domingo, 31 de dezembro de 2023

Três razões por que marchar

 ¹⁵ "Disse o Senhor a Moisés: 'Por que clamas a mim? Diga aos filhos de israe­l que marchem'".

   Aplicado a Israel, apicado à igreja. Cremos na continuidade das promessas de Deus. Por isso, podemos, como eles, ser exortados dessa mesma forma:

   "Disse o Senhor a Moisés". A primeira lição é a de que Deus fala conosco. O autor de Hebreus nos deixou isso bem claro:

    ¹ "Havendo Deus outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, por meio dos profetas, ² nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo." Hb 1.

    A maior garantia é saber que, por meio de Jesus, Deus fala conosco. Antigo e Novo Testamento são a palavra de Deus. Uma advertência a mais há neste autor:

    ² "Pois as boas-novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; mas a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram."

     Somos advertidos a crer na palavra de Deus. A fé não é uma ameaça, mas um dom, por meio do qual somos fiéis à fiel palavra de Deus.
    
    Por que clamas a mim? Esta pergunta devia-se às dificuldades que o povo atravessava. Ali a situação era impossível de ser contornada, a não ser por uma intervenção direta de Deus.

  Pois quantas houve para Isarel? Ele está aí. Oremos por ele, porque conta, de um lado, de todo apoio entre muitas nações.

   Mas de outro, conta com um complô de inimizade contra si. E se o defendemos, vamos ter contra nós esse mesmo ódio. O mundo está dividido em duas partes: uma pró e outra contra Israel.

   E se olhamos para o ano de onde saímos, podemos contar, sim, bênçãos, mas também dificuldades e provações. Pois que elas signifiquem, como diz Tiago, meios de fortalecer na fé:

   ² "Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, ³ pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. ⁴ E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem que falte a vocês coisa alguma. ⁵ Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. ⁶ Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. ⁷ Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, ⁸ pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz." Tiago 1.

   "Diga aos filhos de Israel que marchem". Três razões por que marchar como filhos de Israel, igreja do Senhor Jesus: 

1. Porque Jesus é o nosso alvo, como presença dEle e testemunho neste mundo:

¹ "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, ² tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus." Hb 12.

2. Porque há um ide, um envio, uma missão a toda a igreja:

¹⁸ "Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. ¹⁹ Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ²⁰ ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. Mt 28.

3. Porque Jesus está conosco em todos os momentos de nossa vida: 

²⁰ "E eu estarei sempre convosco, todos os dias, até a consumação dos tempos". Mt 28.

    Portanto, cada parte dessa palavra dirigida a Moisés também nos diz respeito. Deus fala a nós, por meio de Jesus, que está conosco a cada momento, conduzindo-nos até a Sua vinda.

   Devemos prosseguir como igreja de Jesus, essa a nossa identidade. A marca da nossa missão. Não haverá barreira que não possamos superar.

  

sábado, 30 de dezembro de 2023

Feliz 2024 (ou siga a sugestão de d. Betty Presunto)

 Eu tive uma professora de hebraico chamada Betty Bacon. Por causa do Bacon, a gente até fazia piada.

    E ela topava, por ser também britânica e muito irônica. Gozadora, no português do cais do porto. O marido era Henry "Presunto", também. Já falamos sobre ele neste blog.

   Pulou de paraquedas na Normandia, em 5 de junho de 1944, vai fazer 80 anos ano que vem. Leia sobre eles nos links ao final deste texto.

   Mas d. Betty Bacon, como a chamávamos, ela nos ensinava hebraico. E também sugeria que lêssemos a Bíblia do seguinte modo: supondo ser o livro em questão o único que existisse.

   E assim, descobrir o que falava sobre pontos centrais, como a fé, sobre Deus, sobre Jesus, sobre a salvação, enfim. Apliquei isso hoje e o fiz na carta aos Efésios.

   Talvez a que fale de amor do modo mais radical. E interessante, exatamente a uma igreja que terá problema exatamente nessa área. Entre esta carta de Paulo e a de Jesus, no Apocalipse, decorreram uns 40 anos.

   Efésios inicia com um Bendito dirigido ao Deus de bênçãos que abençoa com toda a sorte de bênçãos. Assim mesmo, redundante. Para logo dizer que elas vêm por meio e em Cristo.

  E que esse Deus nos ama desde antes da criação do mundo. E que nos direcionou para esse amor que, segundo Paulo aos Romanos, é derramado pelo Espírito em nossos corações.

   Não se trata de uma conta de dividir. A matemática de Deus é diferente. Ele não tem um amor infinito que, infinitamente, derrama numa conta matemática de dividir, cabendo então uma parcela infinitamente subdividida a cada um.

   Não. Ele, que é amor, derrama-se a Si mesmo no coração de cada um que nEle crê (porque sem fé, é impossível agradar a Deus), Ele derramado pelo Espírito no coração de cada um. Deus deu-se a Si mesmo em Cristo inteiro, todo, derramado no coração de cada um que crê.

   Na carta aos Efésios, Paulo ora para que a gente compreenda isso. Muito embora ele diga que (1) está acima de nossa compreensão, (2) que não tem limite essa doação de Deus, (3) que se confirma pela presença do Espírito em nós, (4) que isso significa ser tomado de toda a plenitude de Deus e (5) Deus ainda pode fazer infinitamente mais do que isso pedido ou pensado por nós.

   Está bom para você? Espera de 2024 algo mais, algo diferente disto ou isso exposto numa intensidade ainda maior? Será possível ou a Bíblia é o livro do blefe. Como está na moda dizer, é Fake?

    Lendo Efésios. Sejamos cuidadosos. 40 anos, mais ou menos, depois dessa carta de Paulo, Jesus repreendeu essa mesma igreja advertindo que haviam perdido o amor.

    Era uma cidade grande, era uma igreja grande, grande era a Diana (e o orgulho, veja em Atos 19) dos efésios. A vaidade da cidade invadiu aquela igreja. De tão autocompetente, virou a ONG de Éfeso.

   Caso não compreendesse a advertência de Jesus, este lhe moveria o candeeiro. No caso, teríamos 7 - 1 = 6 igrejas do Apocalipse. Sejamos sábios e humildes, como crianças, reconhecendo nossa fragilidade e dependência de Deus.

   Vamos nos permitir ser exortados a acolher o evangelho, depurado de nossa visão estreita. Tentar vivê-lo em plenitude, segundo essa proposta feita aos Efésios.

   E um Feliz 2024 para nós.

Links da história do casal Bacon:
1. Dona Betty:
2. Professor Henry Bacon:

domingo, 24 de dezembro de 2023

Se liga, mano: é Natal de Jesus

 "E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: ¹⁴ Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem." Lucas 2:13,14.

