quarta-feira, 15 de julho de 2020

Nosso menino Cavuca

    

    A gente aqui da igreja chamava de menino o Cavuca. Josibias Cavalcante Chaves. Cavuca, o apelido carinhoso.
   Chamava de menino, talvez, pelo tamanho. Mas não era só isso. A esperteza também, com os olhinhos sempre assuntando as coisas.
   Cavuca não tinha sossego no trabalho. Para o que nós o contratamos, como manda a lei, carteira assinada e tudo o mais, ele sempre fez muito mais do que o esperado.
   Nosso caseiro. Tudo muito limpinho. A grama a dois dedos do chão. Folhas que caíam, recolhidas logo. Arremates por fazer, como a cinta por cima do muro, no perímetro do terreno, era deixar com ele e descansar. 
    Material, dinheiro na conta dele, prazo de trabalho, fiscalização de tempo e qualidade, tudo com o Cavuca, sem nenhuma preocupação. Nem precisava perguntar onde era mais barato, porque ele já sabia. 
    O camarada das grades atrasou a entrega. Ele foi lá e deu prazo. Ligou, justificando os problemas que o rapaz teve. Ele mesmo deu prazo final e me avisou. Eu disse, Cavuca, sem problema, está bom, veja isso aí você mesmo. 
   Era um contador de histórias. Claro que foi um menino pirracento. Cavuca não teve só acertos em sua vida. Isso porque, nesse sentido, era igual a todo mundo.
   A Bíblia diz isso: quem fala que acerta todo o tempo está mentindo. Mas os amigos e conhecidos de Cavuca que, desde muito tempo o acompanhavam em Rio Branco, não pensaram 2 vezes em indicá-lo para a sua função entre nós da igreja. 
    Principalmente Lúcia e Jorge, amigos de longa data, garantiram que ele seria e pessoa certa. E foi muito além da expectativa de todos. E sempre mais do que um simples funcionário. Amigo. Todo o tempo Cavuca foi nosso amigo. 
    Conquistou nossas crianças e toda a vizinhança à volta também. Para isso adquirimos a chácara: para alcançar as crianças do bairro, procurando encaminhá-las nas escolhas, caminhando com Jesus. 
    E, aos domingos, quando sentávamos com elas, sentávamos támbem com o Cavuca. A gente estava estudando Atos dos Apóstolos. Explicávamos a ele como era continuação da revelação de Jesus Cristo no e por meio do evangelho. 
   Ele ouvia atento. Mesmo que fôssemos só ele, eu e a pastora, que era como ele chamava minha esposa Regina. Todo domingo esperava os quitutes extras que ela levava. Fossem umas bistecas a mais, algum doce ou o famoso bolo cuca. 
    Tínhamos que recomendar a ele que não comesse todo, de uma vez, aquele guloso! Sentado ouvindo a Bíblia, às vezes, aliás, muito frequentemente, seus olhos marejavam com lágrimas. Eu fingia que não percebia.
   Acho que, ali, ele estava absorvendo a mensagem e focando em fases da vida em que deve ter agido desse modo pirracento. E como diz a própria Bíblia, não deixamos de lhe falar toda a mensagem.
    Sejam os aspectos positivos, sejam os menos agradáveis, como quando a mensagem diz que, sem arrependimento dos pecados, não dá para caminhar com Jesus. Arrependimento e confissão de pecados é o lado mais doloroso, mas essencialmente necessário. 
      Falou dos filhos. Eu agora descobri que não falou de todos. Mas ficamos conhecendo mais da metade. E Josy, a caçulinha do primeiro casamento, representou muito bem todos os outros. 
    Já havia estado aqui com o esposo e sua filhinha. Desta vez, veio para cuidar do pai. Incansável, cuidadosa e dedicada. Os momentos mais difíceis, ela viu de perto. Irmãos da igreja dividiram com ela essa ajuda, mas ela encarou, com coragem, o principal. 
    Por isso dizemos que ela representou muito bem toda a família. A mana Alzira veio, com o esposo e o mano Josafá, de Manaus a Rio Branco, pela estrada, mais de 1.400 km, para ver Cavuca. O sobrinho Jorge veio três vezes de Rondônia, cidade vizinha a 540 km daqui.
    Não medimos esforços. Gratidão à grande amiga Regina, a Japonesinha, do Cavuca, que há muitos anos o ajuda em todas as horas, nesta e em outras enfermidades, como na época da cirurgia na vizinha Bolívia. Gratidão à Dra. Alina, cardiologista, e sua secretária Renata: competência, dedicação e diligência no cuidado com esse paciente.
    Numa das conversas que teve com a mana Alzira, os dois falaram em perdão. Esse é o principal sentimento de Deus. É fruto do amor. Não é fácil perdoar. Mas a Bíblia recomenda que, se formos perdoar, que seja como Deus perdoa. 
    Só existe esse tipo de perdão. E, para praticar, só aprendendo com Deus e praticar com a ajuda dEle. Cavuca falou em perdão. Pode até não ter tido o tempo e a oportunidade que desejou para praticar. 
   Mas também, nós ofendemos, tanto, a Deus e, consequentemente, a tantos e tantas vezes à nossa volta, que nem lembramos de todas as mágoas que nós mesmos provocamos.
   Somente Deus para nos ensinar a perdoar e a ter coragem para pedir perdão. O olhar da foto do Cavuca, acima, indica a disposição que o menino tinha para ouvir, assuntar, contar histórias e aprender sempre. 
    O "tá legal" da foto abaixo, na esperança que ele teve, Josy desejou e todos da igreja e da família pedimos a Deus para que ele saísse de mais essa, foi atendida em parte. A gente preferia o Cavuca, de novo, na rotina com que conquistou a todos nós. 
    Deus, o Pai, quis o menino assuntando com Ele, na congregação do céu. Tá legal, Altíssimo. Mas vamos seguir em frente, seguindo Jesus, na parte que nos cabe, como meninos, porque Jesus disse que, quem não se faz como criança, não vê e nem entra no reino de Deus.


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