segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Leituras Bíblicas - 4

A visão da vocação
   Isaías assinala sua vocação ou chamado por uma visão descrita no Cap 6. O que não significa que todo vocacionado terá uma.  
    Nesse contexto bíblico, ela é didática, definindo para o profeta e para nós mesmos aspectos da (1) própria vocação, (2) da relação Deus-profeta-nós e (3) da missão nossa, espelhada naquela do profeta. 
    O texto divide-se num tripé: 6,1-5 - teofania, isto é, uma visão de Deus; 6,6-7 - consagração do profeta; e 6,8-13 - missão do profeta.  
     Na teofania, fica estabelecida a distância Deus-profeta. Terra e templo, vestes e os serafins esvoaçantes estabelecem o contexto dentro do qual o profeta se vê colocado. 
    A glória de Deus enche a terra, assim como as vestes da visão enchiam o templo. Embora este seja um lugar terreno de representação do Altíssimo, até mesmo os serafins revelam que a santidade de Deus é absoluta e intangível. 
    Eles não cessam de advertir que Deus, o Senhor, é Santo, Santo, Santo, que nem por eles pode ser visto, nem seus pés podem definir que compareçam diante dEle e sua função é voar circunscritos em Sua presença advertindo do temor e tremor perante Ele. 
    Então Isaías mede a si mesmo pela santidade de Deus, vendo-se nu. Clama "Aí de mim", como qualquer um que fosse invadido pelo temor do Senhor. Isso demarca a ação de Deus a seu favor. 
    Se ele se considera impuro no falar, como indica Tiago no Cap 3 de sua epístola, não é pecado localizado. Mas que enche toda a vida. Deus interpela o profeta. 
    Deus deseja que seja seu emissário, que o envie, que seja Seu apóstolo, portanto, faz o que somente Deus pode fazer. 
    O gesto simbólico, da brasa retirada pelo anjo do altar, como é o batismo no nosso caso, indica a operação específica de Deus na purificação e no perdão do pecado:
    "Vê que isto te tocou os lábios: desapareceu tua culpa, o teu pecado está perdoado". Perdão e remissão de pecado vêm acompanhado de ação de Deus na vida do pecador.  
    Surpreendido, ele atende ao clamor do Altíssimo, que é permanente: "Quem há de ir por nós?". O profeta não pode negar. Ele mesmo se queda surpreso em responder: "Eis-me aqui, envia-me a mim". Estão em oposição as expressões "Ai de mim"/"Envia-me a mim". Deus ocupa o intervalo.
    A missão revela o dilema de Deus, o dilema do profeta e o dilema da mensagem. Esta é clara. Representa todo o recurso de Deus. O profeta é o porta-voz. Os verbos que descrevem a ação profética, todos se referem à conversão do pecador. 
    Ouvir, para (não) entender. Olhar, para (não) compreender. (Não se) converter, para (não) ser salvo. Torna insensível o coração, endurece os ouvidos e cega os olhos. 
    A mensagem de Deus, se não for acompanhada pela fé naqueles que ouvem, como diz o autor anônimo da epístola aos Hebreus, de nada aproveita. "Até quando?", pergunta o profeta. 
    Desmoronem-se as cidades, despovoem-se, fiquem as casas desabitadas, os campos devastados, sejam afastados os homens e cresça, no país, o desamparo.
   Por tudo e por quantas vezes, como sinal ao próprio povo de Israel e às nações isso já ocorreu. Ainda que somente reste o dízimo da quantidade de homens, uma semente santa há de brotar. 
    A princípio, desprezível, brotando como renovo de uma terra inóspita para a fé: "sem presença ou beleza, sem aparência ou formosura, nada que atraísse o olhar ou que cativasse atenção".
    Raiz de uma terra seca, como é o coração humano em sua luta contra si mesmo. O broto é Jesus. O restante fiel é o dízimo entre os que creem. Somos apóstolos e profetas dessa mensagem. 
    Entre o nosso "Ai de mim" e o "Envia-me a mim" está Deus, para nos enviar como Seus apóstolos e profetas. Eis-nos aqui, envia-nos a nós, responda, igreja!

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