quinta-feira, 19 de março de 2020

Lição 1 - Transição - Atos 1,1-14

Texto base: Atos 1,1-14

1. Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar,
2. Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera;
3. Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.
4. E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes.
5. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.
6. Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?
7. E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.
8. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.
9. E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.
10. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco.
11. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu?
Esse  Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.
12. Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado.
13. E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmào de Tiago.
14. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos.

Atos 1:1-14

1. Em que sentido Transição:

   Transição, neste início da narrativa de Atos dos Apóstolos, significa o que ocorreu entre a ressurreição de Jesus e a sua ascensão ao céu, em relação aos preparativos para o início do ministério da igreja. 
     Antes de sua morte, Jesus já havia dado instruções aos apóstolos, para o desdobramento de seu ministério, no início e continuidade do ministério da igreja. 

   Por exemplo, no texto abaixo, em João 14,12-14, Jesus afirmou:

"Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.

E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei".

      Jesus se refere aqui: (1) a sua ida para o Pai, após sua morte e ressureição, e (2) o tipo de obra a ser realizada pela igreja, até a sua segunda vinda. 

      Entendemos por esse texto, com relação à continuidade da obra de Cristo pelo ministério da igreja que:

1. Por meio da fé em Jesus, a igreja  dará continuidade ao que ele realizou, e mais ainda fará;
2. De tudo o quanto a igreja necessitar para realizar a obra de Jesus, ela terá, sem nenhuma reserva, como suprimento da parte de Deus;
3. O específico da igreja será o anúncio do evangelho, que agora inclui a morte e ressureição de Jesus, como consumação da salvação para todo aquele que crer.

2. A Igreja e o específico de sua mensagem:

       As palavras de Jesus, em Marcos 1,14-15, sintetizam o modo como a igreja anunciará o específico de sua mensagem:

"E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho do reino de Deus,
E dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho'.

    Jesus resume sua mensagem geral em quatro tópicos principais:

1. O tempo está cumprido: quer dizer, pelo cronômetro de Deus, a humanidade está na última volta, derradeira oportunidade de salvação;
2. O reino de Deus está próximo: a urgência deste anúncio significa estar ao alcance de quem crer, e perto da implantação final;
3. Arrependei-vos: para as Escrituras, arrependimento é a "tristeza segundo Deus", porque o homem/mulher, por si, é incapaz de reconhecer o seu pecado;
4. Crede no evangelho: esta é a "boa nova" de salivação, a qual Jesus é o primeiro a proclamar, sendo ele o próprio conteúdo e a própria consumação. 

    Portanto, em Atos 1,1-14 verificamos as instruções dadas por Jesus aos apóstolos, momentos antes de ser inaugurada a era presente, em que, na ausência física de Jesus, mas pelo poder do Espírito Santo, a igreja realiza o seu ministério. 

   Aprendemos, então, que Jesus:

1. Deu mandamentos, ou seja, instruções gerais aos apóstolos, por meio do Espírito Santo, porque somente assim eles as entenderiam e poderiam pôr em prática, At 1,2;

2.  Por cerca de 40 dias esteve com eles, aparecendo de modo intermitente, como prova de sua ressurreição, instruindo com relação ao reino de Deus, At 1,3;

3. Orientou-os a não se afastar de Jerusalém, sem antes ser revestidos pelo poder do Espírito Santo, como cumprimento de promessa anterior, At 1,4-5.

    Esse período de transição, refletido nesta introdução aos Atos dos Apóstolos, caracteriza-se pela presença física de Jesus ressuscitado, em que ele instrui os apóstolos  a lançar um olhar para o passado, em relação a tudo o que ele havia realizado, e um olhar para o futuro, com relação ao que a igreja começaria a realizar, em nome de Jesus.

3. A Igreja e sua missão até a segunda vinda de Jesus:

    A igreja, ainda hoje, quando se debruça sobre a Bíblia, é para dela retirar a instrução que lhe confere autoridade, a fim de que possa cumprir a missão específica a ela delegada por Jesus. 

     Logo a primeira instrução de Jesus foi que aguardassem a manifestação do Espírito Santo, porque somente por meio dele os apóstolos e, consequentemente, a igreja teria poder para cumprir seu ministério. 

    Uma preocupação, que pareceu fora de ordem, em função da solenidade da despedida de Jesus, quando seriam urgentes quaiquer outras dúvidas mais essenciais, foi demonstrada pelos apóstolos. 

