quinta-feira, 16 de abril de 2020

Sorriso maior do que o rosto

                 
        Pastores, lembro sempre das palavras de Paulo Apóstolo, são um espetáculo ao mundo. Estão expostos. Às vaias ou aplausos.
     Mesmo vaias ou aplausos não definem ou avaliam sua função. Vaias podem ser, até, elogio, na medida da fidelidade deles. E aplauso pode ser cilada.
    Pastores marcam. São feitos para marcar. Felizes dos pastores que, como disse Paulo, de novo, "cumprem cabalmente o seu ministério".
   Porque marcam e são também, positivamente, marcados. Eu lembro do pastor Hélio Martins do tempo, ainda, do Clube Bíblico, em Cascadura, RJ.
    Lá vão quase 50 anos. Eu era, ainda, adolescente, e ele liderança já um pouco à minha frente na idade. Começamos no terreno da Pe Telêmaco 149.
    Reuniões à frente da época. Vanguarda de um movimento jovem que despertou, ao tempo, reação de conservadores. O jovem Hélio seguia à frente. 
    Liderança marcante. Uma geração que rendeu muitos pastores ao Reino. Entre eles, o próprio pastor Hélio, Álvaro Trindade, Jesaías, Élcio, Carlos, tantos outros, mais tardiamente, eu me incluo e também o pastor Paulo César, filho do pastor Amaury e cunhado do pastor Álvaro. 
     Pastor Amaury liderou toda essa geração. Pastor Hélio Martins, pastor Álvaro Trindade, não dá para mencionar todos, mesmo porque não fui dos mais enfronhados todo o tempo. 
     Uma geração rica em bons frutos. Homens e mulheres de Deus. De que quero, aqui, destacar o pastor Hélio Martins. Lembro de sua liderança já nessa fase. E, pela graça de Deus, dessas coisas, que certamente nem ele, nem eu sabemos, até que tal responsabilidade pese sobre nós, um dia nos vimos companheiros de ministério. 
    Dessa fase lembro sua autenticidade. Havia, naquela época, anos 80, uma mais do que infantil categorização entre "tradicionais" e "renovados". Quanto a mim, carimbado ou não, decidi não ser nem um e nem outro.
   Quanto ao meu colega de ministério, pastor Hélio Martins, da igreja nossa vizinha, no Encantado, eu, em Cascadura, ele sempre foi autêntico. A marca de sua liderança sempre foi essa.
   Combativo, sempre; sincero, todo o tempo; leal, sempre o classifiquei desse modo. Entre nós, pastores, sim, era natural mencionar nomes e analisar essa ou aquela postura ou atitude. 
    Se aparecia o nome Hélio Martins, destacava-se por sua autenticidade, acima da mera polêmica. Era quem sempre demonstrava equilíbrio, certeira identidade e referencial para todos nós. 
     Muito especial poder acompanhar sua trajetória, como num arco extenso, que começa na década de 70, atravessa essa faixa dos anos 80, quando ombreei com ele, como pastor também, chegando até nossos dias.
     Um aperto passamos juntos. E o sorriso, de quem fecha os olhos quando ri, vem a minha memória. Ele já era pastor no Encantado. Há poucos anos.
   Eu era presidente da Federação de Mocidade da antiga 2a Região. Planejamos, toda a Diretoria da época, um sensacional Jantar de Namorados. Mas onde, relutávamos?
    Alguém sugeriu no salão anexo da Congregacional do Encantado. Nada mais fácil, com um pastor acessível, alguns centímetros, apenas, à frente de nossa geração. 
       Lançamo-nos ao Supermercado (vai ver que era Sendas, Disco ou Casa da Banha). Toda a Diretoria. Cálculo matemático-nutricional. Tudo pronto, incluída a decoração, recepcionistas e a turma da cozinha. 
  Para logo alguém alarmar: "Gente, subdimensionamos: tem mais gente do que a gente esperava!". Solução imediata: ninguém da Diretoria janta.
    Solução mediata: pedir ao pastor Hélio que nos acompanhe nesse jejum. Pasmem: caso seja necessário, que ele selecione e escale outros para o mesmo ritual. 
     Não foi. Graças a Deus! O vexame ficou em família. E a reação do pastor Hélio Martins foi o seu sorriso. Pastor Hélio Martins fecha os olhos, quando ri, porque o sorriso dele não cabe no rosto. 
     Ele continua a rir. Estamos tristes por sua partida. Quando é assim, trata-se de uma convocação. Sabemos disso. Um rebanho que tem um pastor assim, fica muito triste. 
    Que dizer de sua família, cheia de mulheres. Costumam ser mais fortes do que nós somos. A gente banca o fortão, elas não escondem a coragem. 
   Faz muita falta um pastor desses, um esposo, pai e avô assim. Muita falta fará esse sorriso entre nós. Mais ainda entre todas as suas mulheres. Principalmente elas não negam o temperamento de Hélio Martins. 
    Muitas vezes o vi vermelho, com a jugular projetada para fora e os braços atirados para cima. Mas tudo isso me enche de orgulho, porque sempre vi coerência nesse meu colega de ministério.
     Mas o que mais me lembra de sua marca é o sorriso. Sempre maior do que tudo, no seu temperamento combativo, franco, leal e decisivo. 
    Pastor Hélio Martins onde está e com quem está, continua a sorrir. Ainda que estejamos muito tristes, o consolo que, pelo Espírito, vem suprir nossa saudade e nosso vazio, vem de Jesus, com quem está e na companhia de quem nosso pastor sorri com esse sorriso que não cabe no rosto.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Lição 6 - Atos dos Apóstolos - Início da Perseguição

Atos 6,1-15

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas.
Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço;
e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.
O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.
Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.
Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e Ásia, e discutiam com Estêvão;
e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava.
Então, subornaram homens que dissessem: Temos ouvido este homem proferir blasfêmias contra Moisés e contra Deus.
Sublevaram o povo, os anciãos e os escribas e, investindo, o arrebataram, levando-o ao Sinédrio.
Apresentaram testemunhas falsas, que depuseram: Este homem não cessa de falar contra o lugar santo e contra a lei;
porque o temos ouvido dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deu.
Todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo.

Introdução 
   
      O primeiro mártir: há homens que, como Estêvão, extrapolam sua função. Em determinados momentos o discurso da igreja vai confrontar o mundo e seus representantes, no que têm de mais sensível, seu orgulho pessoal, sua pseudoautoridade e seu poder ilegítimo. At 7,51.
  
      A morte de Estêvão, um divisor de águas na vida da igreja é, ao mesmo tempo clímax de um período crescente de perseguição, início de uma nova fase institucionaliza dessa mesma perseguição e fator de projeção da ação da igreja para fora da Palestina. Fim de um ciclo na vida da igreja, início de outro, embora muito triste, a morte do primeiro mártir foi catalisador dessa nova fase e fator contundente na conversão de Saulo de Tarso. 

       Nunca sabemos todos os desígnios de Deus. Estêvão será apedrejado, Tiago, irmão de João, traspassado ao fio de espada, mas Pedro, milagrosamente, será liberto da prisão com trancas abertas pelo poder de Deus, cegados os guardas de três guarnições. 

       Podemos não saber por que, seja Estêvão ou Tiago, não foram poupados, como Pedro, pelo menos até essa data. Mas a reação e testemunho de Estêvão, perante seus algozes, vai definitiva e decisivamente marcar a vida do líder dessa nova etapa de perseguições, Saulo de Tarso. "Duro é resistir os aguilhões de Deus", ele vai aprender. 

1. Início da perseguição à igreja

    Lucas bem delineia o modo sutil como se desencadeou a perseguição à igreja. O sermão de Pedro no Templo de Jerusalém, At 3,12-26, após a cura instantânea de um paralítico de nascença, At 3,1-11, com mais de 40 anos se vida, At 4,22, provocou entre as autoridades uma comoção de grande proporção, elas começando a achar que deveriam pôr um freio na atividade apostólica. 

     A reação foi imediata, mas cuidadosa, visto que os judeus mediavam entre ser radicais, e perder o apoio do povo, e não fazer nada, deixando livre o caminho aos apóstolos. Eram as mesmas autoridades da crise que desembocou na crucificação de Jesus. Sumo-sacerdote, linhagem de levitas, demais autoridades e ele ligadas, mais achegadas aos saduceus, ligados ao Templo, ferrenhos inimigos dos fariseus, ligados às sinagogas, partidos político-religiosos rivais nos tempos no Novo Testamento, At 4,1-7:
"Falavam eles ainda ao povo quando sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos; e os prenderam, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, pois já era tarde. Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil. No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades, os anciãos e os escribas com o sumo sacerdote Anás, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e, pondo-os perante eles, os arguiram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?

      A pergunta não poderia ter sido mais específica e mais exata, visto serem usados os indicativos "com que poder" e "em nome de quem", assim como a reposta de Pedro não poderia ter sido mais magistral, At 4,8-20:

1. O detalhe da menção que Lucas faz, At 4,8, "Então, Pedro, cheio do Espírito Santo", confere com o modo clássico de testemunho com que Jesus autorizou a igreja em seu nome, At 1,8, "mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo" e, anteriormente, prevenira-os dessa ação do Espírito, Mt 10,19-20, "E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós".

2. O distintivo da reposta de Pedro começa por sua Introdução, cheia de ironia e certeira na contradição daquela reunião de notáveis. Antes de dizer "com que poder" e "em nome de quem", Pedro afirma que todo o "circo" armado, prisão, interrogatório e interpelação, com o desfile da "elite" judaica, era tudo "... a propósito do benefício feito a um homem enfermo e do modo por que foi curado", At 4,9. Enfim, era contraditório a acusação, em vista de um benefício feito. 

3. Uma vez feito esse preâmbulo, Pedro vai direto ao assunto. Quando menciona o "em nome de quem", Pedro introduz um "sermão de defesa" que, além de um libelo jurídico, é um sermão profético, no qual é mencionado o kerigma, morte por homens/por redenção dos pecados/ressurreição para salvação/pelo poder de Deus, assim como são desafiadas e reponsabilizadas aquelas autoridades, At 4,10: "... tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós".

4. Pedro coroa sua argumentação, logo após a menção do kerigma, núcleo central da mensagem do evangelho, presença obrigatória em qualquer sermão de testemunho da igreja, sejam os de Atos, sejam outros ao longo de sua história, o apóstolo define o perfil de Jesus, segundo as Escrituras, colocando em xeque aqueles "maiorais", cobrando deles, e de quem ouvisse (ou lesse) esse libelo-sermão, uma resposta de fé, At 4,11-12:
"Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos".

1. Jesus é "pedra rejeitada" (aqui, menção das Escrituras) por vocês, os "construtores" (aqui, de novo, a ironia magistral de Pedro): os construtores que não sabem começar a partir do único fundamento sólido, a "pedra angular", que é Jesus: o edifício que (não) construíram, desabou;

2. Não há salvação em nenhum outro nome. "Salvação", soteria, no grego, tem sentido amplo e significa, desde "remédio", "saúde", "cura", até "resgate" e "redenção". Aqueles homens, diante de Pedro, não se incluiriam, espontaneamente, no rol dos carentes de salvação. Numa certa altercação com o próprio povo, em Jerusalém, numa das festas, Jesus expôs essa necessidade a eles, Jo 8,32-34:
"... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado".

  Exatamente: a proposta e efeito do ministério de Jesus é a cura, o resgate, a redenção da escravidão do pecado. Aqueles homens do Templo representavam uma estrutura social, econômica, religisosa, política, enfim, inútil para realizar o que Jesus, no ato da cruz, morte e ressureição, realizou: a salvação da escravidão do pecado.

      A afirmação final de Pedro encerrou o belo ciclo de sua argumentação: "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos".

