domingo, 12 de outubro de 2025

O protocolo de Deus.

 ¹⁵ "Eis que eu estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei voltar a esta terra, porque te não desampararei, até cumprir eu aquilo que te hei referido. ¹⁶ Despertado Jacó do seu sono, disse: Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. ¹⁷ E, temendo, disse: Quão temível é este lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus." Gênesis 28.

   Jacó fugia. Consciente de que agira errado, embora tivesse sua mãe Rebeca como cúmplice.  Era uma família dividida pelas preferências com relação aos gêmeos.

   Isaque preferia o caçador Esaú, que nascera à frente de Jacó. Rebeca preferia o caseiro Jacó, mais ligado a ela. Pois estes dois se juntaram e se valeram da cegueira do pai para o enganar.

   Acentuara-se o abismo familiar, até a morte, bem definido no juramento de Esaú:

⁴¹ "Passou Esaú a odiar a Jacó por causa da bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e disse consigo: Vêm próximos os dias de luto por meu pai; então, matarei a Jacó, meu irmão." Gn 27.

  Essa história de ódio entre irmãos rendeu a Jacó sua fuga e o medo que trazia consigo. O que pôde preservar sua vida foi a opção do amor de Deus por ele.

¹³ "Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú." Romanos 9.

  Esta  é a primeira lição que aprendemos, Deus opta por amar, não somente Jacó, mas a cada um ou uma a quem criou. Mas cabe a nós aceitar, voluntariamente, esse amor.

   Deus amou Esaú igual. O erro dele foi não considerar santo o que Deus considera. O autor de Hebreus analisa essa atitude dele.

¹⁶ "...nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. ¹⁷ Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado." Hb 12.

   O texto do sonho de Jacó nos ensina a avaliar a nós mesmos, o projeto de Deus para as nossas vidas e qual o lugar de estar, nesta caminhada, no plano de Deus.

  Jacó não sabia quem ele mesmo era, por causa de sua pusilanimidade e por avaliar que poderia manipular Deus.  Não confundir amor de Deus com permissividade humana.

   Ele avaliava que poderia agir segundo a sua própria escolha, julgando-se o esperto da hora, inclusive porque Deus estava ali mesmo, à disposição dele, pronto para abençoar.

   E em sua fuga, Jacó achava que, onde estivesse, contanto que fosse longe do inimigo que conquistou, estaria seguro. Ele nada ainda sabia do protocolo de Deus.

   O amor de Deus é incondicional. Deus não faz acepção de pessoas. Não se pode obter bênçãos como numa oferta de mercado.  O propósito de Deus na vida é sempre bondade.

⁶ "Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor  para todo o sempre." Salmos 23.

   Na Bíblia, pelo menos três homens, em seu conflito pessoal, entenderam errado o sentido da Casa do Senhor na caminhada. Em Êxodo 4,24 Moisés quis fugir de sua vocação escondido numa estalagem:

²⁴ "Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor e o quis matar."

  Em Jeremias 9,2 ele deseja refugiar-se das agruras do ministério numa estalagem no meio do caminho:

² "Prouvera a Deus eu tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então, deixaria o meu povo e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, são um bando de traidores". Jeremias 9.

   E quando tentam subornar Neemias, atraindo-o com suspeição e malícia para uma arapuca dentro do templo de Jerusalém:

¹¹ "Porém eu disse: homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo para que viva? De maneira nenhuma entrarei." Neemias 6.

   A casa de Deus segue conosco. Não é lugar de fuga, mas de intimidade com Deus. A escada que transparece uma atividade angelical intensa, representa o interesse de Deus pela vida de Jacó.

   E pela vida de quem Ele ama. Por isso Jacó assustou-se com a visão. Sim, sempre é tremendo. Sempre é casa de Deus.  E sempre é porta do céu. Esse é o protocolo de Deus.

sábado, 11 de outubro de 2025

Dedicado a Lorenna

⁷ "O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino. ⁸ Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe." Provérbios 1.

   Um recado rápido. Provérbios  é o livro da sabedoria.  Cheio de instruções práticas.  Fáceis de entender e todo o tempo necessárias.

  O vesículo que, às  pressas, escolhi ontem está aí em cima. Fala de três coisas fundamentais para a sabedoria em sua vida:

1. Temer ao Senhor: (יִרְאַת יְהוָה - yirat Adonai, no hebraico). Significa basicamente três coisas:
1.1. Sentir-se atraído pela beleza, santidade e perfeição de Deus;
1.2. Desejo de adorá-lo com sinceridade de coração em todo o tempo;
1.3. Compromisso de amor em assumir e obedecer Sua vontade em nossa vida.

  Você não é mais uma menina, apenas uma criança. Mas também não é ainda uma pessoa adulta.

   Então,  já sabe fazer escolhas que uma criança não faz, até porque os pais não permitem, mas também está ainda apreendendo a sempre fazer as escolhas certas.

   Por isso você precisa sempre reafirmar o seu compromisso com Deus, sempre atenta em sempre manter no coração e em sua mente o temor do Senhor.

   A outra parte do versículo fala sobre os pais. Embora os seus não mais vivam juntos, você deve amá-los igual e intensamente. Ali no versículo ocorre o que se chama, na poesia bíblica, um paralelismo:

  Então a gente deve ler pai = mãe, ensino = instrução e ouvir = não deixar. Teu pai e tua mãe te instruem, ainda que não sejam perfeitos.

    Então sempre ame intensamente e honre tanto o seu pai, quanto a sua mãe. Assim como, e sua idade já desperta você para isso, avalie de modo crítico e sensato as atitudes deles.

  Você já está na idade do diálogo.  Pode conversar com eles que, aos poucos, vão compreender que você está na transição para a vida adulta.

  Ore por eles, tanto quanto ora por você. Peça a Deus que os oriente, tanto quanto pede a Deus que oriente você.  Que tanto seja amiga de seu pai e de sua mãe, quanto deseje que eles dois sejam amigos entre si.

   Grato por sua amizade.  Sempre vai me encontrar na igreja. E sempre ao alcance de um contato no dia a dia da vida. Seja, permanentemente, temente a Deus, para alcançar, permanentemente, sabedoria. 

  E siga também o conselho de Paulo no versículo abaixo: desenvolva a sua salvação:

¹² "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; ¹³ porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade." Filipenses 2.

   

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

A depressão de Deus

 ⁵ "Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; ⁶ então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração." Gn 6.

   A tristeza de Deus é a nossa maior segurança. O que a Ele entristece deveria, todo o tempo, também nos entristecer.

  Mas alegria, no Senhor, é a nossa força. Quando Neemais tomou notícia, pela descrição de Hanani, do grau de calamidade em Judá, chorou, lamentou, jejuou e sensibilizou Artaxerxes.

   À vista do que era preciso fazer, para restaurar Jerusalém, que estava como Gaza hoje, ele estimulou o povo no grande ajuntamento após toda a tarefa que empreenderam: ¹⁰ "...porque a alegria do Senhor é a vossa força." Ne 8.

   Por isso Tiago vai ensinar que, até quando tudo é provação, será motivo de toda a alegria.  Notemos aqui os indefinidos "tudo/toda/várias":

   ² "Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, ³ sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança." Tg 1.

   Não sabemos nem nos entristecer. Essa sensibilidade nos é devolvida na conversão. Porque até o arrependimento é uma "tristeza segundo Deus":

¹⁰ "Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz a morte." 2 Co 7.

   Não existe sensibilidade humana após a violência do pecado em nossas vidas. Por exemplo, basta notar o cinismo de Caim na conversa com Deus, após o primeiro homicídio da história:

⁹ "E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?" Gn 4.

  É melhor não apedrejar Caim na mídia, porque todos nós sofremos da síndrome de Caim. E quem nos cura é Deus. Sem esquecer que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento:

⁴ "Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?" Rm 2.

   A matriz de nossa sensibilidade está guardada com o Criador. Somente a comunhão com Ele vai nos devolver. Sozinho e isolados, somos Caim.

  Para ser Abel,  somente ressuscitados em Cristo. Por isso Hebreus 11,4 afirma que "depois de morto (Abel) ainda fala". E também Paulo recomenda ter em nós o sentimento de Cristo:

⁵ "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus". Fp 2.

  Tudo incluído na palavra amor. Deus é amor. E nos ensina o bê-a-bá do amor. Somos educados no e pelo Espírito,  desde que nele somos batizados:

¹¹ "Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, ¹² educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente". Tito 2.

⁴ "Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, ⁵ [...] ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo".Tt 3.
  
  O pecado na condição humana deprime Deus. Toda a sensibilidade reside em Deus. Se não nos devolver Sua imagem e semelhança, somos aberrações e não humanos.

    A tristeza de Deus, assim como a alegria no Senhor são nossa segurança e força. A sensibilidade de Deus carece ser a mesma nossa. O nome disso é amor compartilhado. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

A loucura de Deus

 ²⁵ "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." 1 Co 1.

   Deftivamante. Um dos dois é louco: ou Paulo,  que atribui loucura a Deus, ou Deus mesmo é louco, e Paulo está correto.

  Podemos seguir, verificando o que Paulo chama  de loucura e atribui a Deus.  Acima, nesse mesmo trecho, chamou de loucura a pregação. Pregação do quê? Do evangelho. Veja abaixo:

¹⁸ "Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus." 1 Co 1.

  O textos dos evangelhos nos socorrem, com a lógica do ladrão. Havia um de cada lado de Jesus. Aliás, podem até ter sido mais de dois: os romanos costumavam enfileirar crucificados.

   Um deles questionou Jesus, mais ou menos assim: "Você é salvador do que ou de quem? Caso confirmado, salve a você e a nós dois", referindo-se a ele e ao cúmplice das delinquências.

   Então outro disse, mais ou menos assim: "Rapaz, respeite: nós sempre soubemos que, quando nos pegassem, terminaríamos aqui. Mas esse aí não tem nenhuma culpa".

  E voltado para Jesus, ele disse:
⁴² "E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino." Lc 23.

  Talvez, também fosse louco. Que reino? É preciso ser louco para crer na loucura de Deus. Caso não queira crer no que Deus pretende, cure-se da loucura de Deus.

  Caso queira crer na "palavra da cruz", seja louco junto com Deus. Porque Paulo ainda argumenta pelo texto lá de cima. A loucura de Deus é mais sábia do que a ciência dos homens.

  E a fraqueza de Deus é mais forte do que a força do homem. Será sábio optar pela loucura de Deus, assim como por Sua (de Deus) fraqueza. 

  O Salvador foi pregado na cruz, específico lugar de toda a vitória. Específico lugar de toda a salvação.

  Ah, sim, mais uma coisa que o ladrão disse: Jesus vem no reino dele. Em Lucas está a reposta de Jesus quando os fariseus lhe perguntaram sobre o reino:

²⁰ "Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. ²¹ Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós." Lc 17.

  O reino de Jesus  está (ou não está) dentro.  O ladrão crucificado,  o outro, o que não era debochado, sabia do reino, que já estava dentro dele.

  Isso mesmo. Salvação (e participação no reino) é estar crucificado com Jesus. Encerramos com mais uma afirmativa de Paulo Apóstolo, mais um louco da hora:

¹⁹ "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; ²⁰ logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim." Gl 2.

  Então, crucifique-se com Cristo, seu(a) louco(a).

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Salmo 1: alegria, Escrituras, escolha certa, árvore bela e a palha

    

   Os Salmos são uma coleção aleatória de poemas, muitos deles um dia musicados, que expressam a condição de cada autor diante de Deus.

