sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Ai de mim, estou perdido(a).

    Surpreendido. As visões, como comenta o próprio Samuel, não eram (e não são) frequentes. São específicas. Isaías teve a sua.

   Onde se viu, o lugar que pressupôs ser o templo, estava totalmente preenchido pela presença de Deus. Mas ora, afinal, onde se ausentar dela, como tenta o salmista, por meio de seu precário GPS, indicar?

   Mas verificar, desse modo, numa visão, essa presença, fez Isaías se sentir, por todos os lados, constrangido. As vestes enchiam o templo. Acossado pela falta de espaço.

  E vieram as vozes dos anjos, gradação acima, repetindo Santo! Santo! Santo!. Não dá para definir a sensação que tomou de conta do proefeta, como dizemos aqui.

   A profundidade nele do Ai que expressou não foi retórica. Estava enquadrado, definitivamente. Nessa cena não dava para florear, com o misticismo de rotina, o que realmente significa estar diante de Deus.

   Nas Escrituras, por diversas vezes, homens (e mulheres) nela retratados passam por essa experiência. Seja Jacó, no seu sonho, Jonas, na oração no ventre do peixe, ou Isaías, nesta visão, ou ainda John, The Revelator (veja link abaixo), refiro-me ao apóstolo João, em Patmos.

   Estar diante de Deus não se fabrica. Não são sensações internas, flutuações de humor, malabarismos retóricos de orações turbinadas só por emoções ou por uma lucidez de ocasião.

   Depende-se do Espírito para isso. Já diz Paulo, o Espírito nos assiste em nossa fraqueza, porque nem orar como convém a gente sabe. Não dá para fabricar uma visão de Isaías todo dia. Mas ela está aí, para advertir.

   E associada a essa visão da santidade de Deus, do pecado pessoal e individual, está a visão do chamado. Há em Deus uma frequente ansiedade por quem atenda o Seu chamado. Está aí também o texto para isso.

   É a natureza da profecia. Abrir olhos que não querem ver, que pensam enxergar. Abrir ouvidos que pensam ouvir. Despertar para uma falsa suspeita de que se compreendeu a mensgem.

   Como diz Paulo Apóstolo, o evangelho foi pregado e testemunhado desde o Antigo Testamento. Ele diz isso na introdução da carta aos Romanos. Portanto, a atenção para essa mensagem é permanente, desde o tempo de Isaías, e ainda antes dele.

   Pedro adverte que Noé a pregou em seu tempo. O grau máximo de advertência é Jesus quem traz, segundo indica Marcos evangelista, aliás, baseia sua intervenção exatamente na profecia de Isaías, quando escreve:

"Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito na profecia de Isaías: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho; voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas", Marcos 1:1-3.

   E indica o grau, na verdade, o último, de urgência da pregação do evangelho, definido pelo próprio Jesus, o pirmeiro a pregar:

"Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.", Marcos 1:14,15.

   Neste grau a igreja é vocacionada a anunciar. Entendo que, desse modo, coloca a si mesma e a seus interlocutores diante de Deus, para que compreendam a dimensão da santidade do Senhor, o grau de seu pecado, a natureza de sua vocação e a urgência de sua mensagem.

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