terça-feira, 18 de abril de 2023

Quando Nietzsche não ouviu Eu sou o que sou

   A Internet medeia conteúdos diversos. Alguns, até estupendamemte construtivos, pode-se dizer, outros absolutamente destrutivos. Tudo ao alcance de um touch-screen.

   Pois ontem, inadvertidamente, assisti a uma boa aula, diga-se de passagem, de filosofia. Considerado o suporte, o Instagram, tanto o professor, quanto o tema escolhido foram deveras ilustrativos.

   Cheguei até estabelecer uma correlação, típica para os homens daquela época, entre Robert Kalley e Nietzsche. Ambos filhos de pais protestantes, perderam o pai muito cedo em sua vida e tornaram-se ateus.

   Quando Nietzsche, o filólogo, nasceu, em 1844, Kalley, o pastor, estava no ápice de seu ministério missionário na Ilha da Madeira, onde fundou hospital, escolas e igreja. Isto porque, posteriormente, converteu-se ao cristianismo.

   Nietzsche, que até começara cristão, pelo menos aparentemente, tornou-se, posteriormente para ele, inimigo da fé cristã. Meu professor de ontem resumiu afirmando ser ele o responsável pela morte de Deus.

   Não que fosse loucura, explicou esse mestre em filosofia, porque nem mesmo o filósofo, como mais tarde ficou reconhecido, acreditava que Deus, ao menos, existisse.

   Mas porque combateu veementemente a ideia mestra dessa religião, que, segundo ele, aviltava o homem, tornando-o prostrado e inútil para a existência neste mundo.

   O ser humano está condenado, segundo ele afirmava sobre a fé cristã, a penitenciar-se por toda a vida, rejeitar desejos inatos, condenando-os como pecado, afligindo o corpo e depurando o espírito para a próxima vida, etérea, no além céu.

   Embora taxasse como ridícula essa ideia, Nietzsche reconheceu-a poderosíssima, a ponto de ter subvertido todo o Ocidente. Daí ter-se tornado inimigo dela, ensejando o resgate da condição humana, propondo, já em sua época, o Superman de Nietzsche, despido da moral cristã, firmado a partir de uma nova moral propositiva, desse modo virtuoso para a vida terrena.

    Faltou a Nietzsche uma sarça. Para ouvir, de Deus, o que Moisés ouviu: Eu sou o que sou. Nada enigmática, essa sentença é a revelação de Deus. Ou uma profecia dela. Para quem não viveu a sarça, sem problemas. Há uma cruz.

   A sarça perdeu sua vigência. Serviu a Moisés. A cruz ainda não perdeu a sua. A sarça apontava para a cruz, porque nela houve um homem chamado Jesus. Nunca foi e nunca será Superman.

    Querendo Nietzsche ou não, somente um homem, verdadeiramente, se humilha e se avilta diante de Deus, de forma perfeita e única, dignificando todos e todas as demais. O nome dEle é Jesus.

   Desculpe o filósofo, mas a sabedoria de Deus contradiz a sabedoria (de qualquer) homem. O que é força, para o homem, é nada, para Deus. E o que, para Deus, é um homem crucificado, é toda a força.

   Dizem que a filosofia de Nietzsche marcou, definitivamente, toda a Europa. Meu professor fortuito de filosofia, ontem, mencionou o nome dos quatro filósofos franceses que surfaram na onda levantanda por Nietzsche.

   Por isso a Europa vive uma ressaca do cristianismo. Não sei se por desavisado ou por má fé o filósofo, como o pastor, não avançou adiante, quando enfim reconheceria o tipo de homem que as Escrituras propõem como padrão.

    Não é um Jesus fracassado. A moral cristã depura-se no reconhecimento de onde, precipuamente, opera no homem a força desagregadora e potencialmente motivadora de seu fracasso.

   A visão de Nietzsche, se está certo o meu professor e se eu não o ofendo em minha reconhecida incapacidade filosófica, é superficial em relação ao evangelho, o poder de Deus. Eu o sou, disse Jesus à samaritana.

    Quando Jesus afirma "Eu o sou", revela-se como evangelho. E revela Deus em plenitude. O homem Jesus é o rosto de Deus. Não sei se o filósofo foi, por pura mágoa, capcioso, lutando contra si mesmo em admitir que estava sendo superficial em sua avaliação.

   Eu creio também que o século, ou seja, o arcabouço da época em que a humanidade avizinhava entrar, privilegiando a razão em detrimento da fé, contribuiu para que essa visão superficial da mensagem cristã vingasse.

   E, aí Nietzsche, embora por outra via, está certo: a mensagem das Escrituras, como diz Jesus, é vinho novo em odre velho. O que significa dizer que ela contesta, de verdade, essa tal virtude, total liberdade e vida sem peias que o século propõe.

    Fico com Kalley, embora reconheça que, numa avaliação, de fora para dentro, vão me considerar, como dizer, um cidadão provinciano. Paciência. Posso até ler e apreciar as três principais obras que, na opinião de meu ocasional mestre, Nietzsche nos deixou.

   Mas lamento sua visão acanhada. Mas ainda creio que ouvir Nietzsche nos dá um GPS, por assim dizer, das tendências vigentes neste velho e cansado mundo. Quem sabe assim nos apiedemos do que vai no íntimo de homens como o filósofo e depuremos nossa pregação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário