terça-feira, 14 de abril de 2020

Lição 6 - Atos dos Apóstolos - Início da Perseguição

Atos 6,1-15

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas.
Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço;
e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.
O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.
Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.
Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e Ásia, e discutiam com Estêvão;
e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava.
Então, subornaram homens que dissessem: Temos ouvido este homem proferir blasfêmias contra Moisés e contra Deus.
Sublevaram o povo, os anciãos e os escribas e, investindo, o arrebataram, levando-o ao Sinédrio.
Apresentaram testemunhas falsas, que depuseram: Este homem não cessa de falar contra o lugar santo e contra a lei;
porque o temos ouvido dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deu.
Todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo.

Introdução 
   
      O primeiro mártir: há homens que, como Estêvão, extrapolam sua função. Em determinados momentos o discurso da igreja vai confrontar o mundo e seus representantes, no que têm de mais sensível, seu orgulho pessoal, sua pseudoautoridade e seu poder ilegítimo. At 7,51.
  
      A morte de Estêvão, um divisor de águas na vida da igreja é, ao mesmo tempo clímax de um período crescente de perseguição, início de uma nova fase institucionaliza dessa mesma perseguição e fator de projeção da ação da igreja para fora da Palestina. Fim de um ciclo na vida da igreja, início de outro, embora muito triste, a morte do primeiro mártir foi catalisador dessa nova fase e fator contundente na conversão de Saulo de Tarso. 

       Nunca sabemos todos os desígnios de Deus. Estêvão será apedrejado, Tiago, irmão de João, traspassado ao fio de espada, mas Pedro, milagrosamente, será liberto da prisão com trancas abertas pelo poder de Deus, cegados os guardas de três guarnições. 

       Podemos não saber por que, seja Estêvão ou Tiago, não foram poupados, como Pedro, pelo menos até essa data. Mas a reação e testemunho de Estêvão, perante seus algozes, vai definitiva e decisivamente marcar a vida do líder dessa nova etapa de perseguições, Saulo de Tarso. "Duro é resistir os aguilhões de Deus", ele vai aprender. 

1. Início da perseguição à igreja

    Lucas bem delineia o modo sutil como se desencadeou a perseguição à igreja. O sermão de Pedro no Templo de Jerusalém, At 3,12-26, após a cura instantânea de um paralítico de nascença, At 3,1-11, com mais de 40 anos se vida, At 4,22, provocou entre as autoridades uma comoção de grande proporção, elas começando a achar que deveriam pôr um freio na atividade apostólica. 

     A reação foi imediata, mas cuidadosa, visto que os judeus mediavam entre ser radicais, e perder o apoio do povo, e não fazer nada, deixando livre o caminho aos apóstolos. Eram as mesmas autoridades da crise que desembocou na crucificação de Jesus. Sumo-sacerdote, linhagem de levitas, demais autoridades e ele ligadas, mais achegadas aos saduceus, ligados ao Templo, ferrenhos inimigos dos fariseus, ligados às sinagogas, partidos político-religiosos rivais nos tempos no Novo Testamento, At 4,1-7:
"Falavam eles ainda ao povo quando sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos; e os prenderam, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, pois já era tarde. Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil. No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades, os anciãos e os escribas com o sumo sacerdote Anás, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e, pondo-os perante eles, os arguiram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?

      A pergunta não poderia ter sido mais específica e mais exata, visto serem usados os indicativos "com que poder" e "em nome de quem", assim como a reposta de Pedro não poderia ter sido mais magistral, At 4,8-20:

1. O detalhe da menção que Lucas faz, At 4,8, "Então, Pedro, cheio do Espírito Santo", confere com o modo clássico de testemunho com que Jesus autorizou a igreja em seu nome, At 1,8, "mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo" e, anteriormente, prevenira-os dessa ação do Espírito, Mt 10,19-20, "E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós".

2. O distintivo da reposta de Pedro começa por sua Introdução, cheia de ironia e certeira na contradição daquela reunião de notáveis. Antes de dizer "com que poder" e "em nome de quem", Pedro afirma que todo o "circo" armado, prisão, interrogatório e interpelação, com o desfile da "elite" judaica, era tudo "... a propósito do benefício feito a um homem enfermo e do modo por que foi curado", At 4,9. Enfim, era contraditório a acusação, em vista de um benefício feito. 

