quinta-feira, 14 de novembro de 2019

"Sacrifício santo" - Romanos 12,1-2 - Parte 4

     Santidade na Bíblia significa ser separado, por Deus, para o seu serviço. Como diz Paulo Apóstolo, "importa que os homens nos considerem ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus".
     Impossível que assim ocorra, sem que tais ministros, homens e mulheres de Deus, não tenham passado por esse processo: santificação. A legenda do sacerdote em Levítico é "sede santos, porque eu, o Senhor, sou santo".
    E somente por meio de Cristo e em Cristo isso é possível. A afetação do pecado no ser humano, que marca seu afastamento de Deus, soluciona-se na morte é ressurreição em Cristo, por parte daquele que crê. 
    A fé em Jesus significa compreender, acolher e se render a ele, para que, por meio do Espírito, haja o batismo, em Cristo, que une ao Pai. Inicia-se o processo de santificação, a partir da regeneração, que é a nova vida.
   Paulo descreve que "quem está em Cristo é nova criatura, as coisas velhas já passaram e eis que tudo se fez novo". Santificação é esse processo que, indicado a partir de regeneração, prossegue por toda a vida, até o encontro com o Pai.
    Santidade é viver, no dia a dia, de modo a sinalizar aos outros quais são os limites que Deus estabelece entre o bem e o mal. Paulo Apóstolo também afirma "não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem".
   Mas não se trata de uma estatística de lista dupla do certo/errado. A Bíblia sabe que, desde os 10 mandamentos, homem/mulher nenhum(a) os cumpriu, a não ser Jesus. Daí Paulo afirmar que o preceito da lei, por meio de Cristo, cumpre-se em nós. 
    Santidade é fruto do Espírito em nós, tem autoria dEle, opção consciente e resultado da atuação em nós do poder de Deus. Paulo afirma a Tito que houve em nós um "lavar regenerador" do Espírito Santo, para vivermos "sensata, justa e piedosamente" neste século. 
     E completa dizendo que a graça de Deus, desse modo, "manifestou-se salvadora" a todo o que crer. Limites de santidade. Agora de modo natural, de dentro para fora, fruto da ação do Espírito em nós.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

"Sacrifício vivo" - Romanos 12,1-2 - Parte 3

     Paulo qualifica o sacrifício que representamos para Deus, uma vez batizados, quer dizer, unidos a Jesus, por meio do Espírito Santo, como resultado de nossa fé e entrega. 
    Ele diz "sacrifício vivo, santo e agradável". Vivo, porque vida, na sua expressão plena e original, provém de Deus. Jesus afirma que veio para que tenhamos vida plena.
    A vida perdeu o viço. Este somente é restaurado em Jesus. Fontes da vida. Estão em Deus. Por isso "sacrifício vivo" é prova autêntica da ação de Deus como fonte de vida no ser humano. 
    Não se trata de religião. Nem de performance, mas da originalidade de todo o bem, beleza a virtudes que qualificam e conferem identidade ao que é vida.
    "Corpo como sacrifício vivo" é restauração da condição plena de vida em comunhão com Deus e todo bem, beleza e virtudes decorrentes dessa relação. 
     O nome disso é igreja. Corpo vivo é tudo que se opõe a morte. E morte não é somente a cessação de vida biológica, mas é desde a inexistência de vida espiritual em comunhão com Deus.
    Portanto, sacrifício vivo tem todo o reverso do sentido apenas biológico do que significa vida. Representa a ação de Deus no homem/mulher, restaurando o sentido total do que vida representa. 
   Ela é eterna. Constituída à imagem e semelhança de Deus, por seus atributos e virtudes. Obtida a partir da fé em Jesus, assim como, a partir dele vivida em plenitude. 
     A vocação da igreja é vivê-la neste mundo, como alerta e sinal profético a quantos ainda não a receberam como dádiva e milagre exclusivo de Deus. 
    O amor de Deus em ação no homem e por meio do homem é a principal marca dessa vida. Com todos os demais atributos que, como o amor e para se poder amar, Deus oferece. 
    Paulo Apóstolo diz que o fruto do Espírito é o amor. E relaciona alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.
   É fruto espontâneo do Espírito, é vida, é amor.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

"Apresenteis o vosso corpo como sacrifício" - Romanos 12,1-2 - Parte 2

      Se a Bíblia é o livro que descreve o modo como "o verbo de fez carne e habitou no meio de nós", o corpo se torna essa máxima expressão. 
     Na 2 Coríntios, Paulo Apóstolo escreve que "um (Jesus) morreu por todos, para que os que vivem (em e por Jesus) não vivam mais para si mesmos".
    Aos Gálatas, o mesmo apóstolo diz "não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Portanto, o sacrifício que Deus aceita é o de Jesus Cristo.
   Porém, nosso batismo em Jesus, pelo Espírito, e a comunhão decorrente dessa verdade bíblica permite que Deus nos aceite como sacrifício vivo em Jesus, por meio de Jesus e do modo como, em santidade, aceitou Jesus. 
     O sacrifício é o de Jesus, sendo nós mesmos a oferta que Ele conquistou para o Pai. Redenção, além de significar nossa salvação individual, indica o preço pago, assim como a abrangência do sacrifício de Jesus. 
     Jesus nos redime e, conosco, restaura tudo o mais. Nos que nEle creem, restaura todos em todas as épocas da história. Os propósitos de Deus não se frustraram. E a indicação profética dessa verdade é a igreja. 
    No Antigo Testamento, sacrifício, além de cruento, ou seja, indicar sofrimento, derramamento de sangue e morte, tinha embutido na sua simbologia outros aspectos fundamentais. 
    Entrega total, como holocausto; voluntariedade, como oferta de manjares; prioridade, como oferta das primícias; expiação, como oferta pelo pecado; e admissão, confissão ou perdão, como oferta pela culpa. 
    A nossa oferta pessoal ao Senhor abarca esses cinco aspectos dos sacrifícios descritos em Levítico, assumidos e satisfeitos em Jesus, para que possamos vivenciar em nossa própria entrega a Deus. 
    Deus nos quer totalmente dEle, de modo voluntário e com prioridade, assim como santificados do pecado original e dispostos a combater, em Cristo, a culpa que se insinua, como diz o autor de Hebreus, "tenazmente nos assediando".
     Paulo expõe três qualificações desse sacrifício vivo que Deus deseja que sejamos, para ele, como Cristo o foi: vivo, santo e agradável. Esse é o desdobramento do ministério que Deus tem para a igreja de Jesus. Veja no texto que segue.
     Como esclarece Paulo Apóstolo, agora aos Colossenses, na igreja o principal ministério é formar Cristo em nós. Em todos os sentidos, o mundo a nossa volta precisa nos reconhecer como sacrifício em total dedicação e oferta contínua a Deus.

"Rogo-vos, pelas misericórdias de Deus"" - Romanos 12,1-2 - Parte 1

    "Juro por Deus". Quando menino, e isso vai até a virada anos 50/60, essa fala encerrava toda polêmica. Era um rogo. Quem afirmava, queria credibilidade a seu favor.
    Paulo usa um recurso parecido, mas em tudo diferente, quando diz: "Rogo-vos, pelas misericórdias de Deus". Ele não está simplesmente rogando, ou seja, fazendo um veemente pedido em seu próprio nome.
    E também não está usando o nome de Deus como se fosse apenas uma instância maior, à qual se apela para emprestar credibilidade no que se está empenhado, como na sentença de meu tempo de infância. 
    Ele pede que se leve em conta o que Deus, por sua misericórdia, é capaz de realizar e, com empenho e de modo essencial vai fazer na e por meio de Sua igreja. A esta comprou pelo seu próprio sangue, em Jesus Cristo. 
     O rogo é dirigido a nós. Pede em veemente súplica compreendermos a dimensão do que segue como indispensável à identidade e função precípua da Igreja.
    Ele, portanto, roga, porque Deus vai realizar, pela misericórdia que O move e do modo como age, o que Paulo nos indica como essencial, nossa resposta ao agir diferencial de Deus em Sua Igreja, corpo de Cristo.
    "Pelas misericórdias de Deus". As versões modernas já optam por traduzir "misericórdia" por "amor". Deus é amor. Age somente em e por amor. Por isso Paulo antecipa, no seu rogo, que o que vai pedir está condicionado ao amor de Deus.
     Deus concede que sejamos, no e por Seu amor capazes de fazer o que, como igreja, temos missão e identidade específicas para realizar. Trata-se do que Deus deseja que façamos e do modo como nos supre a fazer.
    Em amor. Por amor. Pois o amor, que só existe, no seu estado original, em Deus, Ele mesmo nos concede, para que aprendamos a amá-lo, consequentemente a nós mesmos e ao outro, agindo sempre por meio desse amor. 
    Voltados para Deus e para a nossa missão como igreja, agora regenerados na identidade do Pai, na linguagem de Pedro Apóstolo, co-participantes da natureza divina, efetuamos nosso próprio aumento, como diz Paulo Apóstolo aos Efésios.
     Pelas misericórdias de Deus é que ele derrama Sua graça. E esse é o efeito dela em nós. O que segue, pela leitura de Paulo, compõe o rogo a que somos estimulados, em amor, a assumir, de modo absoluto e irrestrito, como fruto da graça de Deus.

sábado, 2 de novembro de 2019

A igreja está nas ruas.
     (veja também o link alusivo)

       Irrompeu. A história que a Bíblia conta é que, se há um Deus, ele se fez homem, encarnou e saiu, pôs sua cara nas ruas.
     Imagine o nazareno, como Jesus era chamado, escondendo-se dentro do templo, como Neemias não fez. "Homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo para que viva?". Ne 6,11.
     Nem Jesus. Jesus vivia nas ruas. Estava onde houvesse gente. Percorria as margens do Genesaré ou escolhia conversar com marginalizados.
       Bem caracterizado na chamada Parábola das Grandes Bodas: preparem a grande festa, o grande basquete e convidem.  Não confirmaram presença. Ora, então saiam e convidem a marginália. Convidamos. Mas ainda há lugar. Voltem às ruas: façam o pente fino. Superlotem. Depois, fechem as portas e comecem o grande banquete.
     Ele ia às festas, sim, adorava festas. Porque estavam cheias de gente. Jesus não tinha nenhum preconceito contra gente. Gentios eram a primeira barreira à qual se impunham os judeus. 
      A Igreja atual tem, pelos menos, três problemas solucionados por Jesus em sua postura original: linguagem, barreiras e lugar.
      Jesus era único. A partir de pedir um copo d'água, terminava com uma aula de teologia, na conversa com alguém triplamente discriminado: mulher, samaritana e leviana. 
      Preferia mais a festa do que o ritual. Por isso, mandou encher as vasilhas consagradas com água, para que servissem vinho até amanhecer: a festa, o riso, o regalo e, principalmente, a conversa e a presença de Jesus precisavam continuar. 
      "Se bem que Jesus mesmo não batizava", cita João. Mero ritual. Mas o outro João alertou os emissários de Jerusalém advertindo ser Jesus o único a batizar no Espírito.
     Este um outro andarilho, desde o caos inicial, quando dizem as Escrituras que pairava, de lá para cá, por sobre as águas. Afirma Jesus sobre ele que nem de onde e nem para onde se sabe: venta onde quer.
     Andar no Espírito, como diz Paulo, é ser andarilho. Peregrino neste mundo. E o lugar é nas ruas. A igreja experimenta crise de linguagem, identidade e lugar de vivência. 
     Identidade, porque foi feita para agregar, promover comunhão, anunciar o evangelho que torna um com Deus, um com os homens. Mas criou barreiras de proteção para si mesma, isolando-se dentro dos templos. 
     Vulgarizou sua mensagem. Não consegue, a partir das necessidades essenciais, como a sede dos homens e mulheres, ensaiar uma aula de teologia. Vende barato um evangelho falso, alheia à advertência de Paulo de que "não há outro evangelho".
     E não consegue definir seu lugar de sacerdócio, próxima de Deus para estar próxima dos homens: "o sacerdote é tomado de entre os homens, constituído nas coisas que dizem respeito a Deus".
     "Importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus". Embaixadores de Cristo, como se fosse o próprio Deus falando.
      Basta a igreja ser como Cristo, que apresentou o Espírito com função precípua de glorificá-lo. Falar como se Deus por ela falasse. Introduzir sua fala com o distintivo de simplicidade que vai descortinar o conhecimento de Deus. 
      Entender que, como Jesus, seu lugar é na rua. O templo jamais como lugar de fuga. Quem, como ela, entraria no templo para que vivesse?  Lugar de viver é na rua. Prolongando a festa, enquanto o noivo não chega.

https://youtu.be/tOGjCSGd2eU