terça-feira, 23 de junho de 2020

Lição 13 - Passa a Macedônia e ajuda-nos - At 16,6-18,28

Passa à Macedônia e ajuda-nos.
     Após Paulo passar pelos lugares que havia percorrido em sua 1a viagem missionária, At 16,1-5, mostrando as decisões do Concílio de Jerusalém e confirmando na fé aqueles irmãos, o apóstolo defronta uma tumultuada escolha, como opção para a continuidade daquela que ficou conhecida como 2a viagem missionária.
     A chamada "visão de Trôade", At 16,6-10 representou, para Paulo, Silas e Timóteo a definição do circuito que deveriam cobrir para cumprir sua viagem missionária. Abortaram, às duras penas, quatro opções de escolha. 
     A primeira lição a destacar era a sede por missões. Assinavam encontrar um rumo definido. Percorreram Frígia e Galácia, tentaram Ásia, Mídia a Bitínia. E muito curioso anotar que foram opções descartadas, porque o Espírito Santo impedia, para vejam só. 
    Até que, à noite, sonho ou visão, um varão macedônio, que para alguns poderia ser o próprio Lucas, que assim se introduz na narrativa, com o indicativo "nós", a partir de então, navegam os quatro em direção à essa região. Aqui a segunda lição: o Espírito Santo, que já vocacionou os missionários, indica as prioridades de escolha. 
      De Filipos, considerada a primeira, como destaque, e colônia romana, entrada do Distrito, até Corinto, Paulo cobre a espinha dorsal da antiga Grécia, ponteando as cidades que, posteriormente, vão render seu grupo principal de epístolas a serem escritas.
    
1. 2a viagem e suas lições iniciais 

1.1. O pronto de partida foi uma "tal desavença", At 15,39. Lucas não detalha. É econômico nos qualitativos em seus livros. Mas o advérbio de intensidade "tal" define que não foi de pouca monta esse desentendimento. Levando em conta a dimensão do iriam realizar, porque a proposta foi de Paulo a Barnabé, At 15,36: "Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam", um obstáculo como esse, que provocou o desmantelamento da dupla Paulo-Barnabé, independente dos argumentos de um ou de outro, não deveriam se opor à grandiosidade da tarefa. Mas Barnabé continuou sendo Barnabé: ficou do lado de quem foi rejeitado, em que (muito) pesasse sua comunhão com Paulo: princípios são princípios. E Paulo seguiu com Silas, que era considerado, pela igreja em Antioquia, profeta, At 15,32 que, juntamente com Judas, desde Jerusalém, acompanhavam Paulo e Barnabé, trazendo a Antioquia a decisão do 1o Concílio de Jerusalém, At 15,22-34.
1.2. Sede por missões: o Salmo 42 fala de sede de Deus. Há um específico nessa sede. Por exemplo, quando Jesus se refere à mulher samaritana, define o tipo de "água da vida" que somente ele, Jesus, tem. Missões é para saciar a sede de Deus. E somente Jesus tem essa água. E, pelo que ensinou aos apóstolos que, simuladamente, censuravam Jesus porque dava atenção a uma (1) mulher, (2) samaritana e (3) de reputação duvidosa, o Mestre afirmou: "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa", Jo 4,35. Portanto, missões (1) sacia a sede de Deus, (2) somente Jesus tem essa "água da vida" e (3) é ministério específico da igreja.
1.3. Como já disse Jesus, no texto acima, é necessário enxergar os campos da ceifa do Senhor. Basta altear a vista. E o mesmo Espírito que selecionava os que vão seguir para missões, At 13,1-3, aponta para as prioridades e as confirma, At 16,6-10. A igreja, em seu contexto, produz os vocacionados, envia, sustenta em todos os sentidos e acolhe os frutos, At 14,27-28.
1.4. Toda a igreja deve sempre estar preparada para missões. A igreja não "faz missões". A igreja "é missões". De si mesma, relacionado a sua identidade ela é missionária. Porque Deus é missionário. "Quem há de ir por nós?". "Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas". "Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos". "Se anuncio o evangelho, não tenho de que me glóriar, pois sobre mim para essa obrigação: aí de mim se não pregar o evangelho". "Rogai ao Senhor da seara, para que enviei trabalhadores a sua seara". Enfim, quanta lauda e quanto clamor há nas Escrituras pela necessidade e pelo prazer de proclamar o evangelho.
1.5. A igreja de Antioquia da Síria era modelo de missões: "Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram". At 13,1-3.
1.5.1. Havia um permanente ministério pronto para todo o tipo de serviço relacionado a todas as responsabilidade de uma igreja: "Havia profetas e mestres", citados nominalmente, gente preparada, em todos os sentidos, e disponível para missões;
1.5.2. "Servindo eles ao Senhor e jejuando". Para eles, tanto servir, como jejuar, no amplo sentido que essas duas ações significam, permitiu que entendessem E atendessem ao chamado, à vocação do Espírito Santo. Isso significa que oravam, estudavam, planejavam, liam as Escrituras, pregavam, ensinavam, terminavam, praticavam missões. O chamado do Espírito não significa mágica ou magia, mas preparo, habitação e consciência.
1.5.3. "Separai-me, jejuando, orando, impondo mãos, despediram": assumiram missões em todos os sentidos. Eram solteiros os que iam? Que sustento? Qual se futuro? Fariam tendas, como Paulo, ao mesmo tempo em que pregavam? Quais os imprevistos? E as emergências? Plano de saúde e odontológico? Previdência social? Aluguel e moradia dignos?