    Anjos misturado com pastores do campo. Dois níveis muito diversos. Um deles, celestial, místico, espiritual. Outro, terreno, geográfico, histórico e cultural.

  Alguns, quem sabe até, muitos dirão que se trata de uma cena muito linda e figurativa, embora inexequível. Carregada de um simbolismo essencial, magnífico, humano e enigmático.

   Entregue às ciências humanas, pode ganhar amplo espectro de interpretações, entregue à ciência das religiões, psicologia, sociologia, enfim, à filosofia. Sem ciência não entendemos o mundo à nossa volta.

   Mas literal, jamais. Anjos são personagens figurativas. Precisamos de exegetas que nos esclareçam o sentido do texto, para não sermos conduzidos aos equívocos históricos das interpretações literais.

   Ainda bem que a cena bíblica principal não é essa. Ufa! Mas esperem, então, qual é mesmo? Ora, para uma síntese da Bíblia, podemos antecipar o seguinte texto:

    "Por isso o Senhor mesmo dará a vocês um sinal: a virgem ficará grávida, dará à luz um filho e o chamará Emanuel." Isaías 7,14.

   Trata-se do anúncio, da profecia, se desejam o termo técnico, de que uma virgem seria engravidada pelo poder de Deus. Na verdade, não que seja o poder de Deus que a engravidaria, mas sim que Deus encarnou, nascendo dela.

    Opa! Chegamos ao ponto central das Escrituras. O Filho profetizado no Antigo Testamento é o menino testemunhado no Novo Testamento. Assim, desse jeito: "O Verbo se fez carne e habitou no meio de nós", Jo 1,14, essa a síntese.

    Ah, sim: por falar em anjos, foi um deles que deu  à vigem esse recado. Anjos não existem. Certo. Deus também não existe. E essa história de que encarnou, ou seja, Deus se fez homem na Pessoa do Filho dEle, Jesus Cristo, é o maior blefe da história.

   Se pensas assim, num extremo reducionismo, paciência. Não estamos aqui para lhe contradizer. Porque temos fé na existência de Deus. Embora haja os que têm fé na não existência de Deus.

   Trata-se de uma fé ao inverso. Pois saiba que tudo isso não depende de nossa fé para que seja verdadeiro. Não fomos nós que inventamos. Aliás, não foi inventado. Ocorreu o inverso: é verdeiro, primeiro, para somente então crermos.

    Deus se revela a cada um, para que então creia. Mas isso é voluntario. Deus é o único ser que nunca constrange, a não ser pelo amor. A fé não traça a direção de nós para uma história inventada. A fé provém da verdadeira história, para então se crer.

    Por isso que os anjos apareceram, naquela noite, numa explosão de alegria e glória a Deus. E justamente aos anônimos pastores, gente miúda e desprezada, como corriqueiramente ocorre (do que muita gente se aproveita na manipulação do "discurso do oprimido), a esses pequenos, anunciaram o maior e mais fantástico acontecimento.

    Nasceu o menino. Deus encarnou. O Salvador chegou. Pronto para se revelar a você. Sensacional esses anjos. Se liga, mano, literalmente, nessa história.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Um menino vos nasceu

 Isaías 9,1-7

   O texto do profeta Isaías delineia, passo a passo, os efeitos de uma determinada situação histórica que, como é usual na profecia, aplicar-se, numa projeção mais ampla, ao longo da história é como prenúncio de tempos futuros.

   Neste caso específico, a terra angustiada é a de Israel que, no texto bíblico, sempre é referenciada como alvo desse tipo de projeção, num modo específico das Escrituras.

Terra angustiada - v. 1

29Deu-lhe o nome de Noé e disse: "Ele nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de nos­sas mãos, causados pela terra que o Senhor amaldiçoou". [...] O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. 6Então o ­Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a ter­ra, e isso cortou-lhe o coração. Gn 5 e Gn 6.

    Neste trecho, espelha-se o estado da humanidade nos dias de Noé, fosse o seu nascimento, na avaliação de seu pai, fossem os dias antecedentes do dilúvio.

   Nas Escrituras, Jesus compara essa fase aos dias de Sua vinda, denunciando que o estado de iniquidade desses dois momentos correspondem-se.

Anúncio da luz - v. 2

3Disse Deus: "Haja luz", e houve luz. 4Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. [...] 15Porei inimizade entre você e a mulher,
entre a sua descendência e o descendente dela;
este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar". Gn 1 e Gn 3.

   Aqui, há distinção da luz, em relação às trevas, no sentido meramente físico, da natureza da luz, mas também no sentido metafísico.

   Luz, como distinção entre o bem de Deus, frente ao mal, entre os quais decisiva e definitivamente se distinguem. Deus é luz. E ela resplandece sobre as trevas, denunciando-a, superando e a vencendo.

O retorno da alegria - v. 3

10Mas o anjo lhes disse: "Não tenham medo. Estou trazendo boas-novas de grande alegria para vocês, que são para todo o povo: 11Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura". 13De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: 14"Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor". Lc 2.

        A alegria vem da parte de Deus. Não que seja obrigação, não que seja artificial, não que seja provisória. O fundamento da alegria no Senhor são seus atributos.

   Deus reparte com o ser humano o seu amor. Não que não existam aflições no mundo, como o próprio Jesus assim o afirmou. Mas porque Deus redime e resgata no ser humano sua condição de total restauração.

Porque o jugo foi quebrado - v. 4

13Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, 14em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. Cl 1.

Nunca mais haverá guerra - v. 5

10E providenciarei um lugar para Israel, o meu povo, e os plan­tarei lá, para que tenham o seu próprio lar e não mais sejam incomodados. Povos ímpios não mais os oprimirão, como fizeram no início 11e têm feito desde a época em que nomeei juízes sobre Israel, o meu povo. Também subjugarei todos os seus inimigos. Saiba tam­bém que eu, o Senhor, estabelecerei para ele uma dinastia. 2 Sm 7.



Por quê? v. 6
1. Um menino nos nasceu
2. Vai reinar
3. Seu nome o distingue:

  3.1. Conselheiro

13Mas, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e anunciará a vocês o que está por vir. 14Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês. 15Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.

  3.2. Deus forte

1No princípio era o Vervo., o Verbo estava com Deus e o Vervo era Deus. [...] 14 O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.

  3.3. Pai da eternidade

2Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. 3Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste

  3.4. Príncipe da Paz

27Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo.
Reino de paz sem fim sobre a casa de Davi
Firmado em juízo e justiça para sempre
O zelo do Senhor fará isso.

