terça-feira, 19 de maio de 2020

Lição 8 - A conversão de Paulo - At 9,1-19

At 19,1-19

Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote
e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém.
Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor,
e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.
Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém.
Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco.
Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu.
Ora, havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. Disse-lhe o Senhor numa visão: Ananias! Ao que respondeu: Eis-me aqui, Senhor!
Então, o Senhor lhe ordenou: Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita, e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando
e viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista.
Ananias, porém, respondeu: Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém;
e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.
Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel;
pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome.
Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo: Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo.
Imediatamente, lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver. A seguir, levantou-se e foi batizado.
E, depois de ter-se alimentado, sentiu-se fortalecido. Então, permaneceu em Damasco alguns dias com os discípulos.

Introdução 
A conversão de Paulo: como toda e qualquer conversão, demonstração explícita do poder de Deus. Precisamos resgatar o poder desse ato fundante da fé no indivíduo e seu potencial de testemunho e poder, nas mãos de Deus. At 9,15-16.

1. Antecedentes 
     A conversão é o início da vida com Deus. A palavra já indica: homem/mulher são um/uma até o encontro com Deus e, a partir dali, outro/outra. 
    A Bíblia compara, na verdade, define, e não por metáfora, a conversão a um novo nascimento, morte/ressurreição em Cristo e a uma cirurgia pelo poder de Deus. 
    A herança que o ser humano traz de sua ruptura com Deus somente vai resolver-se no retorno a Deus, no ato da conversão. Nela se cumpre a cruz de Jesus Cristo, naquele que crê. 
    Com relação a Saulo de Tarso, vinha alimentando um ódio ativo em relação à igreja. Líder entre os fariseus, em Fp 3,4-7 há um resumo de sua biografia, destacava-se, agora, com pleno sucesso na perseguição ao Caminho. 
    Lucas usa a expressão "assolava", elymaineto, no grego, que significa "ultrajar", "maltratar com violência" ou "provocar estrago". E o ensaio inicial foi perpetrado na morte engendrada de Estêvão. 
     Em At 6,9, entre os membros da Sinagoga que liderou toda a intriga contra Estêvão, estavam "os da Cilícia", ou seja, conterrâneos de Paulo e, sem dúvida, ele incluído.  
     Após a consumação de toda a urdidura, as vestes esfarrapadas e ensanguentadas do mártir foram depositadas pela "testemunhas" forjadas aos pés do jovem Saulo de Tarso, At 7,58: sem dúvida, prestavam conta de uma tarefa finda e bem-sucedida. 
     O jovem apenas não contava que sua queda-de-braço era com o próprio Deus, a quem ele avaliava conhecer e em nome de quem perseguia a igreja de Jesus Cristo.

2. O processo da conversão 
      O impacto da morte de Estêvão teve efeito duplo na vida de Saulo. Enquanto, por um lado, tudo ocorreu conforme planejado, por outro, qualquer relato a respeito da reação da vítima, do sermão ao momento do apedrejamento, enquadraria o jovem algoz em toda a incoerência de tudo o que ocorreu. 
     Saulo era inteligente demais para não levar em conta a contradição entre relato e caráter do diácono Estêvão. Começou a fazer essas duas leituras simultâneas e, como relata, posteriormente, quando fala de sua conversão, era sincero, incrédulo e, ao mesmo tempo, ignorante, em 1 Tm 1,13. Mas não era, absolutamente, ingênuo.
     Colocar os farrapos do que sobrou das roupas de Estêvão aos pés de Saulo simbolizava o fim de um ciclo. Ao mesmo tempo que relatavam a parte em que Saulo não esteve presente, certamente representaram as perguntas pelos detalhes. Isso combinava com a personalidade de Saulo.
     Vejamos como tais respostas, certamente, vão contribuir para o emparedamento e posterior conversão de Paulo.
2.1. Certamente ouviu sobre o sermão de Estêvão. Pelo que conhecemos de Paulo, mesmo antes de sua conversão era inteligente. E a comparação entre a postura que, como autoridades judaicas corruptas, engendraram contra Estêvão e a postura deste, haverá um flagrante contraste que colocará, em xeque, o jovem Saulo, frente a frente com essa contradição, consequentemente, com Deus. 

2.2. Cada detalhe do sermão, sem nenhuma dúvida, Saulo procurou sondar. A leitura de Estêvão, a respeito da tradição judaica, era oposta à leitura que, com todo o zelo, grandeza e vaidade, a "casta" judaica, a que Paulo pertencia com tanto zelo farisaico, também fazia. Por isso, quiseram calá-lo.

2.3. Mas chegou a Saulo cada detalhe do sermão. Com toda a certeza, quem lhe contou, rilhava os dentes, enquanto o jovem Saulo entrava em imperceptível conflito interno. A leitura que Estêvão fazia das Escrituras fazia dele um profeta deslocado no tempo, mas em tudo em dia com sua vocação. 

2.4. Por mais que houvesse rejeição, a clareza da tese de Estêvão, de que, em sua história, Israel tinha um lado obscuro de resistência ao Espírito Santo, representado por lideranças que, como patriarcas, quiseram matar José, rejeitaram ao próprio Moisés e patrocinaram a idolatria, perseguindo e matando os profetas, definitivamente essa era a versão que latejava na mente de Paulo. 

2.5. Internamente, para Saulo que, como qualquer maioral na linhagem farisaica, conhecida a lei de Moisés, conferia a principal afirmação de Estêvão, de que o principal anúncio de Moisés era a profecia sobre o Justo, Jesus, profeta semelhante a ele: rejeitar Jesus, tornar-se "traidor e assassino" dEle, como afirmou Estêvão, At 7,52-53 o que, definitivamente, era não guardar a lei. 

2.6. As testemunhas que deixaram aos pés de Paulo as vestes de Estêvão, prova de que o circuito engendrado desde a farsa previamente montada, At 6,13, correspondeu ao planejado, contrariavam de modo flagrante o nono mandamento, Ex 20,16: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo". Mais uma confirmação do que Estêvão dissera, que todas as autoridades eram uma desonra para a Lei de Moisés, uma afronta e patente contradição. 

2.7. Mas, certamente, o xeque-mate foi quando informaram Saulo da reação final de Estêvão. Nenhuma maldição, Rm 12,14, nenhum impropério proclamado por ele. Até no momento da morte, foi imitador de Jesus, 1 Co 11,1, lições que o futuro apóstolo colocará em prática na sua vida. Estêvão afirmou o que Jesus já havia dito, que estaria na presença de Deus, Mt 26,64, assim como ele vê e enuncia esta cena, At 7,55-56 e ainda, do mesmo modo que Jesus, Lc 23,34, Estêvão rogou a Deus perdão para seus algozes, At 7,59-60.
        Esse testemunho, esse sim, involuntário, dado pelos emissários da Sinagoga ao jovem Saulo, sim, certamente, foi decisivo em sua conversão. Aqui começava, na consciência do futuro apóstolo, a ação dos aguilhões de Deus, At 26,14.
     
3. A última ou primeira viagem 
      Saulo parte da Palestina em direção à Damasco, capital da província romana da Síria, internacionalizando a perseguição contra a igreja. 
     Oficializa por meio de cartas específicas solicitadas ao sumo-sacerdote, destinadas às sinagogas daquela cidade. A influência dos fariseus espalhava-se a partir das sinagogas. 
    Como saiu para esse viagem, está bem expresso e definido por Lucas, em At 9.1, para repetir, naquela capital, At 9,2, o que fizera em seu país, At 8,3, desmembrado famílias, arrastando-as ao cárcere, separando pais e filhos, esposos de suas esposas.
    Vale destacar, no intervalo que se situa em At 8,4-40, a reação da liderança da igreja a essa mesma perseguição:

1. Não se intimidaram: por onde foram dispersos, anunciavam o evangelho, At 8,4;

2. Outro diácono, Felipe, extrapolou sua vocação e, seguindo o e exemplo de Estêvão, além de pregar a palavra, Deus lhe concedeu que operasse os mesmos sinais e prodígios, como sinal profético para ouvir e crer, At 8,5-8;

3. Pedro seguiu a iniciativa de Felipe, interessante como quem definiu a agenda foi o diácono, sinal da operação do Espírito, idepeendentemente de "hierarquia", At 8,14;

4. E essa agenda incluiu Samaria. Não pensem que a resistência e distanciamento preconceituoso e discriminatório entre judeus e samaritanos havia arrefecido. Não foi isso, mas foi a ação do Espírito Santo aproximando e derrubando essa barreira, como Jesus havia ensinado em Jo 4,4, "era necessário" (de novo) passar por Samaria;

