sexta-feira, 1 de julho de 2022

Malta maldita

 Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus? Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita" João 7:48,49.


    Replicando a plebe maldita. Ainda que muito disfarçadamente. Visto que não se pode queimar o filme, como se costuma dizer, pagando-se o mico de concordar, abertamente, com essa análise farisaica.

    Plebe maldita são os ignaros, em nome de quem muitos se levantam, porque se não fosse essa massa desvalida, qual seria o sentido da ideologia? Em nome dos pobres muito se diz e pouco se faz.

   Essa plebe é pretexto. Que o digam as autoridades que falam em seu nome. Mas a sinceridade farisaica é notável. Eles expressam o que todos mais escondem. Estes, que escondem, não usariam o termo "maldita", evidentemente. Não queimariam o filme, como já dito.

    Mas parece que Jesus, esse sim, daria a importância precisa a essa malta. Para começo de conversa, na cena acima descrita, era a eles que se dirigia. E os soldados do templo, que retornaram extasiados com o que ouviram, pertenciam a esse nível de gente.

   Porque Jesus não era lá tão acadêmico quanto desejado. Ou se, por acaso, do que falava, por ter relação com Deus, se era teológico, estava mais ao nível da moçada do que dos mestres fariseus. Mais ao nível da malta, do que das autoridades. E haja autoridades, para classificar as falas de Jesus.

    Jesus era meio ruim de ortodoxia, segundo a opinião corrente, e nisso a turma dos saduceus, fariseus, escribas dos dois times e ainda os doutores da lei (de Moisés) concordavam. E, para isso, Jesus não estava nem aí.

    Mas também não se furtava a um bom debate, porém sempre se atendo ao essencial e não ao especulativo. Sempre ao que era urgente para essa amálgama de gente reconhecer.

     Claro que Jesus não escolhia público. Sempre o que falava, aplicava-se a todos. A vaidade de cada um é que se constituía em obstáculo. E haja vaidade entre esses que mandaram os guardas. Haja vaidade entre as autoridades.

    Mas havia, também, o fenômeno dos que se despiam de vaidade. Como, por exemplo, Natanael. Ele havia argumentado, com respeito a Jesus, "pode alguma coisa boa vir da Galileia?", o que representava duplo preconceito: contra a gente e contra o próprio lugar.

    Mas ouviu Jesus. E passou a ter a mesma opinião dos guardas: "Jamais alguém falou como este homem". João 7:46. Mas só prevalece um problema, diante dessa afirmação, e a de Natanael: "Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!". João 1:49.

    Temos um problema: como classificar as opiniões? A dos fariseus, a gente, de cara, pode descartar. Nem tanto por sermos preconceituosos, contra eles, coisa feia, mesmo contra eles. Mas talvez porque eram contra Jesus, de cara, e esse tal Jesus é nosso chegado.

    Mas as opiniões que restam, a dos guardas e a de Natanael, como avaliar que aquilatassem, em relação a Jesus, uma avaliação precisa? Certo, são o público preferido de Jesus, isso até os fariseus enxergaram.

    Mas daí conferir a eles esse grau de perspicácia, de avaliar como soberbo, no bom sentido, sublime, como diria Paulo Apóstolo, o conteúdo da fala de Jesus, ora, quem era essa malta maldita para precipuamente opinar?

    Pois é. Possa ser que alguém atribua a Jesus uma capacidade rasteira de escolher seu público. E até que o conteúdo expresso, ainda que saído de uma boca e uma mente requintadas, terá pouco ou nenhum retorno, pela qualidade e capacidade de quem ouve: definitivamente, não são autoridade.

    Concluiríamos que, em parte, os fariseus tinham razão: vale o quê a avaliação dessa gente? Vale o quê esses guardas dizerem que o que Jesus diz é sublime? Que guardas? Que nível esse deles? Em que escola estudaram e quem foram seus pais? Nível rasteiro, médio ou superior?

   Afinal, qual o essencial de Jesus? Para quem ele dirige esse seu essencial? Quem e quantos aquilatam ser sublime? Olhando assim, de fora, o que temos a dizer sobre isso? Bem, que, tendo ouvido Jesus, seja a nossa opinião essa a dos guardas ou a de Natanael. 

    Mas sem escrúpulos de sermos identificados como malta maldita.

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