quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Há em Deus um interesse com que se ocupa

¹ "Senhor, tu me sondas e me conheces." Salmos 139.

    Há um interesse, por detrás dessa convicção expressa na afirmativa do salmista: Deus ocupa seu tempo nessa iniciativa.

  E a gente também enceta uma reflexão, sobre o que Deus depara quando sonda o coração humano. 

  Sim, há muita carência na condição humana, o que deve aguçar a compaixão divina. Mas muita miséria também, talvez daí a razão de forjar o vocábulo "misericórdia" (miséria + cárdio, coração).

    De todo modo, e isso é distintivo unicamente de Deus, configura-se o amor, que é exclusivo em Deus. Daí a prioridade dEle em compartilhar conosco.

   Pedir que Deus nos sonde, será sempre para que Ele aperfeiçoe em nós o Seu amor. Há coisas minhas que desconheço. Nem adianta psicanálise.

  Não que eu a desmereça. Mas é porque, nos meandros da natureza humana, diante do prejuízo assolador do pecado, somente a ação de Deus, por meio da cruz, pode curar.

   Deus nos quer restaurar à Sua imagem e semelhança. De novo o Gênesis, de novo o Éden, agora por acesso à árvore da vida. Jesus é vida.

  Por isso a Bíblia afirma, pelo punho de autores diferentes, podemos ser imitadores de Deus, ser coparticipantes da natureza divina, quem põe em nós sede por sua divina Pessoa.

   Para ter por vontade ser coração de Deus, íntimos de Sua perfeição. É a essência da adoração. Quando Jesus rogou ao Pai sejam eles, quer dizer, nós em comunhão, do mesmo modo da comunhão do Pai com o Filho, foi para que o mundo todo tivesse essa mesma aspiração.

    Comunhão com Deus é ser igreja, é ter restaurada a identidade humana, por Deus, à Sua imagem e semelhança, para privar de Sua santidade. É perceber,  em si mesmo, o agir de Deus, como sumo artífice de uma obra que não cessa de aperfeiçoar.

   Por isso, o salmista encerra com o refrão que reforça, em sua oração, seu maior desejo: ²³ "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; ²⁴ vê se há em mim algum caminho mal e guia-me pelo caminho eterno." Salmo 139.
 
Asas de águia - Prisma

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Lendo Lucas em dezembro - Aleijões de Deus

 ³² "Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado." Lucas 15.

  Pode-se rejeitar um diagnóstico. Então restam duas opções: torcer para que esteja errado ou que seja mais ameno, com precisão equivocada.

  O que a Bíblia fala é bastante questionado. E eu até diria que, quem mais se ocupa (ou se ocupava) do livro pode ser responsabilizado por esse descrédito.

  Os crentes,  antigamente até mesmo chamados de "os Bíblia", tinham-no como livro de cabeceira, à mão nas ida e volta às igrejas, nos cultos domésticos, pelas classes da Escola Dominical, nos estudos bíblicos semanais, de novo na igreja, e nas "reuniões de treinamento", dos departamentos da igreja, uma hora antes de cada culto noturno.

  Sim, tudo isso: era estudo intensivo da Bíblia.  Ontem comemorou-se o denominado Dia da Bíblia.  Preguei, mas dizendo que todo dia é dia de Bíblia. Falei de Lutero que, enquanto curtia um retiro obrigatório de fuga, escondido da gana da Igreja Católica, aproveitava esse tempo para traduzir a Bíblia para o alemão.

   A coisa pegou de um jeito que começaram a traduzir Bíblia para tudo o que língua. Alguns mais loucos, inclusive, dedicaram uma vida inteira visando traduzir até para línguas indígenas.

   A Europa se tornou pós-cristã porque desmereceu a Bíblia.  Foi a partir de lá que ela começou a ser espalhada pelo mundo. A primeira Sociedade Bíblica, para tradução  e distribuição de Bíblias, foi a britânica, fundada em 8 de março de 1804.