E Deus plantou um jardim

 "E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado." Gênesis 2:8.

   Pensamos na expectativa de Deus, quando planta um jardim, para nele pôr o homem que havia formado.

   Quando as Escrituras dizem que tudo quanto Deus fez, Ele mesmo viu que é bom, ficamos a refletir sobre o jardim, sobre o homem e mulher que criou e sobre a expectativa de os pôr nesse jardim.

   Um jardim necessita de cuidado, para ser mantido. Adiante no texto, uma das intenções de Deus aparece, quando se diz:

   ¹⁵ "Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar." Gênesis 2:15.

   O que, propriamente, Deus queria que fosse cultivado e cuidado estava ao encargo de homem e mulher descobrir. Mas adiante no texto, com a sucessão dos fatos, vem escrito:

   "...¹⁷ maldita é a terra por tua causa...¹⁸ Ela produzirá também cardos e abrolhos" Gn 3.

   Homem e mulher usurparam para si o jardim. Há uma autora, Clarice Lispector, que, em seus contos e romances, quando aborda a temática do jardim, sempre o mostra como distorção, e não como criação.

   Homem e mulher não cultivaram e nem guardaram o jardim que Deus plantou. Perderam, de si, a imagem e semelhança de Deus. Seu jardim, plantando do que lhes sai de dentro, é distorção e não criação.

   Jesus, numa de suas palavras, no circuito dos diálogos de Santa Ceia, nos capítulos 13 a 17 de João, resgata a função do Pai como agricultor.

   O Cântico de Isaías cap 5 fala de um amigo que plantou uma vinha, esperando o melhor das uvas. Todo um trabalho, feito com afinco, perdido. Mas não desistiu. Plantou outra vinha.

   Jesus diz que Ele é a vinha, nós somos a rama e o Pai é o operário da vinha, o agricultor. Deus recupera Suas expectativas. Ele espera que dê frutos, limpa, para que produza ainda mais.

   Não usurpem para si o jardim de Deus. Caso usurpado, será distorção, nunca criação. Paulo, aos Filipenses, quando ensina sobre o sentimento de Jesus, em Fp 2,6, afirma que Jesus nunca usurpa:

   "...⁶ que, embora sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus".

   Não é Jesus quem usurpa. Ele mesmo ensina quem usurpa. Não seja como Satanás, que usurpa para si. Não usurpe para si o jardim. Deus põe nele Suas expectativas.

   Mesquinha será a vida, como até mesmo ensina Clarice Lispector, de quem para si usurpa o jardim. 

domingo, 10 de dezembro de 2023

Tomando Josué por modelo

 ⁶ Havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um à sua herança, para possuírem a terra. ⁷ Serviu o povo ao Senhor todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram por muito tempo depois de Josué e que viram todas as grandes obras feitas pelo Senhor a Israel. ⁸ Faleceu Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez anos; ⁹ sepultaram-no no limite da sua herança, em Timnate-Heres, na região montanhosa de Efraim, ao norte do monte Gaás. ¹⁰ Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel.  Juízes 2:6-10.


   Qual é essa geração? Como saber a que geração pertencemos? As geração de Josué e as que sobreviveram a ele "viram todas as grandes obras feitas pelo Senhor a Israel".

   Porém levantou-se uma geração, após uma que permanecera fiel, e dela se diz "que não conhecia o Senhor". Vamos acompanhar os relatos sobre a liderança de Josué, para identificar o que significou, para aquelas gerações, ter permanecido fiel.

   Na vocação de Josué encontramos três aspectos decisivos, seja para ele, ou para a vocação de qualquer um:

⁷ "Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. ⁸ Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido." Js 1:7,8.

   (1) Fazer segundo o que está na lei de Moisés, (2) Não cessar de falar do livro da lei e (3) meditar nele dia a noite. Precisamos ainda acompanhar a vida de Josué, para saber se foi assim.

   Primeiro, vemos Moisés o chamando para acompanhá-lo, seja nos momentos solenes, de proximidade com Deus, seja nos momentos de crise.

    13 "Moisés partiu com Josué, seu auxiliar, e subiu ao monte de Deus". Ex 24. 17 "Quando Josué ouviu o barulho do povo gritando, disse a Moisés: "Há barulho de guerra no acampamento". Ex 32.

   No maior momento de crise, em que houve guerra civil, tribos contra tribo, Josué estava do lado correto. 28 "Fizeram os levitas conforme Moi­sés ordenou, e naquele dia morreram cerca de três mil dentre o povo." Êxodo 32.

   A maior expressão do sentido da peregrinação do povo, que se reflete na identidade da igreja, configurou-se nessa crise, Ex 33,15-16. Uma vez superada, outra se configurou, quando Moisés reúne o povo, desta vez para que se revele o relatório dos espias, francamente desfavorável.

    Somente Josué e Calebe apresentaram um relatório compatível com a fé. Lembrar Paulo, em Rm 14,23, cuja definição é a mais ampla sobre pecado: ²³ "...e tudo o que não é de fé é pecado." Romanos 14:23.

   6 "Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, dentre os que haviam observado a terra, rasgaram as suas vestes 7 e disseram a toda a comunidade dos israelitas: "A terra que percorremos em missão de reconhecimento é excelente." Nm 13.

   Essa atitude corresponde à da minoria, expressa apenas por dois dos espias. E ainda mais, num contexto hostil, entre iguais, rejeitando-se entre si. Era para que ali todos concordassem em seguir adiante por fé. Destaca-se fidelidade na personalidade de Josué e Calebe.

   Posteriormente, quando Moisés pede a Deus um substituto para si, encontramos em Josué outras características que compõem sua personalidade.

   15 "Moisés disse ao Senhor: 16 "Que o Senhor, o Deus que a todos dá vida, designe um homem como líder desta comunidade 17para conduzi-los em suas batalhas, para que a comunidade do Senhor não seja como ovelhas sem pastor".

   18 "Então o Senhor disse a Moisés: "Chame Josué, filho de Num, homem em quem está o Espírito, e imponha as mãos sobre ele. 19Faça-o apresentar-se ao sacerdote Eleazar e a toda a comunidade e o comissione na presença deles. 20 Dê-lhe parte da sua autoridade para que toda a comunidade de Israel lhe obedeça." Nm 27

   Josué reúne, pelo menos, três características: (1) nele opera o Espírito do Senhor; (2) conserva características da liderança de Moisés; (3) é reconhecido perante a comunidade por suas qualidades.

