sexta-feira, 3 de abril de 2020

Lição 5 - Pedro e o sermão aos gentios - At 10,27-48

At 10,27-48

27. Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali,
28. a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo;
29. por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?
30. Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes
31. e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus.
32. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar.
33. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.
34. Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas;
pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.
35. Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos.
36. Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judeia, tendo começado desde a Galileia, depois do batismo que João pregou,
37. como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;
38. e nós somos testemunhas de e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro.
40. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto,
41. não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos;
42. e nos mandou pregar ao povo e testificar
que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos.
43. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados.
44. Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra.
45. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo;
46. pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro:
47. Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?
48. E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias.

Introdução

     Alguns fatores são decisivos para a igreja, colocada diante de sua precípua missão, que é o anúncio do evangelho. Ela não pode selecionar seu auditório. Não pode estabelecer um padrão de aceitação de sua mensagem, como se fosse um filtro de qualidade, para agregar grupos de pessoas: como Jesus, ela vai anunciar a todos e a qualquer um, a todas as gentes, aos gentios a "toda língua, tribo, povo e nação". E precisa enfrentar e vencer obstáculos, de toda a natureza, impostos ao cumprimento de sua missão.

1. A chave do reino

      Jesus é "a porta das ovelhas", Jo 10,7. E a Pedro ele disse que deu a chave, Mt 16,19 que, certamente, é o evangelho. A chave de acesso à porta, que é Jesus, é o evangelho do reino, de que ele mesmo iniciou a propagação, Mc 1,14-15.

      Pedro teve o privilégio de, pela primeira vez, anunciar o evangelho de Jesus, por meio do sermão de Pentecostes, para um auditório predominantemente judaico. Agora, Deus o envia a anunciar o mesmo evangelho na casa específica de um não judeu, chamado Cornélio.

     Estava inaugurada, definitivamente, a era da igreja, anunciando o evangelho a todos, primeiro ao judeu, como diz Paulo Apóstolo, e também ao grego, ou gentio, ou não judeu: Rm 1,16.

      Passamos, a seguir, a indicar a importância dessa ida de Pedro à casa de Cornélio, a verdadeira engenharia necessária para o convencimento de Pedro, a mobilização de Deus para a promoção desse encontro e os obstáculos e resistência de Pedro em cumprir sua comissão que, afinal, era ordem direta de Jesus para a igreja: Mt 28,19-20:
"Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século".

      Vejamos, por ordem, a sucessão dos fatos preliminares, no trecho de At 10,1-26:

1. At 10,1-2: síntese da história do centurião (comandante militar romano) Cornélio, de Cesareia, cidade beira-mar, construída em homenagem a Cesar e residência de administradores romanos: ele orava a Deus com constância, mas não conhecia o evangelho;

2.  At 10,3-6: a urgência para que Cornélio ouvisse o evangelho, em atendimento ao seu clamor em oração, era tanta, que Deus lhe enviou um anjo, instruindo um recado para buscar Pedro em Jope, uma vila também à beira-mar, na casa onde ele se hospedava;

3. At 1,7-8: imediatamente, chamou dois funcionários da casa e um soldado piedoso e lhes contou tudo, enviando-os a Jope: Cornélio compartilhava sua fé em sua casa e na liderança dos cem solados de sua centúria, como o "havendo-lhes contado tudo", At 10,8, indica;

4. At 9,10-18: enquanto, por um lado, Deus revela a Cornélio, por meio de um anjo, a estratégia de mandar buscar Pedro, vai agir em Pedro, a fim de quebrar sua resistência, fruto do preconceito dele contra não judeus:
4.1. No horário de oração, no terraço da casa de Simão, em Jope, à hora do almoço, Deus concede a Pedro uma visão, v.10;

4.2. Propositalmente, Deus provoca o apóstolo, faminto que está, a comer uma qualidade de animais que a lei de Moisés prescreve como imundos, vv 11-13;

4.3. Pedro rejeita, de imediato, mas Deus lhes ordena comer e que não chame de imundo o que Ele purificou: isso se repete por 3 (três) vezes, vv 14-16;
4.4. Ainda sob efeito dessa visão, chegam os emissários de Cornélio e Pedro recebe esse recado, mas o próprio Espírito Santo o adverte que vá, que não rejeite o convite que lhe será feito, vv 17-20;

4.5. Pedro os recebe, ouve a síntese que descreve a personalidade de Cornélio, que inclui, além do outro rol de virtudes, ser acolhido com simpatia pela comunidade judaica: e ouviu que o emissário "foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras". Não havia como rejeitar, vv. 21-23;

4.6. Um dia levou a jornada entre Jope e Cesareia. Pedro encontra Cornélio que, num acesso de cortesia ao apóstolo, prostra-se diante dele. Pedro pede que se levante, pois ambos são homens. Chegam a casa, onde Cornélio reuniu parentes seus e achegados, para ouvir a grande nova, vv. 24-26.