   Tenho em casa Bíblias antigas, escrito lá na última página Printed in London, "impressa em Londres". Bíblias que eu lia e meu pai explicava: "Meu filho, foi impressa em Londres, em português, e enviada para cá (Brasil)". Meu pai me estimulou a ler a Bíblia.

   Mas a Europa abandonou a Bíblia por causa do aleijão de Deus.  Explico. Retirou-se da Bíblia a capacidade de Deus realizar os milagres que nela estão descritos. Um apenas garante-se ter Deus realizado: ter ressuscitado o defunto Jesus no terceiro dia.

   Ora, mas também, se não fizesse pelo menos esse, seria o Deus totalmente desqualificado. E, como argumenta Paulo aos coríntios, seríamos acusados de falsas testemunhas contra Deus, afirmando ter ele ressuscitado o Filho, quando jamais o teria feito.

   Ontem preguei sobre a entrevista de Maria com o anjo Gabriel. Ora, mas eles, os anjos, realmente existem? Houve esse que entrevistou Maria? Essa história é real, histórica, factível, ou ilustrativa, inventada, recurso literário? Existiu um Lucas? E se, sim, existiu, o "médico amado", teria escrito esse evangelho que leva seu nome?

   A Europa toda já decidiu. Pôs a Bíblia no seu devido lugar. Curou Deus de seus aleijões. Ele, o Altíssimo, deve mesmo ter ressuscitado o Filho, e olhe lá, ao terceiro dia, mas depurada está a narrativa restante de todo e qualquer milagre chulé. Afinal, Deus tem uma imagem a zelar. E se a gente não atualiza a imagem dEle, poxa, pelo menos para isso esses protestantes devem prestar.

   A velha Bíblia,  o velho Livro, cada vez menos lido, tem sofrido uma crise de credibilidade.  Pobre Lutero.  Saiu por lá com uma de Sola Scriptura. Pois caíram mesmo foi de sola em cima da Escritura. Somente sendo muito crédulo para ler (e crer).

   Ah, sim: eu ia até me esquecendo: Jesus repete duas vezes nessa parábola: "estava morto  e reviveu, estava perdido e foi achado". Coisas que o Livro diz que Jesus veio fazer, ou seja, ressuscitar os perdidos que nele crerem. Coisas do Livro. Pelo menos isso.

sábado, 13 de dezembro de 2025

Antigo Testamento - Luiz Sayão

 1. Aula 1

https://www.youtube.com/live/RDCQombCuGw?si=gmQJRqbstQiu1ks9

2. Aula 2

https://www.youtube.com/live/YXvcT47aT_U?si=WHtFAOG584hjCroc

3. Aula 3

https://www.youtube.com/live/26yRsqqYoYY?si=G2UvCoWakaV72ZZi

4. Aula 4

https://www.youtube.com/live/mAqGe3yMThA?si=W0UIFo67BCRcAn_q

5. Aula 5

https://www.youtube.com/live/eRzhthH1Np4?si=UrUyE0jZzvfWUP61

6. Aula 6

https://www.youtube.com/live/2_bYTuBwRl0?si=VtCB8NL3Et4BTjyt

7. Aula 7

https://www.youtube.com/live/WInUH1EmIqE?si=w6lYNYoAcKWdGg6S

Sem título (ou "Síndrome de Jonas 2", ou "Por uma nova reforma", ou "Neoprotestantes" ou "Deixa pra lá"")

Trecho do opúsculo devocional 
"Cuidado com o alemão", Tiago Cavaco

 Jonas nos defronta. Porque,  como ele, desejamos o comodismo. Ao contrário da exortação paulina, conformamo-nos, ao inverso,  a este século.

  Por que Jonas não quis encarar Nínive? Nínive está aí.  Vivemos dentro dela. Somos como Jonas. A única diferença é que nossa viagem é uma fuga conceitual.

   De que medo Jonas, ou nós em Jonas, fugimos? Seria da radicalidade do amor de Deus, que agora pensamos  que foi, exclusivamente, dirigido a nós?

   Ou não sabemos o que pregar aos ninivitas? Como diz Cavaco, a palavra que nos engoliu e agora nos vomitou de volta no mundo, dela perdemos o efeito e não mais acreditamos no seu poder?

