sexta-feira, 20 de março de 2020

Lição 2 - Fatos fundantes: Pentecostes - Atos 2,1-13

Texto base: At 2,1-13

1. Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;
2. de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.
3. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.
4. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
5. Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu.
6. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua.
7. Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando?
8. E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?
9. Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia,
10. da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem,
11. tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?
12. Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?
13. Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!      Atos 2:1-13

 Introdução:

     A igreja de Jesus precisa entender o verdadeiro sentido do Pentecoste: (1) inverso de Babel, é pregar o evangelho em todas as línguas; (2) congregar na comunhão em Cristo, falando para fora, ao mundo, e não à igreja, de modo incompreensível, para dentro de si mesma; (3) anunciar Jesus, fundamentada nos pontos principais da fé: (1) Jesus, varão aprovado por Deus, por sinais, prodígios e migares; (2) morto pela flagrante violência humana; (3) ressuscitado pelo poder de Deus; (4) que batiza no Espírito Santo, para arrependimento e remissão de pecados. At 2,32.

1. Por que no Pentecoste o mais importante não foi o "sobrenatural".

      Com muita frequência o termo "sobrenatural de Deus" é usado hoje em dia. Termo redundante, porque tudo o que Deus realiza é sobrenatural.

   O problema é uma divisão errada entre "mundo físico" e "mundo espiritual". Desde que na Bíblia está anotado, para a nossa instrução, que "o Verbo se fez carne", não mais faltou a intenção de demonstrar que a principal ação de Deus se dá no mundo físico onde vivemos.

    Às vezes o ser humano confunde essa ação de Deus, como ocorreu com Elias: 

"Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave". 1 Reis 19:11,12

       Aqui o profeta esperava que a manifestação de Deus se dessa via vento forte, terremoto ou pelo fogo. Mas Deus se manifestou ao profeta quando tudo à volta voltou ao normal e somente um cicio tranquilo, muito menos do que um vento, começou a chiar. 

       Deus escolhe seus modos de se manifestar. O que não pode ocorrer é (1) sempre achar, como Elias, que será de forma bruta; (2) ou que, obrigatoriamente, deverá ser de forma sempre surda ou amainada, como foi neste caso; ou ainda (3) divulgar padrão ou testemunho presumido de uma falsa manifestação de Deus.

    É necessário comprovar que Deus se faz ouvir, desmistificando seja num modo errado, seja num modo legítimo. Por exemplo, em Pentecoste, Deus escolheu manifestar-se (1) por um sinal sonoro, "som como de um vento impetuoso", (2) por um sinal visual, "distribuídas línguas como de fogo"; e (3) por uma tradução simultânea de idiomas específicos e indicados no texto, por meio da ação milagrosa do Espírito Santo: "E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?".

     Não houve vento em Pentecostes e não houve fogo: foi "como" vento, um som; e "como" fogo, linguetas pousadas, representativa e simbolicamente, sobre cada apóstolo.

     E o outro sinal, milagre realizado pelo Espírito  Santo, indicado no texto por "passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem", significou uma "tradução simultânea" para os idiomas das nações que estão especificadas, At 2,8-11:

"E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?".

      Não houve "línguas estranhas" em Pentecostes. Aliás, isso condiz com a definição de Paulo para esse dom em 1 Co 14,10-11:

"Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim.   

     Neste e em outros versículos dessa carta aos Coríntios, Paulo reforça que língua é idioma e não "língua estranha" ou "línguas dos anjos". Em outras partes desta lição, vamos reforçar, citando em outros textos dessa mesma carta 1 Co, essa explicação do apóstolo.

2. Pregação também é "sobrenatural de Deus".

     Continuando na carta 1 Co de Paulo Apóstolo, ele nos dá uma aula sobre a ação do Espírito Santo em 1 Co 2,6-16, de cujo trecho colocamos abaixo os versículos 10-16.

     Paulo vem comentando como os homens, considerados "sábios deste século", rejeitaram a "mensagem da cruz", que representa, para quem crê, "sabedoria de Deus". E essa sabedoria é revelada pelo Espírito Santo:  

"Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.
Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.

      Pois o "sobrenatural de Deus", em Pentecostes, revelado pelo Espírito Santo, está principal e definidamente contido  nos efeitos do sermão de Pedro, em sua (1) apresentação, (2) recepção e (3) resultados. Pedro que, como Paulo diz acima, certamente falou "não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito".

     E por que, avaliando o sermão de Pedro, podemos constatar, da introdução à conclusão, um escopo lógico e preciso? Este, o primeiro sermão pregado após Jesus ter sido elevado aos céus, assim como o primeiro sermão entregue no início da história da igreja.

     Paulo acima, nessa mesma aula sobre o Espírito Santo esclarece  que lógica e precisão na pregação começa por "conferindo coisas espirituais com espirituais". Pedro lança mão do projeta Joel, para explicar que o que estavam presenciando era cumprimento de profecia. 

     Também cita outros trechos do Antigo Testamento, como salmos de Davi, denominando-o profeta. Conferir, como diz Paulo, é o trabalho consciente e prévio de todo o pregador que, desse modo, habilita-se, de modo zeloso, consciente e preciso, a ser usado pelo Espírito Santo, para falar em nome de Jesus.

     E ao final de sua argumentação, Paulo afirma que, pela pregação, define-se o "homem natural", que não aceita o testemunho do Espírito Santo e rejeita a mensagem do evangelho, do "homem espiritual", que discerne, confirma e acolhe o testemunho do Espírito Santo.

3. A principal ênfase do Pentecostes.

      Quando, posteriormente, a igreja em Corinto quis sobrevalorizar o dom de línguas, errando no foco da ênfase dada ao Pentecoste, Paulo enumerou argumentos que colocavam esse dom no seu devido lugar em relação aos outros, sem diminuir ou anular sua importância:

3.1. Falar à igreja, por meio de profecia (que não é prever o futuro ou adivinhação/revelação de mistérios) é superior a "falar em outra língua", 1 Co 14,3-4;

3.2. O dom de línguas requer, obrigatória e legitimamente, interpretação. Em 1 Co 12,10 o dom de "variedade de línguas" é dado a um e a "capacidade de interpretar" a outro: mas profetizar é superior a falar em línguas, ensina Paulo, para que a igreja seja edificada, 1Co 14,5;

3.3. Paulo fala que, se a palavra dita não for compreensível, ou seja, não for idioma, inteligível, ao contrário de "língua estranha", não haverá nem proveito e nem edificação para a igreja: não haverá revelação, nem ciência, nem profecia e nem doutrina. Será como um instrumento inanimado, sem afinação ou tocado por qualquer um não habilitado, 1 Co 14,6-11;

3.4. Continua dizendo que os dons do Espírito Santo não são uma demonstração de ego pessoal, mas voltados para a edificação coletiva da igreja, como dito em 1 Co 12,4-7. Quem deseja identificar aquele que o Espírito lhe conferiu, como orienta 1 Co 14,1: "Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar", esse deve progredir para a "edificação da igreja", 1 Co 14,12;

3.5. E quem ainda afirma que o "dom de línguas" é o "dom do pijama", quer dizer, solitário, o que já é contraditório, porque dom do Espírito é para a edificação da igreja, ainda há outro contra-argumento: não há edificação quando, solitariamente, uma "sensação de plenitude" preenche o "espírito", mas a mente fica infrutífera, porque não entende o que não é dito. Paulo exorta a que mente e, agora sim, o espírito também seja edificado, 1 Co 14,13-19. E não vale "autotradução", porque "a um" é dado o dom de "variedade de línguas" e "a outro" a "capacidade para interpretar".

4. Conclusão.

4.1. Pentecoste não é o dia do "dom pentecostal" ou dia de exaltação do "dom de línguas" ou dos dons do Espírito Santo. Exatamente porque o Espírito foi derramado por Jesus, como ele prometera em Jo 16,7, para glorificar o nome de Jesus, Jo 16,14, e não o seu próprio. Leia o texto de Jo 16,12-16:

"Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis".

4.2. Portanto, Pentecoste é o dia do derramamento do Espírito Santo, de modo a que Jesus seja glorificado. Então, o sermão do dia de Pentecoste, que aponta para a Pessoa e obra de Jesus, é o seu principal destaque e não a outorga de qualquer dom, o de línguas, que seja, impropriamente enfatizado.

4.3. O próprio apóstolo Paulo indica isso, em 1 Co 14,20-22, esclarecendo a finalidade do dom de línguas, como foi em Pentecostes:

"Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos. Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que creem".

4.4. Portanto, o fato de todas as nações presentes ouvirem e entenderem, cada uma em sua língua, "como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?", At 2,11b, naquele dia, em tradução simultânea, pelo poder do Espírito Santo, é símbolo da urgente e permanente missão da igreja: pregar o evangelho a "toda tribo, língua povo e nação", como está no Apocalipse 5,9:

"...entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra".

4.5. Mas para a igreja anunciar Jesus "a toda tribo, língua, povo e nação", terá de enviar missionários preparados na palavra, como Pedro, para que sejam usados pelo Espírito Santo, pregando as Escrituras, além de aprender a língua específica de cada "tribo, língua, povo e nação", porque não haverá tradução simultânea pelo Espírito Santo e, muito menos, "língua estranha".

4.6. É urgente para a igreja rever a instrução propedêutica dos sinais no Pentecostes. Não se trata de exaltação do Espírito Santo e nem da prevalência de um dom sobre os outros. Mas um fato fundante: a inauguração da ação do Espírito Santo, no que tem como principal: (1) glorificar Jesus Cristo; (2) iluminar, no ministério da igreja, a quem Jesus enviar para pregar em seu nome; (3) agir nos que ouvem, de modo a que creiam na palavra de Jesus assim anunciada.

4.7. Para tanto, esses obreiros assim vocacionados, como Pedro, necessitam do devido preparo, especialmente no devido  conhecimento das Escrituras, agora do Antigo e Novo Testamentos, assim como discernimento para entender a época em que vivem, de modo a demonstrar autoridade aos que os ouvem.

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