domingo, 20 de agosto de 2023

A greja em (seus) Atos

¹ E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos. ² E uns homens piedosos foram enterrar Estêvão, e fizeram sobre ele grande pranto. ³ E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão. ⁴ Mas os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra. ⁵ E, descendo Filipe à cidade de Samaria lhes pregava a Cristo. ⁶ E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia; ⁷ Pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. ⁸ E havia grande alegria naquela cidade." Atos 8:1-8


    Antes de apreciar a leitura do livro de Atos dos Apóstolos, há três aspectos decisivos como introdução geral: 1. É um livro teocrático, ou seja, que indica a ação direta de Deus na vida da igreja; 2. É um livro fidedigno e que demonstra a fidelidade de Deus a suas promessas; 3. É um livro atual, sua história ainda está sendo escrita e, positiva ou negativamente, fazemos parte dela.

   Portanto, de imediato, há três implicações diretas paraa nossa vida: 1. Desejamos dirigir nossa vida ou desejamos que Deus a dirija? A nossa vida pertence a Deus ou a nós mesmos? 2. "Deus não cumpre as promessas que nunca fez, mas cumpre todas as que fez": Ele não está a nosso serviço, como seguro de vida grátis, mas nossa vida está a serviço dEle. 3. A partir da recomendação de Jesus, a igreja se instala e inicia seu ministério. Em Atos, ela chega à capital do mundo, espalha-se por toda a parte e, no seu clímax, abre sua história até à vinda de Jesus.

   Atos nos ensina que o agir de Deus rege a história. Precisamos enxergar isso e nos ver incluídos nele. Há quatro momentos iniciais nesse livro que indicam o que move a igreja, definindo sua identidade, assim como a continuidade de seu ministério e autoridade.

   O pirmeiro desses quatro momentos é aquele do impulso da espiritualidade, ou seja, a promessa do derramamento do Espírito Santo se cumpre em Pentecostes. Jesus havia advertido aos apóstolos que, sem a autoridade, plenitude e condução do Espírito, não arredassem os pés de Jerusalém.

   A primeira atitude da igreja, movida e plena do Espírito Santo, é ir para as ruas. Atos registra, por boca de Pedro, na pena de Lucas, a primeira pregação após a ressurreição de Jesus. Isso define o principal ministério para a igreja. E, de 120 pessoas, encurraladas num cenáculo, tem-se agora cerca de 3000, de 14 diferentes recantos do mundo da época, que encontraram Jesus na festa de Pentecostes em Jerusalém.

  Este é o impulso da espiritualidade, resultado da promessa de Deus, marcado pela descida do Espírito Santo, impulsionando a igreja para cumprir seu ministério e exercer sua autoridade. Porque os novos convertidos, de volta às suas localidades, pregam, implantam igrejas, são movidos por esse agir de Deus. O próximo impulso, talvez, não tenha tanta visibilidade mística ou propaganda midiática como o primeiro.

   Trata-se de outro momento, na vida da igreja, que é aquele do impulso pelo sofrimento. Ele já se configura na presença da igreja nas ruas, no segundo sermão de Pedro, agora na esplanada do Templo de Jerusalém. Os apóstolos são duramente ameaçados, reprimidos, açoitados e presos.

    Destaca-se um líder nessa perseguição. A palavra usada é que Paulo assola a igreja. Essa perseguição não deixa de impulsionar a igreja. Deus dela se vale para cumprir Seus desígnios. E os que são dispersos, pela tribulação notável que sobrevem a Estêvão, seguem anunciando a palavra por onde vão.

   Mais um momento na vida da igreja se configura no terceiro impulso. E esse é missionário. Jamais se poderia imaginar que, pelo Seu poder e soberana vontade, Deus converteria Saulo, benjamita e líder fariseu, perseguidor por excelência da igreja, vocacionando-o como missionário. O melhor da liderança de Antioquia é destacado para missões.

   "Não sabemos como o Espírito falou e como a igreja ouviu, mas sabemos como a igreja estava: em jejum e oração". Inicia-se o movimento que atinge e aviva todo o mundo da época. A estratégia é procurar as sinagogas, cumprindo o ide de Jesus, lugar onde as Escrituras são estudadas. Mas uma vez rejeitada essa visitação de Deus, os apóstolos se voltam aos gentios.

   E o quarto momento se define como o impulso da multiplicação de igrejas. À medida que Paulo e seus companheiros implantam igrejas, instruem a que sejam missionárias. E Deus define a estratégia. De novo, não sabemos como Ele, por meio do Espírito, diz não à Bitínia e, pelo menos naquele momento, não à Ásia, mas sabemos, com clareza, que os apóstolos entendem que o momento é da Macedônia.

   E o livro prossegue demonstando como foi essencial entender isso. A igreja não definia por si mesma, mas seu impulso missionário era espontâneo bastando, apenas, Deus indicar o lugar exato. Por exemplo, Paulo expressar em sua carta aos Filipenses, que essa igreja se associava a ele em seu trabalho missionário.

   Ajudaram a implantar igreja em Tessalônica. Em sua carta a essa igreja, o apóstolo descreve, em relação àqueles irmãos, da "abnegação do amor, da operosidade da fé e da firmeza da esperança" em Jesus. Em relação aos de Bereia, destaca seu interesse pelas Escrituras. E ainda quanto à igreja de Filipos, quantos empecilhos não impediram que, naquela cidade, surgisse uma igreja.

   E assim o foi em Corinto, na Ásia, em Éfeso, mesmo em Jerusalém, onde provações e ciladas até mesmo os patrícios lhe preparavam, e foi assim, de provação em provação, que chegará a Roma. O profeta Ágabo certifica de que será encarcerado. Mas o que os irmãos interpretaram como obstáculo, Paulo esclarece que será alavanca para chegar a Roma e que, nunca, nenhuma circunstância será suficiente ou intimidadora para que ele proclame o evangelho.

   Irmãos, a crise ou qualquer crise, seja interna, da igreja, seja fora dela, pressionando-a, deve ser por nós entendida como alavanca para a igreja. Todos esses momentos vividos em Atos serviram de impulso. Eles se configuram em repetição. E se constituem em desafios, não em obstáculos.

    Cabe a nós interpretarmos a época. Construir nossa estratégia. Motivarmo-nos a nós mesmos. Somos nós que realizamos a leitura das Escrituras, para nelas identificar os rumos que Deus deseja nos mostrar. E também nós que valorizamos a Bíblia, entendendo-a como nosso manual de ação.

   A pregação do evangelho é nossa principal tarefa. O anúncio do reino de Deus, dentro dos parâmetros estabelecidos por Jesus, que são urgência, tempo definido e contado, proximidade e plano de acesso, qual seja, arrependimento e fé no evangelho, constituem-se no essencial cumprimento do ministério da igreja. Tudo o mais subscreve-se a isso. 

    Precisamos interpretar nosso tempo e nossa época. Essa leitura deve ser constante e lúcida. Afinal, como igreja, somos instituição ou povo dirigido e guiado por Deus? Preferível nos vermos como o povo no deserto, namorando de Deus, em paixão e no primeiro amor, como diz Oseias, em sua profecia, carregando a tenda, como uma igreja de sobrevivência na jornada temporária nesse mundo. 

   Com o mínimo de dependência, como diz Paulo aos Coríntios, vivendo no mundo é do mundo, mas não preso ou dependente interinamente dele. Não se deixando invadir pela mentalidade que, de assalto, tenta tomar tudo para si, definindo como seu todos os valores, absorvendo para si todas as coisas. 

   A igreja é vanguarda da ação de Deus. Assim precisa se entender, assim precisa agir, em nome de Jesus, cumprindo sua missão.

    

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