sábado, 6 de agosto de 2022

O evangelho segundo Jesus

 "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deusestá próximo; arrependei-vos e crede no evangelho", Marcos 1:14,15.

    Confesso ter um certo apego a esse texto. Talvez, entre outras razões, por encará-lo  como legenda-padrão de inserção do evangelho, assim previamente definido, na história.

   Por que afirmo isso? Porque o momento, marcado pela prisão de João Batista, que, antecipadamente, Jesus reconhecia ser irreversível, até o própria estúpida morte do proefeta, como que indicava uma virada de página entre Antigo e Novo Testamento.

    João define essa transição, quando diz: "Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo", João 1:17. Pois em Marcos é Jesus, por essas palavras, quem assinala essa transição, com o início do ministério que dará ensejo, instrução e conteúdo ao próprio ministério da igreja.

    O que Jesus diz dá início ao tempo da igreja, indica o conteúdo de sua mensagem, inscreve o ministério dela na escatologia dos tempos e confirma profeticamente o reino de Deus.

    A primeira afirmação sobre o tempo, não se trata do cronológico, embora nele Jesus estivesse, como nós, inscrito. Não é Marcos, mas João que vai afirmar que o Verbo de fez carne para entrar na história.

    Jesus redime a história da humanidade, por redimir e no redimir a própria humanidade. Mas não o faz em bloco, no combo, mas individualmente. Adiante-se a sua afirmação aos fariseus: "O reino de Deus está dentro em vós", não deles, propriamente, mas de quem pelo reino é acolhido e o reino acolhe.

   O tempo aqui é divino. Restrito à ação de Deus, regido por Deus, "contado", se assim se deseja supor, pela providência de Deus. Quando em sua carta Pedro exorta os que ridicularizam a parousia, dizendo estar tudo na mesma, ele recorre a uma símile matemática: "Para Deus, um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia".

    O tempo se refere à principal ação de Deus, início do ministério da redenção em Cristo Jesus. O principal sinal da escatologia em curso, ou seja, da ação culminante de Deus na história, é a primeira vinda de Cristo. E ele próprio anuncia isso.

   E esse tempo inclui a fase atual do ministério da igreja, até sua segunda vinda. Essa afirmação de Jesus norteia o ministério da igreja, classificado-o como urgente, distintivo e essencial. A menção do reino de Dsus integra o rol de indicativos do sinal profético que a mensagem de Jesus representa.

    O reino de Deus é providência de Deus desde o período de Samuel, tempo da chamada anfictionia tribal, assim indicado pelo fato de, um juízes, as doze tribos experimentarem uma relação direta com Deus e uma identidade de vida comunitária entre elas. Não havia um líder que as unificasse. Eventualmente, era indicado um juiz, que a todas representasse.

    Samuel, muito de juiz, profeta e sacerdote, foi o que mais de perto se aproximou, em sua liderança, desse ideal de Deus. Daí o que está escrito em 1 Samuel 8,7:  "Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele".

    A elevação de um rei à posição de líder unificador entre o povo, usurpava o lugar de Samuel, que era móvel, como juiz, percorrendo as tribos, em sua época, representando a unidade de propósitos entre elas.

   A intenção de Deus nunca foi de ser um rei político, num regime teocrático, erros históricos das igrejas futuras, entre elas a católica e as demais protestantes, herdeiras da ruptura com Roma, após a reforma. A intenção de Deus sempre foi reinar, individualmente, no coração. Assim Jesus define o reino de Deus. "Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós", Lucas 17:20,21.

   A conversa de Jesus com Nicodemos, a um só tempo, indica que o acesso ao Reino se dá pelo novo nascimento. E João explica que é geração de Deus. Nascemos no Reino pelo Espírito. João Batista já afirmava que, entre os mesmos fariseus que interpelam Jesus, estava aquele que natizava no Espírito.

     O que aguardamos é e redenção dos que faltam completar o chamado de Dsus. E a entrada no reino, pela ação de Deus, em Cristo, por meio do Espírito, nos coloca no tempo de Deus. Saímos da cronologia, não no sentido físico, mas sim no existencial.

   Nossa vida, como diz Paulo aos Colossenses, está oculta com Cristo em Deus. Embora ainda sujeitos às limitações, assim como Cristo experimentou, de nossa vida física e terrena, em nós operam as virtudes da vida que é eterna, em valores, em obras e no amor de Deus, vida essa com início nesse novo nascimento.

   Jesus assinala que o anúncio do tempo de Deus, em sua irrupção na história, e da entrada no reino, ao alcance da fé, se dá a partir da consciência que se tem por meio do arrependimento, pelo qual se obtém acesso ao evangelho.

   É esse evangelho que Jesus anuncia. Essa a mensagem, a boa nova que Ele traz. Essa é mensagem renovadora da igreja. Para ela é sempre novidade, sempre oportuno, permanentemente profético dizer, como Jesus: "O tempo está cumprido, e o reino de Deusestá próximo; arrependei-vose crede no evangelho", Marcos 1:14,15.

    A igreja precisa resgatar consigo a relevância dessa mensagem. Ela é diferente de tudo o que ocupa esse mundo, qualquer informação, ilustração ou grandeza. Ao mesmo tempo que é mensagem sempre atual, que em qualquer e em todas as circunstâncias adverte a humanidade e almeja conquistá-la para a sua urgência e relevância.

    A igreja, somente ela, tem a capacidade de avaliar a oportunidade do evangelho, sua importância, seu efeito, poder e autoridade. Fala em nome de Jesus. Ecoa e reverbera essa mesma mensagem pregada pelo Mestre. Ela vive sob a égide dessa legenda.

     A missão e vocação da igreja, tudo o que Deus planejou, cumpriu em Cristo e, pelo Espírito, implanta, tem lugar nesse tempo, como sinal é proximidade do reino, cuja porta nela, de entrada, é o arrependimento para a fé no evangelho.

    

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