5. Aqui é interessante destacar a verdadeira conversão, a respeito do tesoureiro da rainha de Candace, na Etiópia, e a falsa, que foi a simulação do mágico Simão:
5.1. Simão vivia de iludir o povo e, como se vai confirmar, não estava interessado em conversão sincera ou experiência do poder de Deus: queria, apenas, especializar-se, ainda mais, em iludir, At 8,5-9;
5.2. Seus seguidores foram libertos de sua nefasta influência, o que lhe chamou a atenção. Por isso, acercou-se de Pedro e demais apóstolos, que haviam ido em direção ao avivamento em Samaria, orientar Felipe e os novos convertidos, At 8,9-16, para descobrir o "segredo";
5.3. Percebeu Pedro impor as mãos, At 8,18, para que os novos convertidos recebessem o Espírito Santo e, então, achou ser essa o "truque de audiência" que os apóstolos praticavam. Mas os apóstolos não estavam praticando nenhum artifício de mídia;
5.4. Ainda repousava sobre eles a autoridade de impor as mãos, como sinal de batismo no Espírito Santo. Como dissemos, era novo que irmãos como Estêvão e, agora, Felipe, manifestassem os mesmos sinais que, até há pouco, eram tidos como "exclusivos" dos apóstolos, quais eram, At 8,6 e 6,8, "prodígios e sinais" entre o povo;
5.5. Pois a autoridade dos apóstolos ainda era visivelmente requerida, por providência de Deus, de modo a marcar esse início de testemunho da igreja com respeito a Jesus. Era o referencial de autoridade que, por meio do Espírito Santo, Jesus concedia à igreja, tendo o ministério apostólico como transição;
5.6. Não é definitivo que, para que alguém se converta, outro alguém, hoje, precise impor mãos para que se receba o Espírito Santo. Por isso afirmamos aqui que era transitório e existia como reforço à autoridade dos apóstolos. Aliás, este texto justo confere o autêntico dom do Espírito comparado à farsa de um charlatão chamado Simão, identificado pela proposta que fez, At 8,19;
5.7. Pedro alinha, em sua argumentação e denúncia do charlatanismo e falsa conversão de Simão 5 (cinco) características para identificação do falso ministro de Jesus Cristo e, consequentemente, do falso ministério:
(a) nenhum dom ou nada no ministério de Jesus é negociável por nenhum tipo de moeda, At 8,20, senão unicamente pela graça de Deus;
(b) essa proposta ou essa sugestão de troca denuncia quem a prática ou sugere como mercenário e o predispõe à perdição eterna, At 8,20;
(c) essa postura indica que aquele que pratica, sustenta ou lidera qualquer iniciativa mercantilista dessa natureza não tem parte nenhuma no autêntico ministério de Jesus, assim como não tem reto o coração, diante de Dsus, At 8,21;
(d) tal sugestão parte de alguém incrédulo, segundo identifica Pedro, que denuncia essa intenção como maldade explícita e propõe uma única saída honrosa e possível: arrependimento é conversão, At 8,22;
(e) a análise do apóstolo Pedro enxerga em que cilada está quem partilha e/ou compartilha esse e desse tipo de "ministério" ou o promove: está em "fel de amargura e laço de iniquidade", At 8,23, duras palavras, certamente conferem com 2 Tm 2,26. 
       Embora Simão tenha perdido intercessão por ele, não sabemos se veio a, de modo legítimo, arrepender-se, At 8,24, enquanto que Pedro e seus companheiros prosseguiram em sua campanha evangelística por toda a Samaria, At 8,25.
     Felipe experimenta uma outra ação do Espírito Santo inédita, que bem ilustra, a partir da providência de Deus, a urgência da pregação do evangelho.
   Neste trecho, At 8,26-40, conheceremos uma verdadeira conversão e batismo baseada na leitura das Escrituras, por um expediente inusitado, em que num anjo envia Felipe a uma estrada deserta, porém com endereço definido para a evangelização.
     Ao final da conversa com o Eunuco, Felipe é arrebatado pelo Espírito Santo, e ganha o rumo de evangelização até chegar a Cesareia, a cidade de Cornélio.

