sábado, 14 de setembro de 2019

Máscara

Quem é você?
- Adivinha, se gosta de mim!
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
                             (Chico Buarque)
        Procurando essa letra, achei quase umas 10 começando assim. Algumas eram de gente gospel. Mas eu preferi esse profeta profano. 
      Às vezes, quer dizer, talvez mais frequentemente do que gostaríamos, estão falando melhor. Nesse caso aí em cima, destaco a pergunta e a condição de mascarados. 
     Quem diz ser fácil responder "quem é você?", é porque não entendeu a pergunta ou está fugindo dela. Somos mascarados. Então, como responder?
    Certas atitudes, na condição humana, generalizam-se. Uma delas é a máscara social. Mas não se pode negar que há gente transparente. 
    Serão, prontamente, declaradas hipócritas, ingênuas ou soberbas. Essa primeira alcunha, razão de que dirão ser simulação tal transparência: fingem-na, portanto são, sim, mascarados. 
     A segunda alcunha adverte de que quem age de modo aberto, só pode ser simplório, pois na vida não existe espaço para gente assim. A não ser que queira se fazer de tola.
     E a terceira, porque querem aparecer, posar de sinceros, ou seja, planar acima dos outros e escolheram essa simulação de conduta como "virtude".
    Jesus era um sujeito transparente. E não tinha nenhuma das três alcunhas acima indicadas. Não era hipócrita, ingênuo ou soberbo. Tinha uma só cara, era, como ensinou, "símplice como pombas, prudente como serpentes" e humilde. 
     E viveu, também, para ensinar que retirássemos nossas próprias máscaras. Caíram as máscaras. Se alguém pretende dizer-se portador de relação com Jesus, refiro-me a dizer comunhão, aliás, a única relação possível, caiu a sua máscara. 
     Porque se ainda se luta contra mantê-la, reluta-se em retirar, será necessário rever se, verdadeiramente há, com Jesus, comunhão. Ou se apenas se tornou "Jesus", gospel trademark.
     No filme O Máscara, retirá-la era agonizante. Bom que isso represente um processo. Que talvez seja demorado. E tenha íntima relação com o que, na Bíblia, está definido como luta de si contra si mesmo. 
     Não confie em quem não trava, diuturnamente, essa luta. Porque se diz que não ou a simula, é mascarado. Votando ao homem sem máscara, o dia a dia de Jesus, descrito em algumas cenas dos Evangelhos, revela-nos essa personalidade. 
     Limpar somente o exterior ou ser um sepulcro caiado, expresso aos fariseus, e o "vai e chama teu marido", dirigido à samaritana, são três exemplos de situações em que Jesus reclama autenticidade.
    "Quem é você, diga logo, que eu quero saber o teu jogo", repete o profeta profano. E a letra vai justificar, completando:  "Mas é Carnaval!/Não me diga mais quem é você!/Amanhã tudo volta ao normal./Deixa a festa acabar,/Deixa o barco correr".
     É uma solução. Seja gospel. Deixa o barco correr. Vai ver que a máscara, como no filme, permite que sejamos o que quisermos ser. E a vida vire um Carnaval.

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