domingo, 15 de maio de 2022

Andando com Deus

Como pois se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo? acaso não é por andares tu conosco e separados seremos, eu e o teu povo, de todo o povo que há sobre a face da terra?


     Na argumentação com Deus, Moisés pressupõe estabelecer as condições pelas quais o próprio Deus deve optar por manter com Ele, agregado a Si a ideia de ter para Si um povo Seu.

    Qual a intenção última de Deus nisso? Moisés procura, em seu argumento, partir de um ideia já posta, de um dado que, com antecipação, Deus tenha já estabelecido como Sua própria intenção e, portanto, não haja saída ou recusa para Deus então admitir.

    Se Deus propõe graça, Moisés pergunta, como posso saber? Que garantias eu tenho? Que garantias Deus me dá? E ele mesmo então propõe um meio, como que, sem o qual, não haveria, para Deus, outra intenção ou outro modo de valer o Seu propósito.

    Como se Moisés usasse como argumento final aquilo que ele supõe, mais do que isso, afirma ser a intenção última de Deus e, portanto, Moisés não vê outra saída ou ele mesmo confronta Deus com Sua intenção revelada, argumentando então que, diante disso, não pode haver, para Deus, recusa em admitir e em pôr em prática.

     Então Moisés afirma que, ora, se Deus é todo graça e dádiva, misericórdia e amor, se Deus visa escolher um povo, sim, com que intenção? Ora, então não há outra saída senão em caminhar com esse povo. Numa aproximação, numa comunhão e mistura em que, tanto a identidade do povo, quanto a identidade de Deus estão, definitivamente, comprometidas, uma pela outra.

    Conceder graça compromete Deus em sua identidade. A ousadia de Moisés é perguntar, ora, mas como se pode saber? Até onde Deus vai com esse povo, vai conosco, vai comigo? Há em Deus uma identidade e, em mim, há outra que é incompatível. Como Isaías em sua constatação: "Ai de mim!", Is 6,5.

     Pelo menos, em Isaías, o cinismo não foi maior do que a fria constatação do pecado. Minha identidade é incompatível com  de Deus. Pelo menos isso eu reconheço. Já é um grande começo. Não dá para acreditar, então, que Deus seja gracioso comigo, conosco, com Seu povo? 

     Como, pois, se saberá? Moisés então sugere uma solução, uma resposta, propondo não deixar, para Deus, outra opção, como que afirmando que, uma vez Deus tendo rejeitado esse argumento, não poderá jamais dizer que, na verdade, tenha se manifestado em graça.

    É uma ousadia de Moisés. Mas, ao mesmo tempo, toma a identidade de um pelo Outro, o povo, então, será autenticamente povo de Deus e Deus o será desse povo. O distintivo será andar com Deus e Deus andar com o povo, para que esse traço distintivo seja visto e constatado por todos os demais å volta.

     E Deus toma para si quem anda com Ele. Foi assim com Enoque. Gn 5,24. Foi assim com Elias. 2 RS 2.11. Será assim com a igreja. 1 Ts 4,16-17. Mais do que distintivo nomear alguém como homem ou mulher de Deus, é reconhecer este ou aquele, essa oi aquela como com quem Deus anda.

    Andar com Deus tem como distintivo manifestar na vida a graça de Deus. Esse o traço distintivo, e não outro qualquer de vaidade ou soberba. Muito comum na vida humana o traço de soberba, atributo típico de Satanás. Mais determinante deve ser o traço de humildade, atributo identitário de Jesus.

     Mas o que seria andar com Deus? Como se daria a manifestações da graça na vida dos que, verdadeiramente, andam com Deus? Paulo aos Gálatas e aos Efésios vai indicar que andar com Deus é andar em plenitude do Espírito, Gl 5,16 e 25 e Ef 5,18. Andar com Deus é andar no Espírito.

     Andar com Deus é guardar a palavra de Deus, pela qual somos santificados, Jo 14,23 e Jo 15,3. É a obediência à palavra de Deus que nos santifica, atesta em nós a presença e regência do Espírito Santo em nossa vida e que em nós torna possível o amor do Pai, Jo 15,10.

    E por fim, andar com Deus é andar em amor, porque a obra de Deus em nossa vida pressupõe a ação da trindade em nós. A obra que Deus exerce em nós, Fp 1,6 e 2,12-13 Ele não delega a ninguém, senão ao Filho e ao Espírito. E isso se chama igreja.

     Pelo Espírito em nós, Cristo em nós habita, andando nós em amor, até que sejamos tomados de toda a plenitude de Deus, Ef 3,14-19.

     

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