4. A conversão propriamente dita
      Em At 9,3-6 está descrita, objetivamente, a maneira como Deus resolveu confrontar Paulo. Ele viu um brilho que o cegou fazendo-o, literalmente, cair. E ouviu a voz de Jesus que com ele falava. Paulo vai, pelo restante de sua vida, lembrar dessa sua experiência, associando-a também ao chamado específico de Jesus em sua vida.
      A mesma voz soergue o apóstolo é lhe indica um endereço, em Damasco, onde será mais detalhadamente orientado. O que ocorre em At 9,8-19. Está parte se subdivide entre a relutância de Ananias, At 9,10-16, as orientações dadas ao novo convertido,, At 9,17-20.
      Como destaque, vale lembrar a justificativa de Deus para o argumento de Ananias, pelo medo que nutria por Saulo, At 9,15-16:
"Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel;
pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome".
       E plenamente Paulo correspondeu, como a continuidade da história em Atos indica, assim como as cartas de mais da metade do Novo Testamento confirmam. 


terça-feira, 12 de maio de 2020

Lição 7 - At 6,7-15 - O sermão de Estêvão

Atos 6:7-15

Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.
Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos

Introdução
    A pergunta do sumo-sacerdote a Estêvão desencadeia todo um processo: 
"Então, lhe perguntou o sumo sacerdote: Porventura, é isto assim?", At 7,1.
    O caráter dele já estava definido, "Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo", At 6,8, e, por isso, foi preso, injuriado e agora comparecia perante a autoridade maior entre os judeus. 
  Estava armado um "circo" para caluniá-lo e incriminá-lo. Mas não alterou a marca principal de sua personalidade. E o seu sermão, registrado por Lucas, vai confirmar também diante dos nossos olhos. 

1. Clímax da perseguição 
      Destacamos que, pelo menos antes desta prisão de Estêvão, em duas outras oportunidades os apóstolos haviam sido conduzidos perante as autoridades judaicas. 
     A primeira, após a cura do paralítico, postado à porta Formosa do templo, quando Pedro e João subiam para orar. Pedro ainda pregava, quando os emissários do sumo-sacerdote, o capitão do templo e os saduceus para prendê-los, At 4,1-3.
     Na segunda prisão, a igreja seguia em sua rotina, quer dizer, plenamente envolvida no seu ministério quando, novamente, foram recolhidos ao cárcere e, desta vez, ainda que o afamado Gamaliel aconselhasse prudência às autoridades, os apóstolos foram punidos com açoites, At 5,17-18 e 40.
     Mas nem o conselho de Gamaliel foi ouvido. E as perseguições intensificaram-se até o clímax dessa prisão e julgamentos forjados. Somente assim poderiam enquadrar um homem como Estêvão: em tudo imitador de Cristo.
     A partir desse fato, e já por influência da liderança de Saulo de Tarso, a perseguição vai recrudescer. Dado o relatório da morte de Estêvão a Saulo, At 7,58, Lucas detalha que ele planejou se deslocar até Damasco , capital da Síria, ela sim Província Romana à qual a Palestina estava subordinada.
       Além de "assolar a igreja", como está descrito em At 8,1, e "respirar ameaças e morte contra os discípulos", At 9,1, Saulo separava famílias de seus filhos, At 8,3 e pretendia trazer arrastados até Jerusalém os que prendesse em Damasco, At 9,2.
     Nas próximas lições vamos ver como Deus resolveu esse problema. Aqui, vamos agora nos debruçar sobre a vocação, o trabalho e a pregação de Estêvão. 

2. Um homem para além de sua vocação 

       Um problema surgido na igreja, entre viúvas de judeus helenistas e aquelas de hebreus, conduziu Pedro a tomar uma atitude sábia, delegando autoridade e retirando de sobre seus ombros a responsabilidade.
      Resolveu indicar diáconos, "servidores", que foram homens selecionados, sob a própria recomendação de Pedro, At 6,3-4, careciam de uma formação espiritual, de talento e caráter a toda a prova, em meio aos irmãos. 
     Esse conflito era antigo, desde épocas em que se instituiu uma questão de identidade e valor entre judeus que permaneceram na dispersão e os que retornaram à Jerusalém.
    Portanto, qualquer tipo de diferenças ou desentendimento, levado em conta que era uma polarização e rixa antiga, desde os tempos ainda da família dos Macabeus, cerca de 168-90 a. C., era necessária uma diplomacia e sabedoria do Espírito que somente homens bem preparados poderiam administrar.
      Pois entre esses homens, destaca-se Estêvão, para além da tarefa que sobre ele recaiu, na mesma reserva de caráter, na plenitude do Espírito, mas avançando para o ministério que, até aquele momento, parecia ser exclusividade dos apóstolos, At 6,8-10.
      Estêvão destaca-se, movido pelo Espírito, no ministério da palavra, em meio às questões propostas pelos judeus e que, diante dele, não obtinham sucesso. Também sinais e prodígios, marca característica do ministério de Jesus, At 2,22, reserva de autoridade transmitida aos discípulos, At 5,12, e agora indicado como característica idêntica no ministério de Estêvão, At 6,8.
      Essa transição assinala uma característica do ministério da igreja que se confirma já na observação feita por Pedro, na introdução de seu sermão em Pentecostes, At 2,17-18.
    Define-se que, para a igreja, não existe monopólio de nenhum ministério, assim como não existe hierarquia de mistérios, mas distribuição de dons do Espírito. 
    Segundo a própria Escritura diz, como num corpo, as diferenças se articulam e todo a igreja efetua o seu próprio aumento, Ef 4,15-16. Apóstolos não são uma casta superior aos demais, porém a definição do serviço que prestam a toda a igreja.
    Daí que, se temos um diácono movido pelo Espírito Santo, para além da expectativa que todo o grupo promoveu para ele, mais à frente teremos Saulo, convertido, e Barnabé, At 14,14, ambos chamados apóstolos. 
     Não há monopólio ou hierarquia de ministérios  no contexto de ação da igreja é distribuição de dons do Espírito.