   No momento decisivo da despedida de Moisés e da transmissão de seu cargo à frente do povo, Josué é plenamente indicado, pelo Senhor, como seu substituto:

    7 "Então Moisés convocou Josué e lhe disse na presença de todo o Israel: "Seja forte e corajoso, pois você irá com este povo para a terra que o Senhor jurou aos seus antepassados que lhes daria, e você a repartirá entre eles como herança. 8O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!". Dt 31.

   Em Josué 23,6 e 24,14-15, ele desafia o povo a continuar numa marca de fidelidade ao Senhor:

6 "Façam todo o esforço para obedecer e cumprir tudo o que está escrito no Livro da Lei de Moisés, sem se desviar, nem para a direita nem para a esquerda." Js 23.

   14 "Agora temam o Senhor e sirvam-no com integridade e fidelidade. Joguem fora os deuses que os seus antepassados adoraram além do Eufrates e no Egito e sirvam ao Senhor. 15Se, porém, não agrada a vocês servir ao Senhor, esco­lham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas eu e a minha família servi­remos ao Senhor". Js 24.

   A resposta do povo à exortação de Josué transparece o relatório posterior do autor de Juízes:

19 "Josué disse ao povo: "Vocês não têm condições de servir ao Senhor. Ele é Deus san­to! É Deus zeloso! Ele não perdoará a rebelião e o pecado de vocês. 20Se abandonarem o Senhor e servirem a deuses estrangeiros, ele se voltará contra vocês e os castigará. Mesmo de­pois de ter sido bondoso com vocês, ele os ex­terminará". 21 O povo, porém, respondeu a Josué: "De maneira nenhuma! Nós serviremos ao Senhor". 22 Disse então Josué: "Vocês são teste­munhas contra vocês mesmos de que escolhe­ram servir ao Senhor".

   Escolher servir ao Senhor. Para tanto, sim, confirmado, é possível tomar Josué como modelo. Seja esta a escolha desta geração. E que nunca esmoreça, servindo de mediação a uma geração que, displicentemente, afirme  não conhecer o Senhor.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Reflexões sobre olhares

⁶¹ "Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. ⁶² Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente." Lc 22:61,62.

   Olhares revelam ou escondem. São severamente irônicos ou misericordiosos. Hipócritas ou condescendentes. 

  Discriminatórios, aviltantes, preconceituosos, detratores, enfim, vai depender muito do caráter de seu dono.

   Deles somos alvo, quem sabe vítimas, mas também algozes, porque são armas. Uma leitura de olhares pode ser lúcida ou mero equívoco. Despiste.

   Lucas descreve o olhar de Jesus a Pedro. Pleno de conexões com a advertência anterior, de que o discípulo não seria capaz de conter sua covardia.

   Provocou em Pedro um choro amargo e reconhecido de arrependimento verdadeiro. Marcos não menciona o olhar de Jesus ao jovem rico, mas é o único que registra que Jesus o amou. Ora, Marcos e suas redundâncias.

  João registra o olhar de Jesus a Judas, deste vez, sim, o Iscariotes. Não o menciona, especificamente, como faz Lucas, mas um, ali, mirou o outro nos olhos, com certeza.

   A boca fala do que está está cheio o coração. Certo, mas Salomão aqui menciona um tal filtro de percepções para se saber como deve ser lido o que a boca falou.

   Olhares também são assim. Transparecem do que o coração está cheio. Mas é inevitável o filtro de leitura. Ainda que paralisado o restante do rosto. Tudo fala.

   É preciso ter cuidado com os olhares(?). A interrogação, entre parênteses, é porque pode (deve) ser lido como afirmação ou como pergunta (ou valem os dois).

   Obadias, sujeito observador, esse profeta, adverte se ter cuidado com os olhares. Como também advertiu Jesus, porque não é a imagem que entra pelos olhos que define, mas a leitura que faz o coração, dono desse olhar.

   É tudo muito rápido. Fala, Obadias, tua opinião sobre o olhar alheio: ¹² "Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão, o dia da sua calamidade". Obadias 1:12a.

   E a consequente parte b deste mesmo versículo: ¹² "nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína". Obadias 1:12b.

   Ali, foi o olhar. Aqui, o coração indevidamente alegre. O que vemos, talvez nem seja, foi inopinado, súbito, não fomos cúmplices da cena. Não estamos nem aí, tenho nada com isso. Apenas fotografo com o meu olhar. Mas a leitura que fazemos revela que coração nós temos.

    O coração, então, como disse Salomão, regula a boca, mas também regula o olhar, como diz Obadias. Veja no livro desse profeta os sete "não devias" desse texto. Bela exortação, belo sermão.

   Todos somos ou fomos ou ainda é assim, alvo do olhar de Jesus para nós. Não podemos ver o seu rosto nem seus olhos. Talvez, imaginar.

   Mas ter um coração capaz de fazer leituras que sejam expressivas pelo olhar, isso nos compete, para que as pessoas identifiquem em nosso olhar o olhar de Jesus.

   Que leitura possível transmitem nossos olhos? Que leitura fazem de nossos olhares? Que imagens captamos, que tratamento damos a elas? É a realidade virtual ou a real da qual mais nos ocupamos?

   Jesus fixou os olhos em Pedro.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Maroto você, hein Jesus, com mais esse sorriso

   Meu forte não é o verso e meu mais fraco é a prosa. E na velhice que me começa, faço o inventário do muito que perdi. E, seguindo assim, distraído, pela vida, lembro de um alerta do salmista, no Salmo 16,3:

³ Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer.

    Então resolvi traçar umas linhas sobre Esther. Notável. A igreja é feita de notáveis. Está no mundo para isso. Para ser notável. Contados um a um. Jesus, em sua oração, menciona que ela glorifica o Pai, como Ele próprio o fez.

   Esther carece de que escrevam sua biografia. Com todos os detalhes. Não para que seja notável por soberba. Jamais. Mas por sua autenticidade.

   Em termos de igreja, importa a autenticidade. É isso que conta nesse mundo. E é isso que tem faltado à igreja, entre pequenos e grandes nela, assim (mal) referidos.

   Porque nela não há, pelo menos não deveria haver pequeno ou grande. Mas, como não suportamos ser iguais, seguimos nos medindo, uns pelos outros.

   Mas Esther foi Esther. Aliás, essa da Bíblia, foi exortada, pelo primo, a ser ela mesma. Seja você: para isso Deus te colocou aí. Seja Esther. Privilégio cruzar, na vida, com Esther.

   Por ser ela mesma. Invejo quem conviveu mais perto com Esther. Aliás, uma coisa que se via, sempre, era o cuidado da família com ela. Dilma, ora, companheira minha de Acampamento, transparecia, em nome de toda a família, esse cuidado.

