sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Fra(n)camente 3 - Vergonha

"Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé". Romanos 1:16,17.

      Vergonha é um termo comum. Pode-se até dizer que seria muito sem vergonha quem não soubesse, fingisse não saber ou afirmasse nunca ter privado dela, por motivo qualquer.

      επαισχυνομαι, epaisxýnomai, no grego, literalmente "cair em desgraça". Vergonha pode ser uma virtude quando, por exemplo, por um erro cometido, ela, como fruto do reconhecimento, torna-se assumida e conduz à retratação.

    Mas, associada à covardia, teria o sentido de não se assumir, em (não) virtude de qualquer pressão externa, uma dada postura requerida. Vamos usar, portanto, um exemplo bíblico.

     Em João 18, quando Jesus é conduzido ao pretório, João Apóstolo o acompanha de perto. Segue-o repartição romana adentro. Não sem antes, autorizado pela encarregada da porta, convidar Pedro que o aguardasse, por ali, sentado fora, entre os circunstantes.

     Pedro titubeia, por vergonha. Covardemente, não quer ter, associada a Jesus, sua própria pessoa. João insiste. Ele entra. É logo reconhecido, como galileu, pronta e naturalmente associado a Jesus.

    Rejeita. Marcos, o Evangelista, é o único a expor que Pedro se levanta a sai praguejando, e tomara que não tenha xingado ninguém. Ora, a tradição associa de modo íntimo Pedro a Marcos. Então, a vergonha de Pedro está bem caracterizada aqui. Entre seus pares, vergonha de ter sido associado a Jesus, a sua personalidade e ao teor de sua mensagem.

    É dessa vergonha que Paulo fala. O evangelho está associado a Jesus Cristo. Tanto um, quanto outro, evangelho, por seu teor, e Jesus, por seu perfil, são alvo de desmerecimento. Paulo mesmo, a partir de sua plataforma na carta à cidade de Corinto, caracteriza bem o que significa, mesmo hoje no mundo moderno, a "mensagem da cruz", uma metonímia para "evangelho".

     Não tenha vergonha do evangelho. Não tenha vergonha de ser associado a Jesus e a sua pregação. Evangelho é o poder de Deus. Deus tem todo o poder. Mas o evangelho é o poder específico para a salvação.

    Salvação do quê? Hoje, como Paulo escreveu no passado aos coríntios, a mensagem da cruz ou é loucura, ou seja, desprovida de razão, ou vergonha, porque está, ridiculamente, associada à morte de um crucificado.

     Não há do que ser salvo, mormente em função de uma palavra de loucura ou de vergonha. Poder de Deus para a salvação do pecado. Poder de Deus para a ressurreição dentre os mortos.

    João descreveu a ressurreição de Lázaro. Sim, essa que uma ampla gama de exegetas bíblicos, teólogos e especialistas do Novo Testamento negam ser literal. João coloca, desta vez, Marta dialogando com Jesus, "se o senhor estivesse aqui, ele não teria morrido".

    Jesus responde "mas ele vai ressuscitar". A mulher replica, vagamente, "eu sei", referindo-se à crença na remota ressurreição. Jesus então afirma para ela "eu sou ressurreição". E chama Lázaro para fora.

    Umas das vergonhas é não crer na possibilidade desses milagres narrados na Bíblia. Ratificando: um montão de gente não crê na literal ressurreição de Lázaro para não pagar mico, não ser envergonhado, não "cair em desgraça" em meio a seu pares.

    Que vergonha! Salvação do pecado. Ressurreição dentre os mortos. Associação a Jesus. Não se envergonhe do evangelho. Tenha até mesmo seus pares. Mas não perca a sua personalidade. 

      

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