quinta-feira, 9 de junho de 2022

Coração sábio

 Contar os dias. Bem, o que, exatamente, o salmista quis dizer com isso? Matemático? Basta uma conta rápida e nem tão complexa.

   Existencial? Seria, ao invés, exaustivo. Será que ele pensou em filosofia? Quem sabe. Talvez uma projeção para fora de si mesmo, bisbilhotando certos pontos essenciais.

   Expor à apreciação externa? Bem, varia de acordo com o freguês da hora. Se for amigo, sendo sincero, assim mesmo vai amenizar, aqui e ali. Algumas omissões, alguns pontos de destaque.

    Se for inimigo, ou até mesmo amigo fingido, também não deixará de ser sincero, para consumo, porém sugerindo deslizes, coloridos com cores a gosto da desfeita.

    Espiritualmente falando? Amplo e vago. Ainda bem que o salmista diz a Deus "Ensina-me" a contar os dias. Assim fica fácil. Só resta saber como Deus ensina e como se aprende.

   Ao longo da vida, esse ensino talvez esteja relacionado ao modo como se foi aprendendo. Em casa, na escola e na rua. Pelo menos nesses três lugares. Pensa numa coisa aprendida em casa, outras na escola e outras, ainda, na rua.

   Talvez Deus seja um tempero nessas coisas. Aí, varia de família a família. Eu penso na minha. E como, lá em casa, meu pai contava histórias da Bíblia, penso na família de Jacó.

    Esse foi o cara que se passou a chamar Israel, "aquele que luta com (ou contra) Deus". Mais genérico, não caberia: quem não luta contra Deus? Para não se dizer que se luta contra si mesmo.

   Jacó era trapaceiro. Aliás, o nome dele significa algo como "pegar no pé", foi o que ele fez com o irmão gêmeo, ora, ora, já no ato do nascimento. Junto com a mãe, posteriormente, os dois enganaram Esaú e Isaque, este o pai.

   Mais tarde lhe passaram a perna, o tio Labão, o espertalhão, e ele ficou cativo 14 anos para casar com Raquel, a preferida. Levou antes Lia, com a desculpa, dada pelo sogro que, naquela cultura, a mais nova não casava antes da irmã mais velha.

   Na disputa pela vantagem na quantidade de filhos, Raquel, a preferida, mas estéril, já perdendo para e irmã de 4 X 0, deu a serva Bila para servir Jacó e providenciar prole.

   Lia correu para apresentar Zilpa, serva dela, mais uma na concorrência, Jacó, burguês e servido nesse jogo, pôs 13 filhos, um deles Diná, uma mulher, no mundo.

   E de tanto paparicar José, primeiro de Raquel que, finalmente, engravidou, despertou ciúmes nos demais rapazes. Quase um Caim 2, assassinato somente evitado pela intervenção de Rubem, o primogênito.

    Confusões de família, resolvidas muito depois, no Egito, quando José, já primeiro ministro e não reconhecido pelos irmãos, que o haviam vendido como escravo, costura um acordo entre todos que, sensibilizados e amedrontados, finalmente, reconheceram o irmão.

   José é exemplo de como, ainda que numa família complicadíssima, com filhos postos no mundo e criados ao léu, houve um canal aberto ao ensino de Deus.

    Muito provável que tenham sido resquícios da vivência de Jacó. Aqui e ali esbarrava com Deus. Mas o menino e o jovem José deu saltos. A leitura que fez do caos em família, a afronta que enfrentou dos irmãos e as agruras que experimentou no seu começo de vida no Egito adestraram-no para uma vida de fé.

    O Faraó o classificou como um homem em quem o Espírito de Deus habitava. Nem mesmo Faraó entendia bem o que isso significava. Mas José demonstrava consciente em que grau havia aprendido de Deus.

    Contou seus dias com coração sábio. Oh, Deus, concede-nos essa benção. Para quem mal começa a vida, que tenha renomada carreira. 

  Mas sem desprezar, no meio do caminho, a sabedoria dada por Deus, como fez Salomão. Motive suas crianças a fazer essa oração. Explique para elas o que isso significa e seja exemplo dessa prática. 

   Quem já está mais para depois da metade, terço final ou quarta parte da existência, ainda há tempo para pedir a Deus o ensino e dele partilhar. A oração do salmista se aplica a todas as idades.

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