  Por isso, podem ser considerados uma aula sobre Deus a cada poesia. Muito lidos, como guia ao leitor de sua meditação, o que ensinam sobre a personalidade de Deus e os modos de relação com Ele.

  O Salmo 1 fala de alegria. Como se dissesse muita ou toda a alegria vem ou pertence ao homem ou mulher que, para dizer então qual a situação diante da qual essa alegria se configura.

   A seguir, aparece uma atitude de rejeição, na verdade,  uma opção de troca. E bem caracterizada como algo que, rotineiramente, ocorre, no dia a dia da vida comum.

  Porque as influências da condição humana,  e isso é uma preocupação constante nas Escrituras, basta conferir com Provérbios, de quem o Salmo 1 é parente, podem ser negativas.

   Por isso o salmista adverte o cuidado para não trilhar pelo caminho de ímpios, não se deter no conselho de pecadores e não se assentar na roda de escarnecedores.

  Tanto os atores, ímpios, pecadores e escarnecedores, quanto seu contexto de ação, veredas, conselho e assembleia representam uma gradação dessa influência negativa.

  Mas como identificá-la? O autor anônimo deste Salmo de sabedoria indica o prazer por se deter frente às Escrituras, dia e noite, lendo, meditando e praticando, como na recomendação divina na vocação de Josué, estabelecidas como referencial. 

  O primeiro salmo exorta a se debruçar sobre as Escrituras, identificada como a lei do Senhor, que era a Bíblia da época do autor do salmo. E nessa posição, é como também exortar a gastar tempo com os demais salmos de todo o saltério.

   As Escrituras denunciam o caminho do ímpio, que escolhe viver sem nenhuma influência de Deus em suas escolhas. Pecadores, mais do que o ímpio, chegaram ao grau de praticar, sem escrúpulos, o que é danoso para si e para outros.

  E escarnecedor é o que, além de sua prática, sem nenhum remorso, debocha de quem lhe critica o modo de ser, rindo-se de qualquer doutrinação contrária a suas atitudes.  O salmo indica que esse apego às Escrituras concede à vida de quem por ele opta o padrão inverso desse grau de corrupção.

   Uma das mais lindas imagens poéticas das Escrituras enaltece o quadro de uma árvore bela à vista, imponente em seu tamanho, ramagem, posição em curso fértil de águas e produção rica em frutos.

   Este é o ponto central do salmo primeiro. O perfil de personalidade resultante da postura escolhida pela personagem a que se refere o salmista, diante das Escrituras, pela rejeição do que provém errante e contamina.

   Encerra denunciando que essa assembleia de ímpios, pecadores e escarnecedores não prevalece, mas se esvai no tempo e não estará presente no Juízo de Deus. 

  Generaliza denominando ímpios todos os que, por conduta, costumes e filosofia de vida somente têm, por padrão, perverter seus caminhos e de tantos que a eles se aliam.  Serão palha dispersa.

  Podem reunir importância nesta vida, sim, porque perversão faz mídia e reúne muitos adeptos. Mas, na vida que continua, do Juízo para adiante, não prevalecerão.  O salmo encerra com a afirmação de que Deus conhece o caminho dos justos.

  Conhecer significa validar, aprovar, caminhar junto. As páginas das Escrituras aconselham caminhar junto com Deus. Porque a vida será como essa árvore bem plantada, que viceja, embeleza e produz fruto. Vida marcante e repleta de alegria e realização. Opte por ela. E mantenha viçosa. 

domingo, 28 de setembro de 2025

Força, cântico e salvação

² "O Senhor é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto, eu o louvarei;  ele é o Deus de meu pai; por isso, o exaltarei." Êxodo 15.

  Este é um cântico. Muito se pode dizer sobre cânticos. Se começarmos pela autoria, dizer até onde foi feliz o autor no que diz. E também a música.

