sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Pronome(s) indefinido(s)

"Falou João e disse: Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco. Mas Jesus lhe disse: Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós." Lucas 9,49-50.


     Mas quem eram esses "outros" referidos por João? Palavra esta utilizada de modo positivo, quando a generalização inclui, por exemplo, o respeito a todos, a qualquer um, indiscriminadamente. Amar o outro, respeitar o outro, enfim, amar o próximo como a si mesmo, está valendo.

   Mas esse outro, exatamente um pronome indefinido, pode ganhar um uso depreciativo. No caso da exortação de Jesus a João, há dois tipos de avaliação em jogo. Uma delas, feita por João, e a outra, corrigida por Jesus. 

  Para João, tratava-se de um "certo homem", cuja principal característica, na visão dele, era "não seguir conosco". Cabe tentar entender, com a cabeça de João, o que quis dizer com "certo homem", cuja falta era "não seguir conosco".

   E Jesus, anulando, de modo lacônico, o raciocínio de João, afirmou: "o que não é contra vós outros, é por vós". Ao mesmo tempo genéricas e específicas ambas as qualificações, tanto a de João, quanto a de Jesus.

   Para João, quaisquer ou todos que não "seguissem com eles", estariam proibidos de se expressar "em nome de Jesus". Para Jesus, todos e quaisquer que não fossem "contra eles", estariam "com eles", os discípulos, ou como eles, iguais a eles, habilitados da se expressar "em nome de Jesus".

    Em qual das duas avaliações nos enquadramos? Pensando como João, "os que seguem conosco", somente nós podemos falar, agir e, quem sabe, até pensar "em nome de Jesus". Pensando como Jesus, há uma avaliação e qualificação para além de nossas restrições.

   Ora, pela cabeça do Mestre, então, como identificar os que, embora não sigam conosco ou entre nós, estão, tanto quanto nós, autorizados a se expressar "em nome de Jesus"? Para nós, certamente, faltam, de modo objetivo, critérios para definir essa fronteira de restrições.

   Talvez nos incomode muito essa informalidade de Jesus. Pela mentalidade de João, havia, da parte de Jesus, uma excessiva flexibilidade. Afinal, deve haver fronteiras. Por critérios claros e, certamente, rigorosos. Não será para qualquer outro. Mas deverá ser, sim, para outros, porém qualificados.

   Não sei se devemos "correr atrás" desses ortodoxos critérios, talvez. A igreja que se tornou Católica já o fez e, historicamente, exagerou. Distorceu e perdeu sua vocação. Correu atrás de a recuperar.

   Bem provável que, em Jesus, haja um critério fluido, flutuante, por mais escandaloso que isso nos possa parecer. Um critério exclusivo seu. É melhor não querermos definir quem sim e quem não. Essa ciranda de pronomes indefinidos não nos deve absorver.

   Por corrermos o risco de mais parecer com João, do que com Jesus. É melhor não repreender ninguém, socorra-nos, mais este indefinido. 

    A não ser que atinemos com os critérios do Mestre. Para tanto, a primeira atitude será não, de modo intempestivo, classificar o outro. Certamente, acolhimento e diálogo vão resultar em consenso.

   Método Priscila e Áquila, quando aplicado a Apolo. Bom senso na abordagem, humildade e competência no discipulado serão acréscimos cotingenciais indispensáveis. Assim como o acolhimento de diferenças e peculiaridades.

   Portanto, procurar em Jesus o padrão, colocar amor em primeiro lugar e não deixar de lado o discipulado, lembrando que seu lugar é a igreja, com a Bíblia aberta. E que discípulos, não somos somente nós, assim como apóstolos desse mesmo Mestre, mas quantos tantos outros conosco.

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