terça-feira, 12 de maio de 2020

Lição 7 - At 6,7-15 - O sermão de Estêvão

Atos 6:7-15

Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.
Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos

Introdução
    A pergunta do sumo-sacerdote a Estêvão desencadeia todo um processo: 
"Então, lhe perguntou o sumo sacerdote: Porventura, é isto assim?", At 7,1.
    O caráter dele já estava definido, "Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo", At 6,8, e, por isso, foi preso, injuriado e agora comparecia perante a autoridade maior entre os judeus. 
  Estava armado um "circo" para caluniá-lo e incriminá-lo. Mas não alterou a marca principal de sua personalidade. E o seu sermão, registrado por Lucas, vai confirmar também diante dos nossos olhos. 

1. Clímax da perseguição 
      Destacamos que, pelo menos antes desta prisão de Estêvão, em duas outras oportunidades os apóstolos haviam sido conduzidos perante as autoridades judaicas. 
     A primeira, após a cura do paralítico, postado à porta Formosa do templo, quando Pedro e João subiam para orar. Pedro ainda pregava, quando os emissários do sumo-sacerdote, o capitão do templo e os saduceus para prendê-los, At 4,1-3.
     Na segunda prisão, a igreja seguia em sua rotina, quer dizer, plenamente envolvida no seu ministério quando, novamente, foram recolhidos ao cárcere e, desta vez, ainda que o afamado Gamaliel aconselhasse prudência às autoridades, os apóstolos foram punidos com açoites, At 5,17-18 e 40.
     Mas nem o conselho de Gamaliel foi ouvido. E as perseguições intensificaram-se até o clímax dessa prisão e julgamentos forjados. Somente assim poderiam enquadrar um homem como Estêvão: em tudo imitador de Cristo.
     A partir desse fato, e já por influência da liderança de Saulo de Tarso, a perseguição vai recrudescer. Dado o relatório da morte de Estêvão a Saulo, At 7,58, Lucas detalha que ele planejou se deslocar até Damasco , capital da Síria, ela sim Província Romana à qual a Palestina estava subordinada.
       Além de "assolar a igreja", como está descrito em At 8,1, e "respirar ameaças e morte contra os discípulos", At 9,1, Saulo separava famílias de seus filhos, At 8,3 e pretendia trazer arrastados até Jerusalém os que prendesse em Damasco, At 9,2.
     Nas próximas lições vamos ver como Deus resolveu esse problema. Aqui, vamos agora nos debruçar sobre a vocação, o trabalho e a pregação de Estêvão. 

2. Um homem para além de sua vocação 

       Um problema surgido na igreja, entre viúvas de judeus helenistas e aquelas de hebreus, conduziu Pedro a tomar uma atitude sábia, delegando autoridade e retirando de sobre seus ombros a responsabilidade.
      Resolveu indicar diáconos, "servidores", que foram homens selecionados, sob a própria recomendação de Pedro, At 6,3-4, careciam de uma formação espiritual, de talento e caráter a toda a prova, em meio aos irmãos. 
     Esse conflito era antigo, desde épocas em que se instituiu uma questão de identidade e valor entre judeus que permaneceram na dispersão e os que retornaram à Jerusalém.
    Portanto, qualquer tipo de diferenças ou desentendimento, levado em conta que era uma polarização e rixa antiga, desde os tempos ainda da família dos Macabeus, cerca de 168-90 a. C., era necessária uma diplomacia e sabedoria do Espírito que somente homens bem preparados poderiam administrar.
      Pois entre esses homens, destaca-se Estêvão, para além da tarefa que sobre ele recaiu, na mesma reserva de caráter, na plenitude do Espírito, mas avançando para o ministério que, até aquele momento, parecia ser exclusividade dos apóstolos, At 6,8-10.
      Estêvão destaca-se, movido pelo Espírito, no ministério da palavra, em meio às questões propostas pelos judeus e que, diante dele, não obtinham sucesso. Também sinais e prodígios, marca característica do ministério de Jesus, At 2,22, reserva de autoridade transmitida aos discípulos, At 5,12, e agora indicado como característica idêntica no ministério de Estêvão, At 6,8.
      Essa transição assinala uma característica do ministério da igreja que se confirma já na observação feita por Pedro, na introdução de seu sermão em Pentecostes, At 2,17-18.
    Define-se que, para a igreja, não existe monopólio de nenhum ministério, assim como não existe hierarquia de mistérios, mas distribuição de dons do Espírito. 
    Segundo a própria Escritura diz, como num corpo, as diferenças se articulam e todo a igreja efetua o seu próprio aumento, Ef 4,15-16. Apóstolos não são uma casta superior aos demais, porém a definição do serviço que prestam a toda a igreja.
    Daí que, se temos um diácono movido pelo Espírito Santo, para além da expectativa que todo o grupo promoveu para ele, mais à frente teremos Saulo, convertido, e Barnabé, At 14,14, ambos chamados apóstolos. 
     Não há monopólio ou hierarquia de ministérios  no contexto de ação da igreja é distribuição de dons do Espírito.