   Presença constante. Carinho, cuidado, amor, enfim. Sim, considero-me um eventual nos encontros com Esther. No Acre desde 1995, a vida no Rio transcorreu comigo distante.

  Mas bastante cruzar com Esther na Flu, cuja história se mistura à dessa igreja. Aliás, reviver a história era a sua especialidade. Deter-se, quantas vezes o fiz, eu, simploriamente vidrado em história, viajava no tempo pelas fotos, textos, souvenirs das exposições de datas marcantes naquele cantinho ajeitado por Esther.

   Igreja sempre foi seu lugar de predileção, serviço e deleite. As fotos antigas registram imagens dessa história a contar. Lugar de comunhão é a igreja. Com tantos desencontros na vida, como diz Vinicius.

   Cantar hinos dedilhados por Esther. Vivo dizendo que hinos são miniaulas. Os avivamentos que trouxeram para cá os missionários estrangeiros foram movidos a sermões e hinos de mídia, sem autofalantes. Apenas no gogó.

   Paulo Apóstolo menciona salmos, hinos e cânticos espirituais. Está bem. Façam esses tais cânticos espirituais. Mas, por favor, tenham bom gosto. A especialidade de Esther eram os Salmos & Hinos.

   Havia uma legião de amigos e irmãos mobilizados para os cultos on-line. Era a minha chance de acompanhar via net. Mas no de 90 anos estive, ao vivo, na Flu.

  E foi assim, no eventual, pela vida de igreja que eu, já aos 66, cruzei com Esther. E ao meu jeito, assim, distraído de sempre, fui assimilando seu exemplo. Silencioso. Marcante. Notável.

Certo domingo, na Congregacional
 em Copacabana

domingo, 26 de novembro de 2023

A identidade da igreja pelo próprio Jesus

 Definições de igreja de Jesus na Santa Ceia

1 "Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim." João 13,1.

   Toda as Escrituras apontam, profeticamente, para essa hora de Jesus. Neste texto, está demarcado o início da última Páscoa, de onde Jesus institui a Santa Ceia, quando reafirma o seu amor, até o fim, em todos os sentidos. Assim como expressa suas definições de igreja:

  1. Os que recebem o Espírito Santo:
João 14: "E eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, 17o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês."

2. Os que dão fruto por parmenecer em Cristo:
João 15: 5 "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma."

3. Os que são guiados pelo Espírito:
João 16: 13 "Mas, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e anunciará a vocês o que está por vir."

4. Os que são um, com o Pai, em Cristo:
João 17: 23 "...eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste."

    A hora, para Jesus, era o momento crucial de Sua vida e seu ministério. Joao 12,27: "Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não; eu vim exatamente para isto, para esta hora." 

    E assim como havia uma cruz, no caminho de Jesus, essa cruz se coloca em meio a nosso caminho. Se não estamos, pelo Espírito Santo, unidos a Cristo em Sua cruz, até podemos ter uma religião: mas não somos verdadeiramente convertidos.

    A reposta do Pai a Jesus é que terá seu nome glorificado no e pelo Pai, assim como o Pai  teve, em Cristo, seu nome glorificado. E a igreja, como complemento do ministério de Jesus, também em Cristo é glorificada, assim como Ele nela é glorificado. 

    Características aplicadas a Jesus, do mesmo modo que são à igreja, definindo a identidade dela:

1. Pelo amor nela: 
o 14,23: "Respondeu Jesus: "Se alguém me ama, obedecerá à minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos morada nele.";

2. Pelo mesmo envio, em nome do Filho: 
João 17,18 "Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo.;

3. Pela glorificação no nome do Pai: 
João 17,22: "Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: 23 eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.; 3. Pelo envio ao mundo, do mesmo modo e com a mesma missão de Jesus:

    A igreja reproduz no mundo o ministério de Jesus. Esse é o sentido da afirmação de Paulo, aos Efésios, quando afirma que Jesus foi dado à igreja: 22 "Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, 23 que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância."

   Não há identidade mais gloriosa do que esta. Por isso, Jesus, por si, deve se constituir, para nós, exortação viva: não há motivação maior do que essa:

1Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, 2 completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. 3 Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. 4 Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.

domingo, 19 de novembro de 2023

Nossas crianças dedicadas ao Senhor

   

Culto de apresentação dos bebês 

Hino: Convite aos meninos S&H 609

Leitura: Mateus 19:13-15

      Esta cerimônia de apresentação tem como objetivo estabelecer o compromisso dos pais com Deus e com a igreja. Da mesma forma, a igreja estabelece um compromisso com os pais e, assim, todos nós afirmamos nosso papel de família na fé. O que celebramos em cada apresentação é o lembrete de um compromisso eterno ao qual Deus nos chamou como pais e como igreja para velar por nossas crianças, guiando-as com o evangelho, porque reconhecemos que elas pertencem ao Senhor e afirmamos isso.

Aos pais:

1 - Vocês de comprometem a orar, orientar, moldar e acompanhar esta(s) criança(s) no seu crescimento espiritual?

2 - Visto que o casamento é um modelo da relação entre Cristo e sua igreja e testifica a nossos filhos a mensagem do evangelho, vocês se comprometem a priorizar o seu relacionamento e não negligenciá-lo?

3 - Vocês reconhecem a importância da igreja local como comunidade de fé acima de todas as outras atividades extracurriculares?

4 - Vocês se comprometem em participar ativamente com seus filhos das programações da igreja local?

5 - Vocês se comprometem a refletir no lar os ensinamentos e o contexto de vida que a igreja propõe?

6 - Vocês reconhecem a igreja como contexto primordial de aprendizado para os pais, reconhecendo a comunhão com ela e a submissão a Deus como essencial na instrução dos filhos?

7 - Vocês entendem que os filhos não pertencem a vocês, mas são herança do Senhor entregue a vocês para a responsabilidade de seu aperfeiçoamento?

À igreja:

1 - Irmãos e irmãs, vocês se comprometem a orar, orientar e acompanhar esta(s) criança(s) no seu crescimento espiritual?

2 - Vocês se comprometem a estimular a participação desta(s) criança(s) e sua(s) família(s) de maneira ativa nas programações da igreja?

3 - Vocês se comprometem como família de Deus a ser o modelo e contexto de vida bíblicos aos pais para a instrução dos filhos?

4 - Vocês se comprometem a oferecer todo o suporte necessário para que a família entenda a sua responsabilidade na criação dos filhos?

