Amados, esse será nosso último relatório desse ano de 2024 e gostaríamos antes de tudo agradecer a Deus por cada vida e igreja que tem se colocado diante de nosso Deus em oração por nossa família e ministério. Nós somos gratos ao nosso Deus por cada vida que tem orado e intercedido por nós, somos devedores de vossas intercessões e valorizamos cada uma delas.
Desde que resolvemos aceitar esse desafio, de voltar a Espanha depois da nossa vinda e volta precoce em 2018/2019, temos visto a boa mão de Deus se manifestar e atuar nessa direção. Estar na Espanha demanda tantas coisas que muitas vezes nos vimos totalmente incapazes de aqui estarmos, tudo que se necessitava para que aqui pudéssemos estar foi sendo acrescentado dia a dia sem que necessitássemos “arrombar porta alguma”, 1º Samuel 16.12. As portas para obtenção de documentos como visto de entrada, apresentação de documentação junto a Polícia Nacional Espanhola, renovação de autorização de estada e afins foram se abrindo conforme as necessidades iam se apresentando, todas essas portas, uma a uma, sendo abertas gentilmente pelo nosso bondoso Deus.
No quesito estrutura, até aí a boa mão de nosso Deus nos acompanhou, visto que não tínhamos, não temos ainda, Agência Missionária, Igreja ou irmãos nessa terra, Deus na sua infinita graça e amor providenciou um teto que conseguimos alugar, providenciou quem pudesse nos buscar no aeroporto e nos ajudar para comprarmos pratos, talheres e as demais coisas necessárias para se começar a vida. Chegamos no aeroporto de Manises, Valência, só com nossas malas e a promessa de que uma pessoa, não crente, ali estaria para nos dar uma carona e nos ajudar nesses primeiros passos, a essa pessoa nossa gratidão e nosso pedido de que nosso bondoso Deus lhe constitua família nessa terra, Êxodo 1.21. Assim começamos a reescrever essa história de missões, mas essa, com a ajuda das orações de alguns irmãos do Brasil, com ofertas de um grupo de irmãos no Brasil e duas igrejas, a saber, IE Fluminense e IEC Santa Isabel, a estes irmãos, irmãs e igrejas somos gratos por acreditarem em nosso chamado e vocação.
Os movimentos de entrada e reentrada no campo missionário nunca são fáceis, existem tantas variáveis nesses processos que mesmo que planejemos tudo da melhor forma, e devemos fazer, a coisa pode dar errado. Necessidades emocionais, espirituais, humanas e de toda sorte se levantam nesse tipo de processo. Quando uma família de missionários faz esse movimento, sem a estrutura mínima necessária, e foi nosso caso, só o poder de Deus pode dar cabo de tal missão.
Nossa filha, com 14 anos na ocasião, foi a que mais sofreu, haja vista ela ser obrigada, por conta do colégio, a ficar totalmente imersa na cultura. Irmãos, como as dificuldades de adaptação de nossa filha nos machucaram! Como foi duro ver nossa filha chorando escondida, se desesperando com o dialeto no qual as aulas são ministradas nessa região, com saudades da igreja, avós, família, amigos e de tudo que deixou para trás para chegar e este povo. Nós não temos dúvidas de que essas dores deixaram “cicatrizes” nela e em nós. Diante do que foi exposto acima podemos dizer, com a boca cheia, que Deus tomou, toma e tomará sempre conta de nós.
Não viemos a essa terra construir riquezas, depender de “contatos”, arrombar portas de forma bem sutil e dizer que Deus as abriu ou coisas do tipo, viemos a este mundo servir a Deus e viver na Sua dependência. Tal coisa não é fácil, tal coisa demanda uma coragem que nunca suporíamos ter, um nível de entrega que demanda literalmente colocar TUDO no altar do ministério. Não é fácil, não é algo digamos assim, confortável, pelo contrário, é difícil, é desafiador e nos tira todo tempo de um negócio chamado zona de conforto, mas ainda assim é algo nosso, algo tão particular quanto intrigante, tão valioso que nos custa acreditar ser nosso. A maior alegria do ministério, pensamos nós, é ter algo tão valioso nas mãos, algo que observamos Deus literalmente investir em nós a cada dia para que dê certo, de fato um tesouro em vasos de barro.
