sexta-feira, 18 de maio de 2018

       Inércia

       Já falei sobre isso. Repetitivo, esquecediço e distraído, vá lá, não estou sozinho em meio a essas virtudes. Porém, ainda que atento, esperto da memória e diligente às vezes, por opção de caráter, não fazemos o certo.

       Por isso vale repetir a temática, uma associação entre inércia e oração, porque entende-se trocado, confundida com ser inerte.

       Mas não. Refiro-me ao sentido da física: lei de inércia. Sim, porque é uma lei e daquelas que não se pode burlar.

       Diz que os corpos tendem a manter seu movimento original. Daí você pender para a frente, quando o ônibus freia, ou cochilar, boca aberta, babando, quando o coletivo arranca.

      Entendeu? Cintos de segurança, nos carros, preservam dos efeitos da inércia numa colisão. A tendência é continuarmos projetados para a frente, num movimento bruscamente interrompido.

      Basta uma cabeçada, a 60 km/h, para o cérebro virar uma gelatina disforme, grudada na parte interna da caixa craniana. Morte certa ou sequela garantida. Daí a invenção do cinto, para nos prender rentes ao assento.

      Quando mencionei inércia aqui, textos atrás, quis referir-me ao efeito agora de algum movimento feito antes, lá atrás. Oração, por exemplo. Teria a oração essa função?

      Qual seja, acompanhar, em seus efeitos, os que dela foram alvo anos, décadas, séculos antes?

      Quando Abraão teve aquele bruta pesadelo, Gn 15, pelo qual, entre outras coisas, foi advertido sobre as aflições futuras de Israel, deve ter orado muito assustado com tudo.

        Em que sentido essas orações amenizaram esse sofrimento? Evitar, não evitaram. Deus não estava negociando: comunicava fatos ainda remotos.

       E em Ez 14,14, quando os bons de oração, Noé, Jó e Daniel, nesta ordem, são evocados como intercessores, é porque Deus acusa ao profeta o pecado alheio.

         Afirma que, caso vivessem naqueles dias, em meio àquela geração, escapariam só os três, como dizia o próprio Jó, "com a pele dos dentes", unicamente justos em meio a todos os demais, sem que sua oração a favor do povo fosse atendida.

      Fico pensando, repito aqui, nas orações que Cid e Dorcas fizeram por mim. Agora que miro em meus filhos, entendo um pouquinho melhor a agonia que sentiram, quando eu era tenro, na idade entre 19 e 24 anos.

      Creio que, naquilo em que fui sábio, obediente e fiel ao Senhor, foi possível Deus lhes atender as orações a meu favor. Então, hoje, mesmo que intuitivamente, vivencio efeitos daquelas orações em minha vida.

      Por isso, acho que o limite imposto às intercessões e aos intercessores, como no caso de Ezequiel, está diretamente ligado à relação com Deus daquele que foi alvo dessa mesma intercessão.

      O bruta conflito no deserto, a Crise do Sinai, quando Moisés, ao descer do monte, deparou a orgia consentida por Arão, somente foi resolvido pela certeza de que Deus seguiria no meio do povo.

       Moisés foi o intercessor. Daí a mais fantástica afirmativa jamais registrada: como se saberá que somos Teu povo? Não é por seguires conosco, de modo que todos assim O reconheçam?

       Sigamos em obediência a Deus. Certamente a oração de que fomos alvo poderá se cumprir. Nada há de mágico nelas. Mas, se como diz a Biblia:   
         
       "Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração."
                           Jeremias 29:11-13
   
        Há casos em que, por pura inércia da oração de que fomos alvo, prosseguindo ou quedando inertes, que não seja como diz Paulo Apóstolo, sem Deus no mundo. E caso venhamos a cair, que seja nas mãos de Deus porque, como diz Davi, muitas são as Suas misericórdias.
   

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