Cântico: A benção

 Sermão

⁵ "Desceu a filha de Faraó para se banhar no rio, e as suas donzelas passeavam pela beira do rio; vendo ela o cesto no carriçal, enviou a sua criada e o tomou. ⁶ Abrindo-o, viu a criança; e eis que o menino chorava. Teve compaixão dele e disse: Este é menino dos hebreus. ⁷ Então, disse sua irmã à filha de Faraó: Queres que eu vá chamar uma das hebreias que sirva de ama e te crie a criança? ⁸ Respondeu-lhe a filha de Faraó: Vai. Saiu, pois, a moça e chamou a mãe do menino. ⁹ Então, lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino e cria-mo; pagar-te-ei o teu salário. A mulher tomou o menino e o criou. ¹⁰ Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, da qual passou ele a ser filho. Esta lhe chamou Moisés e disse: Porque das águas o tirei." Êxodo 2:5-10

1. "Cria-mo, pagarte-ei o teu salário"

⁶⁵ "Sucedeu que todos os seus vizinhos ficaram possuídos de temor, e por toda a região montanhosa da Judeia foram divulgadas estas coisas. ⁶⁶ Todos os que as ouviram guardavam-nas no coração, dizendo: Que virá a ser, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele." Lucas 1:65,66.
2. "Que virá a ser, pois, este(a) menino(a)?"

24 Depois de desmamá-lo, levou o menino, ainda pequeno, à casa do Senhor, em Siló, com um novilho de três anos de idade, uma arroba de farinha e uma vasilha de couro cheia de vinho.
25 Eles sacrificaram o novilho e levaram o menino a Eli, 26 e ela lhe disse: "Meu senhor, juro por tua vida que eu sou a mulher que esteve aqui a teu lado, orando ao Senhor. 27 Era este menino que eu pedia, e o Senhor concedeu-me o pedido. 28 Por isso, agora, eu o dedico ao Senhor. Por toda a sua vida será dedicado ao Senhor". E ali adorou o Senhor."
3. "Por toda a sua vida será(ão) dedicados ao Senhor".

47 Todos os que o ouviam ficavam maravilhados com o seu entendimento e com as suas respostas. 48 Quando seus pais o viram, ficaram perplexos. Sua mãe lhe disse: "Filho, por que você nos fez isto? Seu pai e eu estávamos aflitos, à sua procura". 49 Ele perguntou: "Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?"
50 Mas eles não compreenderam o que lhes dizia.51 Então foi com eles para Nazaré e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, guardava todas essas coisas em seu coração.52 Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens.

4. "Crescendo em sabedoria, estatura e graça".

domingo, 5 de novembro de 2023

Sugestão de modelo de vida

 O salmista no 139 expressa, de 1-5, as modalidades em que reconhece a onisciência de Deus aplicada à sua vida pessoal:

1. Deus sonda e conhece v. 1; 2. Pensamentos: não há rotina fora de Sua percepção, v.2; 3. Meticuloso em cada rumo de todos os caminhos, v. 3; 4. Antecipa-se a tudo que for dito, v. 4; 5. Providencialmente cercado por todos os lados, v.5.
  
    Aqui, no v.6, o salmista nos convida a deter-nos, com relação ao que representa saber de Deus a respeito de Sua onisciência a nosso respeito.

    E passa a refletir o que significa estar sempre diante de Deus, não apenas como quqlquer um, devido ao atributo geral de Deus, mas numa relação pessoal, particular e íntima.

   Não há como fugir da presença do Espírito, que nos coloca face a face com Deus. Interessante como, em Nm  12,6-8, esse cara a cara foi privilégio exclusivo de Moisés.

   E nos versículos 8 a 12, passa a descrever, em sua visão, como numa concepção meramente humana, torna-se impossível se esconder de Deus.

   Seja no mais elevado céu, mais profundo abismo, nos limites imaginários do alvorecer ou entardecer, ou na mais hipotética treva, exterior ou interior, não há como se esconder.

   A partir de então, no poema, o salmista descreve a assinatura pessoal de Deus na sua formação individual, assim como de qualquer e todo ser humano.

   1. Deus formou no interior da madre, tecendo, por autoria divina, cada traço, v. 13; 2. Essa providência assombra o salmista, detalhe da autoria divina e de sua revelação ao seu entendimento, v. 14; 3. Não só entranhas, mas a estrutura óssea, em sua concepção e amadurecimento, v. 15; 4. Tudo Deus acompanha, personalizadamente, assim como escreve, como poesia, os dias que virão, v. 16;.

   O salmista passa a refletir e nos convida também a atinar com a sabedoria, o meticuloso cuidado e a providência de Deus. Todos e cada pensamento do Senhor a nosso respeito.

   Subitamente o salmista desvia seu raciocínio para quem não leva em conta esses desígnios. Não hesita em chamá-los perversos. Porque 1. são homicidas, v. 19; 2. rebelam-se contra Deus e são maliciosos com sua boca, v. 20; 3. é segurança manter longe sua influência, v. 21; 4. tal decisão precisa ser irreversível, v. 22.

   Diante de toda essa condição, no trato de Deus para conoco, somente uma oração será possível ser feita, a que nos convida o salmista. Não eventual, mas como modelo de vida.

   Ah, se a cada amanhecer que Deus nos concedeu, pudéssemos assim nos expressar, vivendo do efeito dessa bênção em nossa vida: 1. Sonda-me, ó Deus; 2. Conhece o meu coração; 3. Prova e conhece os meus pensamentos; 4. Vê se há em mim algum caminho mau; 5. Guia-me pelo caminho eterno.

sábado, 4 de novembro de 2023

Sorrisos como o de Jesus

 Aqui no Acre, onde estou, como pastor e professor, desde 1995, alcançou-me uma notícia triste. E nessas horas, quando a gente busca consolo, a Bíblia é o melhor refúgio.

   Crer nela nos conforta e mantém inabaláveis. Porque ela fala da vitória de Jesus sobre a morte. Daí Paulo Apóstolo afirmar que "estar com Cristo é, incomparavelmente, melhor", Fp 1,23.

   Por isso temos certeza de que, hora dessas, Ana Lúcia, com seu sorriso o mais lindo, competindo com o de sua irmã Dionice, estão onde é incomparavelmente melhor: ao lado, muito próximas, em comunhão definitiva, com Jesus.

    Caros primos, pode-se até dizer que somos distantes. Seja no parentesco, primos em terceiro grau, como se diz, ou ainda distantes pela geografia. O mais perto que já estive de vocês foi nas idas a Teresópolis, onde minha sogra teve o ap.

   Mas estamos, também, definitivamente próximos, na fé. Nossa comunhão é por meio de Jesus. Assim nos ensina João, em 1 Jo 1,3, que "a nossa comunhão é (e nunca deixa de ser) com o Pai e com o Filho, Jesus Cristo".

