sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Lendo Levítico - Mycobacterium leprae em Levítico - 6

Esta é a lei de toda sorte de praga de lepra, e de tinha, e da lepra das vestes, e das casas, e da inchação, e da pústula, e das manchas lustrosas, para ensinar quando qualquer coisa é limpa ou imunda. Esta é a lei da lepra. Lv 14:54-57.

    O Levítico também estabelece regras com relação a portadores de hanseníase. O designativo "lepra" foi excluído de menção, porque passou a ser associado a preconceito.

   Mais uma vez estamos diante de um contexto de época, refletido no texto bíblico. Mostra-se avançado, para a época, ao mesmo tempo que, visto de nossa época, reflete condicionamentos culturais.

  O avanço, para aquela época, estava na normatização pormenorizada. O sacerdote seria o agente de saúde indicado e preparado para avaliar os sintomas indicadores.

   Quarentena, tratamento, avaliação e indicativo de cura estão normatizados. O problema, devido à aparência repugnante da doença, era sempre associá-la a uma maldição e, em função disso, discriminar seu portador.

   Ainda hoje há doenças, inclusive essa, que despertam nos outros reações indevidas de discriminação. A experiência de Jó ensina, como intitula-se um livro, que "coisas ruins também acontecem com pessoas boas".

     Todo o mal físico, tragédia pessoal, perdas emocionais e materiais de Jó, em circunstância nenhuma, esteve associado ao suposto pecado dele. Philip Yancey, em seu livro Dádiva da dor, em parceria com Paul Brand, torna mais clara a comprensão do dilema de um portador de hanseníase.

   O pai de Brand foi missionário na Índia, numa época avassaladora de propagação dessa doença nesse país, época também do início de descobertas decisivas para o progresso de seu tratamento no mundo todo.

    Aqui no Acre há uma colônia de hansenianos chamada Souza Araújo. Certa vez a visitei, em 2004, e conheci uma interna que havia lá chegado em 1957, no ano em que nasci, e não via nenhum de seus familiares em todo esse tempo.

    Até hoje, há filhos aqui nascidos, que foram separados de seus pais de forma abrupta, traumatizante, porque se desconheciam modelos de tratamento que permitissem a integração social dos portadores sem perigos de contaminação.

    As recomendações de Levítico permitem um padrão cuidadoso de acompanhamento dos portadores e ainda, uma vez restaurados, que se realizasse um ritual meticuloso e simbólico da cura obtida. O detalhe da ave solta indicava a todos o alcance dessa benção.

    Jesus, em seu ministério, não demonstra preconceito contra os portadores desse mal. Vai contra qualquer resquício de visão distorcida, que confunda doença física com maldição supersticiosa.

     Alguém vai mencionar o rei Uzias, amigão do profeta Isaías. Ele ficou instantaneamente hanseniano, porque invadiu o Santo Lugar, no templo, o que não era competência dele. Sim, mas isso não significa dizer que quem é portador dessa bactéria está sob maldição.

    Em Marcos, Jesus chega a tocar num deles, o que não era permitido. Mas respeita a norma do Levítico, recomendado-o apresentar-se ao sacerdote, para o controle de saúde pública. E ainda mais uma recomendação, não divulgar que Jesus fosse um curandeiro de plantão.
   
   E em Lucas 10 deles avistam Jesus de longe, aventuram pedir-lhe cura, são atendidos e um deles professa, num retorno para agradecimento, fé salvadora em Jesus.

    O que também não significa que qualquer e todos afetados serão curados milagrosamente, como falsamente prometido pelas "igrejas" de arrecadação. Meu primo foi acometido e, uma vez em tratamento médico, ofereceu em sua igreja culto de ações de graça por seu restabelecimento.

    Levítico é o livro da pureza ritual, do asseio do corpo, da pureza espiritual, enfim, da santidade ao Senhor. Um refinamento da presença íntima do Espírito Santo no viver, cioso que é de nos tornar aroma agradável, perfume de Cristo, oferta plena de dedicação ao Senhor. Permita-se ser essa benção.

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