     Como se Jesus dissesse, prestem atenção, porque estou de partida, mas vocês vão dar continuidade ao que realizei.

     E o principal diferencial, como confirmação da obra completa de Jesus, seria agora anunciar sua ressurreição, que confirma toda a sua autoridade e poder sobre o pecado e a morte. 

    E a dúvida dos discípulos, embora não voltada ao essencial da missão da igreja, deu a Jesus a oportunidade de estabelecer uma definição fundamental do papel da própria igreja. Vejamos:

"Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?

E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.

Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra".   Atos 1:6-8

   A preocupação dos discípulos, revelada neste trecho, embora legítima e incluída na agenda de Deus, como Jesus indicou, não tinha nenhuma relação com a tarefa primordial da igreja.

4. Reino de Deus, reino de Israel e igreja:

    Aqui é necessário diferenciar igreja, reino de Deus e reino de Israel. O texto, em At 1,3, menciona que Jesus, no período dos 40 dias que esteve com os apóstolos, entre sua ressureição e sua ascensão aos céus, aqui descrita, falou-lhes "coisas concernentes ao reino de Deus". 

    Deduzimos, portanto, que a prioridade de Jesus era o reino de Deus. Devemos aqui lembrar que os Evangelhos, ainda a ser escritos, tempos adiante deste momento de transição aqui descrito, trarão muito dessa instrução sobre o reino de Deus dada por Jesus. 

    A palavra de Jesus, nesse contexto, aponta para o essencial da igreja, a partir dessa questão introduzida pela pergunta dos apóstolos. 

     Podemos subdividir a resposta de Jesus nos tópicos a seguir:

1. Deus tem uma agenda que inclui a restituição do reino político a Israel;

2. Essa agenda é de competência específica de Deus, portanto não compete aos homens computar esse tempo;

3. À Igreja, pois, compete ser testemunha de Jesus, por meio do poder que vai receber do Espírito Santo;

4. Esse testemunho será por todo o mundo e em todas as épocas, até que Jesus Cristo retorne em sua segunda e definitiva vinda.

      Ser, portando, testemunha de Jesus é o essencial para a igreja. Jesus está/não está agora no mundo. Presença física de Jesus não temos, mas temos presença física da igreja que, quando plena no Espírito Santo, é testemunha de Jesus.
    
      Como diz Paulo Apóstolo em sua oração, na carta 2 Ts 1,11-12:

"Por isso também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a obra da fé com poder;
Para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo".

      Ele ora para que (1) Deus nos faça dignos do nosso chamado como igreja e (2) cumpra em nós todo o desejo de Sua vontade e obra de fé, para que o testemunho da igreja seja tal que, (3) tanto o nome de Jesus seja na igreja glorificado, quanto o nome da igreja seja, em Jesus, glorificado.

5. Conclusão:

    Podemos, então, deduzir, a partir dessas instruções dadas por Jesus, nesse período de transição, entre o ministério dele e o início do ministério da igreja, que:

1. A principal feição da igreja, uma vez plena no Espírito Santo, é ser testemunha de Jesus, por toda a terra e em todas as épocas, anunciando o evangelho e a iminente segunda vinda de Cristo;

2. A Igreja dá continuidade ao ministério de Jesus, voltando-se para o que ele ensinou, explicitado nas Escrituras, buscando a orientação permanente do Espírito Santo prometido e derramado por Jesus;

3. A igreja de Jesus somente deve cumprir seu ministério e função sob autoridade do Espírito Santo, segundo recomendação direta de Jesus;

4. Receber "poder" do Espírito Santo não significa uma "categorização de poder", quer dizer, superpoderes, para realizar atos extraordinários, ou um poder menor para, por exemplo, pregar, exortar, falar de Jesus por aí;

5. Paulo Apóstolo afirma, em 1 Co 12,3: "... e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo". Isto quer dizer que a simples menção do nome de Jesus, feita com fé, é concessão do Espírito Santo;

6. Portanto, a igreja receber poder significa que tudo e qualquer coisa que ela fizer, genuinamente em nome de Jesus, somente será por meio do poder do Espírito Santo;

7. O específico da igreja é o anúncio do evangelho, como sinal profético do reino de Deus. Este também vai, um dia, incluir os reinos políticos da humanidade debaixo do poder de Deus. Mas não compete à igreja envolver-se na política, a ponto de perder-se com relação ao específico de sua missão e ministério.

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