   Queridos primos e primas, minhas memórias, eu já com 66 anos, filho de tio Cid, o segundo irmão mais velho, irmão da bisavó de vocês, Dejanira, avó de Dionice e Ana Lúcia, nunca esqueci desses sorrisos.

   E aposto que vocês herdaram, e não foi só pelo DNA, mas pela história de fé. Conservem essa chama acesa, essa beleza física herdada, mas também essa herança espiritual.

    Convivi com a fé e o sorriso de sua bisavó que chamávamos tia Deja. A avó de vocês, Deni, já alcancei casada, eu um meninote de 7 ou 8 anos, e a mãe de vocês adolescentes. Sempre com o lindo sorriso herdado de Valdemar e Deni.

   Para vocês verem quão entrelaçada é essa família, foi na casa dos pais de Valdemar, avô de vocês, que minha mãe, Dorcas, mais conhecida como tia Maninha, hospedou-se, em 1951, quando esteve na roça, em Itaocara, para conhecer a família de seu então noivo Cid, meu pai, irmão da bisavó Dejanira.

    Visitava tia Deja em Cosmos, Dalmi ainda solteira. Acompanhamos o nascimento de Sarides e Saridieli, vários almoços, cultos e confraternizações na casa dos tios de vocês, mais com Dirceu do que com Dilson, com quem eu mantive menos contato.

   Mas sempre perto, trocando notícias, orações e compartilhando nossa fé. Vivemos hoje tempos mais distantes desses. Dejanira e Cid já completaram mais de 100 anos de nascidos. Mas essa geração está toda junta, com Jesus, pois nunca rejeitaram, envergonharam-se ou abandonaram sua fé.

    E também tempos mais difíceis. O próprio Jesus se perguntou se, próximo de Sua vinda, e cada vez mais próximos, haveria fé na terra, Lc 18,8. Assim como vaticinou que o amor de muitos haveria de esfriar, Mt 24,12.

   Não foi com Dejanira, nem com Cid, nem com Maninha, Deni, Dionice ou Ana Lúcia que o amor se esfriou ou que se perdeu a fé. Que nunca seja conosco. Nem se esmoreça a fé, nem conosco esfrie o amor. Provações, privações, tribulações, apostasia, certamente, virão, e quanto mais identificados com Cristo formos, mais seremos odiados, Jo 15,17-20.

   Mas que, de nossa parte, gritemos nas ruas a sabedoria, Pv 1,20-33, que é Jesus que, da parte de Deus, tornou-se para nós sabedoria, 1 Co 1,6-16, o evangelho, a mensagem da cruz. Gratos ao Senhor por esses que nos antecederam, de quem muito conhecemos defeitos e virtudes mas, acima de tudo, que nos legaram a fé.

    Senhor, grato por todos os sorrisos que nos antecederam e nos legaram a fé, tão parecidos com o sorriso de Jesus.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Dr. Robert Reid Kalley e a celebração de um casamento no Recife

O Diario Rio de Janeiro, nº 300, de 1 de Novembro de 1873 traz o relato inicialmente publicado no Jornal do Recife noticiando as agressões sofridas pelo Dr. Robert Reid Kalley e sua esposa, a Sra. Sarah Poulton Kalley, em Recife, quando o Dr. Kalley, na notícia grafado como Kelley, realizava um casamento na casa de culto evangélico: "Do Jornal do Recife extrahimos as seguintes noticias: 'UM FACTO VERGONHOSO. — Ante-hontem (23) á noute deu-se na rua Augusta o seguinte facto: Na casa que serve alli de igreja aos sectarios do rito evangélico, celebrava-se um casamento entre pessoas de côr parda, ao qual assistiam muitas outras, estando a sala replecta. Era celebrante o Sr. Dr. Keley e haviam sido preenchidas todas as formalidades recommendadas pelo decreto n. 369 de 17 de Abril de 1863. Como não se passasse secretamente o facto, julgaram alguns individuos, que tinham o direito de entrar, e como não conseguissem isto, agglomeraram-se á porta e proromperam em grande assuada. Appareceu então o Sr. subdelegado do 1º districto de S. José, acompanhado de algumas praças, e limitou a sua acção em fazer cercar á casa pelos policiaes. Vendo os promotores do barulho, que a autoridade não tratava de dissuadi-los do máo procedimento que tinham, fazendo-lhes vêr que a lei autorisa e garante o acto religioso que se estava celebrando, interpretaram que o seu silencio como uma tacita reprovação da cerimonia e continuaram na vozeria encetada, que era agora acompanhada já com algumas pedradas. Findo o casamento tiveram que sahir noivos e convidados debaixo de um chuveiro de dicterios próprios de quem os lançava; mas ao sahir o Sr. Dr. Keley e sua mulher foi sobre ambos um grupo de inconsiderados, que pretendiam maltratal-o physicamente, e forçoso foi occultal-o em uma casa da rua visinha, Caldeireiro, donde só depois de meia noute pode retirar-se. Foi um máo acto. A lei do paiz permitte os casamentos entre pessoas de culto differentes á religião que professamos, uma vez que sejam presididos por um pastor da respectiva seita. Assim, pois, ninguem póde intervir em taes actos e menos vilipendial-os, sem por sua vez transgredir á lei.'"

 (1)             (2)
                                                                                        
(1) O Diário do Rio foi o primeiro jornal diário a circular no Brasil, tendo sido fundado no longínquo ano de 1821, ou seja, há mais de 200 anos. Ele tinha o apelido de “Diário da Manteiga”, porque era baratinho, e custava o mesmo que uma pequena porção do laticínio. (2) No Arco do Telles, começa a Travessa do Comércio, onde está sediado do Diário do Rio, no primeiro prédio à direita logo após o arco. Ele está lá, igualzinho, como nesta foto do Século XIX. / Foto: blog o rio de antigamente

Casamento: https://femissionaria.blogspot.com/2021/01/dr-robert-reid-kalley-e-celebracao-de.html

Diário do Rio: https://diariodorio.com/historia-e-antecedentes/

Acesso em 30 out 2023.

domingo, 29 de outubro de 2023

Os 5 Solas

 Os 5 Solas da Reforma Protestante são proposições teológicas que sintetizam os principais pensamentos dos reformadores. Os Solas são os principais pontos de oposição da Teologia Reformada contra os ensinos da Igreja Católica. Todos eles são frases no Latim e o termo “Sola” significa “somente”.