2. O primeiro sermão aos gentios.

      Chegou o grande momento. Pedro traz a boa-nova do evangelho à casa de Cornélio, para ele, sua família e a todos a quem ele reuniu. Para isso, um anjo lhe apareceu em oração. Então, enviou emissários a Pedro.
 
       Antecipadamente, Deus preprara Pedro por meio de uma luminosa visão, à hora do almoço, repetida por 3 (três) vezes. Ao final, quando chegam os emissários de Cornélio, o Espírito Santo fala a Pedro, At 10,19-20:   "Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu os enviei".

        Decididamente, qualquer resistência do apóstolo foi quebrada. Não devemos menosprezar as hesitações de Pedro, porque todos nós, de um modo ou de outro, deparamos barreiras internas e externas quando da responsabilidade de  pregar o evangelho.

       Pedro faria um deslocamento de um dia até à casa de não apenas um não judeu, mas um militar romano, Centurião, símbolo da ocupação romana do país de Israel. Tudo que simbolizava uma humilhação total, perda de autonomia política e lembrança permanente de falhas anteriores, numa história de desobediência do povo a Deus. 

       Para que ir à casa desse romano? Pregar uma mensagem que o tornará um deles. Era muito difícil para os novos convertidos, na maioria judeus, entender que, sem os rituais judaicos, apenas dizendo "eu creio em Jesus", e então batizado, seria-lhes um igual.

        Em contrapartida, todos os demais judeus, autoridades que já haviam mostrado suas garras, tentando bloquear, por ameaças e punição, o ministério apostólico, vigiavam e intimidavam a igreja nascente. As justificativas de Pedro para essa, na opinião deles, estranhíssima viagem, teriam de ser muito bem explicadas.

        O diálogo entre hóspede e hospedeiro, logo que se encontram, embora meio vexaminoso, como se Pedro tivesse de se desculpar, demonstrando que jamais estaria ali, se não fosse por puro constrangimento, At 10, 27-29, foi preâmbulo do sermão inédito: a "chave do reino" que abria a porta, simbolicamente, a todos os gentios:
"Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali, a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?".

       E Cornélio historiou o modo como Deus se antecipou, em sua oração, bem como perante a resistência que, certamente, Pedro demonstraria, para que o evangelho alcançasse Cesareia, na casa de um notável centurião, At 10,30-33:
"Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.

        O primeiro sermão de Pedro aos gentios, como o do dia de Pentecoste, pode ser dividido em três partes: Introdução, At 10,34-36; Corpo do sermão, At 10,37-41; Conclusão, At 10,42-43.
   
        A temática da Introdução ajusta-se ao contexto que Pedro encontra montado por Cornélio, em sua casa, ansioso pela palavra do evangelho. Aqui aprendemos uma lição: a ansiedade pelo evangelho é intrínseca à condição humana, cega para essa realidade, e cabe a nós, igreja, diagnosticar isso e anunciar a boa-nova. Vejam, sobre isso, Paulo, em 2 Co 4,3-4:
"Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus".

     Segunda lição, a mensagem do evangelho, como bem identificou Pedro em Pentecostes deve, com clareza e senso de oportunidade, encaixar-se à circunstância de sua proclamação. Jesus sempre ajustava suas lições ao contexto de seus ouvintes, identificando a situação exata que lhes ajudaria a compreender e reter suas palavras.

     As parábolas são exemplo disso todo o tempo. Os diálogos com os apóstolos, que bem conheciam a cultura da Palestina, onde pastor e ovelhas, eiras da batida do trigo ou esmiuçar de uvas, figueiras, videiras, água dos poços, enfim, Jesus praticava a arte da clareza, simplicidade e profundidade de seu discurso, à qual a igreja, com inteligência e guiada pelo Espírito, precisa dar continuidade.

      Na Introdução, At 10,34-36, Pedro ainda se mostrava afetado por sua condição: um judeu que, apesar de testemunha de Jesus e alçado a uma posição de vanguarda, no anúncio do evangelho, ressentia-se da pressão que sofria, e ainda sofreria, em seu retorno a Jerusalém, tendo que se justificar perante os demais irmãos da igreja, At 11,1-18, baseado na seguinte cobrança: "Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles", v.3.

       A partir desse ponto, ainda no contexto de suas vexaminosas escusas, "Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável", vv. 34-35, seguirá em frente na parte introdutória. 

  Vai encadear sua argumentação, mencionando uma panorâmica do contexto da cultura judaica e divulgação dos fatos relacionados a Jesus para então, baseado nesses referenciais, dar continuidade ao seu sermão: "Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos", v.36.

       Iniciado o Corpo do Sermão, At 10,37-42, Pedro historia a revelação de Jesus, a partir do batismo de João Batista, e o começo de seu ministério no circuito pela Galileia, At 10, 38, "por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele", e parte para a apresentação do kerigma: morte, por violência dos homens, em perdão dos pecados, e ressureição, pelo poder de Deus, At 10,39-41 do que os apóstolos, e agora a igreja, são testemunhas:
"...nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos".

      A Conclusão se opera de forma abrupta. Reparem que as palavras de Pedro já deixam de ser de exposição do kerigma, agora voltadas à legitimação, tanto dele e da igreja, como testemunhas, quanto da mensagem, segundo o que já foi esplanado, At 10,42-43: "...e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados".

       A transição, já no versículo anterior, caminha para contextualizar ali, naquele momento, o ato da pregação especificamente àqueles ouvintes: "...e nos mandou pregar", "testificar", "Dele todos os profetas dão testemunho", "todo aquele que crê recebe remissão de pecados", a todos ali reunidos como alvo de testemunho.

      Só falta o apelo, seja ele direto, feito por Pedro, ou como em Pentecostes, quando os que ouviam perguntaram "Que faremos, irmãos?", At 2,37. E, por falar em Pentecostes, Deus vai operar o mesmo sinal, idêntico efeito, em sua repetição, também nessa oportunidade.

3. O efeito do sermão

     Não se deve esperar que qualquer prédica seja chamada sermão. Aqui estamos analisando um segundo sermão de Pedro. Há um outro que ele também pregou no Templo, At 3,12-26, quando da cura do paralítico à porta desse mesmo Templo, At 3,1-11.

     Da mesma forma, Pedro ajustou sua mensagem ao contexto e ao tipo de público em volta. Sermões não "vêm", por download, concedido pelo Espírito Santo. E não é boa intenção, somente, que os tornam plenos de propriedade, conteúdo e efeito, como os de Pedro.

     Autoridade e conteúdo anterior são indispensáveis. Pedro vem de um preparo antecipado, em termos práticos e espirituais. Quando ele é apontado, em At 4,13, pelas autoridades judaicas, como "iletrado e inculto", trata-se do modo como elas, munidas de descaso e preconceitos, encaravam os apóstolos de Jesus.

      Esse texto costuma ser interpretado, fora de contexto e, às vezes, de forma intencional, para dizer que Deus tem certa preferência por usar "iletrados e incultos", para que a manifestação de seu (de Deus) poder seja maior.

     Deus pode, sim, usar iletrados e incultos, mas nunca usa desleixados e preguiçosos. Só conheço pessoas de muita dificuldade em leitura, cujo dom e talento não foi serem intelectuais, mas sempre muito esforçadas, principalmente, na leitura da Bíblia.

     Deus usa, indistintamente, como usou Paulo, João, o autor da carta aos Hebreus e o próprio Lucas, que são intelectuais, com todo o poder, como usou Pedro, Tiago, Marcos, enfim, outros escritores de menor envergadura. Mas todos plenos do Espírito e nenhum deles presumido, vaidoso ou preguiçoso.

     Para pregar como pregou, Pedro possuía conteúdo bíblico antecipado, como demonstrou em Pentecostes, e vida de oração e comunhão com Deus, como quando, neste mesmo caso de Cornélio, subia ao terraço, na casa de seu xará, Simão, o curtidor, em Jope, para orar. Ali teve chance com Deus e indicado pelo próprio Deus, de cumprir o seu papel.

      Dizer que a Conclusão, At 10,42-43, ou o encaminhamento para uma foi abruptamente interrompido, antes de que a assistência, na casa de Cornélio, fizesse a mesma pergunta que em Pentecoste, foi porque houve fenômeno similar ao daquele dia, exatamente como sinal de legitimidade da aceitação da mensagem do sermão, da operação da conversão entre os ouvintes e do batismo no Espírito Santo. Expresso a seguir, At 10,44-47:
"Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?".

       As conclusões em relação à equivalência com Pentecostes se dá pelas seguintes indicações do texto:

1. Pedro, com toda a sua reserva em delocar-se à casa de um gentio, principalmente um comandante militar romano, como todo o background que o aguardava em Jerusalém, precisava de uma confirmação, para si próprio, o pequeno grupo que vinha com ele e para seu auditório futuro. E vai usar este argumento com eles, quando foi chamado a justificar sua conduta, At 11,15-17:
"Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?".

2. Atenção para a identificação com o Pentecoste. Porque aqui se repete como confirmação das mesmas promessas, não um arremedo, em si, do Pentecoste, mas a mesma confirmação das promessas de salvação e batismo no Espírito Santo para os que creem. Releia o texto acima e veja que foi assim que Pedro compreendeu e assim o texto menciona, em At 11,17: era absolutamente necessária essa correspondência, para certeza dos apóstolos, "...caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio".

3. Para os apóstolos o fenômeno da fé em Jesus, por parte dos que ouviam a pregação, era novo. Daí o batismo no Espírito Santo, ocorrido com os apóstolos em Jo 20,22, dos novos convertidos em Pentecostes, At 2,38, e agora em Cesareia, como legítimo sinal de cumprimento da promessa de Jesus, de envio e missão do Espirito Santo, na confirmação dos novos convertidos. Está comprovado três vezes pelo texto bíblico: At 10,44, o fato em si; a descrição de Pedro a igreja, em Jerusalém, no seu entendimento da confirmação do fato, At 11,15; e a associação do batismo no Espírito Santo deles mesmos, os apóstolos, no Pentecoste e agora aos gentios, em Cesareia, At 11,16-17: "Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?", o "lembrei", de Pedro, e "o mesmo fim que a nós outorgou quando cremos no Senhor Jesus".

4. Algumas advertências finais: quando Lucas menciona, em At 10,46, o "falar em línguas" também menciona o que era ouvido, isto é, "engrandecendo a Deus", o que indica que, do mesmo modo que em Pentecostes, era compreendido o que os recém-convertidos diziam. E quando Pedro descreve aos irmãos de Jerusalém, cita o indicativo principal da conversão dos novos irmãos em Cesareia, associado à qualquer experiência de conversão, ao longo da história da igreja, que é receber o Espírito Santo como dom, e não receber um dom do Espírito: comparar At 2,38 com Ar 11,17: "Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus". 

Conclusão

1. A mesma ênfase de Jerusalém, no dia de Pentecoste, foi a de Cesareia, na casa do centurião Cornélio: o anúncio do evangelho. E por meio de dois sermões, ajustados ao contexto de seus ouvintes e entregues pelo mesmo apóstolo a quem, simbolicamente, Jesus havia dito ter entregado a "chave do reino": o evangelho de Jesus é a chave de entrada no reino de Deus e Jesus é a porta de entrada;

2. Era tão urgente pregar o evangelho: assim como foi boa-nova em Jerusalém, a primeira vez após a ressurreição de Jesus, entre judeus foi, da mesma forma, em Cesareia, entre gentios e sempre será boa-nova, plena de novidade, urgência e poder, pregada pela igreja, ao longo de sua história. Era necessário preparar Pedro e, para tanto, Deus agiu em duas frentes. Cornélio é indicador da necessidade permanente que há na humanidade de conhecer, na possibilidade de crer, no evangelho. Por isso Deus concede uma visão a ele. E quanto a Pedro, cuja resistência seria maior, em função da pressão social que havia entre os judeus, sobre ele ou qualquer um, de rejeição a gentios, a estratégia de Deus teria de ser mais elaborada. A Igreja pode ser vítima de si mesma, de suas reservas e covardia, diante de sua responsabilidade de anunciar o evangelho. Terá de corrigir-se, no permanente suprimento de vigor, da parte de Deus, como ocorreu com, ninguém menos, do que o portador da "chave do reino".

3. Efetivamente, ocorreu uma sucessão de eventos: visão do anjo a Cornélio, três emissários de confiança enviados a Pedro, a repetição, ao mesmo  Pedro, de uma visão, por três vezes, uma advertência feita pelo Espírito Santo, para que recebesse, atendesse e acompanhasse os emissários. Tudo isso em função e subordinado ao interesse, urgência e necessidade de anunciar o evangelho. Uma vez fechado esse ciclo de obediência, a confirmação do batismo no Espírito Santo, como confirmação da conversão, padrão de reconhecimento, em socorro da autenticidade, para apóstolos, os próprios convertidos e, posteriormente, a própria igreja. Tudo o que ocorreu na casa de Cornélio, do mesmo jeito que em Pentecostes, assim como quando os próprios discípulos creram, tendo sobre eles, assim como os crentes de Pentecostes e agora com esses novos crentes, em Cesareia, terem sido batizados no Espírito Santo.

       A principal tarefa da igreja é proclamar o evangelho. Aqui lembramos da recomendação de Paulo a Timóteo, jovem pastor a quem o apóstolo instruía: 

"...prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina".  2 Timóteo 4:2

      E, para tanto, terá, da parte de Deus, todo o empenho e paixão. Como Deus considera urgente e por essa tarefa se empenha, assim deve proceder a igreja. E, para tal, contar, em tudo, com o próprio empenho de Deus.

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