sexta-feira, 28 de abril de 2023

Somos

"Suas visões são falsas; suas adivinhações, mentira. Dizem 'Palavra do Senhor', quando o ­Senhor não os enviou; contudo, esperam que as suas palavras se cumpram." Ez 13,6

    Problemático, porém mais comum do que deveria ser, falar em nome de Deus desautorizadamente. São as Escrituras, elas mesmas, que afirmam duas coisas insofismáveis em suas páginas:

    Tanto é possível falar com Deus (ouvi-Lo também), quanto falar, de modo autêntico, em nome de Deus. Aliás, é um profeta que afirma:

     "À lei e ao testemunho!" Se eles não falarem conforme esta palavra, vocês jamais verão a luz!" Is 8,20. Então, há um referencial, aqui chamado, pelo proefeta Isaías, de modo genérico, "lei e testemunho".

    Isto significa dizer que Deus falou primeiro. Ora, o Gênesis começa assim: "Disse Deus: haja luz. E houve luz". E luz aqui não é a grandeza física que, por ironia, até o chamado "buraco negro" a desvia de sua rota reta.

   Luz aqui é, exatamente, a palavra de Deus. Bem, aqui divergem as opções. A palavra vem ao homem/mulher de modo místico? Vem de modo consensual? É a prisão da ortodoxia que a valida? Vamos, de novo, queimar quem não ouvir.

    Quem primeiro falou? Como foi confirmada a sua autoridade? Talvez as Escrituras não respondam, de modo direto, às perguntas que fazemos e do modo como as fazemos.

   As exigências do século atual querem reduzir Deus a um objeto de conhecimento, nos moldes como se define hoje o que é conhecer. Estamos no século da razão. Aliás, de novo, por ironia, no "século das luzes".

   Imagina, num contexto desses, atestar a autenticidade da palavra de Deus. O primeiro autor registrou testemunhos retroativos. As Escrituras atestam que homens (e mulheres) falaram da parte de Deus, movidos(as) pelo Espírito.

   Desde muito cedo esses registros se constituíram no referencial que o profeta denomina "lei e testemunho". A partir dele aprendemos que Deus fala.

   Não somente fala, mas vocaciona. Vocacionando, habilita. E usa o habilitado para falar em seu nome. E concede meios pelos quais a palavra é autenticada.

    Pressupor essa impossibilidade, é negar que Deus fale, vocacione, habilite e envie em seu nome. Seria aleijar Deus. Ou afirmar que não existe. Ora, há quem assim proceda gratuitamente.

    E elenca um rol de razões pelas quais ser impossível que Deus exista. Distante e mais próximo ainda. Indecifrável, ao contrário, totalmente revelado. Abscôndito, como diz o teólogo, expresso de forma exata no rosto de Jesus.

    As Escrituras são radicais. Elas são o referencial. Ali tudo se reduz ao absurdo. Elas não servem, senão para revelar. Deus se faz homem em Jesus. A Palavra de fez carne. Não há mais o que (pre)supor.

   Por seu referencial avalia-se a autenticidade do profeta. E generaliza-se tantos e todos os que falam em nome de Deus. Paulo Apóstolo adverte:

     "Mas o que ela diz? "A palavra está perto de você; está em sua boca e em seu coração", isto é, a palavra da fé que estamos proclamando", Rm 10,8.

   E mais: "Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Rm 10,9. Mas salvo do quê? Ora, de sua própria incredulidade. Salvo de si mesmo.

   E também, intérprete autorizado que é das Escrituras, Paulo expressa de que modo é possível testemunhar de Deus de um modo geral e rasteiro:

   "Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo suplicamos: Reconciliem-se com Deus." 2 Co 5,20. Então, somos, cremos e, habilitados, falamos.

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