3. O sermão de Estêvão 

      Estêvão não fala a um auditório ou grupo de pessoas interessadas em ouvir sobre salvação. Mas a um grupo que contexta sua autenticidade como testemunha de Jesus, forja acusações falsas contra ele e desejo ouvi-lo apenas para justificar a iniquidade que já antecipadamente decidiram praticar.
      Portanto, Estêvão mais para um libelo profético se denúncia de pecado, do que um sermão de edificação espiritual ou oferta de arrependimento, embora esses tópicos não estejam ausentes de todo em sua prédica.
     Estêvão escolhe traçar uma linha contínua, pelo Antigo Testamento, de Abraão a Moisés e deste a Salomão, quando menciona a contrição do Templo de Jerusalém, a partir da planta do Tabernáculo do deserto.
     Com isso, ele demonstra conhecer as Escrituras mas, ao lado do orgulho e soberba das autoridades que tem diante de si, Estêvão vai ressaltar os aspetos negativos e de rejeição à vocação que Deus tinha para com Israel.
     Essa tese de Estêvão de que eram um povo que resistia ao Espírito Santo, de que a circuncisão, considerada por eles marca de sua identidade e vínculo a Abraão era falsa, que eram uma geração reafirmada de algozes de profetas e, para coroar, eram assassinos do Justo, profetizado por Moisés, foi a gota d'água de razões, além da que procuravam. Não suportaram toda a verdade.
    As etapas do sermão de Estêvão são:
1. Autenticidade da vocação, da fé e da aliança com Deus em Abraão: At 7,2-8;
2. Livramento de José, em família e no Egito, como marca da providência de Deus: At 7,9-15;
3. Levantamento do profeta que lidera a libertação do Efeito e profetisa sobre o Messias que virá: At 7,17-30;
    Aqui Estêvão se detém, propositalmente, num tempo maior, porque para os judeus Moisés era o maior dos profetas, o mediador da lei e provedor do sacerdócio da tribo de Levi. 
    Estêvão vai estabelecer, como faz ao longo de todo o sermão, a história da providência e cuidado de Deus, ao lado da rejeição e rebeldia do povo, como bem caracteriza neste trecho, com Moisés. 
4. Egito, Sinai e Deserto: três momentos decisivos sob a liderança de Moisés, At 7,35-43;
5. Liderança de Josué: o Tabernáculo, símbolo da presença de Deus no meio do povo: At 7,44-50.

Conclusão 
1. Estêvão, em sua homilética e hermenêutica desenha uma mancha na honra e na biografia da história dos judeus, confirmada no gestão de rejeição ao Messias;
2. Coloca todas sequelas autoridades no rumo e quilate de todos os que, na história de Israel, rejeitam o Senhor e se rebelam contra Ele;
3. Menciona patriarcas fatricidas contra José, contestadores da vocação e liderança de Moisés, massa de povo que, no coração, ficaram no Egito e, no deserto, revelaram a idolatria que jamais haviam abandonado;
4. Rejeitam a principal palavra de Moisés, a profecia sobre o Messias, At 7,37, têm no currículo a deportação para a Babilônia por escolher não Deus, mas a idolatria, At 7,43 e, ao longo de toda a sua história são conhecidos não por aceitar, mas por rejeitar o Espírito Santo, At 7,51;
5. Ao final, a marca com que Estêvão classifica os líderes religiosos em Israel, inclui:
5.1. Falso senso se aliança com Deus, sem compreender o papel da fé na aliança da circuncisão: cahma-os incircuncisos, At 7,51 com Jr 4,4;
5.2. Resistentes ao agir do Espírito Santo em suas vidas, esse mesmo que vinha sobre os profetas e demais servos do Senhor, como sobre todo o povo: At 7,51 com Na 9,20;
5.3. Dura cerviz, quer dizer, não se dobram diante de Deus, replicando a mesma rebeldia dos pais e perseguição aos profetas, que agora são todos os crentes e não somente os dentre os judeus: At 7,51 com 1 Co 14,1 e At 2,17-18;
5.4. Chama-os não semente traidores e assassinos dos profetas e da profecia, mas do Justo, coroa de todas as Escrituras, vocação e história de Israel: At 7,52;
5.5. Estêvão antecipa Paulo que, aos Romanos 10,4 diz que a finalidade da lei é Jesus, aos Gálatas diz que a lei é o aio que nos conduz a Cristo: At 7,53, com Rm 10, 4 e Gl 3,24.

       A pergunta do sumo-sacerdote foi mais do que plenamente respondida e a identidade deles mais do que confirmada no justiçamento iníquo que promoveram contra Estêvão.

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