  Deste, não temos a música. Podemos apenas imaginar. Lá adiante, Miriam, a irmã de Moisés, sim, o autor deste cântico, ela tomou de tamborins para responder num coro e bailado feminino a inspiração do irmão.

  Percussão e voz. Todos cantavam comemorando um feito. Enalteciam Deus por um livramento. Haviam deparado um vau, que é o lugar de uma travessia, no caso por um braço de mar, denominado "mar do juncos".

   Mesmo não sendo oceano aberto, era humanamente impossível conseguir. Parecia proposital. E atrás deles estava o exército do Faraó egípcio, que havia se arrependido de os haver deixado sair do Egito.

   Era um Império de, até hoje, desconhecida envergadura, à cada vez se descobrem galerias de túmulos, templos e palácios desconhecidos.

     Vários povos menores,  entre eles os hebreus, foram mantidos como operários escravos para construção de suas pirâmides, palácios e templos.

   Pois desta vez, após uma sucessão de calamidades interconectadas, de origem desconhecida, as chamadas Dez Pragas, porém certamente premeditadas, segundo os avisos de Moisés, acometeram o país,  até a última delas, que foi a morte de todos os primogênitos, dos palácios à enxovia, incluídos todos os animais.

   Faraó desistiu de resistir. Muito provavelmente, até por sua corte, sacerdotes e povo, em geral, liberou os hebreus. Mas tardiamente reagiu e enviou seus carros e cavaleiros ao encalço do povo.

   Sobre isso que as mulheres, em seu canto e dança, como antífona, também enaltecem o Senhor por seu tamanho livramento:

²⁰ "A profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças. ²¹ E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou  e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro." Ex 15.

    Moisés havia composto o seu cântico. Dele é o trecho que os jovens congregacionais escolheram para seu moto:

¹ "Então, entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, e disseram: Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente;  lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. ² O Senhor é a minha força e o meu cântico;  ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto, eu o louvarei; ele é o Deus de meu pai; por isso, o exaltarei." Ex 15.

   Cânticos refletem uma motivação para que sejam compostos, trazem a marca de sua autoria e expressam um conteúdo. Pelo menos esse conjunto tríplice de sua composição os legitima.

   Pode variar o gênero musical, ser avaliada a genialidade da letra, pelo modo como expõe seu conteúdo, bem como o ajuste dela à melodia.

   Por isso, cada parte tem sua avaliação requerida. O conteúdo pode desmerecer a melodia, assim como esta pode postar-se aquém dele.  Como podem ser ruins os dois.

  Não temos as melodias nem do canto de Moisés ou do refrão das mulheres. Mas seu conteúdo está aprovado como texto das Escrituras. Já conheci uma melodia hebraica que faz justiça a esses textos.

   Moisés atribui a Deus, em sua poesia, três expedientes revelados nas circunstâncias que motivam sua autoria. E o versículo escolhido pelos jovens mostra quais são e representa a síntese.

   O Senhor é força, cântico e salvação. Força, porque derrotou o exército egípcio numa condição inimaginável. Cântico, porque o alento dessa vitória, no coração do povo, inspira louvor.

  E salvação, porque todos, definitivamente, viram-se livres da ameaça egípcia, para sempre. Nós também temos força, podemos compor cânticos e aplaudir em louvor.

   Mas as razões de Deus, a diferença entre Ele e nós, quando exerce Seu poder, quando põe no coração razões por que cantar e quando depara a Sua salvação, mostra Sua marca e identidade.

   O salmista, no Salmo 40, num só versículo, indica o que pode a força do Senhor, em que consiste a Sua salvação e que cântico põe em nosso coração:

¹ "Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. ² Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama;  colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. ³ E me pôs nos lábios um novo cântico,  um hino de louvor ao nosso Deus;  muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no Senhor." Salmo 40.

