sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pastoral de quarentena

     Dizem as Escrituras que o Espírito Santo intercede por nós, com gemidos inexprimíveis. Eu até posso entender "gemidos" e também "inexprimíveis".
     Mas quando se juntam na expressão "gemidos inexprimíveis" e associado a Espírito Santo, como diz o outro, "viajo na maionese".
     E aí entra a seguinte explicação, esta sim, bem minha, eu entendo completa: "Porque não sabemos orar como convém". Finalmente, uma parte mais clara da coisa. 
    A quarentena joga o cara na oração. Até leitura de Bíblia. Deve ser pelo medo do vírus. De repente, fica-se mais, digamos, espiritual. 
    Se bem que o salmista diz que, à alma, sempre ocorre buscar o Senhor. Ainda bem que a gente tem alma. Pelo menos, uma parte bem íntima, dentro da gente, que conserva, abriga e, ainda que remotamente, nos lembre a fé. 
    Deve ser aí que o Espírito se abriga. Sim, porque numa parte íntima nossa ele deve residir, como inquilino ocasional, quando, como dizem de novo as Escrituras, quando não o entristecemos ou até apagamos. 
    Só mesmo uma Pessoa da Trindade, assim, sutil, para nos reconstruir por dentro. A coisa foi tão avassaladora, o estrago foi tão grande que, para o amor entrar de novo, na gente, os três têm de se empenhar: Pai, Filho e Espírito.
    Trabalho individual e conjunto, ao mesmo tempo. Depois ainda tem gente que não acredita na Trindade. Cúmulo do cinismo: se olha no espelho, como dizem de novo as Escrituras que o nosso espírito sabe de nós e, num dia de faxina, também chamada "confissão de pecado", dê uma "olhada interior" e veja bem, sem falsa modéstia como nos tornamos, mais ou menos recauchutados, por obra da Trindade. 
     Deus, distante como sempre, Jesus, o dublê perfeito que veio ao encontro de nós, e o Espírito, que entra dentro. Podemos dizer que deixaram o "serviço limpo" para ele. Tá entendendo, agora, por que ele geme?  Deixa de ser cínico. 
    Daí, deve ser a quarentena, de novo acordei com vontade de orar. Deve ser o medo, de novo. Não há virtude nesse meu gesto. Mas, quando lembrei desse texto acima, que interessa ao Espírito que oremos, que parte dEle essa iniciativa que Ele emplaca em nós, legitimando ou, pelo menos, na tentativa de, resolvi orar e incluir você.
    Faço um convite à oração. Ore por mim. Eu estou orando por você. Não demore na oração por mim. Demore na oração por você. Deixe-se conduzir pelo Espírito Santo. Pode ficar nu ou nua na presença dEle. Não apenas fisicamente, sempre mais fácil, mas também intimamente, sempre mais doloroso.
    Ele intercede por nós. Geme por nós. Torna autêntica nossa oração. Torna autêntica nossa existência. O nosso culto. A nossa adoração. A nossa fé. O nosso amor. Como disse Jesus àquela mulher, o Espírito Santo sacia a nossa sede.
     Pretensão minha orar por você. Não tenho assim tanta sensibilidade. Nem essa virtude. Mas tive essa vontade. Por isso escrevi. Onde chegar este texto, é para dizer que o Espírito Santo intercede por você com todo o foco. 
    O que te aflige, o que sensibiliza tua alma, ainda  que nem nossa alma tenha escapado à influência do que, em nós, não é assim tão digno, a partir desse recôndito tão íntimo, o Espírito quer interceder por nós, em nós, conosco, sondando, tornando a gente mais sensível ao que de Deus ele conhece tão intimamente. 
     Convido a orar. 
     Que sejam todos os problemas de uma vez. Que seja oração por outros. Fugaz. Sensível ou não. Soberba ou humilde. Nós vamos do ruim ao bom muito rápido. Conceda ao Espírito. Ele é sensível. 
     No início, lá na Criação, dizem as Escrituras que Ele perambulava. Vinha de bisbilhotar o Altíssimo. Mas dEle, sem novidades: já conhece tudo. Agora, anseia por nós. Deseja ficar íntimo. Ainda que seja doloroso e, até mesmo, sempre vergonhoso, fique nu/nua, por dentro e por fora, e faça assim sua oração.

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