     Enviaram os melhores. Paulo e seu mentor no início da conversão, Barnabé, que era escolado desde o início das obras da igreja. Era voluntário com a sua própria vida. Uma dupla imbatível, com uma identidade e uma dívida de comunhão e fraternidade que eram exemplos na história recente da igreja. Essa era a força e a ponta de lança de início do ministério de Paulo. Lucas concentrou-se no que Paulo, Silas e Timóteo irão produzir. Mas, com certeza, a outra vertente, com Barnabé e João Marcos, muitos outros frutos produziu, At 15,39: "Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre".
      
2.    2a viagem missionária em flashes

       2.1. Filipos:
     Colônia romana, uma Rom em miniatura, naquele distrito, nem sinagoga era permitido construir. Paulo desceu à beira do rio Gangites, onde havia um grupo de mulheres que ali se reunia. Lídia, comerciante de tecidos, de Tiatira, ouviu o evangelho: "o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia", At 16,14. Paulo passou a se hospedar na casa dela, com Silas, Timóteo e Lucas, e pregava no lugar de oração, beira rio, diariamente. Uma moça, que se revelou oprimida por demônios, os acompanhava, enunciando elogios: "Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação", At 16,17, até que Paulo achasse que bastava, e repreendeu o espírito: "Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu", At 16,18. Como era articulada a manipuladores da fé alheia, que a usavam para adivinhações, acusaram injustamente Paulo e Silas de desmerecer os costumes romanos: "Estes homens, sendo judeus, perturbam a nossa cidade,
propagando costumes que não podemos receber, nem praticar, porque somos romanos", At16,20-21. Os apóstolos foram açoitados e presos. Mas, como José do Egito, ainda que feridos, testemunharam na prisão. E como com Pedro, um terremoto localizado, destrancou as celas. O carcereiro, achando que haveria fuga em massa, queria suicidar-se. A palavra de ordem de Paulo o impediu, levou os prisioneiros para a sua casa, fez-lhes curativos, converteram-se ele e sua família, sendo batizados. Os pretores, dia seguinte, tiveram que, pessoalmente, retratar-se com Paulo, cidadão tornando sem julgamento açoitado no coração de uma colônia romana. Os que o açoitaram, não fosse o espírito de perdão do apóstolo, do mesmo modo seriam punidos.

    2.2. Tessalônica 
   Havia sinagoga. Prioridade estratégica de Paulo. Três sábados seguidos argumentou sobre as Escrituras, anunciando o evangelho: a) arrazoou; b) expôs; c) demonstrou, sempre baseado nas Escrituras. Anunciava o kerigma: necessidade primordial da morte e ressureição de Jesus: "...ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio", At 17,3 . E o resultado: "Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres" At 17,4. E a oposição: "Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do povo", At 17,5. O argumento com que tumultuaram toda a cidade era dizer que Paulo e Silas proclamavam um outro rei, Jesus, no lugar de César, epônimo do Imperador Romano. Durante a noite, então, os irmãos os conduziram a Bereia.