   Neste versículo aprendemos: 1. Pode-se esperar em Deus confiantemente; 2. Sua força consiste em nos livrar de um poço de perdição e de tremedal de lama; 3. A salvação consiste em colocar sobre uma rocha e firmar os passos; 4. Transformar em cântico a história da salvação para deleite e testemunho; 5. Despertar em nós gratidão de contínuo louvor.

   A força do Senhor, o cântico da história do Seu amor por nós e a grandeza de Sua salvação somente nEle têm origem e tornam nossa vida plenamente vitoriosa. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Deus fala

¹ "Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, ² nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo." Hb 1.

   Ora, se fala. E como fala. Seria Deus, no bom sentido, é claro, um tagarela? Quando Paulo pregou em Atenas,  no areópago, aliás, falando,  exatamente, em nome de Deus, foi esse adjetivo que colaram nele.

   Nossa fala é intermitente. E não é garantida, ou seja, todo o tempo fidelíssima. Intencionalmente, ou não, mentimos. Está aí uma distinção fundamental entre a nossa fala e a divina.

¹⁹ "Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa.  Porventura, tendo ele prometido, não o fará?  Ou, tendo falado, não o cumprirá?". Nm 23.

  Dependemos das cordas vocais, de todo o aparelho fonador, reverberações consonantais, enfim, continuidade e descontinuidade mental.  Tanta coisa pode agir ou falhar quando falamos.

   Deus não depende disso. Então a fala de Deus é contínua. E sem dúvida sabe se comunicar.  É bom levar em conta o que diz. Nunca o acusem de um Deus totalitário. Pode parecer incrível, mas nunca obriga ninguém a ouvir o que Ele fala.

   Mas há sim, quem contradiz Deus. Ele havia dito ao homem: ¹⁷ "Porque no dia em que comeres, certamente morrerás" Gn 2. Mas a serpente disse o inverso: ⁴ Então, a serpente disse à mulher: "É certo que não morrereis." Gn 3.

   Portanto,  existe a fala de não Deus. Melhor não atendê-la. E estar atento, porque é uma voz dentro de nós. Uma voz que também vem de outros. E uma voz da serpente, que continua a dizer "não Deus".

   A voz de Deus sempre prevalece. Mesmo se e quando não for ouvida. Como diz Provérbios, a voz de Deus grita. Pv 1:

²⁰ "Grita na rua a Sabedoria,  nas praças, levanta a voz; ²¹ do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras". 

   Na conversa da serpente com o casal primordial, o Espírito, aquele mesmo que, antes de tudo, pairava por sobre as águas, gritava a sabedoria nos ouvidos de Eva.

  Ela emudeceu. E convenceu o marido. Eram somente os dois, que resolveram não ouvir Deus. Aconteceu com eles o que passou a ser rotina por toda a humanidade:

² "Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram." Hb 4.

   Jesus disse que esse Espírito haveria de lembrar-nos de tudo o que ele nos disse, em nome de Deus. Porque,  nestes últimos dias, Deus nos fala pelo Filho. Atenção, porque este é um sinal de que vivemos os últimos dias.

  Não tente fazer Deus de palhaço quando Ele fala: porque Ele não permite. Não tente fazer de palhaço a serpente: não vai conseguir.  E não entristeça, ou apague, o Espírito quando fala (não dá para saber o que vem primeiro).

³⁰ "E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção." Ef 4. ¹⁹ "Não apagueis o Espírito." 1 Ts 5.

   Amós adverte que os ouvidos estejam sempre alerta: ⁷ "Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas. ⁸ "Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o Senhor Deus, quem não profetizará?" Am 3.

   A fala de Deus não é descontínua. As Escrituras, além de revelar o mais urgente e essencial da fala de Deus, norteiam o que pode ser ou não fraude, quando se profetiza em nome de Deus.

  Tema o Senhor. Abra ouvidos. Ouça e cumpra. Repique o que Deus fala. Aprenda a denunciar a fala falsa. Jr 23:

²⁸ "O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? — diz o Senhor. ²⁹ Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a penha?".