sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Excelentíssimo Teófilo

     Provocativa essa introdução de Lucas, o Evangelista, a sua dupla obra, quais sejam, seu Evangelho, por assim dizer, e seu esboço de história da igreja.

    Neste último, como ninguém, antes ou depois dele, escreve o essencial para assinalar que o que Jesus Cristo prometeu, textualmente, no outro Evangelho de seu amigo Mateus, Ele cumpriu: edificou (e continua a edificar) Sua igreja.

     Lucas põe em sua dedicatória toda uma expectativa. Acho interessante constatar que ele, focando o Excelentíssimo, na verdade foca para além dele. Escreve ao seu amigo Teófilo, de nome deveras sugestivo, Teo = Deus e filo = amigo, um livro de uma enorme expectativa.

    Vale a pena ler e cotejar, reflexivamente, o que ele diz. Põe em sua introdução, panorâmica, em termos explicativos, de sua empreitada, o esboço de suas pretensões. Chama a atenção para o Seu método e onde pretende chegar com ele.

     E aí se confirmam as suspeitas que deseja, na verdade, escrever para além de Teófilo ou, quem sabe, sua intenção deliberada é tornar a todos os seus leitores "Teófilos", quer dizer, amigos de Deus.

    A todos os que se debruçarem sobre suas anotações, que ele mesmo classifica como ordenadas, desde suas fontes, de forma criteriosa, analítica e fidedigna. Por isso, ele mesmo assinala, aptas a formar o leitor em toda a verdade dos fatos.

     Lucas projeta Teófilo e, para além dele, para cada leitor, e além de cada leitor, nessas suas duas obras. Chamada, a primeira, tipicamente "Evangelho", é exatamente o que esse título representa: uma notícia. E que notícia! Que boa notícia!

    Para se ler e não se conter, em si mesmo, com sua leitura. É para além se si próprio, é notícia para ser espalhada. Livro aberto, para além de uma simples dedicatória pessoal, sim, pode até ser considerada pessoal, mas é para todas e cada pessoa.

     O que Lucas diz a Teófilo, no trecho final de sua introdução, é para cada um: "...para que tenhas plena certeza das verdades em que fostes instruído". Alguém antecipara-se a Lucas, no trato dessas verdades.

    A notícia já havia chegado a Teófilo. Lucas queria calçá-las, de modo preciso, em seus fundamentos. Quanta expectativa Lucas põe em sua duas obras. Quando dá continuidade, no segundo livro, ao primeiro --- leia lá, repita a leitura, não se largue dela.

     Quando dá continuidade, Lucas faz breve menção de que está continuando, num rápido e necessário vocativo, ó, Teófilo, rememorando a descrição anterior, para logo nos empurrar para dentro dessa nova narrativa.

     Um mestre, esse Dr Lucas, o médico amado, como a ele se referia o apóstolo Paulo. Cumpre-se sua plena expectativa. A gente não consegue se desgarrar de sua narrativa. No que ela tem de específico, como acontece na variedade de exposição nesse diálogo entre Evangelistas.

     Assim como no que os quatro tem em comum, atestando, entre si, plenamente, "as verdades em que foram instruídos". Valeu, Dr Lucas. Achaste entre o tempo de teu mister tempo para nos contar suas histórias.

     Alguém se antecipou a Lucas, em relação à Teófilo. Nem sabemos quem se antecipou a quem, em relação a Lucas, para torná-lo curioso no que diz respeito a seu tique de historiador. Delicia-nos o mergulho em cada trecho dessas duas narrativas.

      O que não coube, em si, de atenção e ansiedade em compartilhar com seu amigo, também não deve caber em nós. O que Lucas escreve tem destino certo e específico a qualquer e cada um leitor, mas é feito para extrapolar.

    Me lembra as palavras do hino: "Repeti-mas, inda outra vez, belas palavras de vida/Acho nelas conforto e paz, belas palavras de vida". Valeu, Dr Lucas: seus dois livros continuam a espalhar paz, por meio de sua boa notícia, a quem neles se debruça para, de novo, ler.

     Grato por sua dedicatória. Ela e o conteúdo de suas obras nos tornam Excelentíssimos: são "belas palavras de vida".

Um comentário: