quarta-feira, 22 de junho de 2022

Não tem sentido prático

     Sentido prático. Não tem sentido prático. Expressão usada por meu saudoso pai como síntese finalizadora de qualquer outro argumento. "Isso não tem sentido prático", ele dizia.

    Bom dia e tchau. Era para encerrar. Porque se não tinha sentido prático, era para, definitivamente, desistir, excluir da vida.

    Deparei hoje na net certas acertivas, alhures, que me remeteram a essa síntese filosófico-depreciativa de meu pai. Não tem sentido prático.

   Ora, o que não têm sentido prático, definitivamente, não tem sentido prático. Imediatamente, vício de ofício, lembrei de tantos que não mais veem na igreja nenhum sentido prático.

   Não quero, para isso, menção honrosa, porque nem mesmo eu sei se, pura pretensão minha, reconheço e encaro, à altura, o sentido prático da igreja. Ou seu valor, sua relevância, sua importância.

    Vai ver que não. Talvez eu seja um dependente espiritual dela. Certo, porque para isso não se diz dependente químico. Talvez dependente funcional.

   De tanto ser acostumado, pelos pais, principalmente a mãe, com essa rotina de igreja, viciei. Mas teria isso tudo algum sentido prático?

     Hoje há uma porção de gente, quero dizer, muita gente, gente para caramba vivendo como se a igreja não tivesse nenhum sentido prático.

   Vou tentar indicar alguns meios pelos quais, possa ser, igreja volte a adquirir algum sentido prático. Primeiro, está difícil competir com a internet.

   Segundo, ouvir blá-blá-blá de púlpito, ora, ora, ora, que mente vai se concentrar nisso? A própria internet tem pregadores muito mais divertidos, interessantes e interativos.

    Bem, a música parece ser a única cousa que ainda dá para engolir. Porque o mundo mudou muito rápido e o que se cuida, de suas paredes para dentro, está anacrônico com o mundo lá fora.

      As carências são outras. Por um outro Deus (ou deus, sei lá, quem sabe deuses, ou nenhum). Mas ou o Deus da Bíblia desatualizou-se, ou o modo de apresentar caducou.

    Resgatar uma conversa à beira mar, sobre pescaria e Reino de Deus. Quem sabe um sermão numa pradaria, quem sabe. Assistência a gente cheia de necessidades: fome, em todos os sentidos, carências afetivas, autorrejeição, descaso civil.

    Como se fosse gente "como ovelhas que não têm pastor". De vez em quando, uma festa de casamento, com muito vinho. Um bate-boca nas varandas do Templo. Andar, a esmo, pelas vilas, atendendo a carências diversas.

    Gargalhadas com o grupo de mulheres da roupa lavada, uma merenda para as viagens e caminhadas, algum dinheiro em espécie para despesas extras.

    Eventualmente, uma crucificação. A igreja e os discípulos precisam reaprender com o Mestre, em busca do sentido prático da coisa.

   
  

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