quinta-feira, 9 de março de 2023

Muito grato, mas dá pro gasto

 "Devido ao aumento da iniquidade, o amor de quase todos esfriará", Mt 24,12.

   Ou como avaliar a medida do meu amor. Primeira questão é se preciso, ou seja, se estou inserido no "grupo de risco".

   Essa "iniquidade" que faz o amor esfriar me afeta? É a dos outros ou a que está em mim? Preciso avaliar, então, minha iniquidade?

   Qual, afinal, a relação entre minha iniquidade e meu amor? Tenho, então, que avaliar um ou uma pelo ou pela outro ou outra?

     A maldade se manifesta em mim? O texto de 1 Jo 1,9, "Se confessarmos os nossos pecados", há pecados light, que seriam os meus, mais leves, quase que inofensivos, de modo a não afetar meu amor?

    Minha condição de crente funciona como uma vacina, que regula a intensidade de pecados. Porque há um tipo de graduação entre pecados de crentes e de não crentes.

   Essa "onda de iniquidade", da parte de não crentes, afetaria neles uma ausência de amor, mas nunca em mim. Nem a onda de iniquidade neles e nem em mim, a presença light, afetaria o meu amor.

   Por si, ele já funciona como um antídoto. Portanto, em mim, a iniquidade está sob controle. Eu não seria tão hipócrita em dizer que, em mim, não há nenhuma iniquidade. Não. Não diria.

   Mas dizer que ela esteja presente num grau de afetar meu amor, jamais. Donde concluo que esse versículo não se aplica a mim, direta ou especificamente.

   Ver o amor esfriar é algo para fora de mim. Assisto a esse fenômeno, até constatando que sim, estamos no "fins dos tempos", que, realmente, o amor está esfriando, mas tudo isso para fora de mim.

   Ou para fora de minha igreja. Tomando-a como laboratório, sim, porque toda igreja é uma espécie de laboratório, começo a analisar o amor de meus irmãos.

   Porque igreja, querendo ou não, é esse ambiente, meio que futriqueiro, de bizoiar-se uns aos outros. Acho até que, às vezes tentado, confesso, discorro, quer dizer, comento sobre a (in)discrição e/ou a (in)disposição dos outros.

  Sempre acho a minha disposição suficiente. Minha disposição com a igreja e para a igreja, levando em consideração a mim mesmo, como dizer, dá pro gasto. Avaliando pelo meu entorno, estou bem na fita.

   Por falar em avaliar, Jesus avaliou a situação da igreja de Éfeso, exatamente sobre o primeiro amor. Ele faz afirmações decisivas a respeito dessa distorção crucial que avalia nessa igreja.

   Diz basicamente cinco coisas: 1. Vocês abandonaram o primeiro amor; 2. É uma queda e tanto; 3. Precisam se arrepender; 4. É urgente retornar a ele; 5. Se não, vão perder a identidade.

   Uma igreja sem amor, um crente sem amor perde a sua identidade. Podemos, de novo, nesta altura, perguntar de novo: qual intensidade de amor (ou falta dele) começa a comprometer?

   Uma amor "meia sola" pode? A gente pode regular a intensidade de amor? Puxa, a gente manipula tanta coisa. Dizendo de outra forma: de minha vida cristã cuido eu, ativo(a) com tanto, que não preciso de nenhuma interferência externa.

   Meu amor, ou a intensidade dele, vai (muito) bem, obrigado. Minha iniquidade não o afeta. A multiplicação da iniquidade fora não me afeta, estou imune a ela. E a iniquidade dos outros, próximos ou mais remotos, também não me afeta.

   Não estou nem aí pra eles (ou não estou nem aí pra isso?). Definitivamente, o amor esfriar, eu constato, até mesmo com tristeza, confesso, mas fora de mim. O meu, está bem, obrigado. Dá pro gasto.

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