      2.3. Bereia
     Mesma estratégia da sinagoga. Mas com um diferencial que, até com o comedimento de Lucas, não passou despercebido e não deixou de anotar: "Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.
Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens", At 17,11-12. Paulo usa em Tessalônica toda a força de seu argumento para convencer, enquanto que em Bereia, certamente, foi mais solicitado a responder a inquirição dos bereanos. E olhem que, ao escrever sua 1a carta aos Tessalonicenses, indica o surpreendente resultado que sua ação missionária teve naquela cidade: "...porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós. Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia. Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não termos necessidade de acrescentar coisa alguma; pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro
e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura. 1 Ts 1,5-10. A escolha da Macedônia, sob direção do Espírito, concede um laboratório de missões rico em frutos permanentes. A intriga dos judeus os alcança, a estratégia é que Lucas e Paulo avancem até Atenas e Silas e Timóteo prossigam, ali, confirmando os irmãos: "Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam que a palavra de Deus era anunciada por Paulo também em Bereia, foram lá excitar e perturbar o povo.
Então, os irmãos promoveram, sem detença, a partida de Paulo para os lados do mar. Porém Silas e Timóteo continuaram ali", At 17,13-14.
    
    2.4. Atenas 
    Há muito tempo atrás a época áurea da Grécia e de Atenas haviam passado. Considerada berço da cultura ocidental e da democracia, por sua importância da Grécia antiga. Nesse tempo, estava ocupada pelos romanos e ainda tinha muito de seu orgulho antigo. E agora, chegando a esse símbolo vivo da civilização, Paulo vai plantar, no espaço do areópago ateniense, o ponto principal da fé, que é a ressurreição de Jesus. Tendo ido à sinagoga, sua pregação despertou interesse  entre judeus, gentios e até entre filósofos epicureus e estóicos, At 17,15-21, que quiseram ouvi-lo no principal centro de mídia da cidade. Podemos nos deleitar com a exposição de Paulo, devedores ao cuidado com que Lucas registrou sua pregação naquele dia. Vamos aplicar o mesmo método padrão simplificado: 1. Introdução, At 17,22-23; 2. Argumentação ou corpo do sermão, At 17,24-29; 3. Conclusão, At 17,30-31. Alguns que comentam esse sermão, costumam afirmar que Paulo, impressionado pelo auditório, foi rebuscado em sua oratória. Mas assim não entendemos, ao contrário, lançou não do recurso de contextualização logo na introdução, expôs sua tese, na argumentação, que foi falar dos atributos de Deus, o "ilustre desconhecido" para os atenienses e gregos em geral, e focou o ponto central da fé, que é a ressureição. Emvira um grupo o tenha interrompido, o resultado configurou-se na conversão de um grupo de pessoas, entre as quais Dionísio e Damaris: "Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais", At 17,34.

     2.5. Corinto 
    Paulo chega a Corinto exaurido. Somente sabemos disso, não pôr Lucas, mas por uma anotação dele mesmo em 1 Co 2,1-5: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus". Tanto é assim que, numa visão, ele é estimulado a permanecer na cidade e fica por uma prazo de 1,5 ano: At 18,9-11. Ao chegar, é animado por encontrar Áquila e Priscila, com quem se hospeda e trabalha, At 18,1-3. A estratégia da sinagoga foi a mesma, a reação dos judeus violenta, chegando a espancar o principal da sinagoga em frente ao tribunal que, sob Gálio, o procônsul romano, ao invés de condenar Paulo, reprovou os judeus, At 18,12-17. O apóstolo ainda ficou um tempo na cidade, mas se deslocou até Éfeso, levando os novos companheiros, o casal amigo, com os demais companheiros. Constatou em Éfeso um lugar propício para a pregação do evangelho e saiu dela prometendo retornar na sua 3a viagem missionária, At 18,18-22.

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