domingo, 2 de abril de 2023

Comunhão

"Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste."

   A Bíblia começa com uma afirmação: "No princípio Deus criou os céus e a terra". Portanto, ela começa subentendida a existência de Deus. Como explicar Deus?

  Caso exista, antes de existir a razão humana Ele existe. Então, não caberá nela. Isso não deprecia a razão humana. Ao contrário, enaltece. Porque a razão nunca aspira a ser mais do que, na verdade, ela é.

  Caso ela assim experimentasse, deixaria de ser racional. Ninguém mais do que ou acima dela reconhece suas limitações. E ela as têm.

  Aliás, a fé, único meio pelo qual conhecer Deus, é plenamente racional. Ela cabe dentro do entendimento humano. Porque concebe um Deus que tudo criou, existindo antes de tudo o que a razão enxerga ou, apenas, supõe.

   Pois bem. A razão tem seus limites. Ela própria reconhece. A fé não tem limites. A própria razão assim reconhece. Uma das principais orações de Paulo Apóstolo, nas Escrituras, é que conheçamos Deus.

   Porque Ele se revela. E fala ao entendimento, porque não despreza ou deprecia a razão. Porque por meio dela concede inteligência ao ser humano. Como escrito a respeito dos companheiros de Daniel:

    "A esses quatro jovens Deus deu sabedoria e inteligência para conhecerem todos os aspec­tos da cultura e da ciência", Dn 1,17. E como escreve Paulo aos Efésios:

   "Peço que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, dê a vocês espírito de sabedoria e de revelação, no pleno conhecimento dele", Ef 1,17.

   Que tipo de conhecimento é esse pelo qual Paulo ora? Nos capítulos iniciais dessa carta o apóstolo vai mencionar a que se refere. Começa, no primeiro, com uma lista detalhada do que Deus fez por nós.

   Caso seja absurdo referir cada passso, supondo como algo que  Deus não fez, então denunciemos. Com destaque para: 1. em amor nos predestinou para Ele: abençoando-nos, escolhendo-nos e adotando-nos como filhos.

   2. NEle, por meio de Seu propósito em Cristo, temos redenção, perdão dos pecados, sabedoria e entendimento; 3. E destinados para o louvor da glória de Deus, firmados na esperança de Jesus, escolhidos por Deus e predestinados para o amor.

   Tudo isso nos chega por meio do evangelho: "Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa", Ef 1,13.

   Esse Deus que existe, não somente anuncia que existe, não somente realiza o que promete, não somente se revela ao homem e à mulher, aos quais criou a sua imagem e semelhança. Mas anseia por comunhão.

    "Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.",
Jo 17,22.

   Nesta oração, uma oração de Jesus, ele roga pelos que vierem a crer. E supõe uma comunhão participativa nEle, com ele mesmo e com o Pai, no mesmo modelo que os dois, e somente os dois privam.

   Essa comunhão é uma construção do Espírito. Ela é fruto e plenitude do Espírito. "Esforçando-vos, diligentemente, por preservar a unidade do Espírito, no vínculo da paz", Ef 4,3. Nestas cartas da prisão, Paulo apresenta vários textos que orientam quanto a aspectos práticos dessa comunhão.

   Por exemplo, Fp 2,1-4, ou em Cl 3,12-17, ou ainda Ef 3,14-21. Essa comunhão acontece e define-se pelo que significa ser igreja. Não automaticamente, mas construída em nós, pelo Espírito. Voluntariamente construída.

   A identidade da igreja, que se define pela identidade de Deus, pois a Bíblia afirma que somos para o louvor de Sua glória, que a glória da igreja se reflete nEle e a glória dEle se reflete na igreja. Desse modo o mundo reconhece Deus na igreja, assim como a igreja em Deus.

   Pois a igreja é esse lugar de comunhão. Não sendo o templo, meramente identificado pelo GPS. Nem o registro feito no Cartório, meramente o senso legalmente obrigatório para a identidade documental da igreja.

  Mas a construção viva, atual e atualizada, permaemente e eterna do Espírito, naqueles que verdadeiramente creem. Por essa comunhão, Deus anseia, nela se deleita e, por meio dela, o mundo atesta que, em Cristo, Deus se tem revelado.

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