quarta-feira, 11 de maio de 2022

Josué e nossa identidade como povo de Deus

Então, disse Moisés ao Senhor: O Senhor, autor e conservador de toda vida, ponha um homem sobre esta congregação que saia adiante deles, e que entre adiante deles, e que os faça sair, e que os faça entrar, para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor. Disse o Senhor a Moisés: Toma Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e impõe-lhe as mãos; apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação; e dá-lhe, à vista deles, as tuas ordens. Põe sobre ele da tua autoridade, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel. Apresentar-se-á perante Eleazar, o sacerdote, o qual por ele consultará, segundo o juízo do Urim, perante o Senhor ; segundo a sua palavra, sairão e, segundo a sua palavra, entrarão, ele, e todos os filhos de Israel com ele, e toda a congregação. Fez Moisés como lhe ordenara o Senhor, porque tomou a Josué e apresentou-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação; e lhe impôs as mãos e lhe deu as suas ordens, como o Senhor falara por intermédio de Moisés. Números 27:15-23.

    Josué foi aqui oficialmente comissionado por Moisés, perante o sacerdote Eleazar, bem assim diante de todo o povo. Neste texto, em Dt 31,7-8, bem como em Js 1,1-8, o próprio Deus, de modo direto, aprova e indica Josué.

    Até que se mostrasse assim preparado, foi servidor de Moisés, Ex 24,13 e 33,11, atribuição não menos distintiva que, uma vez cumprida com integridade, e era esse o caso de Josué, é a mais notável distinção e principal traço de personalidade na Bíblia, vide Mc 10,45.

    Josué sempre se posicionava equidistante, tanto com Moisés, quando este subiu ao Sinai, quanto à espera, defronte a tenda, quando Moisés assistia o povo. Significa prontidão, ao mesmo tempo que temor, respeito e reverência, sem que nunca ambicionasse nenhuma posição de liderança que não lhe fosse concedida.

    Josué, líder entre os espias, na rebelião de Nm 14,6-10, juntamente com Calebe, tentou conduzir o povo à obediência, mas correram risco de ser apedrejados. A interferência do Senhor os livrou, sendo os rebeldes justiçados, perante toda a congregação e diante do Senhor, Nm 14,36-38, somente tendo escapado Josué e Calebe.

    É esse o homem que, todo o tempo junto à Moisés e o tendo como referência, acompanha toda a trajetória do povo no deserto, desde a saída do Egito, passando pelo concerto, a Aliança no Sinai, comissionado na estratégia dos espias e, após a rebelião, acompanha o povo na peregrinação dos 40 anos, mas com promessa de sobreviver.

    Por fim, ser o líder da conquista, nas campanhas militares em Canaã. Josué, servidor de Moisés, entende o projeto de Deus para o povo, no deserto, a fim de dotar com identidade o povo de Deus para a tarefa de história da salvação que as Escrituras revelam, Ex 19,5-6.

    Josué entende, a meio caminho, com Moisés, no Sinai, ao mesmo tempo que ouvindo do alto, atento, ao que ocorre no arraial, está ali para compreender o projeto de Deus para a congregação do deserto. Assim como aquele povo, a igreja hoje é a congregação do deserto. Paulo, em Fp 2,15, define a igreja como "luzeiros do mundo", resplandecentes no meio de uma geração "pervertida a corrupta".

    A igreja está posta para bênção ao mundo, para identidade com Cristo, assim como para rejeição, na mesma proporção que Jesus foi rejeitado, Jo 15,18-20. Josué começa a compreender o sentido que Deus quer dar à instituição do tabernáculo e do sacerdócio.

     Precisamos compreender qual o sentido dado por Deus à missão da igreja. Qual o seu papel no mundo. Compreender e pôr em prática a nossa vocação. O nosso chamado. Josué teve plena consciência do seu chamado.

   Deus transmitiu a Moisés, de modo detalhado, o modelo de tabernáculo. Como sua construção representaria a presença de Deus no meio do povo. Em Ex 33,15-16, em meio à crise, dentro da qual Josué também se achou, Moisés, em oração, diante de Deus, profere o termo de identidade que caracteriza o povo de Deus, seja a congregação do deserto, seja a igreja de hoje.

    Por isso Deus quer uma tenda em que habitasse no meio do povo, não a improvisada por Moisés, diante da qual Josué também assistia, mas uma da qual o próprio Senhor fosse o arquiteto.

    A tenda do tabernáculo seria como que uma tenda qualquer, vazia de qualquer imagem, porque não se vê o rosto de Deus, tenda onde houvesse o que em todas as demais havia. Uma mesa, um candelabro. Sobre a mesa, o alimento. O pão da vida.

    Nessa mesma antessala, para cá de uma cortina, o altar da oração, que não pode faltar em nenhuma tenda. Para depois da cortina, a arca que guardava os maiores tesouros, não monetários, mas principalmente a palavra, ali havia uma cópia representativa da lei de Moisés e outros indicadores da provisão do Senhor a cada dia de jornada peregrina.

     A tenda, como um todo, era retrátil, ou seja, desmontada e remontada a cada estação pelo deserto. Havia detalhada instrução de como ser construída, que material utilizar, madeira, metais, tecidos e couro.

   Quem reunir e quem, artesanalmente, construir. Montar e desmontar, carregar consigo e remontar onde parar e onde estiver são metáforas do que a igreja representa. Nós a carregamos dentro, conosco, somos igreja, somos a tenda, somos o altar, somos edifício articulado, Ef 2,19-21, casa de Deus.

     E a outra instrução detalhada foi para os ofícios a realizar na tenda. Porque Deus queria que Israel fosse reino de sacerdotes, exatamente o mesmo que estabeleceu ser a igreja, 1 Pe 2,9-10. Portanto, cumprir a vocação de Deus, tanto para a congregação do deserto, quanto para a igreja, implica reconhecer o serviço do sacerdócio e como experimentar a santidade de Deus no dia a dia, em todo e em cada lugar.

    Josué presencia e antecipa, em sua vocação e em sua proximidade com Moisés, o projeto de Deus na história da salvação e como assumir, para tanto, a vocação com que Deus chama. Josué nos ajuda a reconhecer nossa identidade.

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