3. O sermão de Estêvão 

      Estêvão não fala a um auditório ou grupo de pessoas interessadas em ouvir sobre salvação. Mas a um grupo que contexta sua autenticidade como testemunha de Jesus, forja acusações falsas contra ele e desejo ouvi-lo apenas para justificar a iniquidade que já antecipadamente decidiram praticar.
      Portanto, Estêvão mais para um libelo profético se denúncia de pecado, do que um sermão de edificação espiritual ou oferta de arrependimento, embora esses tópicos não estejam ausentes de todo em sua prédica.
     Estêvão escolhe traçar uma linha contínua, pelo Antigo Testamento, de Abraão a Moisés e deste a Salomão, quando menciona a contrição do Templo de Jerusalém, a partir da planta do Tabernáculo do deserto.
     Com isso, ele demonstra conhecer as Escrituras mas, ao lado do orgulho e soberba das autoridades que tem diante de si, Estêvão vai ressaltar os aspetos negativos e de rejeição à vocação que Deus tinha para com Israel.
     Essa tese de Estêvão de que eram um povo que resistia ao Espírito Santo, de que a circuncisão, considerada por eles marca de sua identidade e vínculo a Abraão era falsa, que eram uma geração reafirmada de algozes de profetas e, para coroar, eram assassinos do Justo, profetizado por Moisés, foi a gota d'água de razões, além da que procuravam. Não suportaram toda a verdade.
    As etapas do sermão de Estêvão são:
1. Autenticidade da vocação, da fé e da aliança com Deus em Abraão: At 7,2-8;
2. Livramento de José, em família e no Egito, como marca da providência de Deus: At 7,9-15;
3. Levantamento do profeta que lidera a libertação do Efeito e profetisa sobre o Messias que virá: At 7,17-30;
    Aqui Estêvão se detém, propositalmente, num tempo maior, porque para os judeus Moisés era o maior dos profetas, o mediador da lei e provedor do sacerdócio da tribo de Levi. 
    Estêvão vai estabelecer, como faz ao longo de todo o sermão, a história da providência e cuidado de Deus, ao lado da rejeição e rebeldia do povo, como bem caracteriza neste trecho, com Moisés. 
4. Egito, Sinai e Deserto: três momentos decisivos sob a liderança de Moisés, At 7,35-43;
5. Liderança de Josué: o Tabernáculo, símbolo da presença de Deus no meio do povo: At 7,44-50.

Conclusão 
1. Estêvão, em sua homilética e hermenêutica desenha uma mancha na honra e na biografia da história dos judeus, confirmada no gestão de rejeição ao Messias;
2. Coloca todas sequelas autoridades no rumo e quilate de todos os que, na história de Israel, rejeitam o Senhor e se rebelam contra Ele;
3. Menciona patriarcas fatricidas contra José, contestadores da vocação e liderança de Moisés, massa de povo que, no coração, ficaram no Egito e, no deserto, revelaram a idolatria que jamais haviam abandonado;
4. Rejeitam a principal palavra de Moisés, a profecia sobre o Messias, At 7,37, têm no currículo a deportação para a Babilônia por escolher não Deus, mas a idolatria, At 7,43 e, ao longo de toda a sua história são conhecidos não por aceitar, mas por rejeitar o Espírito Santo, At 7,51;
5. Ao final, a marca com que Estêvão classifica os líderes religiosos em Israel, inclui:
5.1. Falso senso se aliança com Deus, sem compreender o papel da fé na aliança da circuncisão: cahma-os incircuncisos, At 7,51 com Jr 4,4;
5.2. Resistentes ao agir do Espírito Santo em suas vidas, esse mesmo que vinha sobre os profetas e demais servos do Senhor, como sobre todo o povo: At 7,51 com Na 9,20;
5.3. Dura cerviz, quer dizer, não se dobram diante de Deus, replicando a mesma rebeldia dos pais e perseguição aos profetas, que agora são todos os crentes e não somente os dentre os judeus: At 7,51 com 1 Co 14,1 e At 2,17-18;
5.4. Chama-os não semente traidores e assassinos dos profetas e da profecia, mas do Justo, coroa de todas as Escrituras, vocação e história de Israel: At 7,52;
5.5. Estêvão antecipa Paulo que, aos Romanos 10,4 diz que a finalidade da lei é Jesus, aos Gálatas diz que a lei é o aio que nos conduz a Cristo: At 7,53, com Rm 10, 4 e Gl 3,24.

