segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Certamente, foi ganho

   
     Peço permissão à família Silva para falar de José e Rita. Hoje amanhecemos sem ela. Mais para vocês, que a tinham perto, mais do que perto, dentro, em íntima comunhão.

    Eu sou forasteiro, por isso o contato que tive foi, como dizer, fortuito, melhor dizendo, foi providencial. Nós pastores costumamos, no início de nossa jornada, avaliar, quando ocorre uma visão nítida da responsabilidade, que ministério não é para nós. 

    Isso porque a missão é por demais sublime. E a suficiência dela vem toda de Deus. Então a gente vislumbra um grau de responsabilidade para o qual se acovarda. Qualquer vocacionado com o mínimo de bom senso vai ter um mínimo de medo. 

    Mas por que é assim? Porque Deus vai nos surpreender, quando coloca diante de nós e, por assim dizer, aos nossos cuidados, gente que mais vai nos ensinar do que conosco aprender. José e Rita são esse tipo de pessoa. Eu digo que são, porque são e nunca deixarão de ser.

     Porque, de Rita, estamos temporariamente afastados. Ela cumpriu sua missão. Como Paulo diz na carta a Timóteo, Rita "combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé". José e nós ainda temos uma missão a cumprir.

     Eu cheguei aqui no Acre 11 anos depois do anjo negro Nelson Rosa. E uma vez, da boca de d. Rita mesmo, ouvi um resumo do que significou a chegada do casal Rosa rua Formosa abaixo, até a margem do igarapé. Naquele tempo, contou ela, José estava internado no Pará, para se recuperar de um grave acidente de trabalho.

    Por isso foi significativa a chegada do pastor Nelson, com sua personalidade e missão. As meninas devem se lembrar bem. Eu ainda alcancei traços dessa época, pelo menos no estilo de rua, sulcada pelos veios da água de chuva, quase impossível de alcançar por carro, e da pinguela por cima do igarapé, ainda sem ponte.

     Continuamos a tradição sadia de Nelson, com os cultos semanais, ainda na casa que era mais baixa do que o nível da rua, toda de madeira. Quantas vezes ali reunidos, assistíamos ao casal, devidamente fardado, subir a rua Formosa em direção ao lugar de sua antiga religião.

    A gente já aprendia com esse gesto, que nos revelava seriedade, coerência e união desse casal. Seriedade, porque tratavam com respeito tanto a nossa religião, quanto a deles. Que eu me lembre, acho que batizei Andreia, mas soube que as demais irmãs somente eram autorizadas por d. Rita a ser batizadas, após seus 18 anos: ela queria seriedade por parte das meninas nesse passo que estavam assumindo.

     Coerência, porque nunca ouvi que d. Rita coibiu ou proibiu que suas meninas, uma a uma, optassem por uma religião diferente da sua, desde infância, pois ainda me lembro, conheci sua mãe, avó das meninas (e dos meninos), e compareci ao sepultamento dela no Alto Santo.

     E união do casal, desde que ouvi esse pequeno traço da época da convalescença de seu José no Pará, de como era aguardado com amor e ansiedade, passando pelo companheirismo dos dois no daime e o modo como "seu" José me contou que se deu a mudança de religião, digamos assim.

     Ele contou como era difícil para Rita, sempre muito ativa em casa onde, além das tarefas da família de 8 meninas e dois meninos, trabalhava para fora e, quando seus pés a afligiam com rachaduras, tinha que parar com o trabalho ou intoxicar-se com tantos remédios. Pois um dia, contou seu José, ela assistiu na tv uma oração específica para esse mal que a afligia.

     Pois ela tomou como para ela e notificou ao esposo que não mais comprasse os remédios, porque, definitivamente, estava curada. O esposo reclamou ser temerário, Rita, você já sabe como é se não tomar os remédios, vai ficar aí atrapalhada com tudo.

    Ela insistiu que não. Que não mais tomaria remédio nenhum. Os detalhes seguintes da história eu não conheço. Mas um sinal a mais da seriedade e coerência desse casal foi notificar, pessoalmente, a antiga líder de sua religião anterior a razão por que estavam ingressando na igreja da qual passaram a ser parte integrante.

     José e Rita, a gente reconhece, são esse tipo de pessoas que não passam despercebidos pela vida. Dentro das igrejas, são aqueles que percebem, assimilam e põem em prática a fé, em toda a sua simplicidade, profundidade e alcance. Felizes de quem percebe isso, apreende, agradece a Deus e põe em prática em sua própria vida.

     Muito mais felizes vocês, da família Silva, que têm perto e dentro seu pai e sua mãe. Porque não perdemos Rita. Fomos ganhos por ela, que é ganho para Jesus. 

7 comentários:

  1. E verdade pastor, nosso maior consolo é que ela hoje está junto ao Pai. E os ensinamentos que ela nos deixa é está união, este amor , temos muito a agradecer por todos que estão junto a nós, com uma palavra de conforto, com um carinho, todos serão recompensados, por que é a palavra de Deus chorais com os que choram. E assim vamos nos resta e a caminhada rumo a cião até a nossa morada eterna . Muito agradecida a todos 💕

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  2. Amém! Vamos seguir firmes em nossa jornada e nas pegadas e marcas deixadas por pessoas como os irmãos em Cristo José e Rita

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  3. Sim, pastor Cid. O senhor conseguiu essa proeza da dona Rita, fui batizada com 15 anos pelo senhor. Agradeço a Deus por ela ter permitido que eu fosse discipulado pelo senhor antes dos 18 anos e batizada. Minha mãe foi um grande exemplo de mulher guerreira. Estará sempre na memória daqueles que a conheceram. Obrigada pela homenagem. Obrigada por fazer parte da nossa história. Grande abraço.

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  4. Amém, cara irmã. Linda história. Linda família. Grande abraço.

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  5. Exemplo a ser seguido. Deus console os familiares aqui porque o céu está em festa

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