quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Um Jesus para cada consumo

Um Jesus para cada consumo
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      Certamente as Escrituras indicam um perfil definitivo e suficiente para definir sua principal personagem: Jesus. 
      E o acesso a ela democratizou-se com a Reforma, do séc XVI, quando versões em línguas nativas chegaram às mãos do populacho.
     E a partir de então, ciências para uma interpretação segura do texto também se popularizaram e foi natural que houvesse, aqui e ali, discordâncias de pontos de vista e, historicamente, grupos de diferentes nomes e vieses se formassem. 
    Surgia(m) a(s) ortodoxia(s), ou seja, reivindicações, a partir de cada diferente visão, de linhas bem definidas de síntese e resumos de pontos de fé: quem as professasse estaria quites e bem ajustado à verdade.
    Aplique-se a Jesus e teremos o primeiro perfil de consumo. Qual é a visão ortodoxa de Jesus? Poderíamos pensar, de início, a partir de que ponto de vista? Qual ortodoxia? Dele mesmo? Qual a crítica que Jesus faria a respeito dessa busca humana pela ortodoxia?
    E que outro perfil podemos estabelecer? Talvez o mais popular. Jesus, o homem das massas, do povo, dos marginalizados. Então, o perfil verdadeiro, bem claro e definido viria a partir dessa classe. Precisaríamos estar atentos, de olhos e ouvidos bem fixados, porque a partir deles emergiria a visão precisa do Cristo.
     Ou quem sabe, para ficar nessas três, uma visão mais acéptica, certamente mais precisamente ortodoxa, puritana, quem sabe, escolástica, com certeza, a partir de uma camada  mais ilustre da sociedade, que mais naturalmente reuniria condições, em todos os sentidos, para formar e enunciar um perfil final do Mestre. Uma visão burguesa, diríamos.
     Um mosaico ortodoxo-marginal-burguês de Jesus, para ficar nessas três, sem antecipar o perfil carnavalesco 2020, já delineado na mídia, ou ainda sem comentar o perfil Netflix, ao gosto da comunidade LGBT e mais letras.  Jesus para todos os gostos. Sem mencionar, do mesmo jeito, o perfil neopentecostal, confirmado a partir do sobrenatural, insofismável, apenas questionado por incréus.
     Na conversa com a samaritana Jesus procurou definir seu perfil. A cada conversa nas Escrituras, uma busca por definição, que é um jogo, com peças bem (in)definidas. Certa vez ele disse que seus patrícios escarafunchavam as Escrituras pela vantagem pessoal de auferir vida eterna. Mas não queriam ir a Jesus para ter vida.
     O perfil de Jesus está definido nas Escrituras. Ela é um livro, de uma vez por todas, dado aos homens (e mulheres). Na maioria das vezes, escrito por gente do povo, alguns intelectuais, talvez mulheres anônimas, traduzido desde a antiguidade para que fosse acessível. 
    Ir a Jesus significa procurá-lo, sim, é possível  encontrar. Sempre nas (e pelas) Escrituras. Sempre encontrá-lo a partir de quem já fez a leitura, creu e o conhece, porque antecipadamente o encontrou. Não adianta achar que do encontro com Jesus alguém vai retornar sem perdas. Vai perder tudo, para ganhar Cristo.
    Daí que sua definição ou perfil não cabem nem na ortodoxia, nem na democracia racial, classista, popular, genérica dos marginalizados ou na pretensa crença classuda e impositiva dos bem nascidos. Porque quem encontra Jesus tudo perde. Tem que perder sua vida. Terá de renunciar a tudo. 
     Paulo apóstolo disse "deveras, considero tudo como perda por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar Cristo e ser achado nele sem justiça própria".
    PP - Procedimento Padrão. Não há como se fundir a Cristo, como ser batizado nele sem perder todas as coisas. Desculpem, quem defende toda(s) a(s) ortodoxia(s). Ou quem, sem reservas, defende todos os direitos dos oprimidos. Ou que se impõe, porque está acima de todos os outros, equiparado somente a seus iguais, na faixa de cima acima de todas as outras. 
    Não há como se aproximar de Cristo e voltar sendo o mesmo. A samaritana entendeu isso.  Voltou aliviada por entender isso. Zaqueu entendeu isso. Desceu de seu falso patamar, para igualar-se a todos, porque entendeu isso. A prostituta na casa do fariseu derramou sua vida: broken and spilled out, just for love of you, Jesus.
     Jesus, sim, é perfil de consumo. Mas foca na imagem, para não adquirir "gato por lebre". A responsabilidade é individual. Caia sobre nós o sangue desse justo. Caiu sobre todos e cada um. Para a vida ou para a definitiva morte: problema seu, nosso, de cada um.
Letra:

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