domingo, 11 de setembro de 2022

Jesus e as Escrituras no circuito das sinagogas

"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor" Lc 4,18-19.

   Lucas procede a uma releitura do texto inicial de Marcos, em relação ao início do ministério de Jesus. Marcos referencia-se em Isaías, para anotar, como via, o "princípio do evangelho de Jesus'.

   Ele enxerga no rápido ministério de João Batista o cumprimento de profecia da Escrituras do Antigo Testamento, por ser ele a anunciada "voz do que clama no deserto".

   E a referência a Jesus vem na contramão das instituições judaicas, cegas para o maior indicativo de todos os tempos. Quando questionado sobre com que autoridade pregava e batizava, João reafirmou de onde provém toda autoridade.

   O profeta de aparência rústica, de trato rústico e de palavra curta e grossa afirnou que nem digno de desatar as sandálias de Jesus ele seria. Nem para o papel de servo servia, mas Jesus o referendou, quando o procurou para ser por ele batizado.

   E assim procedendo, conferiu sentido ao batismo, demonstrando na prática o que significa a identificação dEle com todos os que creem.

    E o próprio Batista indicou que o batismo no Espírito Santo, que é o batismo que somente Jesus tem o poder de realizar, é que define essa identidade de comunhão com Ele.

   O avivamento de João Batista enseja o anúncio da presença de Jesus, confirma sua vinda, define sua identidade e prenuncia seu ministério. O próprio profeta infla e, ao mesmo tempo, esvazia sua importância.

   O próprio Jesus referenda João Batista como o maior dos profetas, ao mesmo tempo que aponta que, no reino de Deus, de cuja indicação para seu cumprimento, visão e entrada, Jesus anuncia, o menor no reino é maior do que o profeta.

   O profeta referenda Jesus, Jesus referenda o profeta, pela fidelidade de seu testemunho, o Pai referenda o Filho no batismo e Jesus começa seu ministério referendando as Escrituras como aquelas que dEle testemunham.

    Lucas, em sua releitura de Marcos, amplia seu escopo. Foca na sinagoga em que Jesus prega, na Galileia, lugar que escolhe como referência, precisamente porque nelas, nas sinagogas, mais que no Templo de Jerusalém, a lei de Moisés, as Escrituras de seu tempo estão mais próximas do povo.

   Desde a época do exílio em Babilônia, as sinagogas se tornaram um referencial para o povo cativo. Uma espécie de Israel em miniatura, para quem havia perdido a "terra prometida", o ritual do culto no Templo e a liberdade.

   Em torno da palavra de Deus, do esboço inicial das Escrituras, único referencial palpável que restou, o povo passou a alimentar a esperança do retorno. Debruçavam-se sobre os profetas, para entender o quando.

   E todos eles referenciam restauração futura, profética, garantida. Assim como, mais além ainda, por detrás do trauma sem conta, mais do que somente retorno à terra, como referencia o autor anônimo da carta aos Hebreus, referendavam a entrada definitiva no "descanso", por meio de Jesus.

    Jesus, lendo Isaías na sinagoga, no início de seu ministério, começando por um circuito, por elas, fosse na Galileia, fosse na Judeia, demonstrava o modo como as Escrituras referendam-no, e como o testemunho de Sua Pessoa é fundamental para a fé.

   Marcos, como que, por sua palavra inicial anotando a temática da fala de Jesus, indica em que contexto se cumpre a última profecia, que vem de João Batista, nos quatro itens da fala de Jesus: 1. Tempo cumprido; 2. Reino de Deus bem próximo; 3. Arrependimento; 4. Fé no evangelho.

   Lucas, utilizando o mesmo profeta que Marcos, assinala que a mais excelsa profecia das Escrituras já cumprida identifica Jesus, quando ele mesmo afirma: 1. O Espírito do Senhor está sobre mim e me tem ungido para: 1.1. evangelizar os pobres; 1.2. enviou-me a proclamar libertação aos cativos; 1.3. restauração da vista aos cegos; 1.4. pôr em liberdade os oprimidos; 1.5. apregoar o ano aceitável do Senhor.

  O culto da igreja de hoje segue o modelo da sinagoga. Nela as Escrituras devem estar, ao alcance da sede e do entendimento. Pois elas testemunham de Jesus, com toda certeza de fé e exatidão. A preferência por estar congregado, para ouvir a voz de Jesus, deve promover em nós a urgência e permanência de um avivamento que nunca esmorece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário