terça-feira, 10 de outubro de 2023

Um textão para o crente Abraão

     Novamente o crente Abraão. Talvez fosse possível pensar-se as Escrituras sem o crente Abraão. Uma das flagrantes e mais exposta evidência de autenticidade dela é sua simplicidade.

   Elas partem já da evidência de que Deus existe. Pois, ainda no Gênesis, quem se põe a falar de Deus, inicia descrevendo a criação. Supõe-se estar mentindo?

  Fala de Deus para informar o como. Ao mesmo tempo que fala da Criação, expõe Seu autor. E assim espera que tenha credibilidade. Pode-se afirmar sobre o gênero textual o que se quiser.

   Mito, que seja. Mas essa concepção não era conceitual para a época de sua formulação e quem compôs não expunha um deus de mentira. Acreditava e deseja que acreditassem.

   E com sua continuidade, as Escritiras seguem de modo sempre simples e ao alcance de seu leitor. Evidentemente que o perfil desse leitor não corresponde às exigências do leitor atual. E nem o que se conhecia, no tempo, de seu contexto, equivale ao atual.

   Um dos principais erros de abordagem das Escrituras é exatamente este, de olhar e avaliar pelos olhos de hoje, com as exigências do século atual, o que se expressou numa linguagem, contexto e ótica antigos.

  Personagens como o já mencionado, colocado em destaque, dão personalidade à fé. A partir dele, constrói-se um modelo definido de crer, que percorre Antigo e Novo Testamentos. Personalidade que dá personalidade à fé.

  Abraão em seu locus original, no AT, afirma-se dele que creu em Deus. Essa assertiva segue destacada por Habacuque, na mídia da tabuleta, onde escreve "o justo viverá por sua fé". Argumentação esta posteriormente desenvolvida por Paulo, em sua carta aos Romanos.

   Afirma-se, de Abraão, que Deus lhe disse "sai da tua terra e da tua parentela", para logo acrescentar um rol de promessas, todas elas mais de projeção subjetiva do que estritamente literal.

   Por exemplo, a "grande nação" não seria, literalmente, tornar os judeus a maior nação do planeta, nem em tamanho ou em relevância. Mas tornar amplo e incontável, entre todas as nações, um povo "de propriedade exclusiva de Deus", como interpreta Pedro, em sua segunda epístola.

   Deus falou a Abraão e lhe fez promessa. Então, lemos essa história. E logo a aplicamos a cada um de nós. E saímos por aí dizendo que Deus também falou conosco. E nos fez promessas semelhantes.

   E não as interpretamos, no sentido objetivo, como acréscimos materiais ou físicos, senão, para usar esse termo, por aspectos subjetivos, espirituais, ou seja, a mesma fé que inclui Abraão nos inclui, como ele, sob os cuidados do Deus dele (e então nosso).

   Vivemos hoje. Num totalmente outro contexto de vida. Mas a mesma certeza de fé nós a temos. Deus falar a Abraão, fazendo a ele as promessas que fez, inclui tanto o patriarca, quanto a cada um de nós.

   Simples assim. Alguém pode dizer, Abraão é um personagem ficcional. Mas eu não sou. Pode-se contra-argumentar, mas você está embalando num mito, diga-se. Então, eu replico que Deus não é um mito. E, definitivamente, creio que Ele fala por meio das Escrituras.

   Com personagens tão históricos quanto eu. E caso os milagres sejam, um a um, questionados, falta dizer que um deus desprovido de qualquer capacidade, senão aquela que a mente do século atual concebe, não é mesmo Deus.

   Portanto, voltamos à página 1 da cartilha: se Deus existe, fala. Então, concordo com o autor (anônimo) da Carta aos Hebreus: "Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras".

   Falou aos pais, ou seja, antigamente. E agora fala pelo Filho. Se Ele existe, fala. E Sua fala está nas Escrituras. De uma vez por todas entregue aos homens. Por meio de quem a escreveu, daqueles que as tradicionaram, dos que lhes fizeram as versões, até chegar a quem, com sofreguidão, lê suas linhas.

   Chega simples, chega audível, chega crível esta palavra. E hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração.

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