quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O pesadelo de Abrão
   
   "E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele".  Gn 15:12
    Entre entender e não entender com clareza as promessas de Deus, de que foi alvo, Abrão altercava com o Altíssimo, sempre procurando referenciais para as certezas que não tinha.
   Em mais essa vez, Deus as repetiu. Mas Abrão não via nexo entre elas, avaliando que a sua condição pessoal em nada apontava para as concretizações que deduzia.
    Mesmo assim, as Escruritas assinalam que ele creu em Deus o que, para o Altíssimo, significa justificação, em todos os sentidos. 
    Uma vez, pelo próprio Altíssimo, atestada a fé, é imputada justiça ao que crer. Mas isso não impede que pesadelos assaltem os que creem.
   Aliás, é bom que creiam: a superação dos pesadelos virá, cedo ou tarde. Nessa conversa-crise entre Deus e Abrão, o Altíssimo falava do cumprimento das promessas antecipadamente feitas ao patriarca. 
    Mas Abrão não entendia a amplitude delas. Deus usava a vinculação étnica dele com os descendentes que nem tinha, como prova física concreta, para dizer que a bênção que o patriarca não enxergava, com clareza, alcançaria, não somente sua família de DNA mas, família de fé, todas as famílias da terra.
    Não antes sem pesadelos. Muitos, pelos quais o próprio povo que dele descendeu vivenciou, ao longo da história. Para mencionar dois, na antiguidade, os exílios das 10 tribos do Norte, capital Samaria, em 722 a. C., sob os assírios.
    Do mesmo modo, o das tribos do Sul, capital Jerusalém, em 587 a. C., pelos babilônios. E, já na chamada "idade moderna", inclua-se o quase extermínio sob a opressão nazista, no período que medeia 1933 a 1945. Haja pesadelos.
    O salmista, num dos pequenos cânticos de romagem, Salmo 126, relembra que "quando o Senhor restaura a sorte, ficamos como quem sonha". Não há como evitar os pesadelos. 
    Assim como não há como evitar que, pior do que pesadelos, a realidade nua e crua nos avassale com tragédias sem nenhuma lógica ou justificativa, como foi na covardia de Caim.
     Ao ser humano cabe transformar pesadelos em realidade. Esta é a avaliação das Escruritas: "E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente". Gn 6,5. Essa é a realidade. 
    O pesadelo de Abrão foi constatar que mesmo o povo de Deus atravessa esse deserto. Mas Deus lhes restaura a sorte e ficamos como quem sonha. "Restaura, Senhor, a nossa sorte". Sl 126,4.

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