       A pergunta do sumo-sacerdote foi mais do que plenamente respondida e a identidade deles mais do que confirmada no justiçamento iníquo que promoveram contra Estêvão.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pastoral de quarentena

     Dizem as Escrituras que o Espírito Santo intercede por nós, com gemidos inexprimíveis. Eu até posso entender "gemidos" e também "inexprimíveis".
     Mas quando se juntam na expressão "gemidos inexprimíveis" e associado a Espírito Santo, como diz o outro, "viajo na maionese".
     E aí entra a seguinte explicação, esta sim, bem minha, eu entendo completa: "Porque não sabemos orar como convém". Finalmente, uma parte mais clara da coisa. 
    A quarentena joga o cara na oração. Até leitura de Bíblia. Deve ser pelo medo do vírus. De repente, fica-se mais, digamos, espiritual. 
    Se bem que o salmista diz que, à alma, sempre ocorre buscar o Senhor. Ainda bem que a gente tem alma. Pelo menos, uma parte bem íntima, dentro da gente, que conserva, abriga e, ainda que remotamente, nos lembre a fé. 
    Deve ser aí que o Espírito se abriga. Sim, porque numa parte íntima nossa ele deve residir, como inquilino ocasional, quando, como dizem de novo as Escrituras, quando não o entristecemos ou até apagamos. 
    Só mesmo uma Pessoa da Trindade, assim, sutil, para nos reconstruir por dentro. A coisa foi tão avassaladora, o estrago foi tão grande que, para o amor entrar de novo, na gente, os três têm de se empenhar: Pai, Filho e Espírito.
    Trabalho individual e conjunto, ao mesmo tempo. Depois ainda tem gente que não acredita na Trindade. Cúmulo do cinismo: se olha no espelho, como dizem de novo as Escrituras que o nosso espírito sabe de nós e, num dia de faxina, também chamada "confissão de pecado", dê uma "olhada interior" e veja bem, sem falsa modéstia como nos tornamos, mais ou menos recauchutados, por obra da Trindade. 
     Deus, distante como sempre, Jesus, o dublê perfeito que veio ao encontro de nós, e o Espírito, que entra dentro. Podemos dizer que deixaram o "serviço limpo" para ele. Tá entendendo, agora, por que ele geme?  Deixa de ser cínico. 
    Daí, deve ser a quarentena, de novo acordei com vontade de orar. Deve ser o medo, de novo. Não há virtude nesse meu gesto. Mas, quando lembrei desse texto acima, que interessa ao Espírito que oremos, que parte dEle essa iniciativa que Ele emplaca em nós, legitimando ou, pelo menos, na tentativa de, resolvi orar e incluir você.
    Faço um convite à oração. Ore por mim. Eu estou orando por você. Não demore na oração por mim. Demore na oração por você. Deixe-se conduzir pelo Espírito Santo. Pode ficar nu ou nua na presença dEle. Não apenas fisicamente, sempre mais fácil, mas também intimamente, sempre mais doloroso.
    Ele intercede por nós. Geme por nós. Torna autêntica nossa oração. Torna autêntica nossa existência. O nosso culto. A nossa adoração. A nossa fé. O nosso amor. Como disse Jesus àquela mulher, o Espírito Santo sacia a nossa sede.
     Pretensão minha orar por você. Não tenho assim tanta sensibilidade. Nem essa virtude. Mas tive essa vontade. Por isso escrevi. Onde chegar este texto, é para dizer que o Espírito Santo intercede por você com todo o foco. 
    O que te aflige, o que sensibiliza tua alma, ainda  que nem nossa alma tenha escapado à influência do que, em nós, não é assim tão digno, a partir desse recôndito tão íntimo, o Espírito quer interceder por nós, em nós, conosco, sondando, tornando a gente mais sensível ao que de Deus ele conhece tão intimamente. 
     Convido a orar. 
     Que sejam todos os problemas de uma vez. Que seja oração por outros. Fugaz. Sensível ou não. Soberba ou humilde. Nós vamos do ruim ao bom muito rápido. Conceda ao Espírito. Ele é sensível. 
     No início, lá na Criação, dizem as Escrituras que Ele perambulava. Vinha de bisbilhotar o Altíssimo. Mas dEle, sem novidades: já conhece tudo. Agora, anseia por nós. Deseja ficar íntimo. Ainda que seja doloroso e, até mesmo, sempre vergonhoso, fique nu/nua, por dentro e por fora, e faça assim sua oração.

