segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Reflexões sobre olhares

⁶¹ "Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. ⁶² Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente." Lc 22:61,62.

   Olhares revelam ou escondem. São severamente irônicos ou misericordiosos. Hipócritas ou condescendentes. 

  Discriminatórios, aviltantes, preconceituosos, detratores, enfim, vai depender muito do caráter de seu dono.

   Deles somos alvo, quem sabe vítimas, mas também algozes, porque são armas. Uma leitura de olhares pode ser lúcida ou mero equívoco. Despiste.

   Lucas descreve o olhar de Jesus a Pedro. Pleno de conexões com a advertência anterior, de que o discípulo não seria capaz de conter sua covardia.

   Provocou em Pedro um choro amargo e reconhecido de arrependimento verdadeiro. Marcos não menciona o olhar de Jesus ao jovem rico, mas é o único que registra que Jesus o amou. Ora, Marcos e suas redundâncias.

  João registra o olhar de Jesus a Judas, deste vez, sim, o Iscariotes. Não o menciona, especificamente, como faz Lucas, mas um, ali, mirou o outro nos olhos, com certeza.

   A boca fala do que está está cheio o coração. Certo, mas Salomão aqui menciona um tal filtro de percepções para se saber como deve ser lido o que a boca falou.

   Olhares também são assim. Transparecem do que o coração está cheio. Mas é inevitável o filtro de leitura. Ainda que paralisado o restante do rosto. Tudo fala.

   É preciso ter cuidado com os olhares(?). A interrogação, entre parênteses, é porque pode (deve) ser lido como afirmação ou como pergunta (ou valem os dois).

   Obadias, sujeito observador, esse profeta, adverte se ter cuidado com os olhares. Como também advertiu Jesus, porque não é a imagem que entra pelos olhos que define, mas a leitura que faz o coração, dono desse olhar.

   É tudo muito rápido. Fala, Obadias, tua opinião sobre o olhar alheio: ¹² "Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão, o dia da sua calamidade". Obadias 1:12a.

   E a consequente parte b deste mesmo versículo: ¹² "nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína". Obadias 1:12b.

   Ali, foi o olhar. Aqui, o coração indevidamente alegre. O que vemos, talvez nem seja, foi inopinado, súbito, não fomos cúmplices da cena. Não estamos nem aí, tenho nada com isso. Apenas fotografo com o meu olhar. Mas a leitura que fazemos revela que coração nós temos.

    O coração, então, como disse Salomão, regula a boca, mas também regula o olhar, como diz Obadias. Veja no livro desse profeta os sete "não devias" desse texto. Bela exortação, belo sermão.

   Todos somos ou fomos ou ainda é assim, alvo do olhar de Jesus para nós. Não podemos ver o seu rosto nem seus olhos. Talvez, imaginar.

   Mas ter um coração capaz de fazer leituras que sejam expressivas pelo olhar, isso nos compete, para que as pessoas identifiquem em nosso olhar o olhar de Jesus.

   Que leitura possível transmitem nossos olhos? Que leitura fazem de nossos olhares? Que imagens captamos, que tratamento damos a elas? É a realidade virtual ou a real da qual mais nos ocupamos?

   Jesus fixou os olhos em Pedro.

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