sexta-feira, 10 de março de 2023

Minha agenda é outra

"E respondeu-lhes: Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado." Lc 13,32.

   Segundo o clero acadêmico, talvez, sim ou não, Jesus tenha dito o que aí acima vai expresso. Explico.

   Clero acadêmico são os caras, geralmente teólogos, da academia, que atestam se, o que vai nas Escrituras, no caso específico aqui, nos Evangelhos, é ipisissima verba (adoro, ou adoto, como me ajudava o corretor, este termo) de Jesus.

   Essa daí deve ter sido dita mesmo por ele. Geralmente, o que vai assim, meio bruto, não filtrado pelos supostos autores dos Evangelhos, costuma ter mesmo saído da boca de Jesus, ipsis litteris, segundo eles.

   Ah, sim: denomino clero acadêmico num paralelo pseudo-metodológico-histórico com o clero eclesiástico, pré-iluminista. Este, na Idade Média, dizia à igreja, obrigatoriamente, no que crer. Aqueles, normatizam, em termos acadêmicos, no que hoje acreditar.

   Mas vamos à fala de Jesus. O que as raposas🦊, sub-repticiamemte, têm a ver com isso? Antiecológico, como no caso da figueira que secou, tratar de modo tão marginal o bichinho.

   Ora, para se implicar com o que, supostamente, Jesus disse, basta pouco. As raposas só aparecem de modo negativo na narrativa? Em Cantares, destroem as vinhas, de tão meiga e doce imagem proverbial.

   No Brasil, no passado, quando o havia, classificavam toda uma classe política de raposas, satisfatoriamente extinta, devido à vigilância isenta e criteriosa de nosso Judiciário, diga-se de passagem. 

   E aqui, no texto, em resposta, classifica um mocarca de raposa, um hasmoneano, descendente de uma dinastia edomita decadente, a quem os fariseus adulavam e que, no incidente narrado, nenhum interesse tinham em proteger Jesus, mandando-no embora de sua jurisdição.

   Nesse capítulo, Lucas, o pseudo-autor, segundo o clero acadêmico, dá uma panorâmica da diversidade de argumentos que Jesus usava, alhures, por onde passasse, para situar seus ouvintes dentro de sua opinião principal.

   Pois o ponto central nesse caso é o reino, do qual Jesus é o principal sinal, o porta-voz e a porta de acesso. Ele anunciava o reino. Até menciona uma parábola da vinha.

   A qual, na fita, no filme, é sempre Israel, cuidada e cultivada pelo Pai, e se tornará a igreja, pois Jesus mesmo há de afirmar, desta vez no Evangelho do pseudo-João, que é a videira.

   Se raposas assaltaram e destruíram a vinha que foi Israel, não farão, nunca farão o mesmo com a videira que é a Igreja: Jesus o tronco, nós os ramos. Então, disse Jesus, diga àquela raposa, se fosse no Acre, àquela raposa véia, que hoje expulso demônios, curo e ressuscito no terceiro dia.

   Esse Herodes, filho do Grande, tendo herdado do pai o título e a mediocridade, era o Antipas, o mesmo que mandou matar João Batista. Data daí chamar raposas toda personalidade pública daninha, como a quase totalidade de políticos brasileiros.

   Não que tinha que se meter na vida de Jesus, se bem que essa afirmação dos fariseus até fosse intriga. Mas a resposta genérica do Mestre vale até hoje.

   Continua a expulsar demônios, nem tanto os de mídia, esses que fazem estrebuchar, grunhir ou contorcer-se: essas representações são banais. Mas os demônios domésticos e intelectuais, como o que incorporou, sutilmente, Judas, apenas identificado por Jesus.

   Cura, qualquer uma, não somente as mais requisitadas, que poupam o plano de saúde, a fila do INSS ou a mídia que se diz Evangélica. A cura principal é exatamente aquela que vacina contra a influência dos demônios e inscreve seu portador, de uma vez para sempre, no reino de Deus.

   Siga a agenda do Mestre. Está vivo e atuante. Diga àquela raposa que teu principal interesse é constar na lista da obra consumada de Jesus. Quanto ao mais, a gente se encontra no dia do juízo.

  Para quem acredita. Eu, lamentavelmente, desconheço a opinião do clero acadêmico para a existência desse dia.

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