sábado, 2 de maio de 2020

Atenção, regente: chegou o sorriso.

      Acho que é minha idade. Eu já vi alguns clãs desaparecerem. Acho até que deveria ver outros. Mas a distração me condena. 
      Mas falo dos que atravessaram meu caminho. Vou aqui mencionar um, como introdução, e outro, como tema. 
      O clã de minha prima, em segundo grau, Alerte, o marido Manoel Rangel e o filho Vanderlei. Prima de minha mãe por parte de meu avô Baldomero.
      Parentada meio distante. Mas se tornou próxima porque, a partir de 1967, Rangel passou a tratar com Cid, meu pai, os trâmites para morarmos no Méier.
     Rangel construíra o conjugado, garagem no térreo, terraço acima, ele 201 e nós no 301, este era para o Vanderlei, mas ele desfez o noivado em cima da hora.
     Bem, ficamos em cima, no 301. Morreu Rangel.  Morreu Vanderlei. Morreu, por último, Alerte. Um clã parecido com o de Dorcas, Cid e eu: resta um.
    E ontem soube que se foi o caçula do clã dos Spiller: Cláudio. Visitei a mãe, Eunice, em casa dele, na estrada do Pau Ferro, na Freguesia, Rio, RJ. Eunice foi minha diaconisa predileta. 
     Eunice Spiller, alma da Congregacional de Copacabana. Eu patoreei três IECCs: Igreja Evangélica Congregacional de Curicica, Cascadura e Copacabana. 
       A gente traz marcadas as experiências que vive nas igrejas que pastoreia. Sigo o rastro do Limeira, amigo de meu pai, cuja esposa, Clovelina, era amiga de minha mãe, na Congregacional de Nilópolis, desde que tinham 3 anos de idade.
     Certo dia, Limeira foi ao Méier me convidar para ser pastor em Copacabana. Só saí de lá, porque foi ordem de Deus. Ali encontrei Eunice Spiller. Uma das maiores mulheres que conheci. 
       Tinha sua alma na igreja e a igreja em sua alma. Fuçava pessoas que visitássemos em Copacabana. Amigas suas, crentes antigas, como as duas irmãs já idosas, filhas de um antigo pastor presbiteriano dos anos 30.
     Os problemas e angústias da igreja estavam guardados dentro dela. Queria resolver todos de uma vez. Foi com ela e com outro ancião, diácono Pedro Campelo, 85 anos, mas de uma energia diuturna, que compramos a kitnet da igreja. Claro que houve mais ajuda. Destaque para esses dois. E ainda menciono o pastor José Remígio, regente com Campelo. 
       D. Eunice deu, literalmente, 1 ķg de ouro: saí no ônibus para o Centro do Rio com a Barra dentro do bolso da calça, embrulhada num saquinho de supermercado. Eu havia dito a ela: não posso aceitar. Sua idade não permite. Há os filhos.
        Mas sobressaiu seu gênio: eles resolvem os problemas deles, sem me consultar. Eu vou resolver este, sem consultá-los. Está bem. A igreja assumiu. Semana seguinte, ela me disse que Cláudio a procurara, porque tinha destino para o quilo do ouro: precisavam investir. Eu arregalei olhos. Ela sorriu. Disse a ele que doei à igreja. E ele, angustiei perguntando. Sorriu, disse ela, e falou: "Mãe, não podia ser destino melhor".
        De Copacabana eu trago comigo, além da lembrança ativa da atividade incansável de Eunice Spiller, cada grupo com quem nos envolvemos naquele breve, mas intenso período de ministério. 
      Somente iria para o Acre, seguindo no rastro que Limeira desenhou, porque foi ordem de Deus. Se não, eu não sairia nunca. Ali Eunice me colocou no centro de seu zelo pela igreja e pelo amor de sua família. Cláudio, caçula dela, inesquecível o seu sorriso misto. 
