sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Casamento em comunhão de bens

 

    De cima de minha idade, passando dos 60 e me considerando da família, sou um dos mais antigos que conhece o pessoal. 

    Já disse que d. Mira foi minha professora, na classe de crianças, no porão da Igreja Congregacional de Cascadura. 

    Aliás, essa cena eu tenho na retina. Ela, de pé, com o jeitão nordestino e o sorriso, com todo o respeito que ela merece, sempre maroto. 

   Sorriso de d. Mira sempre tem dois motivos: 1. um é o próprio sorriso, de raiz, porque todo sorriso induz sorrisos; 2. mas o outro motivo de seu sorriso é esse ar maroto, já mencionado.

    Há sempre algo de precioso escondido por detrás do sorriso de d. Mira. E daí, exatamente por isso, foi procurar uma das mais gostosas gargalhadas de que já testemunhei. Essa mesma, do Loureiro. 

   Claro que também tem marotice. Mas a diferença é o espontâneo da gargalhada dele e o simulado do sorriso dela. Já sei: foi um casamento em comunhão de humor.

    Ou comunhão de gargalhada e sorriso. Ou como tradicionalmente se diz: comunhão de bens. Casamento com comunhão de bens.

    No caso, não estamos falando de bens pecuniários. Logo pensam nisso. Mas de bens os mais preciosos. Bens eternos. Há bens que avançam pela eternidade afora.

    Mais felizes, mais seguros, mais fortes e de maior conforto, como diz Jesus, quem armazena bens para a eternidade. Como o casal Loureiro e d. Mira.

     Já mencionei o primeiro bem dos dois. Sorriso dela, gargalhada dele. Aqui, de vez em quando, a gente chora. O próprio Jesus diz "bem-aventurados os que choram". Até Jesus chorou. Pelo menos, a Bíblia fala de duas vezes. Deve ter chorado mais vezes.

     E Jesus chorou por dois tipos os mais dolorosos de sofrimento: 1. A morte; 2. A falta de fé. A morte nos faz chorar. Mas as promessas de Deus para quem crê, enchem de consolo e de esperança. 

     A riqueza do amor, que vai perdurar na eternidade, o casal Loureiro privou entre si e legaram aos filhos. Porque o casal de filhos lhes retornou cuidado, carinho, parceria, compromisso, cumplicidade e tudo o mais que só vem pelo amor.

     Esse outro bem que cultivaram aqui e conduzem para a eternidade. Tudo isso como exercício de sua fé. O retirante pai de Mira repartiu fé com sua família. As três meninas e o menino, desde muito cedo, ainda que em meio a outras carências, esta não faltou. 

     E a Bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus e receber como dom o que a fé proporciona. Não faltou fé no lar de onde veio Mira. Assim como não faltou no lar de onde veio Loureiro.

     Por isso foram vitoriosos. Por isso continuam sendo vitoriosos. Porque a principal vitória de Jesus, que define o fundamento da fé, é Sua ressurreição.

     O velho Jeconias assim ensinou. Assim as meninas e o menino aprenderam e eu, ainda bem menino, testemunhei, desde ainda a Pache de Faria, no Meier. Se a caçula Mira foi minha professora na classe de crianças, ele foi meu professor na classe de adolescentes.

     E como Deus escreve certo por linhas certas, um dia a menina Lourdes casou com seu, literalmente, Heraldo, para que, num outro dia, cerca de 20 anos depois, eu entrasse para essa mesma família. 

     Comunhão de bens. A nossa família vive em comunhão de bens. Vivemos um momento de choro, de ruptura brusca, ausência e separação. Mas tudo isso tem um outro sentido se a fé faz parte de nossa experiência.

     Porque sabemos que José está com Jesus, certamente. Porque a Bíblia diz que, uma vez terminada a jornada nesta vida, no compromisso com que Loureiro assumiu, estar com Cristo é incomparavelmente melhor. 

     Essa certeza nos atende com alento. Embora tristes, há uma paz que permeia nossa expectativa. Essa é a mesma paz que, de modo pleno, Loureiro já experimenta na presença de Jesus. 

   A mesma paz que anjos sem conta anunciaram no primeiro Natal. Esse José, xará do pai adotivo de Jesus, terá o primeiro de muitos e todos os Natais mais especiais que existem: ele e o aniversariante juntos.

   

       
      

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