domingo, 24 de julho de 2022

Propaganda enganosa

 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11:28-30.

    A primeira pergunta por esse texto é se a propaganda é enganosa. Ano eleitoral, a demagogia costumeira vai reinar. É prescrita ao povo por uma classe política desqualificada há anos, para lhes facilitar a reciclagem.

   Desde a chamada Constituição Redentora, de 1988, consolidaram a principal herança do período anterior, 1964-1985, a ditadura, que lhes deixou como acalentada, por eles, herança de corrupção.

     Eles exorbitam nos impostos sobre o trabalho escravo da nação, para gastar com eles mesmos, no ciclo maldito, para nós, bendito, para eles, de engordar com as licitações fraudulentas e alimentar as empreiteiras que, por sua vez, além de lucrar com as obras superfaturadas, vão lhes pagar o que excede da ladroagem e ainda reinvestir na próxima eleição.

    Mas deixa a política suja para lá. A pergunta é se a oferta, posta na conta de Jesus, pelo Evangelista Mateus, que o diga, é propaganda enganosa. Afinal, o que fala garante cumprir o que promete?

   Ora, se a primeira pergunta foi pela autenticidade da palavra, se Mateus existe, se foi honesto colocar na boca de Jesus o que está escrito, afinal, caso Jesus tenha dito, a segunda pergunta é pela amplitude.

   Mais ou menos assim: o que o filho do carpinteiro tem a nós oferecer? Com que hermenêutica, sim, porque se há, hoje em dia, uma ciência da hora, é a hermenêutica. Com que, então, hermenêutica vamos nos aproximar do texto?

    A convocação é geral. Esse "vinde" é para todos. Aqui já estamos assumindo que sim. O "cansado e sobrecarregado", que qualifica a quem Jesus se dirige (sim, também assumimos que foi ele que disse), é porque ele (1) considera que todos estão nessa condição, (2) somente quem está, ou seja, assim se considera, atenda; (3) ele se dirige a uma classe específica, que ele qualifica dessa forma. Qual das três? Há outra(s) opção(ões)?

    A promessa dele é de alívio para esse cansaço e essa sobrecarga, trocadas pelo que ele tem para ensinar. Porque haverá uma troca pelo que ele tem a oferecer, que também será um jugo, uma carga, uma canga, mas ele garante que será suave e leve.

    E o resultado será descanso, classificado de uma forma profunda, porque será na alma. De dentro para fora. Um alívio e um descanso que vem da troca da sobrecarga e cansaço, por um fardo suave e leve.

   Bem, a próxima opção é focar no contexto do texto, para saber o auditório de Jesus, na época, fazendo a transposição para hoje. Outra seria analisar o balé das críticas, da forma, da tradição, da redação, enfim, para saber qual linha teológica e em qual sitz im leben, enfim, forjou-se o texto, caso não haja, para ele, plausibilidade de um contexto histórico de uma autêntica fala de Jesus.

    Ou rumamos, o que será minha opção, para um surf teológico, no qual irei supor que sobrecargas e que tipo de cansaço o homem/a mulher atual carrega(m) consigo que possa, supostamente, ser aliviada ou aliviado por Jesus.

   O prazer. Vivemos num século hedonista. Muito do não permitido, acusam aqueles com mais ou com menos lucidez apurada, vem da tradição judaico-cristã, é claro, antes do advento desta hermenêutica libertadora.

   Portanto, libertos dessas imposições, resta gozar, literalmente e em todos os sentidos, essa nova liberdade. O que Jesus tem a dizer sobre isso? O que seria sobrecarga, cansaço e alívio de jugo nesse particular pós-moderno referente ao império do prazer?

   A moral. Talvez seja essa outra imposição. Um cativeiro que vem de amarras possíveis e passíveis de se acompanhar o rastro. De onde vêm? Mais uma vez pode-se culpar o cristianismo por isso. O certo e o errado estariam, definitivamente, ligados ao sagrado e profano.

    Uma vez rompido esse cativeiro, haveria uma liberdade, outra, não mais subdordinada a preceitos morais de conduta, cuja finalidade, parece, seria imiscuir-se em todas as áreas da vida, casa, escola, trabalho, rua, enfim. Contanto que não se viole a vontade do outro, num contrato, ou contato, de ocasião, tudo pode.

     Em terceiro e último lugar, vamos ao exclusivo que atribuímos a Jesus, como possível referencial para o que disse acima, sempre supondo que tenha dito. Logo antes, no texto, está escrito:

    "Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Mt 11:25-27

    Por essa fala que antecede o apelo inicial, deduzimos, ora, quem assim me acompanhar, que Jesus se refere a si como aquele de quem devemos nos aproximar para conhecer o Pai. Dele nos devemos aproximar, caso queiramos, por ele, ter Deus revelado a nós.

   E isso vai aliviar a nossa sobrecarga e vai nos dar descanso. Vamos aprender dele tudo sobre Deus, assim ele promete. Isso vai nos representar um jugo, uma carga, uma troca, uma canga, sim, certamente.

   O conceito de prazer vai mudar, o conceito de certo e errado, de moral ou imoral também. Vamos ter outra ética diversa de qualquer outra oferecida fora, no contexto social. Antigo, moderno ou pós-moderno não fará muita diferença.

    Porque vamos aprender tudo novo e provindo de alguém manso e humilde de coração, para dar descanso à nossa alma. De dentro para fora. Será que podemos confiar nessa promessa? Ou se trata de propaganda enganosa, em pleno ano eleitoral?

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