   Teremos vergonha de expô-la, porque não mais acreditamos em milagres e ela, a palavra, remete a milagres. Porque o que chama(ávamos)mos "Palavra de Deus", o velho Livro, diluiu-se em nossa hermenêutica e em nossa homilética.

  Não pregamos a Nínive, porque somos Nínive e estamos aguardando um Jonas que não virá, porque fugiu, porque somos nós mesmos.  Talvez seja por isso que Jesus, um dia, falou que Jonas se constitui num sinal.

   Jesus foi Jonas em Nínive. Não fugiu. Mas a cidade o matou. E ele ficou três dias no ventre da terra. E ressuscitou de volta. Paulo repetiu isso aos coríntios, dizendo ser o cerne do evangelho.

   Que poder, então, há nessa palavra? Devemos repetir para nós mesmos? Acreditamos nisso, ainda? Devemos repetir aos ninivitas? Ou no nosso novo modo de entender "igreja", ela é nosso navio de fuga?

   Estamos no porão, dormindo, nem orando (como o publicano orava, não, talvez como o fariseu, descrevendo a nós mesmos o quanto somos virtuosos).

   Talvez venha a tempestade. Teremos de sair do navio. Para dizer aos ninivitas que a religião deles (e nem a nossa) vai salvar ninguém. Repetindo a história ao inverso.

  Não vai adiantar orar a todos ou a qualquer deus/Deus. Como Jonas, vamos esperar que ninivitas venham perguntar por nossa ou, se há em nós, (alguma) fé?

    Temos o que pregar aos ninivitas ou, por descrer dos milagres, não mais enxergamos o sinal em que Jonas se constitui? É possível um Deus de milagres?

   Quais milagres? Somos nós, ou quem são, os que definem, para Deus, que tipos de milagres ele faz(fez)fará? De novo, nossa hermenêutica e homilética virão em nosso socorro?

   É melhor descrer de Jonas, porque nos deixará mais seguros. Afinal, todos nós temos senso de ridículo. Mas, melhor ainda, será manter a fé em (em quê?) Jesus.  Porém, esquecendo de que Ele tenha apontado Jonas como sinal(?).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Lendo o Lucas em dezembro - Advertência à raposada

 ³² "Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei." Lucas 13.

   Os fariseus, cujo esporte preferido era importunar Jesus, resolveram usar uma suposta ameaça de Herodes para o intimidar.

  Com uma resposta, Jesus descarta o argumento deles e demonstra ter medo zero das intimidações do pretenso governante.

  Divertido ver Jesus, de modo indireto, pelo recado farisaico, dirigir-se nesse tom a um político de seu tenpo.

    E o fato de mencionar a raposa, destaca a função predadora dela, perfeitamente adequada à linhagem idumeia de governantes, desde Herodes, o Grande, que pretendeu assassinar Jesus ainda quando bebê.

¹⁵ "Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor." Cantares 2.

   Avisem a todas as raposas de plantão que Jesus tem uma agenda e não vai alterar.  E tal advertência serve para todos os que fecham com Jesus e sua doutrina.

    Digam a todas as raposas de plantão que Jesus continua cumprindo sua agenda, por meio da igreja que edificou. Linha direta, por fé, na funcionalidade dos dons que ele mesmo distribui.

   Para quem não enxerga ou, polidamente enxergando, não valoriza, construindo sua vida à parte dessa conduta, será indiferente para si a agenda de Jesus.

   Não digo que seja um(a) raposa, do tipo herodiano, mas que segue indiferente isso será impossível de negar. A prioridade de Jesus ele a indicou em sua primeira jornada.

¹⁴ "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, ¹⁵ dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Marcos 1.

   Isso mesmo. A prisão, de onde nunca mais sairia, de seu meio parente João Batista, certamente alertou que seu destino não seria muito diferente. Somente não seria assim tão logo.

   E o que Jesus saiu, pela Galileia, proclamando, até hoje (e até o final, literalmente) tem idêntico valor e atualidade. É melhor crer nisso, sua raposa. 