A construção teológica iniciada por Martinho Lutero deu origem a um princípio conhecido como Cinco Solas:

Sola fide (somente a fé): Romanos 5,1 (Gn 15,5-6; Hb 2,2-4; Rm 1,16-17).

Sola scriptura (somente a Escritura): 2 Tm 3,16-17 (Js 1,8; 23,6).

• Solus Christus (somente Cristo): At 4,11-12 (Ef 1,13-14).

Sola gratia (somente a graça): Ef 2,8-10 (Tg 2,17-18).

• Soli Deo gloria (glória somente a Deus): Jo 17,1-3 (Jo 17,4-6; 2 Ts 1,12; 2 Co 3,18).

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Dez lições do casal Kalley

                                         

Rev. Maurício Amazonas, OSE, o mais congregacional dos anglicanos

O casal britânico que esteve no Brasil entre 10 de Maio de 1855 e 10 de Julho 1876, Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, morava em Petrópolis e de lá descia para o Rio de Janeiro, onde instalaram a “primeira Igreja Evangélica de fala portuguesa e em caráter permanente”, como costumam dizer os historiadores kalleyanos. Trata-se da Igreja Fluminense, no Rio, em 11 de Julho de 1858. Os Kalley inauguraram a segunda igreja protestante no Brasil, sendo essa no Recife, chamada de Igreja Pernambucana, em 19 de Outubro de 1873, que funciona atualmente na Rua do Príncipe. O casal pioneiro deixou muitas lições sobre sua missão no Brasil. Vamos enumerar dez dessas lições.

1. Reconhecer o valor das crianças. A primeira coisa a se organizar foi uma classe de Escola Dominical para crianças, em 19 de Agosto de 1855. Nela, estudavam crianças brasileiras e estrangeiras, filhas de trabalhadores, escravos e diplomatas.

2. Interpretar a lei a seu favor. Era proibido pregar aos brasileiros. Os anglicanos poderiam pregar aos ingleses, nas suas capelas; e os luteranos, para os alemães. Com inteligência estratégica, Dr. Kalley trouxe famílias portuguesas protestantes. À medida que Kalley realizava os ofícios, os brasileiros entendiam a pregação e as letras dos cânticos.

3. Instituir liderança leiga. Os portugueses, mais algum inglês ou estadunidense, vieram para trabalhar como colportores vendendo Bíblias e folhetos com porções das Escrituras. Eles eram pregadores para quem dona Sarah muitas vezes escreveu os sermões. Esses homens tinham o grande desafio de vender Bíblia para um povo pobre, com muitos analfabetos. Por isso o Dr. Kalley precisava sustentá-los com seus recursos. Logo alguns bispos e padres romanos começaram a dizer que as Bíblias de Londres eram falsas e seus fiéis estavam proibidos de ter acesso a elas.

4. Usar a imprensa. Kalley resolveu usar o meio de comunicação de sua época para responder aos ataques e defender as Bíblias de Londres. Além disso, ele foi o primeiro tradutor de John Bunyan (1628-1688) para o português, e o fazia em pequenos espaços pagos no Correio Mercantil. “A Viagem do Cristão” se tornou tão popular que ele precisou publicar um trecho a cada dois dias. Além disso, Kalley usava teatros e salões de recital para falar acerca da Cidade Santa, como o fez no Teatro de Santo Antônio, quando esteve no Recife, e na casa real de veraneio em Petrópolis, por solicitação do próprio Dom Pedro II.

5. Receber apoio de aliados. Intelectuais e liberais começaram a ver na pregação evangélica de Kalley um caminho para emancipação do pensamento que até então estava atrelado à Igreja ultramontana e à Coroa. Kalley era moderno e combinava mais com os anseios republicanos de então. Ele aceitou que maçons e jornalistas ajudassem na causa de defesa das Bíblias, como fez Abreu e Lima, por exemplo.

6. Conhecer as leis do País. Kalley entendeu que não bastavam os colportores vendendo Bíblias nas ruas e ele se defendendo dos ataques de Roma através da imprensa, com apoio de amigos. Resolveu se explicar perante as leis do País e do Parlamento, mediante contratação de 3 advogados de notório saber jurídico, entre eles Joaquim Nabuco. Após o questionamento de suas 11 perguntas, ficou estabelecido pelo Parlamento, que não era crime, como antes se julgava, explicitar a fé protestante para qualquer brasileiro que buscasse explicação, uma vez que ele pregava para portugueses que, por acaso, falavam a mesma língua que os brasileiros.

7. Antecipar eventos libertários. Dr. Kalley exigiu que os membros da Igreja Fluminense libertassem seus escravos sob pena de exclusão. Alguns escravos foram libertos, mas alguns senhores deixaram a igreja por causa dessa condição. Vale destacar que isso aconteceu 23 anos antes da assinatura da Lei Áurea. Também convém lembrar que Dr. Kalley, na condição de médico, cobrava muito bem dos ricos e consultava os pobres de graça, além de lhes doar o medicamento, muitas vezes. 

8. Fraternidade confessional. Dr. Kalley sabia diferenciar as coisas. Antes de vir ao Brasil, foi missionário na Ilha da Madeira. Ali, fez amizade com o bispo romano que era seu paciente, que facilitava entrada de Bíblias na alfândega e avisava das intenções dos bispos de Portugal. No Brasil, foi amigo de padres. Seu revisor de texto era romano e o convidou para um casamento: os Kalley atenderam. Muito contribuiu com os presbiterianos recém-chegados dos EUA. Aceitou ajuda pontual de anglicanos no Rio. Seu pastor auxiliar, Rev. Richard Holden, era ex-sacerdote anglicano. Deu carta de transferência para um jovem que veio a ser o primeiro pastor presbiteriano ordenado no Brasil. Não podemos dizer que Dr. Kalley era ecumênico, pois ainda não existia o termo, mas ele tinha esse espírito.

9. Música aliada à missão. Foram os Kalley os pioneiros na confecção de um hinário brasileiro em português, o Salmos & Hinos. Também instituíram o canto coral a quatro vozes ao publicarem o Salmos & Hinos com música.

10. Saber a hora de sair de cena. Talvez esta seja a lição mais difícil, pois não é fácil estabelecer os limites da nossa atuação pública no ministério. Sarah e Kalley prepararam a igreja, a liderança e um sucessor que estudou teologia, para ser pastor da Igreja Fluminense.

Estes pontos nos mostram missionários sensíveis à conjuntura brasileira e uma postura comprometida com a radicalidade do Evangelho, enfrentado os desafios com os recursos disponíveis no seu tempo. Assim, abriram o caminho para formação de uma liderança nacional e deixaram duas igrejas com bases sólidas para um crescimento real e genuíno.