domingo, 10 de abril de 2022

Perfil de vida na (como) igreja

     Paulo, na carta aos Filipenses, ao mesmo tempo que traça, na introdução, um esboço de perfil para o que o crente deve esperar de si mesmo, traça, na continuidade de seu argumento, um perfil de igreja para esse crente:

     Perfil de crente:
E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus. Filipenses 1:9-11.

     Perfil de igreja:
Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Filipenses 2:1-3.

    Tanto um, quanto o outro obra de Deus, com o selo de garantia e identidade, ou simulação humana. Não nos compete ser fiscais dessa autenticidade nos outros: cabe a nós conferir se em nós ocorre o modelo autêntico ou o simulado.

    E Paulo, como que concluindo essa unidade inicial de sua argumentação, sugere aos Filipenses o que empenhar, de si mesmos, em sua prática cristã:

1. Ter em si "o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus", 2,5:

   a) inicia com a tristeza segundo Deus, 2 Co 7,10. Aqui está indicado o processo contínuo pelo qual alguém está, verdadeiramente, convertido: tristeza segundo Deus > arrependimento > salvação, encadeadas e uma produzindo e sequenciando a outra;

   b) dá seguimento com a bondade: aqui podemos lembrar o jovem rico, Lc 18,18-19, que aprendeu ser Deus o único bom, e também lembrar Rm 2,4, onde confirmamos que é a bondade de Deus e não a nossa que conduz ao arrependimento;

   c) e Rm 5,5, onde Paulo nos indica e confirma que o amor de Deus nos é derramado no coração, pelo mesmo Espírito que também é derramado desde Pentecoste. O fruto do Espírito e não os dons do Espírito é que confirmam nossa identidade.

     d) e a humildade, a 1a bem-aventurança, um conjunto de virtudes na Bíblia apresentadas, que também autenticam nossa identidade: ela nos coloca, em relação a Deus, no nosso devido lugar, Tg 4,7-10.

     Neste texto Paulo reafirma o princípio bíblico de que ser, autenticamente, igreja, é ter identidade com Cristo. O que significa, em Atos, ser testemunha, At 1,8.

     A segunda recomendação de Paulo é desenvolver a salvação. Não é estática, mas dinâmica, pois, se verdadeira, não estagna, mas se desenvolve. E Paulo alinha as razões e o modelo desse processo:

  a) "desenvolver a salvação com temor e tremor": desenvolver, no grego, significa "pôr todo o esforço". Kata + ergo. E temor é tremor representam dois graus de seriedade, mais ainda, de santidade, e Paulo vai expor por quê:

   b) porque Deus efetua em nós (ou quer efetuar) a sua vontade: Paulo diz o "querer e o realizar". Ele já havia mencionado assim em 1,6, assim como em Rm 12,1-2.

     Ser autenticamente igreja significa ter em si o mesmo sentimento que também Jesus teve e desenvolver a salvação, com temor e tremor, porque Deus opera (ou deseja, porfia por operar) em nós a Sua vontade.

     Igreja é a autêntica ação de Deus em nós. E Paulo indica nosso lugar de atuação. Reafirmando que murmuração ou contenda não podem contradizer o que está dado à igreja ser, acrescenta que estamos:

   a) em meio a uma "geração pervertida e corrupta", 2,15. O lugar onde a igreja floresce é hostil a sua presença. Lateralmente geração torta e invertida. Perverter é levar ao caminho errado, corromper, virar, verter ao inverso.

   b) nesse contexto a igreja é chamada a ser: b.1) irrepreensível;  b.2) sincera; b.3) inculpáveis filhos de Deus; b.4) luzeiros no mundo. E Paulo arremata indicando que somos sentinelas da palavra de Deus, 2,16:

"...preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente". Filipenses 2:16.

     Como em Hb 2,1:

"Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa".

    O profeta vai completar indicando que a resposta de Deus para a sua perplexidade e vanguarda em ser sentinela é a vida por fé, contraponto da soberba.

    E com a qual se experimenta o modo único e verdadeiramente cristão de se viver, na luta e instância contra o pecado:

   a) modelo único de vida: "... logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim". Gálatas 2:20.

    b) instância da luta contra o pecado: "Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer [ou no que fizer sem certeza de fé] porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado" . Romanos 14:23.


  


Nenhum comentário:

Postar um comentário