. Um dado não muito positivo, pelo efeito que ocorrerá no futuro, de que Lucas não detalha as causas, foi o retorno a Jerusalém do segundo companheiro de viagem de Paulo, João Marcos, At 13,13.
     Já falamos do sermão em Antioquia da Pisídia. Os efeitos foram tão positivos, que Paulo e Barnabé foram convidados a retornar à sinagoga, At 13,42-43. Mas começam as intrigas dos judeus e Paulo, antes perseguidor, começa a ser perseguido, At 13,44-45.
    Paulo destaca que sua ênfase era primeiro os judeus, mas que sua rejeição abria caminho à conversão dos gentios, v. 46-47. Pois estes se convertem e passaram a pregar o evangelho por toda a região, v. 48-49, que era fronteira com a Anatólia e Galácia, hoje litoral do mar Mediterrâneo na Turquia.
     A pressão e intriga dos judeus, At 13,50-51, empurram Paulo e Barnabé a Icônio, porém discípulos convertidos ficam confirmados em Antioquia, v. 52. Hoje ela se chama Cônia, sendo a capital da maior província da Turquia, que tem o mesmo nome, At 14,1-7.
     Nela, novamente, o evangelho se expandiu, com judeus e gregos crendo em Jesus, 14,1, mas novamente houve intriga, v. 2. Sem que se intimidassem, falaram ainda com mais ousadia, também confirmada a sua palavra com sinais e prodígios, v. 3, mais conversões houve e recrudesceu a perseguição.
     Sob ameaça de apedrejamento, retiraram-se para Listra, próxima a Derbe onde, mais para diante, em sua segunda viagem missionária, Paulo vai encontrar aquele que se tornará seu principal colaborador. E são essas também as congregações às quais se dirige, quando escreve aos Gálatas.
      Esses judeus que conspiram contra Paulo vão pressionar, de tal forma, as comunidades de irmãos, que vão tentar induzi-las a entrar para o judaísmo, para só então ser "salvos". Serão denominados "judaizantes".
     A carta aos Gálatas é escrita, de um fôlego e em caráter de emergência, para frisar que a salvação não dependia da guarda dos mandamentos, mas unicamente da fé. Nos vemos diante da providência de Deus.
     Porque toda essa dificuldade e pressão que Paulo enfrenta nessa sua primeira viagem, como as dificuldades que vão ficar para trás e a problemática que se configurou para o futuro, em conjunto, geraram uma das mais claras, diretas e inéditas das cartas do apóstolo, defendendo a autonomia do evangelho, sua autenticidade e exclusividade na obra de salvação .
     Em Listra, At 14,28, os assim chamados apóstolos Barnabé e Saulo, em At 13,7, e agora Paulo e Barnabé, 13,50 e outros, nessa cidade são chamados, Júpiter (Barnabé) e Mercúrio (Paulo), v. 12. Assim como em Perge havia o culto a Ártemis, Lua, deusa da caça, em Lsitra havia um templo a Júpiter, o Zeus grego, pai de todos os deuses, v. 13.
     Tudo isso porque Paulo e Barnabé, v. 8-11, como Pedro e João, à porta Formosa do Templo de Jerusalém, At 3,1-9, pelo poder de Jesus, curaram um paralítico de nascença. A cidade afluiu, trazendo oferendas de suas casas, julgando serem deuses esses dois apóstolos, v. 11-13.
     Foi mais uma oportunidade para Paulo e Barnabé indicarem que não havia mágica ou misticismo, mas era o poder de Deus. E não fizeram seções de cura para os moradores da cidade, porque não é essa a tarefa e missão da igreja, mas apontaram a salvação em Jesus.
     "Porém os judeus", v. 19, mais esta vez, vindos nos rastro da atividade deles, a partir de Antioquia e Icônio, desta vez o apedrejaram. E foi tão enfático o que fizeram, que o arrastaram como morto, para fora da cidade. Certamente houve um milagre, ainda que imperceptível, v. 20.
     Dia seguinte seguiram para Derbe, v. 20, e muitos ali se converteram, v. 21, indicando a dupla o tour de retorno, revisitando os crentes a cada cidade, 14,21-24. A partir de Perge, novamente, desta vez no porto de Atália, seguem por mar para Antioquia, desta vez da Síria, a igreja que os enviou, v. 25-28.