3. Uma vez feito esse preâmbulo, Pedro vai direto ao assunto. Quando menciona o "em nome de quem", Pedro introduz um "sermão de defesa" que, além de um libelo jurídico, é um sermão profético, no qual é mencionado o kerigma, morte por homens/por redenção dos pecados/ressurreição para salvação/pelo poder de Deus, assim como são desafiadas e reponsabilizadas aquelas autoridades, At 4,10: "... tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós".

4. Pedro coroa sua argumentação, logo após a menção do kerigma, núcleo central da mensagem do evangelho, presença obrigatória em qualquer sermão de testemunho da igreja, sejam os de Atos, sejam outros ao longo de sua história, o apóstolo define o perfil de Jesus, segundo as Escrituras, colocando em xeque aqueles "maiorais", cobrando deles, e de quem ouvisse (ou lesse) esse libelo-sermão, uma resposta de fé, At 4,11-12:
"Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos".

1. Jesus é "pedra rejeitada" (aqui, menção das Escrituras) por vocês, os "construtores" (aqui, de novo, a ironia magistral de Pedro): os construtores que não sabem começar a partir do único fundamento sólido, a "pedra angular", que é Jesus: o edifício que (não) construíram, desabou;

2. Não há salvação em nenhum outro nome. "Salvação", soteria, no grego, tem sentido amplo e significa, desde "remédio", "saúde", "cura", até "resgate" e "redenção". Aqueles homens, diante de Pedro, não se incluiriam, espontaneamente, no rol dos carentes de salvação. Numa certa altercação com o próprio povo, em Jerusalém, numa das festas, Jesus expôs essa necessidade a eles, Jo 8,32-34:
"... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado".

  Exatamente: a proposta e efeito do ministério de Jesus é a cura, o resgate, a redenção da escravidão do pecado. Aqueles homens do Templo representavam uma estrutura social, econômica, religisosa, política, enfim, inútil para realizar o que Jesus, no ato da cruz, morte e ressureição, realizou: a salvação da escravidão do pecado.

      A afirmação final de Pedro encerrou o belo ciclo de sua argumentação: "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos".

   Este, Jesus, foi o "nome", requerido e inquirido, pelo qual aquelas autoridades haviam interpelado Pedro e, certamente, pelo menos, João, presença quase imperceptível, porém constante e próxima a Pedro, silencioso em Atos mas, sem dúvida, fundamental na composição, com seu amigo, desde as margens do Genesaré e da vocação de Jesus, de uma dupla afinada e usada pelo Espírito Santo nesse início marcante e desafiador do ministério da igreja.

     Desde Jo 18,16, quando João o chamou "para dentro", "Pedro, porém, ficou de fora, junto à porta. Saindo, pois, o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, falou com a encarregada da porta e levou a Pedro para dentro", assim como em Jo 20,6-8, quando juntos foram ao túmulo, movidos pela notícia da ressurreição, "Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu". Não se separaram até esse esforço conjunto, Pedro, a voz dos sermões, João, seu contraponto em silêncio. 

2. A segunda prisão dos apóstolos

          Embora iniciada de modo sutil, porque as autoridades judaicas faziam média com o povo, a perseguição vai recrudescer. Interessante que a sugestão dada por Gamaliel, que foi "largar de mão", para fazer o teste de autenticidade, pelo tempo, At 5,38-39, não será seguida, principalmente, pelo mais notável de seus alunos, Saulo de Tarso, At 22,3, que, até Jesus acossá-lo com aguilhões, At 26,14, será o campeão das perseguições, At 8,3.

    Mas até chegar nesse clímax, com a morte de Estêvão, foi gradua. Em At 4,13-31, estão descritas as consequências desse segundo encarceramento, a postura dos apóstolos e a reação da igreja:

1. At 4,13-17: as autoridades reconhecem que não havia do que acusar os apóstolos e que, mesmo diante do povo, foi um sinal notório a cura do paralítico de mais de 40 anos, pedinte à porta do Templo, conhecido de todos. Mas decidiram, então, coibir, sob ameaça, a atividade e, principalmente, a pregação deles: "Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum". v. 17.

2. At 4,18-20: também foi magistral a resposta de Pedro, quando de modo franco afirmou que eles mesmos julgassem se deveriam ser obedecidos, antes de que obedecessem ao próprio Deus. O testemunho do evangelho é intransferível, urgente e não se deixa intimidar: "Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido", v. 20.

3. At 4,21-22: as autoridades reforçam,  porém cautelosas e intimidadas pelo povo, sua ameaça aos apóstolos, visto que era dada glória a Deus pela cura incontestável: o homem tinha tempo de mídia e história antiga de pedinte à porta do Templo.