   Este, Jesus, foi o "nome", requerido e inquirido, pelo qual aquelas autoridades haviam interpelado Pedro e, certamente, pelo menos, João, presença quase imperceptível, porém constante e próxima a Pedro, silencioso em Atos mas, sem dúvida, fundamental na composição, com seu amigo, desde as margens do Genesaré e da vocação de Jesus, de uma dupla afinada e usada pelo Espírito Santo nesse início marcante e desafiador do ministério da igreja.

     Desde Jo 18,16, quando João o chamou "para dentro", "Pedro, porém, ficou de fora, junto à porta. Saindo, pois, o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, falou com a encarregada da porta e levou a Pedro para dentro", assim como em Jo 20,6-8, quando juntos foram ao túmulo, movidos pela notícia da ressurreição, "Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu". Não se separaram até esse esforço conjunto, Pedro, a voz dos sermões, João, seu contraponto em silêncio. 

2. A segunda prisão dos apóstolos

          Embora iniciada de modo sutil, porque as autoridades judaicas faziam média com o povo, a perseguição vai recrudescer. Interessante que a sugestão dada por Gamaliel, que foi "largar de mão", para fazer o teste de autenticidade, pelo tempo, At 5,38-39, não será seguida, principalmente, pelo mais notável de seus alunos, Saulo de Tarso, At 22,3, que, até Jesus acossá-lo com aguilhões, At 26,14, será o campeão das perseguições, At 8,3.

    Mas até chegar nesse clímax, com a morte de Estêvão, foi gradua. Em At 4,13-31, estão descritas as consequências desse segundo encarceramento, a postura dos apóstolos e a reação da igreja:

1. At 4,13-17: as autoridades reconhecem que não havia do que acusar os apóstolos e que, mesmo diante do povo, foi um sinal notório a cura do paralítico de mais de 40 anos, pedinte à porta do Templo, conhecido de todos. Mas decidiram, então, coibir, sob ameaça, a atividade e, principalmente, a pregação deles: "Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum". v. 17.

2. At 4,18-20: também foi magistral a resposta de Pedro, quando de modo franco afirmou que eles mesmos julgassem se deveriam ser obedecidos, antes de que obedecessem ao próprio Deus. O testemunho do evangelho é intransferível, urgente e não se deixa intimidar: "Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido", v. 20.

3. At 4,21-22: as autoridades reforçam,  porém cautelosas e intimidadas pelo povo, sua ameaça aos apóstolos, visto que era dada glória a Deus pela cura incontestável: o homem tinha tempo de mídia e história antiga de pedinte à porta do Templo.

4. At 4,23-31: uma vez soltos, regozijaram-se, contando aos irmãos tudo o que se passou com eles. A igreja, então, reúne-se e passa a clamar a Deus, admirada de que sua missão seja alvo de perseguição. Leem o Salmo 2 e intercedem em seu favor, para que, sem medo, prossigam: "...olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus", At 4:29,30. E a consequência foi que, ainda com mais coragem, seguissem proclamando o evangelho, sua missão primordial. 

      Após um breve relato sobre a condição geral da igreja, ainda que diante dessa repressão, At 4,32-35, vem o relato da oferta de José, At 4,36-37, o Barnabé, de Chipre, que vai desempenhar, num futuro próximo, papel vital na vida de novo convertido do apóstolo Paulo.

     Esse relato como que abre uma relação com a descrição anterior, da seriedade com que a Igreja focava tudo o que fazia, em relação à ação do Espírito, em seu ministério, no caso específico de pôr, aos pés do Senhor, para suprimento do grupo, o que fosse entregue como oferta.

      E em relação à narrativa seguinte, de At 5,1-11, quando o casal Ananias e Safira simularam a entrega de ofertas, no mesmo espírito de entrega de José Barnabé mas, desta vez, mentindo ao Espírito Santo, a interpretação dessa unidade não é de que:

1. Quem mentir ao Espírito Santo, na igreja, cairá fulminado diante da congregação. Por duas razões: (1) a razão prática, que esse casal não foram os primeiros, nem únicos e nem últimos mentirosos, até hoje, na história da igreja e, nem por isso, os que mentem caem fulminados; (2) a razão hermenêutica é porque, como com os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, Lv 10,1-7, ou com Usá, filho de Abinadabe, em 2 Sm 6,6-7, e mais com os revoltados contra Josué e Calebe, que os queriam linchar, em Nm 14,10, em todas elas com interferência direta de Deus e consequências negativas palpáveis, a santidade de Deus foi afrontada e, nesses casos específicos, narrados nas Escrituras, foi de Sua soberania intervir desse modo, para que o temor do Senhor ficasse ressaltado e aprendido entre o povo, como anotado em At 5,11; Lv 10,6-7; e Nm 14,20-21.

      Como diz Paulo Apóstolo em Gl 6,7: "Não vos enganeis: de Deus não se deixa escarnecer; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará". Pois nos textos acima, Deus demonstrou isso de uma forma explícita e contundente. Em todas as outras, demonstrará em juízo, diante de Si mesmo.

     Mas foi didático somente nessas primeiras demonstrações. Mesmo porque muitos mártires serão linchados, arca e Templo serão profanados e muitos mentirosos não cairão mortos. Mas o temor so Senhor deve prevalecer de dentro para fora, independetemente desses medos de fora para dentro.

     Em seguida a esses fatos, após uma nova panorâmica de ação abrangente da igreja, Lucas vai indicar as razões por que a perseguição recrudesceu, até o ponto máximo em Estêvão, e sua própria sistemática "internacionalização", sob a liderança de Saulo de Tarso, até Damasco, capital da Síria. 
    
       Em At 5,11-16 estão enumeradas as ações da igreja que desencadeiam esse processo:

1. o temor do Senhor prevalecia, v. 11;

2. sinais e prodígios, por meio dos apóstolos, Deus realizava entre o povo, v. 12a;

3. A rotina de reunião pública no pórtico do Templo, desde o Pentecostes, continuava, v. 12b;

4. a admiração, por parte do povo, até de quem não seguia com eles, era unânime, v. 13;

5. o número de convertidos seguia aumentando: interessante a menção "homens" e "mulheres", certamente aceitos em igualdade de condições, v. 14;

6. as ruas se enchiam de enfermos, buscando cura, aqui, dois aspectos: negativo (1), a exposição indevida e a ênfase no imediatismo da cura, soemnte, manifestada numa primeira crença  ou superstição, de que a "sombra" de Pedro curava; (2) positiva, o lado positivo dessa exposição, indicando a credibilidade de que a Igreja passou a ser portadora, como no chamado "período de popularidade" de Jesus que, do mesmo modo, acarretou aspectos positivos e negativos, Mc 1,45;

 7. a ação da igreja se estendida às vilas vizinhas, como Jesus havia comissionado, "Jerusalém, Judeia e Samaria e até aos confins da terra". Sem dúvida, expunha a igreja que, mesmo cumprindo seu ministério, despertou a reação que ligo veio.

3. A perseguição em seu clímax 

      As mesmas autoridades de antes, articuladas com os saduceus, partido religioso rival dos fariseus, que  tinham uma "polícia" das cercanias do Templo, que haviam também implicado e perseguido Jesus, veja em Jo 7,45-53.

         Mas outra magistral resposta de Pedro às autoridades judaicas, desta vez, é precedida de um sinal miraculoso da parte de Deus, confirmando que Ele é soberano na condução de sua igreja, que deve estar atenta a sua missão, propósito e autoridade, At 5,19-20:
"Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse:
Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida".

      Com todo o cuidado, sempre fazendo média com o povo, haviam reconduzido os apóstolos à prisão, At 5,17-18. Surpreendidos com a notícia dada pelos guardas, de que ainda que as celas estivessem fechadas e trancadas, estavam vazias, At 5,21-26, as autoridades receberam a notícia de que eles estavam, no seu lugar de rotina e plantão, tranquilamente, pregando no Templo, "ensinando o povo", v. 25, e também somos aqui informados por Lucas que, se contrariados, o povo apedrejaria os emissários do sumo-sacerdote.

       Portanto, foram novamente, buscados e trazidos de modo sutil. O Sinédrio, composto por metade saduceus e metade fariseus, o mesmo tribunal que condenou Jesus num processo-fraude, reuniu-se para ouvir os apóstolos, At 5,27-32, certamente tranquilos pela advertência anterior dada pelo próprio Jesus, MT 10,19-20:
"E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer,
visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós".

      Três aspectos definitivos estão indicados na própria interpelação do sumo-sacerdote Anás: (1) a indicação de que um "ordem expressa" não os intimidava; (2) a comprovação, dada pelas próprias autoridades judaicas, de que a cidade "estava cheia da doutrina" que a Igreja proclamava; e (3) que elas mesmas ressentiam-se da acusação de que eram compiladas pela morte de Jesus.

     E a resposta de Pedro, diante do libelo acusatório de Anás e sua turma, foi bem ao seu estilo: sequencial, inteligente e cirúrgico, na melhor proporção da ação do Espírito Santo na vida dele e, em sua forma, novamente, libelo de defesa e sermão:
1. Introdução : v. 29, neutralizou o argumento inicial de Anás: "ordem" dele era nula, diante do mandado de Deus;
2. Corpo do libelo-defesa: vv. 30-31, kerigma, 2.1. Deus ressuscita Jesus, a quem eles haviam pendurado na cruz, 2.2. Deus o enaltece, à Sua destra, a Príncipe e Salvador, concedendo a Israel, por ele, remissão de pecados;
3. Conclusão: v. 32, aquelas autoridades, pois, estavam diante dea testemunhas que, tanto quanto o Espírito Santo, confirmavam tudo o que foi exposto.

    Essa resposta contundente de Pedro aguçou duas reações, definidas nas palavras de Lucas, "enfurecer-se" e "matar" os apóstolos. Porém, entre eles, destaca-se uma sábia opinião, exatamente da parte do homem que era Mestre de, na época, Saulo de Tarso: Gamaliel.

     Propôs aquele que, popularmente, ficou conhecido como o "teste de Gamaliel". Largar de mão aqueles homens, em suas atividades. Porque já conheciam a história de dois pseudo messias, Teudas e Judas, dois homens de mídia daqueles dias.

     Ambos morreram e seus adeptos foram dispersos. Mas esses, adverte Gamaliel, com um argumento definitivo: caso o que fazem seja em seu próprio nome, como os exemplos dados, o tempo se encarrega de obliterar tudo: mas caso seja da parte de Deus, vocês serão flagrados em luta contra Deus.

     Bastou. Admitiram a sensatez de Gamaliel. Prós e contras, como já esclareceu Lucas, ficar mal com o povo, também não os apetecia. Não deixaram de mandar açoitar só apóstolos, advertirem-nos mais uma vez e soltaram-nos.

     A alegria do grupo era reconhecer, neles mesmos, os efeitos de sua fidelidade ao Senhor e constatar que seguiam e experimentavam os mesmos revezes que Jesus. Identidade total com o Mestre. E ainda seguiram desobedecendo as autoridades religisosas dos judeus:

     Todo dia, de casa em casa e no Templo, não casavam de ensinar e pregar Jesus, o Cristo, v. 42.

     

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Jesus, em toda a parte

"E Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças", Mt 9,35.

       Jesus estava passando. Onde está Jesus? Ele precisa passar novamente, por toda a parte, ensinando, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. 
       Que falta nos faz Jesus! Esse nome está na boca de muitas gente. Onde está o poder desse nome? O que Jesus pode fazer por nós agora? 
     Ele ungiu sua igreja. Enviou-a ao mundo. Ela pode ensinar, em nome dele, pregar o evangelho do Reino também e, quanto à cura, muitas vezes tem a pretensão de realizar. 
      Cura dos males físicos, dos males do corpo. Cura dos males da alma e cura dos males do espírito. A maldade, que o homem deixou entrar na sua vida e no mundo, trouxe males que afetam ele todo. 
    Afetam a natureza. Daí, micro-organismos serem nossos inimigos. Nessas horas, que somos afetados por males que não fazem parte do que Deus criou de bom, clamamos pelo nome de Jesus. 
      Por onde ele anda? Agora, que ressuscitou, está em toda a parte. Está conosco agora. E, neste exato momento, lembra-nos a parábola do grão de mostarda: aquela que mostra o reino de Deus alastrando-se e enchendo o mundo inteiro, a partir de um Renovo, Jesus, sendo o evangelho a semente dessa hortaliça: Mt 13,31-31; Mc 4,30-31; e Lc 17,5-6.
    E a comparação que aparece em Mt 17,20. Está à nossa disposição a fé como grão de mostarda. A primeira, para anunciar o reino de Deus, papel inclusivo e exclusivo da igreja. A outra, para ter autoridade sobre a maldade que se manifesta em nós e sobre os demônios que a incitam.
     Não se aplica à cura de todas as doenças, como se a igreja se tornasse uma agência de cura, como muitas assim se apresentam e, quando ela não ocorre, culpam os que a procuram, desesperados, por não terem fé. 
     Jesus está conosco. Jesus está presente em toda a parte. Não mais "anda por", mas "está com". Proclamar o evangelho do Reino, pesa sobre a igreja fazer constantemente. Anunciar que Jesus tem autoridade sobre todo o tipo de mal, também é competência da igreja proclamar, denunciar e vivenciar. 
     Quanto a curas, quando, onde e com que intensidade vão ocorrer, é soberania e vontade exclusiva de Jesus. A Igreja deve e pode clamar por cura, mas esse poder é exclusivo de Jesus. Recebemos poder para ser testemunhas dEle. Mas o poder de curar a ele pertence. 
     Toda a cura vem de Jesus. Toda a cura vem por Jesus. Salvação é cura total da maldade no ser humano. Salvação é autoridade sobre o mal e sobre espíritos imundos. Mas o poder da cura física do corpo, pertence exclusivamente a Jesus.

     Confia em Deus.

https://www.facebook.com/100000250718162/posts/3185125638172429/?sfnsn=wiwspwa&extid=MQlxdSYt8pREJ9BA&d=w&vh=i




A vida tem tristezas mil
Nem tudo é um céu de anil
Mas contra a dor que é tão sutil
Há um caminho só:


Confia em Deus,
Que Ele sempre te ouvirá
Confia em Deus
Que Ele nunca falhará
Confia em Deus
Que a negra nuvem passará
Oh! não duvides
Mas confia em Deus




E se tua fé provada for
E te esqueceres do Senhor
Necessitando um Salvador
Há um caminho só:



Confia em Deus,
Que Ele sempre te ouvirá
Confia em Deus
Que Ele nunca falhará
Confia em Deus
Que a negra nuvem passará
Oh! não duvides
Mas confia em Deus

Deve ser para ouvir orações

    Deve ser para ouvir orações. Deus anseia por ouvir orações. Mas que orações? Alguns salmistas responderam. 
   Salmistas são especialistas em orações. Diversas modalidades, diversas circunstâncias, espontaneidade, aflição, gratidão, louvor, intercessão, petição, livramento, lamentação. 
    Deve ser para ouvir orações. Quantas orações, agora, neste momento, Deus está ouvindo? Ore agora, você que está lendo. Será, porventura, Deus movido por orações? Tiago democratizou a oração, ao generalizar, dizendo ser Elias como nós. 
     Muita pretensão nos julgarmos como o profeta Elias. Mas Tiago nos compara a ele e nivela igual toda oração. Oração é como o balbuciar de criança. Assim como elas falam o incompreensível, até que aprendam sua linguagem, nós também balbuciamos em oração. 
     Deve ser para ouvir orações. O Espírito também, semelhantemente, ajuda-nos na oração, porque não sabemos orar como convém. Deus nos ama. Jesus é Deus que se nos fez igual a nós. Exceto no pecado. 
     E o Espírito é Deus que habita em nós. Antes que falemos, já sabe tudo o que vamos dizer. Mas antes, não é ainda oração. Oração é o momento da fala.
    Ora, ouvíssemos a voz de Deus. Ele quer ouvir a nossa. Deve ser para ouvir orações. Neste momento, no mundo todo, o que mais se faz são orações. 
     Há quem o faça com fé. A primeira oração é feita por fé. Daí em diante, todas são feitas por fé. A fé pode ser robusta. Pode ser frágil. Mas deve ser certeza. Por definição.
     A definição de fé parece cair num vazio sem fim. Sem chão. Sem teto. Certeza do que se espera. Ora, então não veio ainda. Convicção do que se não viu. 
   Fé. Oração depende de fé. Sem fé, é impossível agradar a Deus. Sem fé, não há oração. Sem oração, não há fé. Deve ser para ouvir oração. Deve ser para ver fé em exercício. 
     Diante de Deus, hoje, há lamento. Há angústia. Há gratidão. Há louvor. Há choro. Há cansaço. Há perplexidade. Ora, Deus, quantos mais?  Diante de Ti, em oração.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Lição 5 - Pedro e o sermão aos gentios - At 10,27-48

At 10,27-48

27. Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali,
28. a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo;
29. por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?
30. Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes
31. e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus.
32. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar.
33. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.
34. Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas;
pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.
35. Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos.
36. Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judeia, tendo começado desde a Galileia, depois do batismo que João pregou,
37. como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;
38. e nós somos testemunhas de e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro.
40. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto,
41. não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos;
42. e nos mandou pregar ao povo e testificar
que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos.
43. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados.
44. Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.
45. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo;
46. pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro:
47. Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?
48. E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias.

Introdução

     Alguns fatores são decisivos para a igreja, colocada diante de sua precípua missão, que é o anúncio do evangelho. Ela não pode selecionar seu auditório. Não pode estabelecer um padrão de aceitação de sua mensagem, como se fosse um filtro de qualidade, para agregar grupos de pessoas: como Jesus, ela vai anunciar a todos e a qualquer um, a todas as gentes, aos gentios a "toda língua, tribo, povo e nação". E precisa enfrentar e vencer obstáculos, de toda a natureza, impostos ao cumprimento de sua missão.

1. A chave do reino

      Jesus é "a porta das ovelhas", Jo 10,7. E a Pedro ele disse que deu a chave, Mt 16,19 que, certamente, é o evangelho. A chave de acesso à porta, que é Jesus, é o evangelho do reino, de que ele mesmo iniciou a propagação, Mc 1,14-15.

      Pedro teve o privilégio de, pela primeira vez, anunciar o evangelho de Jesus, por meio do sermão de Pentecostes, para um auditório predominantemente judaico. Agora, Deus o envia a anunciar o mesmo evangelho na casa específica de um não judeu, chamado Cornélio.

     Estava inaugurada, definitivamente, a era da igreja, anunciando o evangelho a todos, primeiro ao judeu, como diz Paulo Apóstolo, e também ao grego, ou gentio, ou não judeu: Rm 1,16.

      Passamos, a seguir, a indicar a importância dessa ida de Pedro à casa de Cornélio, a verdadeira engenharia necessária para o convencimento de Pedro, a mobilização de Deus para a promoção desse encontro e os obstáculos e resistência de Pedro em cumprir sua comissão que, afinal, era ordem direta de Jesus para a igreja: Mt 28,19-20:
"Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século".

      Vejamos, por ordem, a sucessão dos fatos preliminares, no trecho de At 10,1-26:

1. At 10,1-2: síntese da história do centurião (comandante militar romano) Cornélio, de Cesareia, cidade beira-mar, construída em homenagem a Cesar e residência de administradores romanos: ele orava a Deus com constância, mas não conhecia o evangelho;

2.  At 10,3-6: a urgência para que Cornélio ouvisse o evangelho, em atendimento ao seu clamor em oração, era tanta, que Deus lhe enviou um anjo, instruindo um recado para buscar Pedro em Jope, uma vila também à beira-mar, na casa onde ele se hospedava;

3. At 1,7-8: imediatamente, chamou dois funcionários da casa e um soldado piedoso e lhes contou tudo, enviando-os a Jope: Cornélio compartilhava sua fé em sua casa e na liderança dos cem solados de sua centúria, como o "havendo-lhes contado tudo", At 10,8, indica;

4. At 9,10-18: enquanto, por um lado, Deus revela a Cornélio, por meio de um anjo, a estratégia de mandar buscar Pedro, vai agir em Pedro, a fim de quebrar sua resistência, fruto do preconceito dele contra não judeus:
4.1. No horário de oração, no terraço da casa de Simão, em Jope, à hora do almoço, Deus concede a Pedro uma visão, v.10;

4.2. Propositalmente, Deus provoca o apóstolo, faminto que está, a comer uma qualidade de animais que a lei de Moisés prescreve como imundos, vv 11-13;

4.3. Pedro rejeita, de imediato, mas Deus lhes ordena comer e que não chame de imundo o que Ele purificou: isso se repete por 3 (três) vezes, vv 14-16;
4.4. Ainda sob efeito dessa visão, chegam os emissários de Cornélio e Pedro recebe esse recado, mas o próprio Espírito Santo o adverte que vá, que não rejeite o convite que lhe será feito, vv 17-20;

4.5. Pedro os recebe, ouve a síntese que descreve a personalidade de Cornélio, que inclui, além do outro rol de virtudes, ser acolhido com simpatia pela comunidade judaica: e ouviu que o emissário "foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras". Não havia como rejeitar, vv. 21-23;

4.6. Um dia levou a jornada entre Jope e Cesareia. Pedro encontra Cornélio que, num acesso de cortesia ao apóstolo, prostra-se diante dele. Pedro pede que se levante, pois ambos são homens. Chegam a casa, onde Cornélio reuniu parentes seus e achegados, para ouvir a grande nova, vv. 24-26.

2. O primeiro sermão aos gentios.

      Chegou o grande momento. Pedro traz a boa-nova do evangelho à casa de Cornélio, para ele, sua família e a todos a quem ele reuniu. Para isso, um anjo lhe apareceu em oração. Então, enviou emissários a Pedro.
 
       Antecipadamente, Deus preprara Pedro por meio de uma luminosa visão, à hora do almoço, repetida por 3 (três) vezes. Ao final, quando chegam os emissários de Cornélio, o Espírito Santo fala a Pedro, At 10,19-20:   "Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu os enviei".

        Decididamente, qualquer resistência do apóstolo foi quebrada. Não devemos menosprezar as hesitações de Pedro, porque todos nós, de um modo ou de outro, deparamos barreiras internas e externas quando da responsabilidade de  pregar o evangelho.

       Pedro faria um deslocamento de um dia até à casa de não apenas um não judeu, mas um militar romano, Centurião, símbolo da ocupação romana do país de Israel. Tudo que simbolizava uma humilhação total, perda de autonomia política e lembrança permanente de falhas anteriores, numa história de desobediência do povo a Deus. 

       Para que ir à casa desse romano? Pregar uma mensagem que o tornará um deles. Era muito difícil para os novos convertidos, na maioria judeus, entender que, sem os rituais judaicos, apenas dizendo "eu creio em Jesus", e então batizado, seria-lhes um igual.

        Em contrapartida, todos os demais judeus, autoridades que já haviam mostrado suas garras, tentando bloquear, por ameaças e punição, o ministério apostólico, vigiavam e intimidavam a igreja nascente. As justificativas de Pedro para essa, na opinião deles, estranhíssima viagem, teriam de ser muito bem explicadas.

        O diálogo entre hóspede e hospedeiro, logo que se encontram, embora meio vexaminoso, como se Pedro tivesse de se desculpar, demonstrando que jamais estaria ali, se não fosse por puro constrangimento, At 10, 27-29, foi preâmbulo do sermão inédito: a "chave do reino" que abria a porta, simbolicamente, a todos os gentios:
"Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali, a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?".

       E Cornélio historiou o modo como Deus se antecipou, em sua oração, bem como perante a resistência que, certamente, Pedro demonstraria, para que o evangelho alcançasse Cesareia, na casa de um notável centurião, At 10,30-33:
"Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.

        O primeiro sermão de Pedro aos gentios, como o do dia de Pentecoste, pode ser dividido em três partes: Introdução, At 10,34-36; Corpo do sermão, At 10,37-41; Conclusão, At 10,42-43.
   
        A temática da Introdução ajusta-se ao contexto que Pedro encontra montado por Cornélio, em sua casa, ansioso pela palavra do evangelho. Aqui aprendemos uma lição: a ansiedade pelo evangelho é intrínseca à condição humana, cega para essa realidade, e cabe a nós, igreja, diagnosticar isso e anunciar a boa-nova. Vejam, sobre isso, Paulo, em 2 Co 4,3-4:
"Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus".

     Segunda lição, a mensagem do evangelho, como bem identificou Pedro em Pentecostes deve, com clareza e senso de oportunidade, encaixar-se à circunstância de sua proclamação. Jesus sempre ajustava suas lições ao contexto de seus ouvintes, identificando a situação exata que lhes ajudaria a compreender e reter suas palavras.

     As parábolas são exemplo disso todo o tempo. Os diálogos com os apóstolos, que bem conheciam a cultura da Palestina, onde pastor e ovelhas, eiras da batida do trigo ou esmiuçar de uvas, figueiras, videiras, água dos poços, enfim, Jesus praticava a arte da clareza, simplicidade e profundidade de seu discurso, à qual a igreja, com inteligência e guiada pelo Espírito, precisa dar continuidade.

      Na Introdução, At 10,34-36, Pedro ainda se mostrava afetado por sua condição: um judeu que, apesar de testemunha de Jesus e alçado a uma posição de vanguarda, no anúncio do evangelho, ressentia-se da pressão que sofria, e ainda sofreria, em seu retorno a Jerusalém, tendo que se justificar perante os demais irmãos da igreja, At 11,1-18, baseado na seguinte cobrança: "Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles", v.3.

       A partir desse ponto, ainda no contexto de suas vexaminosas escusas, "Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável", vv. 34-35, seguirá em frente na parte introdutória. 

  Vai encadear sua argumentação, mencionando uma panorâmica do contexto da cultura judaica e divulgação dos fatos relacionados a Jesus para então, baseado nesses referenciais, dar continuidade ao seu sermão: "Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos", v.36.

       Iniciado o Corpo do Sermão, At 10,37-42, Pedro historia a revelação de Jesus, a partir do batismo de João Batista, e o começo de seu ministério no circuito pela Galileia, At 10, 38, "por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele", e parte para a apresentação do kerigma: morte, por violência dos homens, em perdão dos pecados, e ressureição, pelo poder de Deus, At 10,39-41 do que os apóstolos, e agora a igreja, são testemunhas:
"...nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos".

      A Conclusão se opera de forma abrupta. Reparem que as palavras de Pedro já deixam de ser de exposição do kerigma, agora voltadas à legitimação, tanto dele e da igreja, como testemunhas, quanto da mensagem, segundo o que já foi esplanado, At 10,42-43: "...e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados".

       A transição, já no versículo anterior, caminha para contextualizar ali, naquele momento, o ato da pregação especificamente àqueles ouvintes: "...e nos mandou pregar", "testificar", "Dele todos os profetas dão testemunho", "todo aquele que crê recebe remissão de pecados", a todos ali reunidos como alvo de testemunho.

      Só falta o apelo, seja ele direto, feito por Pedro, ou como em Pentecostes, quando os que ouviam perguntaram "Que faremos, irmãos?", At 2,37. E, por falar em Pentecostes, Deus vai operar o mesmo sinal, idêntico efeito, em sua repetição, também nessa oportunidade.

3. O efeito do sermão

     Não se deve esperar que qualquer prédica seja chamada sermão. Aqui estamos analisando um segundo sermão de Pedro. Há um outro que ele também pregou no Templo, At 3,12-26, quando da cura do paralítico à porta desse mesmo Templo, At 3,1-11.

     Da mesma forma, Pedro ajustou sua mensagem ao contexto e ao tipo de público em volta. Sermões não "vêm", por download, concedido pelo Espírito Santo. E não é boa intenção, somente, que os tornam plenos de propriedade, conteúdo e efeito, como os de Pedro.

     Autoridade e conteúdo anterior são indispensáveis. Pedro vem de um preparo antecipado, em termos práticos e espirituais. Quando ele é apontado, em At 4,13, pelas autoridades judaicas, como "iletrado e inculto", trata-se do modo como elas, munidas de descaso e preconceitos, encaravam os apóstolos de Jesus.

      Esse texto costuma ser interpretado, fora de contexto e, às vezes, de forma intencional, para dizer que Deus tem certa preferência por usar "iletrados e incultos", para que a manifestação de seu (de Deus) poder seja maior.

     Deus pode, sim, usar iletrados e incultos, mas nunca usa desleixados e preguiçosos. Só conheço pessoas de muita dificuldade em leitura, cujo dom e talento não foi serem intelectuais, mas sempre muito esforçadas, principalmente, na leitura da Bíblia.

     Deus usa, indistintamente, como usou Paulo, João, o autor da carta aos Hebreus e o próprio Lucas, que são intelectuais, com todo o poder, como usou Pedro, Tiago, Marcos, enfim, outros escritores de menor envergadura. Mas todos plenos do Espírito e nenhum deles presumido, vaidoso ou preguiçoso.

     Para pregar como pregou, Pedro possuía conteúdo bíblico antecipado, como demonstrou em Pentecostes, e vida de oração e comunhão com Deus, como quando, neste mesmo caso de Cornélio, subia ao terraço, na casa de seu xará, Simão, o curtidor, em Jope, para orar. Ali teve chance com Deus e indicado pelo próprio Deus, de cumprir o seu papel.

      Dizer que a Conclusão, At 10,42-43, ou o encaminhamento para uma foi abruptamente interrompido, antes de que a assistência, na casa de Cornélio, fizesse a mesma pergunta que em Pentecoste, foi porque houve fenômeno similar ao daquele dia, exatamente como sinal de legitimidade da aceitação da mensagem do sermão, da operação da conversão entre os ouvintes e do batismo no Espírito Santo. Expresso a seguir, At 10,44-47:
"Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?".

       As conclusões em relação à equivalência com Pentecostes se dá pelas seguintes indicações do texto:

1. Pedro, com toda a sua reserva em delocar-se à casa de um gentio, principalmente um comandante militar romano, como todo o background que o aguardava em Jerusalém, precisava de uma confirmação, para si próprio, o pequeno grupo que vinha com ele e para seu auditório futuro. E vai usar este argumento com eles, quando foi chamado a justificar sua conduta, At 11,15-17:
"Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?".

2. Atenção para a identificação com o Pentecoste. Porque aqui se repete como confirmação das mesmas promessas, não um arremedo, em si, do Pentecoste, mas a mesma confirmação das promessas de salvação e batismo no Espírito Santo para os que creem. Releia o texto acima e veja que foi assim que Pedro compreendeu e assim o texto menciona, em At 11,17: era absolutamente necessária essa correspondência, para certeza dos apóstolos, "...caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio".

3. Para os apóstolos o fenômeno da fé em Jesus, por parte dos que ouviam a pregação, era novo. Daí o batismo no Espírito Santo, ocorrido com os apóstolos em Jo 20,22, dos novos convertidos em Pentecostes, At 2,38, e agora em Cesareia, como legítimo sinal de cumprimento da promessa de Jesus, de envio e missão do Espirito Santo, na confirmação dos novos convertidos. Está comprovado três vezes pelo texto bíblico: At 10,44, o fato em si; a descrição de Pedro a igreja, em Jerusalém, no seu entendimento da confirmação do fato, At 11,15; e a associação do batismo no Espírito Santo deles mesmos, os apóstolos, no Pentecoste e agora aos gentios, em Cesareia, At 11,16-17: "Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?", o "lembrei", de Pedro, e "o mesmo fim que a nós outorgou quando cremos no Senhor Jesus".

4. Algumas advertências finais: quando Lucas menciona, em At 10,46, o "falar em línguas" também menciona o que era ouvido, isto é, "engrandecendo a Deus", o que indica que, do mesmo modo que em Pentecostes, era compreendido o que os recém-convertidos diziam. E quando Pedro descreve aos irmãos de Jerusalém, cita o indicativo principal da conversão dos novos irmãos em Cesareia, associado à qualquer experiência de conversão, ao longo da história da igreja, que é receber o Espírito Santo como dom, e não receber um dom do Espírito: comparar At 2,38 com Ar 11,17: "Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus". 

Conclusão

1. A mesma ênfase de Jerusalém, no dia de Pentecoste, foi a de Cesareia, na casa do centurião Cornélio: o anúncio do evangelho. E por meio de dois sermões, ajustados ao contexto de seus ouvintes e entregues pelo mesmo apóstolo a quem, simbolicamente, Jesus havia dito ter entregado a "chave do reino": o evangelho de Jesus é a chave de entrada no reino de Deus e Jesus é a porta de entrada;

2. Era tão urgente pregar o evangelho: assim como foi boa-nova em Jerusalém, a primeira vez após a ressurreição de Jesus, entre judeus foi, da mesma forma, em Cesareia, entre gentios e sempre será boa-nova, plena de novidade, urgência e poder, pregada pela igreja, ao longo de sua história. Era necessário preparar Pedro e, para tanto, Deus agiu em duas frentes. Cornélio é indicador da necessidade permanente que há na humanidade de conhecer, na possibilidade de crer, no evangelho. Por isso Deus concede uma visão a ele. E quanto a Pedro, cuja resistência seria maior, em função da pressão social que havia entre os judeus, sobre ele ou qualquer um, de rejeição a gentios, a estratégia de Deus teria de ser mais elaborada. A Igreja pode ser vítima de si mesma, de suas reservas e covardia, diante de sua responsabilidade de anunciar o evangelho. Terá de corrigir-se, no permanente suprimento de vigor, da parte de Deus, como ocorreu com, ninguém menos, do que o portador da "chave do reino".

3. Efetivamente, ocorreu uma sucessão de eventos: visão do anjo a Cornélio, três emissários de confiança enviados a Pedro, a repetição, ao mesmo  Pedro, de uma visão, por três vezes, uma advertência feita pelo Espírito Santo, para que recebesse, atendesse e acompanhasse os emissários. Tudo isso em função e subordinado ao interesse, urgência e necessidade de anunciar o evangelho. Uma vez fechado esse ciclo de obediência, a confirmação do batismo no Espírito Santo, como confirmação da conversão, padrão de reconhecimento, em socorro da autenticidade, para apóstolos, os próprios convertidos e, posteriormente, a própria igreja. Tudo o que ocorreu na casa de Cornélio, do mesmo jeito que em Pentecostes, assim como quando os próprios discípulos creram, tendo sobre eles, assim como os crentes de Pentecostes e agora com esses novos crentes, em Cesareia, terem sido batizados no Espírito Santo.

       A principal tarefa da igreja é proclamar o evangelho. Aqui lembramos da recomendação de Paulo a Timóteo, jovem pastor a quem o apóstolo instruía: 

"...prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina".  2 Timóteo 4:2

      E, para tanto, terá, da parte de Deus, todo o empenho e paixão. Como Deus considera urgente e por essa tarefa se empenha, assim deve proceder a igreja. E, para tal, contar, em tudo, com o próprio empenho de Deus.