2a viagem missionária

    O intervalo entre a primeira e a segunda viagem de Paulo, em Atos 15,1-41, está preenchido com o denominado 1o Concílio da igreja, em Jerusalém. O que os levou a se reunirem foi o problema que se configurou no contexto das cidades dessa 1a viagem missionária, especificamente na região da Galácia.
     A carta a essas igrejas aqui mencionadas, que envolvem as cidades de Icônio, Derbe  e Listra, apresenta e combate a heresia da falsa necessidade do crente judaizar-se, de modo a garantir sua salvação, At 15,1-2.
     Pelo que deduzimos da leitura desses versículos, essa ideia alcançou Antioquia, onde Paulo congregava e, certamente, pelo sucesso que foi sua primeira viagem missionária e a quantidade de conversões entre os gentios.
    A decisão desse concílio alcança Antioquia, At 15,30, sendo Paulo e Barnabé seus portadores, e a todos satisfaz. Foi decisiva a palavra de Pedro, At 15,6-11, com relação a definir com clareza poder e a exclusividade do evangelho.
     Nesse meio tempo, logo após retornarem, ali mesmo na região de Antioquia, os dois companheiros permaneceram pregando o evangelho, At 15,35. Foi quando Paulo decidiu que deveriam retornar, para visitar e confirmar os crentes, pelo circuito da 1a viagem missionária.
      Barnabé decidiu formarem o mesmo grupo da vez anterior. Mas Paulo recusou aceitar novamente João Marcos em companhia deles. Lucas, sempre econômico em adjetivos, inclui um advérbio de intensidade, "tal", e classifica como "desavença" o que ocorreu entre os inseparáveis, até aí, amigos: At 15,37-39.
     Paulo seguiu com Silas, junto com Judas chamado profeta, em Antioquia, 15,32, voltando pelas cidades da 1a viagem, mostrando aos irmãos as decisões do 1o Concílio de Jerusalém, At 16,4.
     Foi quando, em Trôade, Paulo teve a visão decisiva que o encaminha à Macedônia, At 16,6-10. Filipos, Tessalônica, Bereia, Atenas e Corinto. Esse corredor se constituiu num grande desafio, acompanhando das mesmas provações costureiras. Quando chega a Corinto, é necessário que Deus o fortaleça numa visão, indicando o ministério rico em frutos que ele teria nessa cidade, At 18,9-11, o que lhe definiu permanecer 1,5 ano pregando nessa cidade.

Conclusão
1. Igreja base: Antioquia envia Paulo. Depois de seu turno, sempre retorna a ela. A Jerusalém também sempre sobe, como foi na época do Concílio, para representar, exatamente, sua congregação de origem. Entre eles exerce ação conjunta, pois quem é enviado por uma igreja têm, como principal sintoma, nunca abandoná-la.
2. Fundamental o companheiro. Barnabé foi marcante desde a conversão. O único corajoso em ombrear com Saulo, recém-convertido. Inseparável companheiro e tão fiel a seus princípios, que optou por João Marcos quando avaliou que Paulo não tinha razão.
3. A pressão dos judeus foi em todos os sentidos: agressão contra os dois, mas também urdindo uma doutrina para considerar seria o grupo da igreja é submeter todos às exigências do judaísmo. Foi uma oportunidade sem igual para reafirmar a doutrina sadia da revelação do evangelho.
4. Em todo o percurso a ênfase foi o evangelho. Nenhum sinal ou milagre, perseguição ou resistência afastou os dois apóstolos de pegar tão somente a mensagem única de salvação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário