sábado, 2 de novembro de 2019

A igreja está nas ruas.
     (veja também o link alusivo)

       Irrompeu. A história que a Bíblia conta é que, se há um Deus, ele se fez homem, encarnou e saiu, pôs sua cara nas ruas.
     Imagine o nazareno, como Jesus era chamado, escondendo-se dentro do templo, como Neemias não fez. "Homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo para que viva?". Ne 6,11.
     Nem Jesus. Jesus vivia nas ruas. Estava onde houvesse gente. Percorria as margens do Genesaré ou escolhia conversar com marginalizados.
       Bem caracterizado na chamada Parábola das Grandes Bodas: preparem a grande festa, o grande basquete e convidem.  Não confirmaram presença. Ora, então saiam e convidem a marginália. Convidamos. Mas ainda há lugar. Voltem às ruas: façam o pente fino. Superlotem. Depois, fechem as portas e comecem o grande banquete.
     Ele ia às festas, sim, adorava festas. Porque estavam cheias de gente. Jesus não tinha nenhum preconceito contra gente. Gentios eram a primeira barreira à qual se impunham os judeus. 
      A Igreja atual tem, pelos menos, três problemas solucionados por Jesus em sua postura original: linguagem, barreiras e lugar.
      Jesus era único. A partir de pedir um copo d'água, terminava com uma aula de teologia, na conversa com alguém triplamente discriminado: mulher, samaritana e leviana. 
      Preferia mais a festa do que o ritual. Por isso, mandou encher as vasilhas consagradas com água, para que servissem vinho até amanhecer: a festa, o riso, o regalo e, principalmente, a conversa e a presença de Jesus precisavam continuar. 
      "Se bem que Jesus mesmo não batizava", cita João. Mero ritual. Mas o outro João alertou os emissários de Jerusalém advertindo ser Jesus o único a batizar no Espírito.
     Este um outro andarilho, desde o caos inicial, quando dizem as Escrituras que pairava, de lá para cá, por sobre as águas. Afirma Jesus sobre ele que nem de onde e nem para onde se sabe: venta onde quer.
     Andar no Espírito, como diz Paulo, é ser andarilho. Peregrino neste mundo. E o lugar é nas ruas. A igreja experimenta crise de linguagem, identidade e lugar de vivência. 
     Identidade, porque foi feita para agregar, promover comunhão, anunciar o evangelho que torna um com Deus, um com os homens. Mas criou barreiras de proteção para si mesma, isolando-se dentro dos templos. 
     Vulgarizou sua mensagem. Não consegue, a partir das necessidades essenciais, como a sede dos homens e mulheres, ensaiar uma aula de teologia. Vende barato um evangelho falso, alheia à advertência de Paulo de que "não há outro evangelho".
     E não consegue definir seu lugar de sacerdócio, próxima de Deus para estar próxima dos homens: "o sacerdote é tomado de entre os homens, constituído nas coisas que dizem respeito a Deus".
     "Importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus". Embaixadores de Cristo, como se fosse o próprio Deus falando.
      Basta a igreja ser como Cristo, que apresentou o Espírito com função precípua de glorificá-lo. Falar como se Deus por ela falasse. Introduzir sua fala com o distintivo de simplicidade que vai descortinar o conhecimento de Deus. 
      Entender que, como Jesus, seu lugar é na rua. O templo jamais como lugar de fuga. Quem, como ela, entraria no templo para que vivesse?  Lugar de viver é na rua. Prolongando a festa, enquanto o noivo não chega.

https://youtu.be/tOGjCSGd2eU

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