Uma vez instalados e tateando a terra sem a conhecer fomos buscar um lugar para congregar e outro para que pudéssemos de alguma forma dar seguimento ao ministério junto aos refugiados africanos. Com relação a congregar achamos uma igreja Batista Regular na cidade onde vivemos, Villarreal. Agradecemos a Deus pois nesta igrejinha, no Brasil seria um ponto de pregação, fomos acolhidos, abraçados, cuidados e incentivados a continuar. Nesse pequeno grupo podemos pregar, ensinar, cantar e servir aos irmãos. Nessa igrejinha temos a oportunidade de servir aos irmãos da fé que temos aqui.
Nesse pequeno grupo podemos viver o que vivemos em nossa igreja e isso faz uma diferença enorme. Glórias ao nosso bendito Deus por esta igrejinha! Glórias ao nosso bendito Deus pelas diversas “igrejinhas” da Espanha que conta com menos de 1% de crentes em sua população. No meio desse deserto Deus mantém essas portas abertas para serem os oásis de gente como nós que estava sedenta de sentir o calor que advém dos irmãos da fé quando esses se reúnem. Ninguém, absolutamente ninguém, é igreja sozinho.
Na outra frente, a de trabalho com refugiados que chegam as praias espanholas advindos da África do Norte, essa parte da África que é banhada pelo Mar Mediterrâneo, começamos a entender mais essa realidade quando nos apontamos como voluntários na Cruz Vermelha.
Amados, gostaríamos de abrir um parágrafo aqui para discorrermos sobre esses refugiados e a Cruz Vermelha. Esses refugiados, geralmente homens, com idade entre 18/40 anos, são pessoas que deixam seus países, familiares, religião, modo de vida e afins em busca de trabalho, sim eles querem trabalhar, eles não querem explodir nada. A vida desses homens, mulheres e crianças está voltada para sua subsistência mínima aqui e envio de dinheiro para suas famílias que continuam na África. Dificilmente você encontrará um desses refugiados africanos em bares, shoppings, praias, parques e afins se divertindo, a vida deles se resume a basicamente dois movimentos, casa e trabalho. Eles chegam aqui só com a roupa do corpo, sem saber falar o Castellano e sem a menor noção dos costumes dessa terra. Chegam e tentam a todo custo conseguir um emprego, aprender a língua e acertar os documentos, e é nesse circuito que entra a Cruz Vermelha, ela de forma bem organizada mostra a eles que o processo aqui é justamente o contrário, primeiro se arruma a documentação, aprende-se a língua e depois, só depois, se arruma um emprego.
A Cruz Vermelha disponibiliza para alguns poucos refugiados africanos moradia, vestimenta, alimentação, ajuda jurídica para arrumar a documentação, cursos de Castellano e cursos profissionalizantes. Olhando os refugiados de perto e tendo acesso a eles fora da Cruz Vermelha fica nítida a janela de oportunidade que a Igreja de Cristo tem aqui com esses homens e mulheres que são, na sua grande maioria, islâmicos. O islã, aqui, não tem estrutura e muito menos interesse de fazer esse serviço. Buscamos uma missão que fizesse isso aqui na Espanha e simplesmente não existe! Buscamos tentar compreender o universo evangélico espanhol, até para não sermos injustos, e percebemos que as igrejas não querem se envolver com esse ministério. Aline tem dado aulas de Castellano para essas pessoas e um dia desses fez a seguinte pergunta: Vocês gostariam de ter mais aulas semanais? Vocês estariam dispostos a ir para um outro lugar para aprender o Castellano? A resposta, em uníssono, foi que sim. A resposta nos alegrou, e nos encheu de esperança, uma vez que isso, essas aulas, podem se tornar um caminho para uma porta, estreita é bem verdade, mais cheia de vida. Mas por enquanto não temos um local para essas aulas.
