quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Vale ouro: sempre soubemos disso.

    Um pastor tem muitas experiências que compartilhar. Na verdade, sua tarefa é gigantesca e, como o próprio apóstolo Paulo escreveu, "a suficiência vem de Deus", 2 Co 3,4-5.

    E através dessa experiência pastoral, nessa missão, a gente recolhe lições que, se prestarmos atenção, reconhecemos o quanto aprendemos no decorrer do tempo. A joia dileta e mais cara, de todo valor e com preço de sangue, e do sangue de Jesus Cristo, é a igreja. Ela nos ensina todo o tempo.

    Esse mesmo rebanho, ao qual Jesus dedicou compaixão, porque "estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor", Mateus 9:36, e pelo modo como escolheu reuni-lo: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos". Isaías 53,6.

     Ninguém, com um mínimo de bom senso, colocaria esse rebanho assim reunido, a preço de sangue, debaixo dessa plenitude de amor, aos cuidados de homem nenhum. A não ser que a suficiência venha do próprio Deus.

     Na Bíblia, toda a responsabilidade delegada por Deus tem, para quem dela se torna alvo, uma síndrome de recusa. Um rol de homens e mulheres dela tentaram, inutilmente, fugir. Desde o radical Jonas, que tentou o suicídio, Isaías, num rápido argumento sincero, Moisés, que pensou ludibriar Deus com meias desculpas e, por fim, Saul, que se escondeu no meio da bagagem.

    Tentei todas. Só não consegui a fuga, muito provavelmente por covardia. Então, constrangido por amor, 2 Co 5,14, me achei um pastor. E começaram os desfiles de vidas preciosas, que Deus comprou pelo seu sangue, a desfilar, na igreja de Cristo, diante de meus olhos, a deixar-me extasiado desse espetáculo de graça, amor e misericórdia.

     Daí destacar aqui d. Áurea e suas três filhas, Grace, Rose e a caçulinha, Valéria, com quem menos convivi, pois ainda criança mudaram de igreja, saindo da Congregacional de Cascadura, nossa "igrejinha da infância". Uma primeira marca que logo se destacava sempre foi sua elegância, no modo destacado de vestir a si mesma e as meninas.

    A cor da pele é seu maior ganho, pois são todas elas negras e, num tempo como hoje, que ainda é necessário se impor na luta por emancipação, naquele tempo, virada dos anos 1970 para 1980, já se impunham não por pedantismo, mas por pura naturalidade, expansividade e toda identidade: desde sempre totalmente emancipadas, destemidas, determinadas, zero medo de tudo.

    No contexto daquela congregação, resultado de empenho e protesto de um grupo que, nos anos 50, havia resolvido deixar a Congregacional de Piedade e iniciar uma nova igreja, aquela mãe, com suas duas meninas discípulas, logo depois três, estavam muito à frente de seu tempo.

     Já falamos do refinamento de sua elegância, falta mencionar a presença de Áurea, seu timbre de voz e o desenho de seu sorriso. Teve aquele filme, de 1976, acho até que foi por volta desse tempo que aportaram em Cascadura, mas sua entrada em meio àquela congregação foi, positivamente, revolucionária: estranhas no ninho.

     Que houvesse estranhamento naqueles dias, ora, era típico dela provocar revoluções porém, olhando de hoje para aquela cena, invade-nos que saudade, quanto deslumbramento, expansividade e inteligência. Destaque-se essa última qualidade.

     Na virada dos 70 para os 80, achávamos aquele trio sempre polêmico, questionador, inconformado e podemos até atrevermo-nos a dizer irreverentes. Porque a escola dominical e sua participação nas classes sempre foi um destaque a mais. Digamos, como um catalisador para alunos e professores. Mais uma virtude, valorizar a EBD porque, como diz o saudoso pastor Manoel Porto Filho, sim, o autor do hino "Igrejinha Antiga": escola dominical é a escola da igreja.

      Essa quadra de mulheres fez e faz história. Com a palavra, a primogênita das três, um arquivo vivo de memórias e causos dessa magnífica fase. Marcas desse tempo e dessa congregação, dívida permanente temos com essa geração de crentes, também inconformados, também à frente de seu tempo que, um dia, resolveram rebelar-se por uma injustiça, segundo avaliaram, e foram gênese da igrejinha antiga, a congregação de Madureira, que foi ser Igreja Evangélica Congregacional de Cascadura, a partir de 1952.

     Toda história assim escrita nos emociona e faz parte permanente de nossa formação. Faltou dizer da beleza dessas quatro mulheres. Ao longo dos anos, foi aumentando e amadureceu, principalmente pelo fruto que é único e exclusivo, proveniente da fé, cultivado, plantado e dado vida, como fruto, pelo Espírito Santo.

     E isso se dá na congregação. Na igreja que Jesus, e somente ele edifica. Que faz florescer e dar beleza por dentro e por fora. Susto no céu. De repente, pararam para ver, dessa vez, quem chegava. Era Áurea, chegando, sempre rindo, com  sua voz estridente e já fazendo turma. E haja assunto. Medalha de ouro: sempre soubemos disso.

    

8 comentários:

  1. Respostas
    1. Muitooooo obrigada pastor Cid Mauro: homenagem linda e inesquecível…. Numa palavra: gratidão eterna. Rose e família!!!

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    2. Linda homenagem!! Ela mereceu Pessoa amiga ,estimada por todos.

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  2. Que linda homenagem ! Que DEUS console seus corações 🙏🙏🙏🙏

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  3. Lindo texto! Linda homenagem!! Um abraço carinhoso em Grace, Rose e Valéria!

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  4. Obrigado, Pastor! Lindas palavras! Gratidão!

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  5. FAMILIA MARCANTE EM NOSSA HISTÓRIA. QUE LINDA HISTÓRIA!

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