  Ou seja, arrepender-se e crer no evangelho. Trata-se do evangelho de Deus (prioridade e não há outro), o tempo, esse mesmo, referido é um enorme parêntese, compasso de espera e prenúncio da eternidade.

  E o reino de Deus, sim, sempre foi de Deus, está (duplamente) próximo: perto, ao alcance, assim como prestes à sua definitiva consumação.

   E, vejam bem, a morte de Jesus, pela visão humana, pode ser até encarada como indigente. Ora,  ora, se foi mesmo histórica, apenas mais uma, desprezível entre tantas outras crucificações na história do império romano.

  Mas, teológica ou divinamente falando, é melhor levar em conta. Consta na agenda de Deus. E uma corja de raposas, ou seja, uma raposada ainda expressou sua espupidez, em nível de desprezo:

²⁵ "E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!" Mateus 27.

    Mas caiu.  Sim, caiu: esse sangue caiu sobre a cabeça deles, mas não somente de todos aqueles, mas de todos em todos  os tempos, em todas as épocas. Está na agenda de Deus.

    E caiu por dois lados. Apenas dois. Consta na agenda. O sangue cai sobre todos, mas numa parte constitui juízo, para a outra, salvação. Cheiro de vida ou cheiro de morte: somente duas opções. 

¹⁵ "Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. ¹⁶ Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?" 2 Co 2.

   Diga isso a todos os(as) raposas. É melhor levar em conta a agenda de Jesus. Sim, ele te insere na agenda de Deus. Será bem melhor o batismo nela. Marca uma audiência com Ele. Não seja um(a) raposa (a mais).

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Lendo Lucas em dezembro (sem tropeços)

²² Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem,os coxos andam, os leprosos s"ão purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres,anuncia-se-lhes o evangelho. ²³ E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço." Lucas 7.

   Há quem, segundo fica bem evidente, tem compromisso com a incredulidade. O ruim disso é que o autor de Hebreus denucia que nunca ocorre isolada a falta de fé. Vem associada a um coração perverso:

¹² "Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo". Hebreus 3.

  Sim, a incredulidade nunca vem impune e nunca está sozinha: sempre associado a ela um coração perverso. É sintomático. Embora Lucas, reiteradamente, afirme que a ênfase de Jesus não são os milagres, mas sim a pregação da palavra, quando João Batista pediu confirmação, Jesus apontou os milagres.

   Porque esse método, segundo nos lembrou Pedro, no primeiro sermão pregado após a ressurreição de Jesus, naquele Pentecoste, indica que milagres, realizados por Deus,  por meio de Jesus, autenticam-no como Filho:

²² "Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis". ²³ sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ²⁴ ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela." At 2.

 Deus não é capenga. Triste esse compromisso estúpido com este século, de que Deus é incapaz de milagres: porque, como dizem, são ilógicos e contrariam a ciência. Paulo recomenda, aos Romanos, que não haja esse tipo de alinhamento com a burrice humana:

² "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Rm 12.

  Mas seguem, ao que chamam lógica, negando a Jesus essa capacidade de realizar, segundo o mandado que recebeu do Pai, milagres, prodígios e sinais.  De novo, Paulo a Timóteo expõe o diagnóstico deles, em relação ao que concebem sobre Deus:

⁵ "... tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder." 2 Timóteo 3.

  Bem, segundo o próprio Jesus expõe,  em seu diagnóstico, são mal aventurados, ou seja, o contrário da bem-aventurança, porque tropeçam em sua própria (des)aventura de descrer da possibilidade de Jesus realizar milagres.

  Para esses tais, o sinal indicado por Jesus, que atendeu à solicitação de confirmação, da parte de João Batista, não terá valor. Três possibilidades:

1. Falso o Jesus que alega ter esse poder; 2. Errante a possibilidade de Deus autorizar o Filho por meio de milagres, prodígios e sinais; 3. Burlesco o texto do Evangelho de Lucas, visando valorizar milagres, dados como certificação.

   Ficamos com a palavra final de Jesus, atestando-a autêntica, pela pena de Lucas: "E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço." E sigamos lendo Lucas, passo a passo (sem tropeços).