Voltando a Cruz Vermelha, dentro dela, de suas dependências ou em suas atividades fora, somos proibidos de tocar no tema Jesus ou religião. A Cruz Vermelha é adepta da agenda LGBT, WOKE, 3030 e afins, ela tem uma rede de captação de recursos que vai desde seus doadores mais comuns como o magnata Soros até a venda de bilhetes de loteria feito nas casas de apostas da Espanha. A Cruz Vermelha não é um lugar onde se possa evangelizar esses refugiados africanos ou os exilados da América do Sul e China, é apenas o lugar onde podemos estabelecer o primeiro contato com eles, onde podemos nos deixar conhecer por eles e os conhecer. A Cruz Vermelha, com uma estrutura enorme e caríssima, pensamos nós, faz pouco. Já trabalhamos com orçamentos muito menores e fizemos chegar cada centavo que nos era confiado ao público alvo. Nos dói observar o tanto de dinheiro que poderia se traduzir em teto, roupas, comida e mudança de vida se esvair no sumidouro do corporativismo que visa elevar a bandeira dessas agendas nefastas.
Semana passada começamos a entrar em contato com um órgão chamado DIACONIA, eles fazem um assessoramento parecido com o de Cruz Vermelha, acomodação, documentação, língua e trabalho, esperamos em Deus que esse contato possa resultar em algo, em uma outra porta pela qual possamos ir nos aproximando deles, de sua realidade e necessidades reais, pensamos e oramos para que esses esforços e pontes venham a desaguar em um trabalho, bem cuidadoso, de apresentação do evangelho para eles, não do evangelho catequisado, mas do evangelho vivo e vivido em amor. Só para se ter uma ideia, esse ano já chegaram na Espanha mais de 60 mil refugiados em suas praias.
Temos dado aulas no Instituto Missionário Projeto Zero, essas aulas, on-line, são ministradas uma vez por semana e temos tido a honra de envidar esforços na formação de obreiros para o Sul de nosso país, Brasil, e aquela parte da América do Sul. Esse ano que se avizinha, 2025, dois estudantes estarão indo para o Uruguai par ali ajudar o Bira e sua esposa. Nossa alegria de poder ajudar e ver essa obra se desenvolver é enorme e agradecemos ao nosso Deus por isso.
Vamos encerrando esse relatório anual agradecendo, mais uma vez e sempre, a todos os irmãos que tem intercedido por nós diante do trono de nosso Deus, a vocês nossa reverência, nossa gratidão e nossa honra.
Queremos agradecer aos irmãos, irmãs e igrejas que tem nos ajudado com o tema do sustento e das ofertas, que o nosso Deus vos retribua toda generosidade com a qual vocês têm dispensado para nós. A vocês, intercessores e mantenedores, nossa oração é que possamos vos apresentar frutos dignos dos vosso esforço para conosco. Queremos agradecer ao casal de missionário Cesar e Rosa, que trabalham em uma missão voltada para os peregrinos do caminho de São Tiago de Compostela, esses amados sabedores de nossa dificuldade com relação a um meio de transporte ao receberem a doação de um carro nos ofertaram o que eles tinham, nunca, absolutamente nunca, vamos nos esquecer disso, a vocês o nosso muito obrigado também.
Esse mês, mês de dezembro, é o mês em que celebramos o Natal, o nascimento de nosso Senhor, que o Natal de cada um de vocês que agora tem acesso a esta carta possa ser cheio de paz, alegria e amor, possa ser um Natal cheio de Cristo.
Com estimas e carinho e saudades.
Gustavo, Aline e Júlia Leite

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