quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Pastoral

    Fora do paraíso

    Fico imaginando a primeira noite de Adão e Eva fora do paraíso. Devem ter perdido o sono e, quando acordaram, enfrentaram a dura realidade.

    É certo que natureza esbelta, à volta, mesmo fora do paraíso, havia. Alguma coisa começava a ficar mais hostil, sem dúvida, no reino animal no entorno.

    Anteriormente o homem dera nome a cada animal. Provavelmente numa relação de confiança. Agora, não havia confiança entre o casal e, muito menos, com relação a Deus.

     A dúvida foi posta no coação do homem. Sempre teria dúvida se seria vantajoso obedecer a Deus. Adão continuaria a culpar sua esposa? Insistiria na injustiça de atribuir somente a ela um erro que foi de ambos?

      E Eva continuaria, solitariamente, culpando-se a si mesma por não ter deduzido a tempo que estava sendo enganada pela serpente?

      Tornou-se mulher de oração. Pelo menos, era assim que recebia e devolvia a Deus, como Ana fez com Samuel, séculos depois, os filhos que nasciam.

     Gozado que, o único por quem não orou, foi o convertido, Abel, assassinado por Caim. Não sei se estou certo porque, somente após o nascimento do neto Enos, filho de Sete, pelo qual também Eva orou, é que lemos que iniciou-se a busca pelo Senhor.

      Nenhum homem da família, até esse neto, muito provavelmente evangelizado pela avó, havia buscado a presença do Senhor em sua vida. Será que Adão nutria por Deus mágoa tão profunda, por terem sido expulsos do Jardim e, ainda, Deus ter colocado um vigia que impedia a volta?

      Mágoa acentuada na morte de Abel. Adão deveria ter se perguntado para que servia a fé num Deus que não livra o justo de ser assassinado pelo ímpio.

      Muito embora Deus não tenha nada a ver com isso. Mesmo porque advertiu o ímpio que dominasse a si próprio. E ímpio todos somos. Abel foi um ímpio que ouviu de Deus o mesmo que o irmão.

     Deus, um dia, também disse a Abel, "o teu desejo é contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo". Abel atendeu à voz de Deus. Abel foi um Caim que deu certo. Porque obedeceu à Deus.

     O primeiro casal conviveu, durante sua vida, com o estigma de se jujgar a si mesmo culpados por tudo de ruim que se desencadeou. Nós vivemos por culpá-los. Erro deles e nosso.

      E erro igual. Não dá para voltar atrás, sem assumir a própria responsabilidade. Um dos principais desvios de personalidade do ser humano é não assumir as escolhas que faz.

     A tendência é supor que a culpa é sempre do outro. Isso faz o homem, que sempre se acovarda, como Adão fez, tentando isentar-se da culpa: a mulher que tu me deste. Covarde. Assuma a culpa. Seja homem.

      Todos pecaram. A culpa de Adão é dele. Custou mais a admitir. A culpa de Eva é dela. Compreendeu mais rápido do que o marido. A culpa de Caim é dele. Não assumiu, mas Deus lhe concedeu invulnerabilidade: quem mexer com você, Caim, mexe comigo sete vezes mais, Deus disse.

     Abel, mesmo depois de morto, como menciona o autor de Hebreus, ainda fala. Fala que é possível a qualquer um(a) atender a voz de Deus, como ele, para que possa dominar a si mesmo.

        Assumir a própria culpa, admitir de Deus que tem em si um desejo contra si, contra o outro, enfim, contra Deus. E que, para isso, só existe um remédio, que é atender à voz de Deus.





Nenhum comentário:

Postar um comentário