terça-feira, 30 de junho de 2020

3a viagem missionária
       
      Introdução 
      Já comentamos aqui a abrangência das viagens de Paulo. Lucas nos dá um esboço geral, porém deixando um periferia, por assim dizer, de informações, fazendo-nos vislumbrar uma atividade bem maior do apóstolo.
     E também concedendo oportunidade de compararmos informações nas cartas escritas às igrejas, com aquelas que estão registradas pelo médico amado, Cl 4,14.
    Neste final da segunda viagem missionária, quando mais uma pressão das intrigas dos judeus fez Paulo sair às pressas, de Corinto para Éfeso, podemos constatar o modo como as formações dos Atos dos Apóstolos encontram eco nas epístolas paulinas.

       De Corinto a Éfeso 
     Em sua carta 1 Co 2,1-5, "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.
Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder,
para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus", em função das circunstâncias que o afligiam, nesse final da 2a viagem missionária, ele pôde descrever, de modo preciso, como o evangelho é testemunhado no poder do Espírito:
1. Paulo esteve entre os coríntios anunciando o testemunho de Deus (como em Listra, At 14,17, já dissera aos moradores da cidade), v. 1a;
2. Não se anuncia o evangelho, que é o testemunho de Deus, com ostentação de palavra ou de sabedoria, v. 1b;
3. O conteúdo do evangelho é, como nessa mesma carta Paulo elucida, a "mensagem da cruz": nada saber, senão a Jesus crucificado, v. 2;
4. Paulo esclarece, agora, sobre a natureza da pregação, que não é linguagem persuasiva de sabedoria (marketing puramente humano): o que a pregação não é;
5. Mas a pregação é "demonstração do Espírito e de poder" (Rm 1,16, o evangelho é o "poder de Deus"): o que a pregação é;
6. A fé não se apoia em sabedoria humana, v.5a;
7. A fé se apoia no poder de Deus, v. 5b.

      Este testemunho de Paulo, acerca das circunstâncias de sua chegada a Corinto, confere com o que lemos em At 18,6.9-10.12-13. Contra todos esses obstáculos, Paulo ainda permaneceu por 1 ano e 1/2 em Corinto, At 18,11, até que se despedisse dos irmãos, navegando para Antioquia, na Síria, porém passando por Éfeso, onde não vai se demorar, porém deixará uma promessa de retorno, programada para a 3a viagem missionária.
    Bênção maior, também, como ocorrera em Derbe, onde havia encontrado Timóteo, At 16,1-3, início da 2a jornada missionária, foi desta vez encontrar Áquila e Priscila, companheiros de evangelho e de mesma arte na profissão, At 18,1-3. Paulo vai tomar consigo o casal, certamente reconhecendo o potencial que têm, ensaiva-se uma grande parceria de muitos frutos para o reino de Deus. 
     Assim como a troca de Barnabé-Saulo para Paulo-Barnabé, desta vez Áquila-Priscla vão se tornar Priscila-Áquila, definitivamente comprovando que, para Deus, não há distinção entre homem e mulher, no desempenho das tarefas do reino: At 18,26; Gn 1,27; Gl 3,28-29.
    Essa dupla, esse casal são de extrema cumplicidade no ministério de Paulo e se desdobram no serviço do reino, com toda a dedicação. As principais características de Priscila e Áquila são:
1. Companheiros oportunos de Paulo, cristãos de Roma, que certamente compartilharam com o apóstolo a realidade do evangelho na capital do mundo, Roma, porque Paulo escreveu sua carta àqueles irmãos sem nunca ter antes estado lá:  At 18,1-4 e Rm 1,8-14;
2. A companhia deles com Paulo nas pregações na sinagoga em Corinto, assim como o fato de estar morando juntos, certamente permitiu que mutuamente se fortalecessem na fé, Em 16,3, assim como repartissem, entre si, os dons que receberam do Espírito. A indicação dessa mutualidade se expressou na qualidade de preceptores de Apolo, em Éfeso, At 18,24-28, já na 3a viagem missionária;
3. O fato de passar a serem designados com o nome da esposa precedendo o do marido indica a natural prioridade que foi dada a ela. O caráter impositivo da superioridade do homem não é compatível com a tradição bíblica e, no contexto da igreja e do reino de Deus não há prioridades de um ou uma sobre o outro ou outra. Lembrar Fp 2,3, "cada um(a) o(a) outro(a) superior a si mesmo(a)";
4. Tinham uma igreja em sua casa, 1 Co 16,19, o que constitui num desafio. Encontrar igrejas prontas onde, às vezes, ainda que imperceptivelmente, por força do ego, alguém deseja exercer ministérios, pode privar uma cidade da urgência em reunir os que Deus deseja alcançar, como mesmo em Corinto, Deus revelou a Paulo, At 18,9-10. No presente secularismo, a reação à fé tem até intimidado os próprios crentes, Lc 18,8. A disponibilidade para servir a Deus em seu reino deve ser permanente.

       Em Éfeso 
     Paulo havia passado por essa cidade ao final da 2a viagem missionária. Deixara ali seus mais recentes amigos, o casal Priscila e Áquila. Houve insistência que ali permanecesse, mas o apóstolo se comprometeu a retornar em breve, At 18,19-21.
     Como era seu costume, foi a Jerusalém, a igreja-mãe, assim como esteve em sua igreja de origem, Antioquia. Pela terceira vez, Lucas menciona o ministério de Paulo na Galácia e Frígia, onde o foco do problema que provocou o 1o Concílio em Jerusalém e a escrita da carta aos Gálatas foi mais problemático.
     Enquanto o apóstolo faz esse tour missionário, confirmando os irmãos, At 18,23, chega a Éfeso e lá encontra o casal amigo de Paulo um judeu de Alexandria chamado Apolo. Bem, judeu se chamar Apolo, nome de deus grego, já era exceção, embora sua origem, Alexandria, a capital intelectual do mundo daquela época, mais ou menos explique.
    Não conhecia o batismo de Jesus, havia como que parado no tempo. Embora isso fosse indicação de fé, era necessário avançar, para que compreendesse que a profecia de João Batista, o único profeta a apontar e enxergar Jesus fisicamente, sua profecia havia se cumprido. 
    Áquila e Priscila se encarregaram de lhe suprir esse lapso.

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