    Matreiro, irônico, enigmático, ha ha ha, moleque mesmo, tudo se misturava nele. Uma síntese daquela época áurea da Congregacional de São João de Meriti, RJ. Ali foi gestada Copacabana, na mudança da família Spiller para aquele bairro. Foi gestada Copacabana na visão de Limeira. Foi gestada Copacabana na alma de Eunice Spiller. 
     Seguiam rastro, pioneirismo e arrojo de Limeira, que alcançou Manaus, AM, Boa Vista, RR, e Rio Branco, AC, onde estou há 25 anos. Somente deixei sozinhos meus diáconos Eunice e Pedro Campelo porque foi ordem de Deus. 
    Copacabana e seus grupos: Emocionais Anônimos, numa tarde, na salinha da igreja; mulheres da colônia judaica, com algumas católicas, estudando o Primeiro (ou Antigo) Testamento; os "rapazes", um deles, introduziu-me no grupo da Pastoral Carcerária, dentro do antigo presídio da Frei Caneca, hoje implodido.
     Histórias densas de testemunho das Escrituras e do evangelho. Com as "meninas", estudamos Jó, Isaías, Jeremias, alguns dos Profetas Menores e Salmos esparsos. No Anexo da Frei Caneca, com ex-policias apenados, fazíamos os encontros, eu e Eneias, uma vez a cada semana.
    Com a mocidade da Congregacional de Cascadura, fazíamos uma vigília de dois turnos: oração das 20 às 21h30; beira-mar, no testa a testa, na noite infindável de Copa, até as 5h da manhã. Pelo menos, umas quatro vezes foi assim. Todas as pessoas da noite ouviam o evangelho. 
      Numa delas, lembro da roupa, tamanho da barriga e da garoa fina que caía quando, já amanhecendo, eu e Regina, grávida de Isaac, começamos a combinar o regresso para o ap do Campinho. Estava encerrada mais aquela vigília em Copa. 
       Ontem soube que o último do clã Spiller se foi. Claro que a legenda da família está preservada. Não conheço com detalhes os nomes de todos. Claro que d. Eunice apresentou-me os netos e netas, um a um, na medida em que eu visitava, com ela, Paulo, Marli e Cláudio.
     Mas de minha geração e convívio em Copa foram mesmo o clã completo de pai, mãe e três filhos: Geraldo, Eunice, Paulo, Marli e Cláudio. Sentado na cama do ap da Tonelero, lembrei ao Patriarca Spiller, para animá-lo em sua enfermidade, a semelhança com Jó.
     O senhor tem facilidade financeira, agradeça a Deus, tem filhos amorosos, que se preocupam e cuidam do Sr, e a esposa que administra os seus cuidados. Jó, além da perda da saúde, perdeu todos os filhos e todos os bens.
    Cantamos juntos um hino de sua preferência. Oramos juntos. Eunice Spiller participando ali conosco. Ela insistia que nos víssemos e que orássemos juntos, para animá-lo. Assisto, com tristeza, antes ainda de minha ida para o lar, na mesma viagem, à partida de mais esse clã.
     Mas tenho certeza que, agora, todos juntos sorriem. Atenção, maestro: para o ensaio, que chegou a nota afinada regida pelo sorriso do caçula. Gargalhada de Marli ressoando com a de Jesus. Livres e leves, sem precisar de Paulo como piloto.
       Meio que calada, d. Eunice Spiller, minha super diaconisa, neste momento, folga e também sorri: todo o clã está unido com Jesus.  Eunice, alma de minha época em Copa. Paulo dizia que, em sua preocupação e afazeres com a igreja, dava continuidade ao sofrimento de Cristo. Eu pensava que era pretensão dele dizer isso, até que encontrei essa mulher que fez o mesmo.
   Na minha memória fica o sol de Copacabana, nem pela praia em si, dentro da qual, por ironia, nunca entrei. Mas pelo circuito que me levava a pé, por suas ruas, eu e minha diaconisa Eunice Spiller.
     N.Sra. de Copacabana, República do Peru, atravessa-se Barata Ribeiro, alcança-se a Tonelero, ligeira dobra à esquerda, segundo edifício. Uma rápida refeição ou pequeno lanche porque, hoje à tarde, tem visita.