segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Ceia do Senhor: nem trans- ou con- ou "presença real", mas "em memória de Mim".

   O entendimento a respeito do que ocorre ao participarmos da Ceia do Senhos apresenta, desde a Reforma Protestante, que completará agora em 31 de outubro 505 anos, quatro possibilidades de compreensão.

   A primeira delas, abandonada por todos os reformadores, porém até hoje mantida pela Igreja Católica, é que, no sacramento da eucaristia, que é como chamam a ceia do Senhor, ocorre a transubstanciação.

   Essa palavra provém de trans + substância, que significa dizer que, no ato da consagração, pelo oficiante católico romano, o pão e o vinho se transformam, literalmente, no corpo e no sangue de Jesus Cristo.

    Portanto, os que participaram da eucaristia, lembrando que somente o oficiante toma do vinho, os demais tomam da hóstia molhada no vinho, todos digerem o corpo de Cristo em sua inteireza.

    Lutero não segue essa interpretação. Mas também, visto a partir de nossa época, foca numa posição próxima da anterior, mas nega a transubstanciação. Para ele ocorre o que ficou conhecido como consubstanciação.

   A palavra com + substância quer significar que pão e vinho não se transformam no corpo e sangue de Cristo mas, no momento do ofício da Santa Ceia está, subjacente ao pão e ao vinho a presença do corpo de Cristo, do qual participam e dele se apropriam os comungantes.

     Calvino  o próximo reformador na ordem de aparecimento e destaque de importância,  ao rejeitar essas duas ideias, estabeleceu o que ficou conhecido como presença real de Jesus na Santa Ceia. Para todos os reformadores deixa de ser um sacramento, no sentido de canal restrito da graça de Deus, para ser, junto com o batismo, as duas únicas ordenanças de Jesus.

    Presença real significa que Jesus está presente no ato do ofício, porém nem se transforma no pão e no vinho e nem subjaz a esses elementos mas, pelo Espírito, naquele momento, o comungante é elevado à presença de Jesus. Neste caso há uma elevação à presença de Jesus, glorificado junto ao Pai, e não, por assim dizer, uma descida dEle para se fazer presente "transformado" nos elementos ou subjacente a eles.

    E o quarto modo é como entendemos ocorrer, tratando-se de um memorial. Mas não se trata de uma memória qualquer, por mero capricho ou aleatória e pueril. Mas de referência permanente que o crente possui consigo de sua participação no corpo e no sangue de Jesus Cristo.

    Trata-se de uma memória ativa, ou seja, um ato que, sim, o Espírito Santo realizou no tempo, quando nos batizou em Jesus, literalmente unidos nEle na semelhança de sua morte e ressurreição, quando nossa vida foi transformada ou, se preferirmos dizer, nossa vida surgiu ali.

    Portando, trata-se da memória da primeira ação da palavra salvadora de Deus em nós, do ato que nos tornou igreja, corpo de Cristo, nEle batizados pelo Espírito e, a partir daí edificados sobre Jesus, como "pedras que vivem" (Pedro).

    Não é uma memória qualquer e nem uma memória banal, dispersiva, mas memória presente, ativa, real, permanente e constante testemunho. Carregamos conosco essa memória de nossa identidade. Não é somente no ato da Ceia do Senhor que ela está conosco ou se manifesta.

    Mas ali, reunidos, juntos nos lembramos do ato miraculoso da ação do Espírito Santo em nossas vidas, ato fundante do que reprenta ser igreja, por nossa presença no mundo, pela benção que reprenta a ação de Deus em nós, nesta vida, pelo Seu poder, como nosso Pastor, conduzidos pelo Espírito neste mundo, para glorificarmos e testemunharmos Jesus.

    A Ceia do Senhor nos convida trazer de novo à memória o que jamais saiu e nem vai sair dela, que seja a ação da palavra de Deus em nós, por meio de Jesus Cristo, a Palavra Viva de Deus, o nosso batismo de conversão em Jesus Cristo e a nossa constituição, agora sim, como corpo de Cristo, igreja real, identitária e verdadeiramente presente neste mundo até a volta de Jesus Cristo.

    Não comemos pão e vinho transformados no corpo e o sangue de Cristo,  Não nos apropriamos dEle, subjacente ao pão e vinho que comemos. E nem somos elevados, como se ocorresse somente nesse momento essa elevação ou uma "presença real" dEle entre nós, no ato do ofício. Mesmo porque a presença de Cristo conosco, como Ele prometeu, é sempre real.

    Mas relembramos o que somos, o que já nos ocorreu, em que medida ativa somos esse resultado, corpo de  Cristo, literalmente, na comunhão como igreja, na ação de Jesus como nosso Pastor e na presença do Espírito Santo em nós, para não nos deixar esquecer ou agirmos contrário a todo esse fundamento.

    Tendo a palavra de Deus como referencial em nossa vida, essa mesma palavra que operou em nós a conversão a Jesus, por meio do batismo no e com o Espírito, somos igreja, na comunhão que, como Jesus expressou em Sua oração, é a mesma que Ele sempre teve com o Pai e agora age por termos nEle, do mesmo modo que Ele e por meio dEle, tenhamos com o Pai.

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