4. At 4,23-31: uma vez soltos, regozijaram-se, contando aos irmãos tudo o que se passou com eles. A igreja, então, reúne-se e passa a clamar a Deus, admirada de que sua missão seja alvo de perseguição. Leem o Salmo 2 e intercedem em seu favor, para que, sem medo, prossigam: "...olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus", At 4:29,30. E a consequência foi que, ainda com mais coragem, seguissem proclamando o evangelho, sua missão primordial. 

      Após um breve relato sobre a condição geral da igreja, ainda que diante dessa repressão, At 4,32-35, vem o relato da oferta de José, At 4,36-37, o Barnabé, de Chipre, que vai desempenhar, num futuro próximo, papel vital na vida de novo convertido do apóstolo Paulo.

     Esse relato como que abre uma relação com a descrição anterior, da seriedade com que a Igreja focava tudo o que fazia, em relação à ação do Espírito, em seu ministério, no caso específico de pôr, aos pés do Senhor, para suprimento do grupo, o que fosse entregue como oferta.

      E em relação à narrativa seguinte, de At 5,1-11, quando o casal Ananias e Safira simularam a entrega de ofertas, no mesmo espírito de entrega de José Barnabé mas, desta vez, mentindo ao Espírito Santo, a interpretação dessa unidade não é de que:

1. Quem mentir ao Espírito Santo, na igreja, cairá fulminado diante da congregação. Por duas razões: (1) a razão prática, que esse casal não foram os primeiros, nem únicos e nem últimos mentirosos, até hoje, na história da igreja e, nem por isso, os que mentem caem fulminados; (2) a razão hermenêutica é porque, como com os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, Lv 10,1-7, ou com Usá, filho de Abinadabe, em 2 Sm 6,6-7, e mais com os revoltados contra Josué e Calebe, que os queriam linchar, em Nm 14,10, em todas elas com interferência direta de Deus e consequências negativas palpáveis, a santidade de Deus foi afrontada e, nesses casos específicos, narrados nas Escrituras, foi de Sua soberania intervir desse modo, para que o temor do Senhor ficasse ressaltado e aprendido entre o povo, como anotado em At 5,11; Lv 10,6-7; e Nm 14,20-21.

      Como diz Paulo Apóstolo em Gl 6,7: "Não vos enganeis: de Deus não se deixa escarnecer; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará". Pois nos textos acima, Deus demonstrou isso de uma forma explícita e contundente. Em todas as outras, demonstrará em juízo, diante de Si mesmo.

     Mas foi didático somente nessas primeiras demonstrações. Mesmo porque muitos mártires serão linchados, arca e Templo serão profanados e muitos mentirosos não cairão mortos. Mas o temor so Senhor deve prevalecer de dentro para fora, independetemente desses medos de fora para dentro.

     Em seguida a esses fatos, após uma nova panorâmica de ação abrangente da igreja, Lucas vai indicar as razões por que a perseguição recrudesceu, até o ponto máximo em Estêvão, e sua própria sistemática "internacionalização", sob a liderança de Saulo de Tarso, até Damasco, capital da Síria. 
    
       Em At 5,11-16 estão enumeradas as ações da igreja que desencadeiam esse processo:

1. o temor do Senhor prevalecia, v. 11;

2. sinais e prodígios, por meio dos apóstolos, Deus realizava entre o povo, v. 12a;

3. A rotina de reunião pública no pórtico do Templo, desde o Pentecostes, continuava, v. 12b;

4. a admiração, por parte do povo, até de quem não seguia com eles, era unânime, v. 13;

5. o número de convertidos seguia aumentando: interessante a menção "homens" e "mulheres", certamente aceitos em igualdade de condições, v. 14;

6. as ruas se enchiam de enfermos, buscando cura, aqui, dois aspectos: negativo (1), a exposição indevida e a ênfase no imediatismo da cura, soemnte, manifestada numa primeira crença  ou superstição, de que a "sombra" de Pedro curava; (2) positiva, o lado positivo dessa exposição, indicando a credibilidade de que a Igreja passou a ser portadora, como no chamado "período de popularidade" de Jesus que, do mesmo modo, acarretou aspectos positivos e negativos, Mc 1,45;

 7. a ação da igreja se estendida às vilas vizinhas, como Jesus havia comissionado, "Jerusalém, Judeia e Samaria e até aos confins da terra". Sem dúvida, expunha a igreja que, mesmo cumprindo seu ministério, despertou a reação que ligo veio.

3. A perseguição em seu clímax 

      As mesmas autoridades de antes, articuladas com os saduceus, partido religioso rival dos fariseus, que  tinham uma "polícia" das cercanias do Templo, que haviam também implicado e perseguido Jesus, veja em Jo 7,45-53.

         Mas outra magistral resposta de Pedro às autoridades judaicas, desta vez, é precedida de um sinal miraculoso da parte de Deus, confirmando que Ele é soberano na condução de sua igreja, que deve estar atenta a sua missão, propósito e autoridade, At 5,19-20:
"Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse:
Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida".

      Com todo o cuidado, sempre fazendo média com o povo, haviam reconduzido os apóstolos à prisão, At 5,17-18. Surpreendidos com a notícia dada pelos guardas, de que ainda que as celas estivessem fechadas e trancadas, estavam vazias, At 5,21-26, as autoridades receberam a notícia de que eles estavam, no seu lugar de rotina e plantão, tranquilamente, pregando no Templo, "ensinando o povo", v. 25, e também somos aqui informados por Lucas que, se contrariados, o povo apedrejaria os emissários do sumo-sacerdote.

       Portanto, foram novamente, buscados e trazidos de modo sutil. O Sinédrio, composto por metade saduceus e metade fariseus, o mesmo tribunal que condenou Jesus num processo-fraude, reuniu-se para ouvir os apóstolos, At 5,27-32, certamente tranquilos pela advertência anterior dada pelo próprio Jesus, MT 10,19-20:
"E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer,
visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós".

      Três aspectos definitivos estão indicados na própria interpelação do sumo-sacerdote Anás: (1) a indicação de que um "ordem expressa" não os intimidava; (2) a comprovação, dada pelas próprias autoridades judaicas, de que a cidade "estava cheia da doutrina" que a Igreja proclamava; e (3) que elas mesmas ressentiam-se da acusação de que eram compiladas pela morte de Jesus.

     E a resposta de Pedro, diante do libelo acusatório de Anás e sua turma, foi bem ao seu estilo: sequencial, inteligente e cirúrgico, na melhor proporção da ação do Espírito Santo na vida dele e, em sua forma, novamente, libelo de defesa e sermão:
1. Introdução : v. 29, neutralizou o argumento inicial de Anás: "ordem" dele era nula, diante do mandado de Deus;
2. Corpo do libelo-defesa: vv. 30-31, kerigma, 2.1. Deus ressuscita Jesus, a quem eles haviam pendurado na cruz, 2.2. Deus o enaltece, à Sua destra, a Príncipe e Salvador, concedendo a Israel, por ele, remissão de pecados;
3. Conclusão: v. 32, aquelas autoridades, pois, estavam diante dea testemunhas que, tanto quanto o Espírito Santo, confirmavam tudo o que foi exposto.

    Essa resposta contundente de Pedro aguçou duas reações, definidas nas palavras de Lucas, "enfurecer-se" e "matar" os apóstolos. Porém, entre eles, destaca-se uma sábia opinião, exatamente da parte do homem que era Mestre de, na época, Saulo de Tarso: Gamaliel.

     Propôs aquele que, popularmente, ficou conhecido como o "teste de Gamaliel". Largar de mão aqueles homens, em suas atividades. Porque já conheciam a história de dois pseudo messias, Teudas e Judas, dois homens de mídia daqueles dias.

     Ambos morreram e seus adeptos foram dispersos. Mas esses, adverte Gamaliel, com um argumento definitivo: caso o que fazem seja em seu próprio nome, como os exemplos dados, o tempo se encarrega de obliterar tudo: mas caso seja da parte de Deus, vocês serão flagrados em luta contra Deus.

     Bastou. Admitiram a sensatez de Gamaliel. Prós e contras, como já esclareceu Lucas, ficar mal com o povo, também não os apetecia. Não deixaram de mandar açoitar só apóstolos, advertirem-nos mais uma vez e soltaram-nos.

     A alegria do grupo era reconhecer, neles mesmos, os efeitos de sua fidelidade ao Senhor e constatar que seguiam e experimentavam os mesmos revezes que Jesus. Identidade total com o Mestre. E ainda seguiram desobedecendo as autoridades religisosas dos judeus:

     Todo dia, de casa em casa e no Templo, não casavam de ensinar e pregar Jesus, o Cristo, v. 42.

     

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